Capítulo 6
Levantei e tentei ver pelo buraco da fechadura da porta se tinha alguém ali por perto. Encostei o ouvido nela e consegui identificar algumas vozes mais ao longe, reconhecendo facilmente a de Nolan. Ele falava com alguém, que deduzi ser um dos capangas.
Suspirei baixo e olhei novamente para o rei. Andei até ele e ajoelhei ao seu lado. Toquei seu rosto e tentei acorda-lo. Para meu alívio vi quando o rei começou a mexer as pálpebras e sorri com isso.
— Majestade? — Chamei fazendo com que piscasse os olhos algumas vezes e virasse a cabeça em minha direção.
— Mabel? — Sussurrou franzindo a testa em confusão — Como está aqui? Eles a pegaram também? — Gemeu baixo de dor.
— Não, vim tira-lo daqui. — Expliquei puxando-o para que sentasse — Precisamos sair e rápido.
— E Lorenzo? Elisabeth? — Questionou preocupado.
— Eles estão bem. — O tranquilizei mesmo sem saber se era verdade, já que não tinha notícias do príncipe.
Ajudei o rei a sentar, mesmo com seus gemidos baixos e suas caretas de dor. Ele estava bem machucado. Além do corte no rosto, havia um em seu braço e com certeza o corpo estava dolorido pelos recentes chutes que tinha levado.
— Como vamos sair daqui? — Sussurrou.
Olhei ao nosso redor e não encontrei nenhuma saída evidente, apenas as basculantes na parede ao fundo, mas eram tão altas que não conseguiríamos alcança-las. Se ao menos Jason aparecesse ou quem sabe Alexander e Victor, mas não fazia a mínima ideia de onde estariam agora e muito menos se ainda continuaria confiando em Jason depois deste seu sumiço suspeito.
Ouvi a chave girando na porta e corri rapidamente para meu esconderijo atrás dela. Vi um dos capangas entrar com uma corda nas mãos e olhar para o rei, sorrindo maliciosamente.
— Já acordou Majestade. — Debochou dando uma risada alta.
— O que querem agora? — Rei Philliph questionou.
— Chegou a sua hora. — Nolan avisou entrando no quarto e parando perto demais da porta, e consequentemente de onde eu estava — Quer deixar algum recado a sua digníssima esposa? Ou amado filho?
— Não encoste neles! — O rei ameaçou mesmo sem forças e machucado.
— Não me desafie, você já fez isso uma vez e não vou deixar que faça novamente. — Avisou dando um passo em sua direção.
— Você está louco. — Rei Philliph murmurou.
— Não, — Negou com a cabeça — Você que estava louco ao achar que poderia acabar com minha família e ficaria tudo bem. — Nolan desabafou se abaixando e ficando a sua altura.
— Já disse que não tenho nada a ver com o que aconteceu. — O rei se defendeu.
— Você tem sim. — Afirmou com visível raiva — Estava lá... Foi por sua causa. — Acusou e notei o amargor em sua voz.
— Teria acontecido de qualquer jeito. Até seu pai percebeu isso e me perdoou. — Explicou, mas Nolan negou com a cabeça novamente.
— Meu pai achou melhor se convencer disso do que sofrer mais. — Justificou com os dentes trincados de raiva — Não sabe quanta falta ele sentiu da minha mãe quando ela se foi.
— Sua mãe era amada por todos. — Rei Philliph sussurrou.
— Não, não venha com essa desculpa. — Negou se levantando e o olhando agora de cima — Você vai pagar por isso... Com sua vida e reino.
Tampei a boca com a mão para abafar meu ofego de surpresa. Nolan estava mesmo louco e pelo que entendi queria matar o rei, pois o culpava pela morte de sua mãe. Não sabia dessa história e estava curiosa pelo acontecido. Será que rei Philliph seria mesmo culpado? Não, não podia. Ele era tão bondoso e justo, jamais faria uma coisa destas.
— Bom, já vou indo. — Nolan avisou sorrindo debochadamente — Tenho uma rainha para consolar enquanto você aproveita os últimos minutos de vida.
Vi a respiração do rei ficar mais acelerada e Nolan cochichar algo no ouvido de seu capanga. Em seguida ele saiu do quarto, mas não sem antes olhar uma última vez para o rei e dar uma risada alta de divertimento.
