Capítulo 3
Os barulhos do lado de fora eram cada vez mais altos e assustadores. Nós estávamos escondidos no abrigo subterrâneo que havia no palácio e que até então eu nem sabia da existência. Todos estavam apreensivos e isso era visível.
O casal real estava sentado em um pequeno sofá mais ao canto. Ainda no mesmo sofá também estava Bianca, com suas belas pernas cruzadas e as mãos apoiadas em seu colo, não se mostrando nem um pouco abalada com tudo aquilo.
Já eu permanecia de pé no lado oposto, junto com Alisson e as outras garotas. Olhei para Alexander que conversava baixo com Victor e Ian. Eles estavam perto da escada e por coincidência, ou não, Nolan ocupava uma das cadeiras ali perto.
— Está tudo bem? — Ian perguntou chegando até nós.
— Sim, apesar de tudo. — Alisson confirmou olhando-o sem esconder seu deslumbramento.
Aproveitei que eles estavam distraídos e sai sem que percebessem. Segui até Victor e Alexander, que ainda conversavam baixo, mas pararam assim que cheguei.
— O que estavam falando? — Questionei arqueando uma sobrancelha.
— Nada demais. — Victor deu de ombros.
— Alexander... — Pressionei encarando-o com cara de quem não aceitaria uma resposta contraria.
— Estamos planejando como pegar Nolan no flagra. — Explicou suspirando baixo.
— Cara! — Victor exclamou e deu um soco fraco no braço do amigo.
— O que? — Alexander questionou franzindo a testa.
— É, o que? — Coloquei as duas mãos na cintura e olhei para Victor desafiadoramente.
— Você tem que ser mais firme com ela. — Explicou a Alexander.
— Seu... — Murmurei visivelmente indignada.
— Quero dizer que não precisa saber de tudo, — Justificou dando de ombros — É para sua segurança.
— Você é um bobo. — Revirei os olhos em desdém.
— Estou ofendido. — Victor ironizou.
— Se fizerem algo eu vou participar e sabem disso. — Avisei determinada.
— Nem pensar! — Os dois disseram ao mesmo tempo.
— Não está em discussão. — Victor negou com a cabeça.
— Veremos. — Cruzei os braços em desafio.
Sem dizer mais nada virei e caminhei de volta até as garotas e Ian. Ele estava mais perto de Alisson do que o adequado, mas nas atuais circunstâncias ninguém notava isso. Para a sorte dos dois.
— Como será que estão as coisas lá fora? — Amanda questionou visivelmente apreensiva.
— Pelo barulho acho que ainda estão tensas. — Betina comentou.
Os barulhos do lado de fora ainda eram constantes. Não tão altos quanto antes, mas ainda bem audíveis.
Sentei em uma das cadeiras perto de onde estávamos e observei Nolan de canto de olho. Ele permanecia quieto e até concentrado demais para quem estava sobre ataque.
...
Quase uma hora tinha se passado quando ouvimos batidas na porta do abrigo. Automaticamente todos levantaram e ficaram em alerta. Victor e Alexander tomaram a frente e se olharam de relance quando a porta abriu revelando o guarda Jerremy.
— Acabou senhor. — Ele avisou.
— Obrigado. — Rei Philliph agradeceu e ouvi o suspiro de alivio da rainha.
Jerremy apenas assentiu concordando e abriu mais a porta. Então com calma nós começamos a sair do abrigo. Victor e Amanda estavam a minha frente, junto com as outras garotas.
Assim que pisei na grama do jardim pude ver um pouco dos danos causados pelo ataque. Alguns pedaços de madeira e estilhaços de vidro estavam espalhados pelo chão.
— O andar real já foi revistado e está seguro. — Jerremy explicou.
Alexander assentiu concordando e começou a segui-lo, assim como nós.
Passamos pela mesma cozinha desarrumada de antes. Ali também haviam vários cacos de vidro e coisas quebradas, que nós desviávamos para conseguirmos passar e chegar ao salão principal. Vários guardas circulavam com pressa, alguns com manchas de sangue visíveis nos uniformes ou curativos improvisados.
— Majestade, — Um dos guardas cumprimentou fazendo sua reverência — Conseguimos combater os invasores.
— Todos mortos? — Rei Philliph questionou olhando-o com seriedade.
— A maioria sim, mas alguns feridos conseguiram recuar e fugir. — Confessou baixando sua cabeça.
— Nosso prisioneiro? — Questionou com interesse.
— Eles o libertaram senhor. — O guarda admitiu com visível vergonha.
