Fase 2: Uma noite em Família | Romance

        Secretamente espreito pela janela do meu quarto, que tem vista para o jardim da casa do meu vizinho, por quem tenho uma paixoneta, possivelmente desde o infantário.

        Sorrio comigo mesma. Ele está a cortar lenha, o que significa que posso pôr em prática o meu plano.

        Pego no panetone com frutinhas, feito por mim e dirijo-me para a casa do Ryo.

        Conheço a casa dele tão também como a minha, sei exatamente onde colocar os pés, de forma a não fazer ranger o velho soalho de madeira. Meto o panetone debaixo da árvore de Natal, mas antes de sair, sou surpreendida pelo Rodolfo, que vem direito a mim a abanar a cauda. Esqueci-me do cão!

        Antes que tenha tempo para reagir, Ryo entra, olha para mim surpreendido ao mesmo tempo que esboça um sorriso enigmático. E nesse mesmo instante sei que fui descoberta. Sei que ele sabe.

        Sigo o olhar dele para o panetone e antes que ele diga alguma coisa, faço a única coisa que poderia fazer. Fugir!

        Entro em casa ofegante, tento pensar rapidamente num plano de fuga. E ainda por cima esta noite vamos estar todos juntos. Desde que o Ryo perdeu o pai, ele e a mãe são presença obrigatória nas noites em família.

        A voz da minha mãe arranca-me dos meus desvaneios.

        - Cassandra! O que fazes ai parada. Preciso da tua ajuda.

        - Sim mãe.

***

        Os cheiros característicos da maçã, canela, laranja e do alecrim invadem o ar, trazendo consigo o cheiro do Natal.

        A mesa de jantar está repleta de iguarias deliciosas. Sem faltar o peru recheado e o bacalhau cozido. Numa mesa à parte coloco os doces, de fazer crescer água na boca.

        - Cassandra! - Grita a minha mãe da cozinha. - Não encontro, o panetone que fizeste ontem.

        Sinto todos os olhares em mim.

         Oiço gargalhadas vindas sala. Idiota.

        - Hum... Ficou queimado. - Tento disfarçar. - Vamos jantar.

        Ryo passa por mim e sussurra de forma que só eu possa ouvir.

        - Apanhei-te! - Sinto a respiração dele no meu pescoço. - Vai ter comigo à arrecadação.

        Nem tenho tempo para responder, o meu irmão coloca o braço ao redor do meu pescoço.

        - Mana, vais oferecer-me o que te pedi?

        Faço-lhe cócegas para soltar-me.

        - Vai sonhando.

        Sentamo-nos à mesa e damos as graças. Espreito por entre os dedos, e sou surpreendida com o olhar dele em mim. Ele faz um gesto subtil com a cabeça em direção à arrecadação. Nego com a cabeça.

        - Filha, podes ir buscar mais água?

        - Claro pai.

        Ryo entra na cozinha, logo de seguida, antes que consiga dizer alguma coisa, sou arrastada para a arrecadação.

        - Quero agradecer a minha oferta. Houve alguém que fugiu.

        Nem tenho tempo para pensar, nas palavras dele, ele agarra-me no queixo e inclina na direção dele, desliza o polegar no meu rosto e dá-me um beijo delicado e doce. Sinto o sabor da canela. Esta definitivamente é a melhor noite em família de sempre.

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