Assim que ele se foi o capanga amarrou rei Philliph. Depois pegou um galão que estava perto da porta, que até então eu não tinha visto, e começou a despejar por todo quarto o líquido que havia dentro. Quando terminou jogou o galão em um canto e pegou algo no bolso da calça.
— Foi bom conhecer o senhor... Majestade. — O capanga disse enquanto ligava um dos fósforos e o jogava no chão.
O fogo logo começou a fazer seu caminho por onde o líquido tinha sido espalhado. Então assim que o homem saiu do quarto eu imediatamente corri em direção ao rei.
— Você tem que sair daqui Mabel. — Avisou enquanto eu tentava desamarrá-lo.
— Não sem o senhor. — Neguei ainda forçando o nó.
— Você tem que ir Mabel, por favor, — Insistiu me olhando implorativo — Por Lorenzo.
— É justamente por ele que estou aqui e vamos sair juntos disto. — Expliquei sorrindo ao ver que conseguia começar a liberar o nó das costas.
O fogo já tinha se espalhado por todo o quarto e o calor começava a ficar cada vez maior. Olhei as chamas crescendo e tomando as paredes.
Terminei finalmente de desfazer o nó e comecei a desenrolar a corda com a sua ajuda. Desfiz com mais facilidade o dos pés e assim que terminei o rei as chutou, finalmente se livrando.
— Vamos! — Peguei em seu braço com cuidado e o ajudei a levantar, caminhando em direção a porta.
Girei a maçaneta e a abri me deparando com mais fogo. Ao que parece eles tinham incendiado a casa toda.
Com cuidado começamos a passar pelo corredor. O rei mancava, com certeza sua perna estava machucada embaixo da calça suja e rasgada que usava.
Assim que chegamos à sala percebi um movimento a nossa direita e virei me deparando com Nolan. Sua presença repentina me assustou e aproveitando-se disso ele segurou meu braço, puxando bruscamente meu corpo para perto de si.
— Achou mesmo que não ia perceber você atrás da porta? — Sorriu debochadamente — Mas isso foi ótimo, assim minha vingança fica completa. — Comentou me olhando de forma sombria — Além de perder o rei, nosso príncipe perde a menina dos olhos dele.
A casa já estava completamente em chamas e era quase impossível sairmos dali sem que nos machucássemos. Nolan ainda segurava meu braço com firmeza. Já rei Philliph estava parado a alguns passos de nós, se apoiando na parede que dividia os cômodos.
— Vou cuidar de você, — Nolan ameaçou me puxando em direção ao corredor da casa — E depois de você. — Completou se referindo ao rei.
— Pare Nolan! — Alguém pediu.
Nós nos viramos em direção a entrada da casa e milagrosamente Victor estava parado perto da porta. Não que eu conseguisse vê-lo direito já que o fogo e a fumaça embaçavam toda a minha visão, mas reconheci a sua voz.
— Você também está aqui! — Nolan comemorou dando um sorriso meio doentio, que me causou arrepios.
Victor entrou mais na casa, desviando dos pedaços de madeira que queimavam no chão. Ele ajudou o rei a se apoiar no seu ombro e em seguida olhou em minha direção.
— Pare com isso Nolan, não vai leva-lo a nada. — Victor tentou convence-lo.
— Vai sim. — Sorriu mais abertamente — Vai levar aonde todos devem ir... A gloriosa morte! — Completou dando uma risada alta.
Ele estava louco, com toda certeza, ou era aquela fumaça que estava afetando a sua linha de raciocínio.
Victor deu um passo em nossa direção e no mesmo momento Nolan tirou uma faça do bolso, colocando em meu pescoço e fazendo com que Victor parasse onde estava.
— Nem mais um passo. — Avisou me mantendo presa em seus braços.
— Nolan, por favor, não vale a pena você perder a vida por isso. — Tentei convence-lo.
— Cala a boca! — Gritou forçando mais a faça em meu pescoço.
Então de repente um barulho alto de algo se rompendo nos assustou. Pelo canto de olho vi uma das vigas que separavam a cozinha da sala cair, ficando entre nós e eles. Nolan deu mais um passo para trás, mas acabou tropeçando em um pedaço de madeira e com isso se desiquilibrou e caiu, fatalmente me levando junto.
