Capítulo 5
Alexander tinha saído do meu quarto a alguns minutos. Era madrugada e ele precisava voltar ao seu antes que alguém o visse ali. Era bom evitarmos mais alguma confusão no palácio, afinal tudo já estava tão bagunçado.
Assim que chegamos ao quarto Alexander deitou com a cabeça em meu colo e fiquei fazendo cafuné em seus cabelos como tinha pedido. Isso enquanto ele lia a carta que meus avós escreveram.
"Querida Bel...
Ficamos muito preocupados e assustados com o ataque ao palácio, e nossos corações se apertaram em aflição. Assim que ficamos sabendo do acontecido seu avô foi até o centro da província para buscar notícias sobre como estavam às coisas. Além disso um guarda foi enviado para nos informar que você e as outras garotas estavam em segurança, mas que por precaução nós não poderíamos vê-la.
Estamos com saudades. Coloco flores na mesinha ao lado da sua cama todos os dias, como sempre fazia. Astromélia. A sua preferida.
Espero que esteja tão feliz como vi em nossa última visita. Seus olhos brilhavam com um motivo específico... Eu sei. Também sei que encontrou seu lugar e fico tão feliz por isso. Sua mãe ficaria orgulhosa, minha menina.
Não quero que se preocupe conosco, nós estamos bem e sendo auxiliados pelo reino no que precisamos. Jason tem aparecido todas as semanas para ver o que precisamos e passa um bom tempo conversando com seu avô na sala, isso enquanto toma uma xícara de café.
Sabe... Só entre nós... Não acho que ele venha apenas para ver como nós estamos e não sei se isso me preocupa, ou não, afinal Samantha é tão nova. Acho que estou ficando velha, é isso. Minhas meninas estão crescendo e se indo, e não posso evitar.
Esperamos vê-la o mais breve possível. Seu avô mandou um beijo e um abraço, grande e apertado. Ele está trabalhando em um jardim. Já Sam foi ao centro levar as encomendas, mas disse que está com saudade e que têm lindos vestidos prontos para quando você for à nova princesa de Thompson... Você sabe como sua irmã é!
Não quero me estender muito, você deve estar ocupada com coisas "reais". Um grande beijo. Se cuide.
Te amamos muito!
Meu coração estava mais aliviado depois de saber que eles estavam bem, mas tinha o fato de Jason ainda visita-los. Por quê? Realmente tinha algum interesse em Sam ou era só fachada? Um plano?
Ainda nem sabíamos por que Jason estava metido em tudo isso e esse era meu objetivo agora. Entender por que ele se envolveu com Nolan e ficou contra o rei.
Dobrei a carta com cuidado e coloquei junto com as outras, na gaveta da cômoda ao lado da cama. Vesti o pijama e finalmente me deitei. Já era tarde e queria acordar cedo, afinal amanhã Nolan voltaria para sua província e algo me dizia que tinha mais coisas escondidas.
Precisava conversarcom Victor e Alexander a respeito disso. Nada me tirava da cabeça que eleestava indo até onde rei Philliph foi levado. Suspirei baixo e puxei o lençol, mecobrindo. Amanhã seria um dia cheio, sentia isso.
***
Terminei de me arrumar e procurei as sapatilhas, calçando-as. Estava usando um vestido simples, branco, com decote mais fechado e alças largas. Ele marcava a cintura e então se abria em um leve rodado, indo até a metade das coxas.
Sai do quarto e encontrei o corredor vazio. Era muito cedo e a maioria das garotas ainda dormia.
Desci até o primeiro andar e cumprimentei duas criadas que passavam com algumas roupas de cama nos braços. Cheguei ao salão principal e sentei em um dos sofás, pegando o jornal que estava sobre a mesa de centro. Em negrito, no topo dele, havia o título da matéria principal, "Atentado ao palácio: Quando estaremos seguros?".
Abri o jornal e folheei até chegar a matéria, lendo com cuidado. Nela explicava que o palácio tinha sido atacado por grupos ainda não identificados, provavelmente os mesmos do festival das flores. Não mencionava o desaparecimento do rei, o que era ótimo, pois não precisávamos de todos desesperados e com mais medo do que já estavam.
