Entrevista 2º lugar



O nosso segundo lugar foi do veterano do Contos-LP Henggo

Vamos conferir suas respostas?

Contos-LP: Qual foi a inspiração por trás deste conto em particular?

Henggo: Fiquei bastante empolgado de poder imergir em um conto histórico e nessa empolgação eu lembrei dos problemas relacionados à antiga Fábrica de Tecidos Cânhamo. Antes um símbolo da pujança econômica daquela época, hoje o prédio da fábrica está deteriorado e quase despencando. Nesse sentido, eu quis fazer uma analogia entre a deterioração do passado e a deterioração das relações sociais que permanece até hoje.

Contos-LP: Como você desenvolveu os personagens deste conto? Eles foram baseados em pessoas reais?

Henggo: Costumo dizer que eu sou um "ladrão de personalidades" porque eu observo bastante as personalidades das pessoas ao meu redor e uso para moldar os personagens. Não tenho o costume de tomar uma pessoa específica como eixo central desse molde. Neste conto, os personagens vieram de personalidades dúbias, nem boas nem más, brincando com as duas faces de um tecido.

Contos-LP: Qual foi o desafio mais difícil que você enfrentou ao escrever este conto?

Henggo: A questão do limite de palavras a cada capítulo, uma regra do concurso, foi desafiadora. Ainda mais porque desde o começo eu desenhei um roteiro para a personagem Benedita, mas não esperava que a personagem Dona Mildrede ganhasse tanta intensidade. Então, precisei de muita atenção para não abrir uma subtrama, algo que destruiria o conto.

Contos-LP: Como você decide o ponto de vista narrativo em seus contos?

Henggo: Com os estudos de escrita criativa ao longo dos anos e outras experiências profissionais, eu aprendi a controlar certos anseios e a amar fazer roteiros, o que facilita essa escolha do ponto de vista. Busco lembrar que contos só permitem uma trama direta, sem tangentes, e atrelo o/a protagonista a um objetivo bem definido.

Contos-LP: Seu conto tem alguma mensagem ou tema central que você queria transmitir aos leitores?

Henggo: Todos nós somos uma costura de atitudes boas e de atitudes más. Percebo que nós, da comunidade LGBTQIA+. costumamos criar histórias que ainda são estereotipadas, esquecendo que nós temos camadas que vão muito além da sexualidade. Eu quis fugir disso e trazer essa personagem, Benedita, como um emaranhado de questões e traumas que se somam, mas não se restringem, às questões de gênero e de sexualidade.

Contos-LP: Você teve que fazer muitas revisões antes de finalizar este conto? Pode compartilhar um pouco sobre o processo de edição?

Henggo: Pelo fato de ter escrito "Benedita" enquanto estava na estrada, viajando, a questão da revisão foi complicada. Meu processo de escrita envolve terminar o primeiro rascunho e deixar que ele "descanse" por alguns meses (chamo isso de "Decantação Literária"), o que não foi possível aqui. Então, eu precisei me esforçar para revisar o texto com o máximo de cuidado, mas, inevitavelmente, alguns erros passaram. Paciência.

Contos-LP: Você já se viu inspirado por outros escritores ou contistas? Quais autores influenciaram seu estilo?

Henggo: Eu sou fascinado por contos desde que era criança. Meu estilo vem todo de Lygia Fagundes Telles, Isaac Asimov e de Katherine Mansfield. É uma junção entre um olhar crítico em relação à sociedade, memórias da infância e esses personagens mais dúbios.

Contos-LP:  Você tem um conto favorito que tenha escrito? Se sim, por que é especial para você?

Henggo: "O Silêncio entre nós", acredito, tem muito da minha essência como escritor. Isso porque é um conto com protagonistas gays, idosos, que buscam compreender quais caminhos levaram à separação. Principalmente, esse conto provoca a comunidade gay, pois somos preconceituosos (com idosos, pessoas gordas, homens fora do "padrão Instagram") e precisamos lembrar que vamos envelhecer, nossos corpos não serão os mesmos, nossos rostos ganharão marcas e rugas, mas tudo isso não significa um fim, apenas um novo olhar, um olhar mais amoroso em relação a quem somos.

Contos-LP: Qual é a importância do título de um conto? Como você escolhe os títulos para suas histórias?

Henggo: Na fase de roteiro eu costumo definir um título provisório, normalmente o nome da protagonista. No caso da Copa das Décadas, como eu precisava pintar a capa já completa, o título ficou sendo o nome da protagonista. Porém, em situações de escrita usuais, eu só escolho o título definitivo no final da reescrita, quando vou fazer a arte de capa. Pela minha experiência, ainda mais por eu ter muitas antologias de contos publicadas, é melhor esperar esse tempo para definir um título que reflita não apenas o conto em questão, mas que congregue o espírito de todos os outros contos que fazem parte daquela obra. Em relação aos romances o processo é o mesmo, com a diferença de que, como são textos mais longos, onde eu passo mais tempo imerso naquelas palavras, os títulos costumam surgir no meio do processo de reescrita.

Contos-LP: Você tem alguma dica ou conselho para escritores iniciantes que desejam escrever contos impactantes?

Henggo: Primeiro, é essencial ter um roteiro, mínimo que seja. Senão, são grandes as chances de destruir o processo. Segundo, lembre-se que um conto é linear, ou seja, a trama vai do ponto A ao ponto B sem subtramas. Por fim, pare de querer rebuscar as frases para parecer mais culto, mais culta. Especialmente em um conto, o rebuscamento mal-usado soa a pura "encheção de linguiça". Se você escrever de forma simples e direta, com base em um roteiro bem pensado, já está de bom tamanho.


Leia BENEDITA! Uma obra incrível!

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