— Que droga! — O rei esbravejou sem se conter — Desculpem... — Pediu virando-se para nós.
— Calma querido. — A rainha tocou seu ombro com gentileza.
— Quero que façam uma busca e o encontrem! — Rei Philliph ordenou aos guardas, que concordaram já saindo e o obedecendo.
— Vamos subir querido. — A rainha sugeriu.
— Sim. — Ele concordou segurando sua mão — Vamos subir, temos cômodos para todos.
Nós assentimos concordando e então quando estávamos quase saindo do salão ouvimos o barulho de algo quebrando. Todos nos abaixamos imediatamente. Alisson estava ao meu lado e vi que Ian a abraçava protetoramente. Vários guardas também já corriam ao nosso encontro e formavam uma espécie de barreira protetora.
Alexander praticamente se materializou ao meu lado e puxou para mais perto de si. Ouvi alguns disparos, mas não consegui identificar se estavam partindo dos guardas, ou de fora do palácio em direção a nós.
— Achei que tivessem controlado o ataque. — Rei Philliph comentou enquanto mantinha a rainha em seus braços.
— Nós tínhamos senhor. — Jeremy afirmou atirando em algo, ou alguém.
Mais disparos e barulho alto de vozes se seguiram. Os guardas corriam enquanto tentavam nos proteger, fazendo disparos contra o inimigo e então uma grande confusão se instalou.
Olhei por sobre o ombro de Alexander e vi alguns homens de preto entrando no palácio.
— É um segundo ataque. — Sussurrou perto do meu ouvido.
Em meio a toda confusão ouvi um grito mais alto. Virei o rosto e encontrei rainha Elisabeth sendo contida por dois guardas. Segui seu olhar desesperado e encontrei com dois homens pulando a janela quebrada, mas eles não estavam sozinhos e sim carregavam rei Philliph desmaiado.
Tinham pego o rei. De alguma forma tinham conseguido pega-lo.
— Tire as garotas daqui. — Alexander mandou a um dos guardas.
— Mas senhor... — O guarda tentou contestar.
— Tire-as! — Repetiu com firmeza.
— Ok. — O guarda concordou já chamando outros dois para ajudá-lo.
— Vai. — Alexander sussurrou e beijou minha testa.
— Não, — Neguei segurando sua mão com mais força — Você...
— Vai! — Insistiu encarando meus olhos de forma séria — Eu te encontro logo. — Prometeu.
A contragosto deixei o guarda me guiar até a escada junto com as outras garotas. Foi quando ouvi passos perto de nós e virei bem a tempo de ver Nolan. Ele passava rápido no meio da confusão, indo em direção à porta da frente do palácio.
Sem pensar duas vezes corri atrás dele pelo jardim, mas obvio que com cuidado para que não me visse. O segui até o abrigo em que estivemos a alguns minutos atrás. Ele desceu a escada e me agachei perto da entrada, tentando ver melhor lá dentro, ou apenas ouvir algo sem que fosse percebida ali.
— Conseguiram? — Nolan questionou.
Então ele não estava sozinho, mas com quem falava? Cheguei mais perto ainda da entrada, quase começando a descer a escada do abrigo para tentar enxergar melhor, mas não consegui devido à baixa iluminação do ambiente.
— Sim. — Confirmou uma voz que parecia familiar.
— Paulo foi liberto? — Nolan perguntou.
— Sim, nós o libertamos. — Comentou a outra pessoa e tentei prestar mais atenção na voz, tentando reconhecê-la.
— E o rei? — Questionou.
— Tudo como mandou. — O outro respondeu e ouvi a risada baixa de Nolan.
— Perfeito! Não desconfiaram de você? — Perguntou.
— Não. — Negou o outro.
— Ótimo! Então podemos concluir o plano. — Nolan avisou e podia notar a animação em sua voz.
— Ok. — Concordou o desconhecido.
— Vou voltar ao palácio e nos encontramos amanhã no lugar marcado. — Ele avisou e ouvi o barulho de passos se aproximando.
Levantei rapidamente e de volta ao palácio. Os barulhos já tinham sessado, afinal os intrusos conseguiram o que queriam: O rei.
Subi ao terceiro andar, onde sabia que as garotas tinham sido levadas. O segundo estava destruído, assim como o térreo. Havia manchas de sangue tanto no chão, quanto nas paredes e coisas quebradas pelo caminho. Assim que cheguei ao corredor encontrei com um dos guardas que me olhou visivelmente aliviado.
— Senhorita, nós estávamos a procurando. — Avisou me pegando pelo braço e guiando até uma das portas.