Algumas informações básicas sobre modos de segurança também foram dadas, coisas como, manter as portas e janelas fechadas após as dez horas da noite, além de evitar andar sozinho nas ruas à noite, entre outras coisas, e para finalizar avisava que guardas circulavam pela província caso algo suspeito acontecesse.
— Bom dia. — Victor cumprimentou entrando no salão.
— Bom dia. — Sorri e fechei o jornal deixando-o de lado — Queria mesmo falar com você.
— Fale... — Incentivou sentando no mesmo sofá.
— Estou desconfiada de que Nolan não vai para casa. — Sussurrei e olhei para a porta do salão, me certificando de que não tinha ninguém ouvindo.
— Também tenho essa desconfiança. — Confessou.
— Então não podemos deixar ele simplesmente ir. — Afirmei com seriedade.
— Não! — Concordou me olhando sério — Vou falar com Lorenzo. — Avisou já levantando — Nolan vai embora depois do almoço, assim nós ainda temos tempo de planejar algo.
Assenti concordando e ele se despediu saindo do salão. Nós precisávamos bolar alguma coisa que Nolan não desconfiasse e o pegássemos no flagra.
— Tão cedo e já acordada? — Jason comentou entrando no salão algum tempo depois de Victor sair.
— É, — Concordei um pouco surpresa com sua aparição — Sonho ruim.
— São apenas sonhos. — Sorriu mostrando suas covinhas antes até adoráveis, mas agora indiferentes.
— Sim, eles são. — Suspirei baixo.
— Lorenzo já desceu? — Questionou interessado.
— Ainda não vi ele hoje. — Dei de ombros.
— Hm. — Murmurou me olhando com certa cautela — Bom, vou até a biblioteca.
— Ok. — Concordei.
Suspirei alto aliviada assim que Jason tinha ido. Levantei do sofá e sai do salão, encontrando Kelly e Betina descendo a escada. As cumprimentei gentilmente e juntas nós seguimos ao salão das refeições para o café da manhã.
Cumprimentamos a rainha com nossa habitual reverência, recebendo um pequeno sorriso em resposta. Ela estava visivelmente abatida, mesmo que tentasse disfarçar. Podia perceber seu sofrimento em não saber o paradeiro do marido.
Alguns minutos depois o príncipe entrou acompanhado de Victor. Alexander piscou discretamente, me fazendo corar um pouco e retribuir com um pequeno sorriso. Logo após Nolan entrou no salão junto de Ian e Jason, e então o café foi finalmente servido.
Alisson estava sentada ao meu lado e não parava de suspirar baixo enquanto revirava a salada de frutas. Tinha alguma coisa de estranho com ela.
Assim que terminamos nós pedimos licença e saímos do salão, subindo ao segundo andar. Estávamos no corredor quando decidi que tinha mesmo algo errado com Alisson. Sentia que alguma coisa estava acontecendo.
— Alisson? — Chamei parando de andar.
— Sim, — Murmurou e virou me olhando — Aconteceu algo?
— Eu que pergunto... Aconteceu algo? — Arqueei uma das sobrancelhas observando Alisson com mais atenção.
— Hã... — Começou procurando as palavras.
— Alisson, — Chamei a atenção — Você pode me contar.
— Vem! — Pegou minha mão e puxou até seu quarto.
Entramos e nos sentamos na beirada da cama, uma de frente para a outra. Afaguei sua mão levemente enquanto ela parecia pensar no que dizer.
— Eu... — Começou, mas parou e baixou os olhos encarando o chão.
— Você... — Incentivei.
— Eu... — Começou novamente, mas fomos interrompidas por batidas na porta do quarto — Pode entrar.
— Com licença. — Uma criada disse abrindo minimamente a porta — Rainha Elisabeth está chamando no salão principal.
— Obrigada. — Agradeci sorrindo — Nós já vamos.
Ela assentiu concordando e saiu nos deixando a sós novamente. Olhei para Alisson com a sobrancelha arqueada.
— Conversamos depois. — Prometeu sorrindo levemente.
— Você não vai me enrolar. — Avisei séria.