— Vão! — Gritei a eles assim que nós dois estávamos no chão.
Victor saiu da casa rapidamente levando o rei consigo. Rastejei para longe de Nolan tentando passar por debaixo daquela viga, que ainda pendia meio incerta e não totalmente caída. Foi quando senti alguém segurar meu pé e o puxar. Olhei para trás e vi Nolan o segurando, tentando me impedir de sair dali.
— Não mesmo. — Negou com evidente raiva.
Chutei sua mão tentando me livrar de seu aperto, conseguindo assim fazer com que ele soltasse meu pé por alguns segundos. Aproveitei a oportunidade e voltei a me arrastar, passando enfim pela madeira.
Já tinha quase todo o corpo do outro lado quando ouvi a viga se rompendo totalmente por conta do fogo que a consumia, assim como todo o resto da casa. Senti ela raspar e esmagar um pouco minha perna e gemi de dor.
Protegi meu rosto dos estilhaços que caiam do teto usando o antebraço. A fumaça crescia mais e mais a cada minuto. Já era impossível respirar direito e eu começava a tossir enquanto ainda me arrastava pelo chão em direção a porta da casa.
— Mabel! — Ouvi alguém chamar, mas não consegui identificar de onde vinha a voz — Mabel! — Chamou novamente.
— Aqui. — Respondi um pouco abafado já que meu braço ainda tampava a boca e o nariz.
Meus olhos lacrimejavam pela fumaça e estava ficando difícil respirar. Ouvi um barulho alto e virei o rosto a tempo de ver parte do telhado da cozinha despencando. Ouvi também o gemido de dor vindo de Nolan, que provavelmente acabava de ficar debaixo dos destroços.
— Mabel! — Ouvi chamarem novamente.
— Estou aqui. — Falei um pouco mais alto enquanto chegava perto da porta de entrada.
Vi um vulto perto e estiquei a mão, tocando sua perna. Imediatamente a pessoa se abaixou e suspirei aliviada reconhecendo agora quem me chamava.
— Alexander. — Sussurrei aliviada.
— Vou tira-la daqui. — Avisou me erguendo em seu colo.
Passei os braços por seu pescoço e me segurei, apoiando a cabeça ali. Inspirei seu cheiro para tentar aliviar o acesso de tosse por causa da fumaça excessiva.
Alexander caminhou rapidamente para fora da casa e seguiu até perto das árvores, onde me colocou sentada em um tronco caído.
— Tudo bem? — Perguntou se agachando a minha frente.
Fechei os olhos e assenti concordando. Respirei fundo o ar puro das árvores e mata ao nosso redor. Fiquei assim alguns minutos até abri-los novamente e encontrar os seus me encarando preocupadas.
— Estou bem. — Afirmei com a voz meio rouca por conta da fumaça.
Alexander se inclinou e beijou minha testa demoradamente, fazendo o mesmo em seguida com meus lábios.
— Nunca mais faça isso. — Sussurrou angustiado.
— Desculpe. — Toquei sua bochecha carinhosamente.
— Nolan ficou lá dentro? — Victor questionou.
Notei que ele e o rei estavam perto de nós, sentados no mesmo tronco. Rei Philliph tinha o braço enfaixado com um pedaço de pano que parecia ser uma camisa, ou casaco.
— Sim, acho que parte do teto despencou em cima dele. — Expliquei olhando a casa terminar de pegar fogo.
A fumaça saia formando uma nuvem grossa e pesada sobre ela. Me peguei pensando em como deve ser doloroso morrer assim, queimado. Até senti uma pontada de pena de Nolan, mas então lembrei de que este era exatamente o plano dele para nós.
Dizem que tudo que fazemos ao outro, volta em dobro. Isso sejam coisas boas ou ruins, e agora eu via que era verdade. Nolan estava recebendo o que era merecido.
— Melhor nós irmos embora. — Jason comentou um pouco mais ao longe de nós.
— Nós... — Alexander repetiu levantando e olhando para ele com raiva — Não existe nós... Você é um traidor. – Desabafou dando um passo à frente.
— Alexander. — Chamei sua atenção fazendo com que me olhasse — Vamos sair daqui e resolver tudo com calma, por favor.
