Fase 2: Conto Relâmpago
Sentada na cozinha da sua infância, com as lembranças do passado a fazerem-lhe companhia, Lília sentia-se nostálgica.
A velha governanta da família D. Ana, ainda trabalhava na propriedade. Quando a governanta abriu-lhe a porta de entrada, Lili jogou-se nos seus braços gordinhos e confortáveis, e as duas começaram a chorar de alegria.
Embora a propriedade estive-se um pouco degradada, ainda mantinha a imponência do passado.
— Come minha querida, estás tão magrinha. — Disse D. Ana com pesar. Colocando pão e queijo em cima da mesa de madeira já gasta.
Enquanto Lili deliciava-se com a comida. D. Ana não parava de tagarelar sobre os acontecimentos dos últimos anos, ao que parece o pai não lidou bem com o fim da monarquia. Falar sobre o pai tão abertamente, ainda lhe era difícil, mas de alguma forma sentia que queria saber mais.
Ela reparou que havia vários recortes de jornal, em molduras na parede da cozinha, onde podia-se ler em letras garrafais "agenda sindical", em baixo tinha uma fotografia de alguém, que Lili não conseguia distinguir.
Uma voz rouca e doente, mas familiar, fez-se ouvir pela casa, desviando a atenção de Lília.
— Ana, quem esta ai?
A velha governanta ficou nervosa e apressou-se responder.
— É o leiteiro, minha Senhora, mas já está de saída.
— Não quero namoriscos na minha casa. Traz-me o meu remedio, doí-me a cabeça. — Disse a mulher a tossir.
Lili sentiu a raiva acrescer ... Na casa dela... Quem ela pensava que era... Aquela maldita... Ela levantou-se abruptamente, fazendo a cadeira de madeira em que estava sentada, cair de forma ruidosa.
A governanta veio ao seu encontro e agarrou-a pelos braços.
— Tenha calma menina. A Senhora Amélia está muito doente.
— Não me interessa, ela tem que sair desta casa. — A voz de Lili tremia com as lagrimas a quererem descer. — A legitima dona voltou.
— Menina é melhor falar primeiro com o menino Eduardo.
Sem dar tempo a Lili de formular perguntas e de lembrar-se quem era o tal Eduardo. D. Ana, encaminhou-a para a porta dos fundos.
— Vou pedir ao motorista, para leva-la até ao jornal onde o menino Eduardo trabalha, ele é jornalista. — Disse D. Ana orgulhosa. — Foi ele quem lhe escreveu, quando o seu paizinho faleceu. É um bom menino, nada parecido com a mãe. Ele vai saber ajuda-la.
Lili encostou a testa contra o vidro frio do carro, e teve a sensação que nada estava a acontecer, como tinha planeado. Deveria estar na sua casa e não a ir diretamente para a boca do lobo.
Começou a sentir-se a sufocar, o peito subia e descia descontrolado, quando o motorista parou junto a um edifício alto, ela saiu a correr precisava de apanhar ar.
Reparou que estava perto do rio Tejo e correu na sua direção.
O cheiro doce do ar fresco tomou conta dela e começou a sentir-se mais calma.
As palavras da sua tia-avó vieram-lhe à memória. — Promete-me que não serás impulsiva.
Um sorriso suave surgiu nos lábios de Lili. Ali estava estava ela, novamente... a ser impulsiva.
Ela olhou para a sua imagem refletida no rio, sentindo-se exausta.
— Não está a pensar atirar-se ao rio, pois não?
Disse uma voz profunda arrancando-a dos seus pensamentos.
Lili horrorizada com a estranha pergunta, respondeu.
— O meu horizonte não é assim tão pequeno, Senhor.
— Espero que não. — Ele sorriu. — Não me apetecia nada atirar-me ao rio, para salvar uma jovem em apuros.
O sorriso de Lili iluminou-se. Olhou para o desconhecido de soslaio e reparou que tinha uma aparência agradável.
— Costuma salvar muitas jovens?
Por algum motivo a pergunta divertiu-lhe e o homem esboçou um pequeno sorriso.
— Não tantas como pensa...
Ela franziu o nariz e inclinou a cabeça.
— Humm... E o senhor o que faz aqui?
— Apenas tentando colocar as ideias em ordem. E a menina?
— Venho ver um ogre!
Ele olhou-a como se fosse louca.
— Perdão?
— Se for como a mãe é pior que um ogre... — Disse rindo-se, perante o olhar espantado do homem.
— Mas acho que nestas poucas horas, esgotei toda a coragem que tinha.
Ele deu por si também a rir e a fazer-lhe um estranho convite.
— Quer vir tomar um chá? Podemos ir até ao meu gabinete, trabalho aqui perto e pode falar-me sobre esse ogre.
Os olhos verdes de Lili viram-se para o desconhecido, nem acreditando que estava a ponderar aceitar a sua oferta.
— Onde é que trabalha?
— Neste edifício mesmo atras de nós, sou jornalista.
Lili sentiu a garganta a ficar seca, ao mesmo tempo que pensou.
Não pode ser...
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