Nos levantamos e engatei seu braço no meu para seguirmos juntas até o salão principal.
Rainha Elisabeth, Bianca e Verônica estavam sentadas em um dos sofás. Elas conversavam baixo enquanto Bianca folheava distraidamente uma revista. Já no sofá ao lado estavam Kelly, Amanda e Betina.
— Olá meninas. — Verônica nos cumprimentou.
Rapidamente eu e Alisson nos sentamos junto com as outras garotas.
— Os últimos acontecimentos não foram nada agradáveis, — Verônica começou e fez uma pequena pausa, respirando fundo — Mas nós temos um objetivo aqui e mesmo com tudo isso acontecendo temos que pensar positivo. Logo nosso rei estará de volta. — Afirmou pegando a mão da rainha em forma de conforto — Enquanto isso vamos continuar nos preparando para a próxima eliminação.
— Sim. — Rainha Elisabeth concordou — Assim que nosso rei estiver de volta a futura rainha será escolhida... Finalmente. — Deu um pequeno sorriso, que infelizmente não chegava aos seus olhos.
— Então será logo. — Amanda afirmou sorrindo.
— Com certeza Amanda. — Verônica sorriu para ela — Então vamos as informações finais... Vou explicar a vocês como será a cerimônia de escolha da nova princesa. — Avisou e nós assentimos concordando, prestando atenção em suas palavras.
Verônica explicou tudo com calma e detalhadamente. A próxima eliminação seria feita assim que nosso rei estivesse de volta. O que torcíamos para que fosse o mais breve possível.
Nesta eliminação sairiam mais duas garotas por escolha do príncipe, restando apenas três na final.
— Vocês entenderam? Alguma dúvida? — Questionou olhando para cada uma de nós.
— Entendemos. — Amanda respondeu e todas assentimos concordando.
— Suas costureiras vêm hoje para fazerem os vestidos. — Verônica avisou pegando uma pasta que estava ao seu lado e folheando alguns papéis — Agora vamos à aula de dicção. Como já perceberam uma boa rainha sabe como falar e o que falar... Isso será importante no discurso quando uma de vocês for coroada.
Então enfim Verônica começou nossa aula. Ela tinha trazido alguns livros da biblioteca do palácio e cada uma de nós ganhou um. Em seguida escolheu Kelly para ler um trecho do livro dela, fazendo o mesmo com cada uma de nós, sucessivamente.
— "... então estávamos de novo ali, juntos em meio às flores. Tão belas quanto ela." — Terminei de ler o trecho do livro e olhei para Verônica.
— Obrigada Mabel. Você foi ótima. — Verônica agradeceu sorrindo — Bianca... Já que é uma princesa poderia demonstrar a nós sua desenvoltura. — Sugeriu sorrindo mais abertamente — Creio que isso ajudaria as garotas.
— Claro — Bianca concordou e rapidamente pegou um dos livros.
— "Éramos tão diferentes e ninguém me deixava esquecer isso. Não sei se posso continuar. Não sei sou forte o bastante. Só sei que nada vai mudar o que sinto por ele e o que significa. Jamais o esqueceria e para sempre amaria." — Bianca terminou de ler e fechou o livro, colocando-o novamente sobre a mesa.
— Perfeito. — Verônica elogiou.
— Obrigada. — Agradeceu sorrindo e em seguida olhou para nós com ar de superioridade.
— Vocês têm que empregar a emoção do que estão falando. As pessoas precisam sentir através de suas palavras. — Verônica explicou e assentimos concordando.
Tentei prestar atenção em Verônica, mas o sorriso esnobe no rosto de Bianca me distraia o tempo todo.
— Por hoje acho que está ótimo, mas agora vocês têm que se concentrar na próxima eliminação. — Verônica nos olhava com seriedade — Teremos novas provas para testa-las e o povo conhece-las um pouco mais. — Explicou.
— Afinal uma de vocês vai ser a princesa deles, não é? — Rainha Elisabeth comentou sorrindo gentilmente.
Sorrimos animadas olhando umas para as outras. Era um pouco estranho ver os rostos cheios de expectativa, ainda mais depois de já ter ouvido de Alexander que ele tinha sua decisão tomada. Sua escolhida.