Ele olhou novamente para Jason e depois para mim, suspirando rendido.
— Tudo bem. — Concordou por fim — Você não merece, mas não vou me igualar sendo arrogante e despretensioso.
— Entendo sua raiva, — Jason suspirou baixo — Mas você vai entender, pelo menos espero que sim.
Ouvimos um barulho alto e olhei para a casa, onde a parte da frente acabava de despencar junto com todo o teto. Sendo consumida pelo fogo, assim como Nolan.
— Então vamos. — Victor chamou enquanto ajudava rei Philliph.
Alexander assentiu concordando e se abaixou me ajudando a levantar. Assim que pisei no chão soltei um gemido baixo de dor e imediatamente ele olhou para minha perna, notando pela primeira vez o corte provocado pela madeira que tinha caído sobre ela.
— Você está machucada. — Comentou fazendo careta de desgosto.
Me apoiei em seu ombro sentindo Alexander tocar minha perna gentilmente, analisando o corte. Não era profundo, mas ardia e como a madeira tinha caído em cima dela acabou esmagado um pouco.
— Não foi nada demais. — O tranquilizei.
— É claro que foi. — Afirmou enquanto arrancava um pedaço da barra da blusa social que estava usando.
Alexander enrolou o pano em minha perna, tampando o machucado e fazendo um curativo improvisado.
— Isso deve resolver, — Comentou levantando — Pelo menos até chegarmos ao palácio.
— Obrigada. — Agradeci sorrindo.
— Vamos! — Chamou me pegando no colo novamente.
— Não precisa disso. — Neguei inutilmente já que ele começava a andar.
— Você não acha que me desobedeceu muito hoje? – Questionou me encarando sério.
Desviei os olhos para a trilha, me sentindo envergonhada com seu puxão de orelha. Vi rei Philliph e Victor caminhando logo a nossa frente e alguns passos mais ao longe Jason, que parecia verificar se o caminho estava livre.
— E quanto aos capangas? — Perguntei a Alexander tentando mudar aquele clima que tinha se instalado entre nós.
— Enquanto Nolan entrava novamente na casa eles foram em direção a trilha, Jason já estava seguindo-os e então nós os pegamos. — Explicou.
— E onde eles estão agora? — Questionei curiosa.
— No porta-malas do carro que Jason e você vieram. — Comentou me olhando de relance.
Assenti concordando e deitei a cabeça em seu ombro enquanto íamos pela trilha até os carros, decidindo encerar o assunto, pelo menos naquele momento.
— Posso levar os capangas até o palácio. — Jason se prontificou.
— O que faz pensar que confiamos em você para isso? — Alexander desdenhou.
— Filho. — Rei Philliph sussurrou.
— Guardas! — Alexander chamou e vi que eles estavam a alguns poucos metros de nós, a prontidão — Vocês vão com esse senhor, mas fiquem de olho nele. — Avisou e eles assentiram concordando.
Jason não disse nada e enquanto Alexander seguia em direção a um dos carros, ele ia junto com os guardas ao outro. Victor veio logo atrás e entrou no banco do motorista, ao seu lado sentou rei Philliph e atrás eu e Alexander e eu.
Victor ligou o carro e então nós finalmente saímos dali. Suspirei baixo de alivio e deitei a cabeça no ombro de Alexander. Estávamos enfim saindo daquele pesadelo.
O carro seguia rápido e todos nós estávamos em silêncio. Ninguém tinha disposição para falar nada e quem sabe começar uma discussão. A única coisa que queria agora era paz e sossego.
Vinte minutos depois já avistávamos os portões do palácio e notei o rei se mexer no banco, com certeza estava ansioso para ver sua rainha.
Assim que parramos Victor desceu para ajudar o rei a sair. Alexander me pegou no colo novamente, mas desta vez não protestei, apenas enlacei seu pescoço e deixei que me levasse.
Em poucos segundos vários guardas já estavam ao nosso redor, prontos para receber ordens e comandos. Seus rostos demonstravam o alívio ao ver o rei bem. Os outros dois carros logo também estacionavam e Jason saiu de um deles caminhando em nossa direção com calma, quase que com receio.
— Temos prisioneiros no porta-malas, — Alexander os avisou e indicou o carro de Jason — Sabem o que fazer.