Ao entrar percebi que se tratava de um pequeno escritório, provavelmente do rei. Notei todas às garotas já ali, além de Ian. A rainha Elisabeth estava em um sofá no canto oposto, sendo amparada por Bianca.
— Bel. — Alisson sorriu enquanto vinha em minha direção.
— Todas estão bem? — Perguntei.
— Sim. — Concordou olhando de relance para a rainha.
Mesmo de longe podia ver as lágrimas silenciosas descendo pelo seu rosto. Soltei as mãos de Alisson e fui até o sofá onde ela estava. Sentei ao seu lado, o que não estava ocupado por Bianca é claro, e com cuidado peguei suas mãos nas minhas.
— Vai dar tudo certo. — A tranquilizei, ou pelo menos tentei.
— Obrigada Mabel. — Ela agradeceu sorrindo levemente, mesmo em meio às lágrimas.
Neste momento o príncipe, Victor e Nolan entraram no escritório. Alexander veio até nós e ajoelhou em frente à sua mãe, que no mesmo instante o abraçou buscando conforto.
— Nós vamos encontra-lo mãe. — Prometeu e ela assentiu concordando.
Victor estava parado perto de nós e logo atrás Nolan, que observava mãe e filhos abraçados. Franzi a testa tentando entender porque ele faria tudo isso e nesse momento seus olhos encontraram com os meus. Nos encaramos por alguns segundos, até que desviei minha atenção novamente a rainha.
Ela e o filho se desfizeram do abraço. Alexander me olhou e sorriu levemente, mas mesmo assim percebi a apreensão estampada em seu rosto. Ele parecia perdido e isso partia meu coração.
— Estou resolvendo tudo mãe, logo meu pai estará de volta. — Garantiu.
Alexander se levantou e sussurrou algo para Victor, que assentiu concordando. Ele beijou rapidamente a testa da rainha e então os dois saíram juntos.
Percorri com os olhos o escritório todo e vi as garotas ainda sentadas em um dos sofás. Ian estava agora mais ao canto falando com Nolan e aproveitando a distração de todos, levantei indo para perto da porta. Dei uma última olhada e sai rapidamente, antes que fosse percebida. Já do lado de fora, no corredor, encontrei com um guarda parado em frente a porta, vigiando.
— Preciso falar com o príncipe. — Avisei quando ele me olhou com um aviso claro de que não deveria estar ali.
— O príncipe está ocupado senhorita, — Explicou de forma séria — Aguarde no escritório.
— Mas eu preciso. — Insisti.
— Bel... — Ouvi alguém chamar.
Virei encontrando com Alexander parado a alguns metros de distância.
— Preciso falar com você. — Avisei tentando passar a ele através de meu olhar que era sério o que tinha a dizer.
— Vem! — Estendeu sua mão.
A aceitei imediatamente e deixei que me puxasse pelo corredor em direção ao seu quarto.
— Fale. — Incentivou quando já estávamos a sós.
— Tenho algo para contar. — Avisei.
— Estou ouvindo... — Alexander me olhava com atenção.
Assenti concordando e respirei fundo começando a contar tudo, desde o momento em que aproveitei da distração dos guardas e segui Nolan, junto com todo o resto.
Assim que terminei ouvi seu suspiro alto enquanto ele caminhava até a cama e sentava a beirada dela. Alexander apoiou seus cotovelos nos joelhos e depois colocou a cabeça entre as mãos. Ele estava visivelmente abalado com tudo isso.
Caminhei devagar e sentei ao seu lado, tocando seu ombro em forma de consolo.
— Nós vamos dar um jeito. — Tentei reconforta-lo.
Ele levantou a cabeça e encarou meus olhos. Segurou minha mão que estava em seu ombro e a levou até os lábios, dando um beijo no dorso.
— Não sei o que seria de mim sem você. — Declarou.
Neguei com a cabeça e toquei seu rosto com a outra mão livre. Alexander fechou os olhos aproveitando o carinho e cheguei mais perto, tocando seus lábios com os meus.
— Preciso que volte ao escritório, vou conversar com Victor. — Avisou me olhando novamente — Minha mãe está tentando ser forte, mas sei que está bem abalada e quero que fique com ela... Ela gosta muito de você.
— Não se preocupe, — Sorri para encoraja-lo — Sua mãe ficará bem.
Levantamos e saímos do quarto, voltando ao escritório. Nos despedimos em frente a porta, onde Alexander beijou minha testa antes de seguir pelo corredor. Respirei fundo e entrei no escritório disfarçadamente, indo sentar ao lado da rainha.