— Acho que vocês estão dispensadas. — Verônica comentou e assentimos concordando — O almoço será servido em breve.
Com calma ela e a rainha saíram do salão. Kelly e Betina se levantaram logo depois e conversando seguiram até as portas que davam para a varanda.
— Então queridas, esperançosas? — Bianca questionou se aproximando.
— Na verdade, não muito. — Alisson deu de ombros — Já sei minhas chances e qual o resultado final disso tudo.
— É mesmo? — Bianca arregalou um pouco os olhos parecendo surpresa. O que não acreditei.
— Claro. — Alisson afirmou — Na verdade, está muito óbvio para todos... Não acha, querida?
— Não sei, afinal nunca sabemos o dia de amanhã, não é? — Bianca sorriu mais tentando esconder seu descontentamento.
— Não, nunca sabemos. — Alisson concordou sorrindo, mas seus olhos demonstravam que estava quase pulando na garganta dela. O que eu não acharia nada ruim.
— Todas nós entramos sabendo das possibilidades, — Intervi enquanto cutucava Alisson sutilmente para que se acalmasse — Só queremos o melhor para Thompson.
— Com certeza, — Bianca concordou com um sorriso de canto — E para Lorenzo também.
— Com certeza. — Repeti suas palavras a encarando.
— Garotas, — Verônica chamou parada na entrada do salão — O almoço está servido.
Agradeci mentalmente pela intervenção de Veronica e suspirei baixo seguindo junto com Alisson e Bianca para o salão das refeições. A rainha já estava sentada a mesa e tínhamos acabado de nos acomodar, quando o príncipe entrou junto com os outros homens.
Alexander estava com o rosto séria, o que me deixou preocupada. Ele caminhou até sua mãe e beijou a testa sussurrando algo que a fez sorrir. Depois cumprimentou Verônica e sentou em seu lugar.
O almoço foi servido e rainha Elisabeth conversava baixo com Verônica enquanto comíamos. Tudo parecia normal, se não fosse pela ausência do rei e a presença indesejada de Nolan. Olhei de soslaio para ele que comia com calma, como se saboreasse sua última refeição. E quem sabe não fosse mesmo?
— Gostaria de pedir licença para me despedir formalmente de todos. — Nolan se pronunciou chamando nossa atenção e ficando de pé em seu lugar — Estou voltando a minha província... Preciso resolver algumas pendencias, mas foi um prazer conhecer as senhoritas. — Completou sorrindo de canto — Agradeço a estadia aqui e estou mandando guardas para ajudarem. Sei que logo acharemos rei Philliph.
— Não precisa agradecer Nolan. Sabe que é sempre bem-vindo. — A rainha interveio sorrindo gentilmente.
Senti um nó se formar na garganta ao vê-la tão de coração aberto para alguém que não merecia.
Nolan sorriu enquanto ia até a rainha e beijava sua mão cordialmente. Em seguida se dirigiu a Alexander, que se levantou e apertou a mão que ele oferecida. Revirei os olhos em desdém e olhei para Victor, que estava com uma cara não muito boa, mas que disfarçou rapidamente quando Nolan se dirigiu a ele. Depois disso foi a vez de Ian e Jason, e então nós garotas, onde ele beijou a mão de cada uma como um legítimo cavalheiro.
Fomos enfim dispensadas e propositalmente demorei um pouco para sair do salão, deixando as outras garotas seguirem na frente, junto com a rainha e Verônica. Fiz um sinal discreto com a cabeça para Alexander, pedindo licenciosamente que também ficasse. Então quando todos já tinham saído caminhei rapidamente em sua direção.
— É agora, não podemos deixa-lo ir. — Sussurrei.
— Já está tudo pronto. — Avisou me tranquilizando — Victor e eu já organizamos tudo.
— Tudo bem, — Assenti concordando — E qual a minha parte no plano? — Questionei com expectativa.
— A mais difícil. — Confessou me olhando sério e esperei ansiosa — Ficar aqui, quieta e em segurança.
— O que? — Exclamei um pouco alto demais, mas tampando a boca em seguida.
— Isso mesmo que você ouviu. — Confirmou encarando meus olhos e deixando claro que isso estava decidido.