Os guardas assentiram concordando e rapidamente seguiram em direção ao carro. Já nós entramos no palácio acompanhados do rei. Passamos pelo hall e estávamos quase ao pé da escada quando rainha Elisabeth surgiu no topo da mesma.
Ouvimos seu ofego enquanto ela tampava a boca com as mãos, nos encarando surpresa. Depois saindo de seu estado de choque desceu a escada rapidamente, indo ao encontro do seu esposo, mas com a elegância de uma rainha, é claro. Até nestes momentos ela conseguia ser maravilhosa.
Sorri ao ver rei Philliph abrir seu braço bom e recebe-la em um abraço carinhoso, cheio de saudades. Era uma cena tão bonita, ver duas pessoas que se amam se reencontrando. Olhei de canto para Alexander que também sorria olhando para seus pais. Era nítido o carinho dele pelos dois.
— Fiquei com tanto medo. — Ela sussurrou ao marido.
— Está tudo bem, querida. — O rei a reconfortou tocando sua bochecha.
— Você está sujo... E machucado. — Constatou olhando todo seu corpo como se o inspecionasse.
— Só preciso de um banho. — Ele a tranquilizou dando uma risada baixa e cansada.
— Vem, vou pedir para que preparem o banho e depois vamos fazer um curativo no seu braço. — Rainha Elisabeth avisou e segurou sua mão com cuidado, puxando-o em direção a escada.
Rei Philliph sorriu com a preocupação de sua mulher, mas antes que subisse se virou e olhou para cada um de nós.
— Obrigado. — Agradeceu — Assim que estiver recomposto vou chama-los para conversar. — Avisou suspirando alto.
Nós concordamos e então ele deixou que a rainha finalmente o levasse para cima.
— Vou leva-la ao seu quarto. — Alexander sussurrou.
— Ok. — Concordei.
— Victor, te encontro na biblioteca daqui a pouco? — Perguntou e ele assentiu concordando.
— Lorenzo. — Jason chamou quando Alexander já subia os primeiros degraus da escada.
— Agora não. Vou deixar você falar, mas não agora. — Explicou olhando-o sério — Se quiser se acomode no quarto de hospedes que sempre fica, mas acho que entenderá a atitude de colocar guardas para segui-lo... Afinal é a segurança da minha família.
— Entendo. — Jason concordou, mas seu semblante era de tristeza.
Alexander apenas olhou na direção de um dos guardas e ele já entendeu que estava designado a tarefa de vigiar Jason. Então sem dizer mais nada apenas voltou a subir a escada, seguindo até meu quarto. Abriu a porta e colocou meu corpo com cuidado sobre a cama, apoiando minhas costas a cabeceira.
— Vou chamar sua criada para ajudá-la. — Avisou ajeitando um travesseiro em minha perna machucada — Dói muito? — Questionou observando o curativo improvisado que tinha feito.
— Não muito. — Neguei percebendo que ele evitava me olhar diretamente.
Alexander levantou pronto para sair do quarto, mas segurei sua mão não deixando que se afastasse completamente.
— Alexander. — Chamei fazendo com que finalmente me encarasse
Notei em seus olhos uma mistura de várias coisas como, magoa, preocupação, alívio, felicidade e tristeza. Era uma contradição pura e não quis nunca mais ver aquilo.
— Sim? — Sussurrou.
— Me perdoa. — Pedi já sentindo a garganta fechando.
— Você sabe o que senti quando Victor chegou com meu pai e disse que você tinha ficado dentro daquela casa, totalmente em chamas junto com Nolan? — Perguntou fechando os olhos, seu rosto totalmente angustiado — Você tem ideia da importância que tem Mabel? De que simplesmente não conseguiria viver com sua ausência? — Negou com a cabeça agora me olhando sério — Não precisei de muito para me apaixonar por você... Mas iria precisar de uma vida para tentar te esquecer. — Confessou e notei uma lágrima solitária escorrer pela sua bochecha.
Mordi o lábio inferior deixando que meu choro viesse finalmente à tona. Naquele momento não queria parecer forte, estava cansada disso.
Puxei Alexander pela mão e fiz com que ele sentasse na beirada da cama, perto de mim. Sequei a lágrima que tinha escorrido por sua bochecha enquanto a afagava carinhosamente.