— Pedi que preparassem um chá para a senhora. — Avisei lembrando da desculpa que Alexander sugeriu para usar justificando minha saída.
— Obrigada. — Agradeceu sorrindo levemente — Meu Lorenzo tem sorte por tê-la. — Sussurrou.
— Não, — Neguei com a cabeça — Só estou fazendo o que a senhora merece... Logo o rei vai estar conosco e tudo terá passado. — Sorri a tranquilizando.
— Tomara! — Sussurrou apertando minhas mãos.
Nós saímos do escritório algumas horas depois. Já era noite e as criadas junto com alguns guardas trabalhavam incessantemente nos andares de baixo, isso para que tudo fosse ajeitado e reconstruído.
Nossos quartos estavam prontos, por ali não teve muitos danos, apenas coisas reviradas e jogadas pelo chão, mas que já foram arrumadas.
Rainha Elisabeth estava em seu quarto descansando. Depois de tomar uma xícara de chá e um remédio dor de cabeça ela finalmente tinha dormido.
Ajeitei a cama me preparando para finalmente deitar. Alisei o travesseiro e senti algo pinicar meus dedos. Coloquei a mão dentro e tirei dali um papel dobrado. Abri com calma e observei o vestido que Samantha tinha desenhado antes de eu vir para o palácio.
Senti meu coração apertar um pouco de saudade. Esperava que não soubessem desse ataque, ou sabia que ficariam preocupados. Não queria que meus avós tivessem algum problema por causa disso.
Ouvi uma batida na porta e rapidamente dobrei o papel, colocando-o novamente dentro da capa. Levantei indo abri-la e me surpreendi ao encontrar Alexander e Victor parados no corredor.
— Oi. — Franzi a testa confusa.
— Temos um plano. — Alexander avisou olhando de relance para Victor, que assentiu concordando.
Abri mais a porta deixando que entrassem no quarto. Os dois caminharam até perto da cama e pararam, me encarando com seriedade.
— Não me deixem curiosa. — Pedi enquanto fechava a porta.
— Nós vamos pegar Nolan. — Victor explicou de forma simples e direta.
— E como pretendem fazer isso? — Questionei sem entender como conseguiriam.
— Você disse que ele vai se encontrar amanhã com essa pessoa que está ajudando, então nós vamos segui-lo e descobrir quem é. — Alexander explicou dando de ombros.
— E então pega-los. — Victor completou sorrindo como se fosse muito simples.
— É arriscado, — Murmurei pensativa — Mas eu vou junto.
— Não! — Negaram juntos.
— Vou sim. — Cruzei os braços determinada.
— Mabel... — Alexander começou e neguei com a cabeça.
— Thompson precisa de nós. — Afirmei séria.
Ficamos nos encarando em silêncio por alguns minutos, até Alexander soltar um suspiro cansado e eu sabia que tinha ganhado.
— Falei que você tem que ser mais firme com ela. — Victor comentou.
— Você está pedindo uns tapas. — Ameacei fazendo ele revirar os olhos em desdém.
— Você vai participar, mas vai fazer somente o que combinarmos. — Alexander explicou me olhando sério.
Assenti concordando e sentei novamente na beirada da cama, ouvindo todo o plano com atenção e o memorizando. Precisávamos que desse certo, afinal Thompson e o rei dependiam disso.
Depois de tudo combinado Alexander beijou meus lábios rapidamente e então eles se foram.
Tranquei a porta e me troquei, colocando o pijama. Deitei na cama e puxei o lençol sobre meu corpo. A noite estava um pouco mais fria hoje e combinava perfeitamente com o clima que se encontrava no palácio no momento, mas isso seria por pouco tempo.
***
Já era meia manhã. O café tinha sido servido em nossos quartos e agora eu andava de um lado ao outro esperando o momento certo em que entraríamos em ação. O plano todo tinha sido combinado na noite anterior e esperava que desse certo.
Respirei fundo algumas vezes. Ouvi uma batida na porta e em seguida Victor colocou a cabeça para dentro, me procurando.
— Pronta? — Questionou assim que me viu.
— Sim. — Concordei indo ao seu encontro.
— Boa sorte. Ele já está no salão. — Avisou abrindo mais a porta para que eu passasse.
Saímos do quarto e seguimos pelo corredor, parando no topo da escada. Victor segurou minha mão e deu um beijo de boa sorte.