— Sem chances. — Neguei com a cabeça.
— Bel, preciso me concentrar nisso e só vai acontecer se você estiver em segurança. — Explicou suspirando baixo.
— Mas... — Tentei contesta-lo.
— Por favor. — Pediu segurando minha mão.
Suspirei alto, frustrada e rendida. Queria muito participar e ajuda-los a trazerem nosso rei de volta, mas sabia que se alguma coisa desse errado por minha culpa não me perdoaria. Então se ajudaria a eles ficar aqui em segurança, faria. Seria complicado, mas faria.
— Tudo bem. — Concordei, mas com visível descontentamento.
— Obrigado. — Agradeceu aliviado — Minha mãe vai precisar de companhia.
— Como se Verônica e Bianca não estivessem aqui para isso. — Comentei ainda chateada por ter que ficar fora de tudo.
— Você entendeu. — Apertou meu nariz em forma de brincadeira — Bom, tenho que ir... Nolan sai daqui a pouco e queremos ficar no alcanço dele.
— Vão segui-lo? — Questionei interessada.
— Sim. — Concordou beijando minha testa.
— Se cuide e volta inteiro, por favor. — Sussurrei encarando seus belos olhos verdes.
— Sempre. — Afirmou sorrindo.
Alexander segurou meu rosto com as duas mãos e encostou seus lábios macios nos meus. Nosso beijo foi terno, mas não em forma de despedida, porque ele voltaria. Era um beijo de até logo, apenas mais um dos tantos que já demos e daríamos durante nossa vida. Terminamos com um selinho demorado e então Alexander saiu do salão rumo a nossa missão.
Fiquei parada ali por alguns minutos, pensando no fato de que daqui a pouco ele estaria seguindo um cara que sabíamos ser capaz de fazer coisas nada boas. Suspirei baixo tentando me acalmar, afinal agora o jeito era torcer para que tudo desse certo.
Sai do salão e segui em direção à escada. Estava inda nos primeiros degraus quando senti alguém segurar meu braço e puxar em direção a pequena dispensa que havia embaixo dela. Pensei em gritar por socorro, mas então a luz foi acessa e vi o homem parado a minha frente.
— O que está fazendo? — Questionei olhando apreensiva para Jason.
Era agora que ele me segurava pelo pescoço e esganava até cair sem vida no chão? Isso não podia acontecer.
— Preciso falar com você, mas rápido porque não temos tempo. — Avisou me olhando sério.
— Falar sobre o que? — Franzi a testa já temendo por sua resposta.
— Todos correm perigo... Nolan está tramando algo. — Explicou rapidamente.
— E você está ajudando. — Acusei cheia de raiva, sem conseguir me conter — Esquece Jason... Nós já sabemos de tudo.
— Como sabem? — Questionou arregalando os olhos em visível surpresa — Bom, isso não vem ao caso agora... — Negou com a cabeça — Nolan não está indo para casa e sim onde rei Philliph foi levado. — Confessou confirmando minhas suspeitas — Ele quer acabar com Philliph e depois com a influência e amizade de outros reis juntar sua província com a de Thompson, montando a maior de todas... Futuramente a transformando em única capital. — Explicou suspirando com pesar.
— Não! — Neguei indignada com tudo que tinha acabado de ouvir — Isso é maligno... Mas espera... — Olhei para ele meio em dúvida — Porque está me contando isso? Nós sabemos que você está com Nolan, então como vou confiar no que diz? — Questionei dando um passo para trás e me distanciando mais dele.
— Eu errei muito Mabel. Fiz coisas que não devia e trai pessoas que me ajudaram. — Admitiu baixando os olhos — Me arrependo, mas são coisas que não voltam e o que posso fazer é mudar o agora.
— Você traiu a confiança do príncipe! — Acusei sem conseguir me conter — Sabe o que foi para ele descobrir isso tudo? — Completei com magoa ao lembrar do semblante de Alexander ao vê-lo com Nolan no lago.
— Imagino e não vou me perdoar por isso, — Confessou suspirando baixo — Mas temos uma chance de salvar rei Philliph e Thompson... Está disposta a tentar?