— Me perdoa. — Repeti soltando um soluço baixo — Fui imprudente, estúpida e o que mais você quiser pensar... Mas fiz isso por você. — Sussurrei com a voz embargada — Sei o quanto ama seus pais e sei que ficaria arrasado se acontecesse alguma coisa com o rei, — Expliquei secando minhas bochechas molhadas — Além da rainha Elisabeth, que não merecia nada do que estava acontecendo.
Alexander me olhou em silêncio por alguns minutos e fiquei ali presa em suas esmeraldas, que sempre me tiravam o folego. Ele passou a mão com cuidado e secou minhas bochechas, que já estavam molhadas de novo pelas lágrimas silenciosas que caiam sem parar.
— Odeio vê-la chorando. — Sussurrou e por incrível que pareça aquilo só fez com que meu choro aumentasse ainda mais — Sabe qual é o seu maior defeito? — Questionou de repente e apenas neguei com a cabeça, sem condições de falar nada — Esse aqui... — Explicou tocando meu coração — Você tem um coração muito grande.
Dei uma risada baixa e sem humor. Cheguei mais perto ainda dele, que se inclinou ficando com o rosto a milímetros do meu, nossos narizes quase se tocado. Fechei os olhos sentindo seu cheiro característico, já me sentindo mais em casa. Ele era a minha casa.
Ainda de olhos fechados senti os seus lábios sobre os meus, macios e gentis, sem pressa, apenas aproveitando o momento.
— Precisamos cuidar da sua perna. — Sussurrou colocando uma mexa do meu cabelo atrás da orelha.
— Acho melhor tomar banho primeiro. — Sugeri.
— Vou chamar sua criada. — Avisou beijando minha testa antes de levantar.
— Alexander. — Chamei quando ele já estava na porta, fazendo com que parasse e me olhasse — Também não saberia viver sem você. — Confessei.
Ele sorriu brilhantemente e enfim saiu do quarto, mas avisando que logo voltaria.
Suspirei me recostando mais a cabeceira da cama. Não queria ter deixado Alexander daquele jeito angustiado e prometi que não faria nunca mais.
Alguns minutos depois Lucia apareceu com um ar preocupado. Ela explicou que o príncipe tinha pedido para avisar que passaria mais tarde para me ver, mas que agora precisava resolver alguns assuntos. Com cuidado e paciência Lucia me ajudou com o banho, ela encheu a banheira com alguns sais e mergulhei nela fechando os olhos, e aproveitando a água morna para relaxar. Minha perna ardeu no lugar do corte, mas ignorei e apenas fiquei ali quieta por alguns bons minutos.
Quando enfim sai do banheiro Lucia já esperava com meu roupão. Agradeci enquanto o vestia e sentei a beirada da cama, onde uma pequena maleta de primeiros socorros me esperava. Lucia rapidamente limpou o corte e fez um curativo de verdade.
— Muito obrigada. — Agradeci
— Imagina. — Negou com a cabeça — Soube o que fez... A senhorita é muito corajosa.
— Obrigada. — Sorri agradecendo novamente.
— Agora vou deixa-la descansar, — Avisou pegando a maleta e indo até em direção a porta — Se precisar é só chamar.
Lucia fez sua reverência e então saiu do quarto, fechando a porta. Suspirei e levantei seguindo até o closet. Peguei uma camisola e a vesti, voltando ao quarto. Deitei na cama e me cobri com o lençol fino.
Estava terminando de me acomodar quando ouvi uma batida na porta. Será que Lucia tinha esquecido algo?
— Entre! — Falei em voz alta para que ela ouvisse.
Então para minha surpresa vi a porta abrir minimamente e o rosto de rei Philliph aparecer na pequena fresta.
— Mabel. — Cumprimentou sorrindo gentilmente — Nós podemos conversar?
Assenti concordando, ainda sem saber muito bem o que falar ou como agir. Calmamente o rei entrou no quarto e fechou a porta. Andou até a penteadeira e puxou a cadeira de lá, colocando perto da cama, onde sentou e me olhou em silêncio por alguns minutos.
Prendi a respiração, me sentindo apreensiva e ansiosa. Afinal o que será que o rei queria?
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