Respirei fundo e finalmente desci a escada. O andar de baixo ainda estava um pouco bagunçado. Algumas criadas variam o chão e limpavam as paredes, enquanto alguns guardas reconstruíam as janelas quebras e paredes danificadas.
Entrei no salão principal e encontrei Nolan sentado em um dos sofás, como Victor tinha dito. Fingi esbarrar em um deles, que fez barulho e chamou sua atenção.
— Mabel. — Nolan cumprimentou.
— Nolan. — Sorri levemente.
Queria vomitar na cara dele, mas deixaria isso para outro momento.
— Um pouco perigoso vê-la andando sozinha no meio de tal destruição. — Comentou gesticulando e mostrado o salão em que estávamos.
— Na verdade, combinei de encontrar o príncipe aqui, mas acabei de ser informada de que ele e Victor tiveram que ir ao centro da província. — Menti dando de ombros.
— Entendo. — Murmurou tentando esconder seu contentamento com a informação que tinha acabado de receber.
— Bom, vou subir novamente... Até. — Me despedi com um aceno discreto.
Sai do salão e comecei a subir a escada devagar. Quando já estava na metade me virei e vi Nolan sair do salão, indo em direção à porta de entrada do palácio. Contei até cinco e então desci novamente.
Bati na porta da minúscula dispensa que havia embaixo da escada, onde Alexander esperava escondido.
— Ele está indo. — Avisei assim que abriu a porta.
— Obrigada. — Agradeceu já saindo dali.
Comecei a segui-lo e quase trombei em seu corpo quando ele parou, virando-se em minha direção.
— Mabel. — Alertou com uma sobrancelha arqueada.
— Eu vou com você e não adianta teimar. — Afirmei séria.
Nos encaramos por alguns poucos segundos, até Alexander suspirar rendido e segurar minha mão, puxando para fora.
Nolan seguia pelo caminho de pedras já bem conhecido e com cuidado nós começamos a segui-lo, mantendo alguma distância segura, é claro. Em certo momento vimos ele entrar no meio das árvores e continuar pela trilha de terra, essa que eu sabia levar a clareira com o lago.
Nos escondemos atrás de uma árvore de tronco grosso, enquanto Nolan caminhava até perto do lago. Ele parou a beira dele e colocou as mãos nos bolsos da calça, como se apreciasse a paisagem. Então quase dez minutos depois um vulto saiu do meio das árvores e cutuquei Alexander, apontando com a cabeça na direção dele.
— Deve ser a pessoa que está ajudando. — Sussurrei.
O homem alto vestia um terno cinza escuro e caminhava de costas para nós, indo em direção a Nolan, que se virou assim que notou sua presenta. Os dois apertaram as mãos em um cumprimento simples e rápido e então o desconhecido se virou ficando de lado, nos deixando ver seu perfil.
— Não... — Sussurrei tampando minha boca com uma das mãos.
— Não pode ser. — Alexander murmurou.
Então era ele que estava ajudando Nolan aqui no palácio? O traidor durante todo esse tempo? Desviei os olhos dos dois homens e encontrei com o rosto supresso de Alexander.
— Alexander. — Chamei sua atenção.
Lentamente ele se virou e encarou meus olhos. Os seus estavam um pouco arregalados e pude ver nitidamente uma mistura de sentimentos ali. Olhei para os dois homens que ainda conversavam, com certeza sobre o ataque de ontem e quem sabe planejando mais alguma coisa ruim.
Cerca de vinte minutos depois eles se despediram e Nolan refez seu caminho voltando pela trilha, enquanto o outro sumia pelas árvores de onde tinha vindo.
Esperamos até Nolan estar alguns metros longes e então saímos do nosso esconderijo improvisado. Alexander segurou minha mão e juntos voltamos ao palácio. Tudo isso em completo silêncio.
Mal tínhamos passado pela porta da entrada quando ouvimos a voz dele, agora mais do que nunca totalmente reconhecível.
— Lorenzo! — Chamou alto fazendo com que nos virássemos — Vim assim que soube do ataque. Sabe que pode contar comigo, não sabe amigo? — Avisou colocando a mão no ombro dele e o apertando levemente.
— Jason! — Alexander cumprimentou com seriedade.
Sentia ele tenso ao meu lado. Sua mão segurava a minha com um pouco de força, mostrando como aquilo seria difícil. Então apertei a sua de volta, tentando passar confiança.
Afinal, não era fácil estar frente a frente com seu amigo de infância sabendo que ele era um traidor. Que tinha ajudado a sequestrar seu pai e colocado o reino em perigo. Não, não era nada fácil.
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