Encarei Jason por alguns minutos, com a indecisão estampada em meu rosto. Ao mesmo tempo em que temia acreditar nele e ser um truque barato, também estava com um pressentimento de que devia fazer isso.
Sabia que Alexander tinha pedido para que eu ficasse e que tinha dado a ele minha palavra de que faria isso, mas as circunstâncias mudaram. Havia uma chance de ajudar e não queria deixar passar.
— O que temos que fazer? — Questionei suspirando alto, claramente me rendendo.
— Nolan não vai para onde rei Philliph está. — Confessou pensativo — Primeiro ele se encontrará com aliados para discutirem o próximo ataque. Querem invadir Thompson mais uma vez enquanto o rei estiver fora. — Explicou respirando fundo — Temos que chegar antes dele e libertar o rei.
— E como chegaremos antes? — Franzi a testa.
— Conheço uma estrada que nos levara até lá mais rápido, mas vamos ter que descer antes e seguir uma trilha. Pode ser um pouco arriscado... — Explicou dando de ombros.
— Mas nós vamos. — Afirmei determinada.
Iriamos conseguir trazer o rei em segurança de volta para o palácio, pelo menos era o que repetia em minha cabeça como um mantra.
— Então vamos, não podemos perder tempo. — Avisou abrindo a porta da dispensa.
Saímos com cuidado e por sorte não tinha guardas, ou criadas pelo caminho, então rapidamente chegamos até a porta de entrada do palácio.
— Meu carro está logo ali. — Avisou passando por alguns arbustos do jardim.
Vi mais ao longe um carro preto estacionado em uma das saídas laterais que o palácio possuía. Assim que chegamos Jason destravou as portas e nós entramos. Os vidros escuros ajudavam para que não fossemos reconhecidos.
— Fica a vinte ou trinta minutos daqui. — Jason comentou enquanto acelerava.
— Quanto antes chegarmos melhor. — Olhei pela janela observando as árvores passarem rápido por nós, ou melhor, nós por elas.
Continuamos todo o percurso em silêncio. Realmente tinha muitas perguntas para fazer, mas não queria que fosse agora, afinal precisava me concentrar. Pegar Nolan era fundamental.
— Chegamos. — Avisou parando embaixo de uma árvore — Agora temos que seguir a trilha.
— Ok. — Concordei saindo do carro.
— Não fica tão longe... Cinco minutos de caminhada no máximo. — Explicou já entrando em meio às árvores.
A princípio não vi trilha nenhuma, o que me preocupou. Jason poderia estar me levando a um penhasco para empurrar lá de cima e completar seu plano maligno com Nolan, como pensei desde o começo.
Meus pensamentos foram interrompidos quando finalmente a trilha começou a surgir a nossa frente e juntos continuamos seguindo por ela.
— Eu vou na frente e você fica na retaguarda para pedir ajuda se acontecer alguma coisa. — Explicou me encarando sério.
Olhei mais a frente, por entre as árvores, e encontrei com uma casa velha. Antigamente deveria ser amarela, mas agora estava tão suja que parecia mais um pós vomito. Sim, nojento.
— Pedir ajuda a quem Jason? Estamos sozinhos aqui. — Revirei os olhos como se esse fato fosse óbvio.
— Se você voltar à trilha e seguir pela mesma estrada em que viemos vai encontrar uma pequena vila, com duas ou três casas, a alguns quilômetros. Peça ajuda lá. — Explicou olhando para a trilha atrás de nós.
— Vou entrar junto. — Afirmei, mas ele negou.
— Você vai ficar aqui e chamar ajuda se precisar. — Reafirmou com seriedade — Se ouvir dois assovios você corre e faz isso.
— Ok, — Concordei suspirando baixo rendida — Mas se ver, ou ouvir qualquer coisa suspeita... Eu vou entrar! — Avisei.
Jason visivelmente desistiu de tentar falar algo mais e se despediu sumindo por entre as árvores, indo em direção a casa.
Fiquei ali parada atrás de uma delas, observando enquanto Jason chegava com cautela perto de uma janela quebrada e tampada com alguns pedaços de madeira. Ele se abaixou e olhou por um dos buracos que tinha nela. Depois ainda agachado começou a andar, rodeando a casa e saindo do meu campo de visão.
Continuei ali esperando por alguns minutos, até ver um homem moreno sair de dentro dela e caminhar em minha direção. Senti o coração acelerar, mesmo sabendo que ele não me via ali. Provavelmente estava indo a trilha, então corri para longe e me escondi em outra árvore.
Vi o homem se distanciar cada vez mais e reparei na arma em sua mão. Continuei pulando de árvore em árvore, até chegar perto da casa. Não vi Jason em lugar nenhum e isso me preocupou.
Notei uma movimentação estranha e decidi chegar mais perto. Corri até a parede da parte dos fundos da casa e me encostei nela, caminhando com cuidado até o canto, checando se tinha alguém ali, ou se estava seguro. Não vi perigo nenhum aparente e ainda encostada caminhei até uma das janelas, mas essa estava inteira, apesar do vidro sujo que quase não permitia ver muito bem o lado de dentro.
Ouvi o barulho de algo arrastando ali perto e me abaixei rapidamente, engatinhando até quase à frente da casa. Um segundo homem saiu dali e seguiu na mesma direção em que o outro tinha ido a poucos minutos. Reparei em um movimento mais ao longe e percebi ser Jason seguindo o homem.
Olhei para a porta da frente enquanto decidia se fazia a loucura que estava pensando, ou se ficava ali em segurança. Como sempre, é obvio que decidi pela loucura.
Corri até a porta o mais rápido que podia e entrei a fechando novamente. Assim que estava do lado de dentro percebi que tinha acabado de me meter em uma grande enrascada. Isso porque se algum daqueles homens voltasse e me encontrasse ali estaria morta, literalmente.
Agora estava parada em uma pequena sala de paredes amarelas como as de fora. Ali havia um sofá, com uma colcha velha, vermelha. Do outro lado uma cozinha com um fogão e a pia, mas sem mesa e cadeiras. A casa era mal iluminada e o piso de madeira fazia barulho quando caminhávamos.
Andei com cuidado até o corredor, tentando não fazer tanto ruído. Vi duas portas e com cuidado girei a maçaneta de uma delas, encontrando novamente as paredes amarelas. Varri o lugar com os olhos, mas estava completamente vazio. Senti uma sensação estranha de déjà vu, mas balancei a cabeça afastando aquilo. Precisava me concentrar.
Ouvi barulho de passos e algumas portas batendo, depois vozes alteradas e os passos se aproximando cada vez mais. Comecei a me desesperar e rapidamente entrei no quarto. Fechei a porta e fiquei atrás dela, assim quando a abrissem acabariam por me esconder.
Tranquei a respiração quando vi a maçaneta girar e a porta abrir. Um homem alto entrou empurrando outro e o jogou de qualquer jeito no chão sujo.
— Você vai pagar por tudo que nos fez. — Ameaçou entrando mais na sala e imediatamente o reconheci.
Nolan. Ele estava com a mesma roupa que tinha saído do palácio hoje pela manhã, mas no rosto seu sorriso era diferente. Não era aquele gentil que usou para nos agradecer pela estadia e sim um grande e ameaçador, cheio de más intenções.
— Você não tem que fazer isso. — Rei Philliph estava visivelmente machucado e abatido.
Ele era o homem que o outro tinha jogado. Estava caído no chão, com um corte no rosto e as roupas sujas e rasgadas. Totalmente diferente do habitual.
— Você não viu nada ainda. — Nolan negou com a cabeça antes de chuta-lo com força, fazendo com que desmaiasse de dor.
Ele ainda ficou alguns minutos parado olhando para o rei desacordado, até dar uma risada e sair do quarto, trancando-o novamente.
Esperei algum tempo e então corri até onde o rei estava caído. Mexi em seus ombros com cuidado tentando acorda-lo. Nós tínhamos que tentar sair daqui o mais rápido possível, mas como? Onde estaria Jason agora? E Alexander e Victor, será que tinham conseguido seguir Nolan até aqui? Olhei mais uma vez para o rei caído ali e suspirei alto.
Nós precisávamos de ajuda.
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