The scientist

University of Michigan, EUA — Agora
Ivy

A primeira coisa que senti ao acordar foi o calor. O corpo ao lado do meu, sólido, quente, confortável demais para ser ignorado.

A segunda coisa foi o toque.

Um braço pesado estava jogado sobre minha cintura, mantendo-me ali, como se eu pertencesse àquele lugar. Como se ele não quisesse me deixar ir.

Abri os olhos devagar, piscando contra a luz fraca que entrava pela fresta da cortina. O quarto ainda estava mergulhado em uma penumbra suave, e o silêncio era interrompido apenas pelo som tranquilo da respiração ao meu lado.

Jace.

Engoli em seco.

Ele ainda dormia, o rosto relaxado de um jeito que eu não via com frequência. Os cabelos bagunçados caíam sobre sua testa, e seus lábios estavam ligeiramente entreabertos, como se estivesse sonhando com algo que não queria compartilhar com o mundo.

Ou talvez... comigo.

Meu peito apertou.

A memória da noite anterior veio como um turbilhão, cada toque, cada suspiro, cada provocação se misturando em um emaranhado de lembranças que fizeram minha pele se arrepiar novamente.

Porra.

Eu sabia que isso ia acontecer. Sabia que, assim que a adrenalina passasse, eu ficaria deitada aqui, encarando o teto, me perguntando se tinha cruzado uma linha da qual não poderia mais voltar.

Ou pior... me perguntando se eu queria voltar.

Me mexi levemente, tentando sair do alcance do braço dele, mas Jace soltou um resmungo sonolento e apertou a mão em minha cintura, me puxando de volta.

— Nem tenta, Fantasminha — ele murmurou, a voz rouca de sono. — Você não vai a lugar nenhum.

Meu coração deu um pulo.

Fechei os olhos por um segundo, respirando fundo, antes de me virar para encará-lo.

Ele não tinha aberto os olhos ainda, mas o sorrisinho satisfeito em seus lábios dizia que ele estava mais acordado do que queria demonstrar.

— Desde quando você me dá ordens? — resmunguei, tentando soar indiferente, mas minha voz saiu um pouco mais suave do que eu gostaria.

Jace abriu um dos olhos, preguiçosamente, e me lançou um olhar divertido.

— Desde que você começou a gostar delas.

Senti meu rosto esquentar, e ele deve ter notado, porque seu sorriso só aumentou.

— Idiota — murmurei, desviando o olhar.

— Seu idiota favorito — ele provocou, apertando um pouco mais o braço ao meu redor.

E, droga, era verdade.

Eu estava ferrada.

Ele estava tão confortável ali, me segurando como se tivesse todo o direito do mundo. Como se aquilo fosse natural.

E talvez fosse.

Talvez essa fosse a parte mais assustadora de todas.

Minha mente gritava que eu devia levantar, me afastar, colocar alguma distância entre nós antes que fosse tarde demais. Mas meu corpo... meu corpo parecia ter ideias completamente diferentes.

Respirei fundo, reunindo coragem para tentar de novo, mas antes que eu pudesse me mover, senti os lábios de Jace tocarem meu ombro.

Um beijo preguiçoso, leve, mas que fez minha respiração travar.

— Para de pensar tanto — ele murmurou contra minha pele, como se conseguisse ler minha mente.

Fechei os olhos por um segundo, tentando ignorar o arrepio que percorreu minha espinha.

— Não tô pensando em nada — menti, a voz mais fraca do que eu gostaria.

Jace riu baixinho, o som vibrando contra minha pele.

— Claro que tá. Você faz essa coisa com a sobrancelha quando tá tentando fingir que não se importa.

Eu estava prestes a retrucar quando ele deslizou a mão pela minha cintura, os dedos traçando círculos lentos contra minha pele nua.

Porra.

— Você não joga limpo — murmurei, me odiando um pouco por como minha voz saiu suave, quase entregue.

Jace se moveu ligeiramente atrás de mim, até que sua boca estivesse próxima ao meu ouvido.

— Nunca joguei.

Ele deslizou o nariz pela curva do meu pescoço, e, instintivamente, inclinei a cabeça para o lado, cedendo mais do que devia.

Meus olhos se fecharam, e por um segundo, só existia aquela sensação. O calor do corpo dele contra o meu, o toque dos seus dedos na minha cintura, a respiração quente contra minha pele.

E foi só quando senti um sorriso satisfeito se formar contra meu ombro que percebi o que tinha feito.

Abri os olhos na mesma hora.

— Ok, acabou — resmunguei, me virando rapidamente e empurrando seu peito para criar alguma distância entre nós.

Jace soltou uma risada preguiçosa, me deixando escapar sem resistência.

— Medrosa.

— Não é medo, é bom senso — retruquei, sentando na beira da cama e procurando alguma peça de roupa pelo chão.

— Engraçado... — ele disse, a voz carregada de provocação. — Não parecia que você tava muito preocupada com bom senso ontem à noite.

Joguei um travesseiro na direção dele sem nem olhar.

— Cala a boca, Jace.

Ele riu de novo, e eu podia sentir seu olhar queimando minhas costas enquanto eu tentava me recompor.

Mas não importava o quanto eu tentasse ignorar, uma coisa era clara: eu podia fingir que nada tinha mudado, que aquilo não significava nada.

Mas sabia que estava mentindo para mim mesma.

Me vesti o mais rápido que consegui, sem olhar para trás. Se eu olhasse... Se eu encarasse aqueles olhos que pareciam ver direto através de mim, eu podia acabar fazendo algo idiota. Tipo voltar para a cama.

Jace continuava deitado, uma expressão divertida no rosto, como se estivesse aproveitando cada segundo da minha tentativa falha de agir como se nada tivesse acontecido.

Quando finalmente me virei para encará-lo, ele tinha uma mão atrás da cabeça, o lençol caído perigosamente baixo em seus quadris.

Porra.

Foquei nos olhos dele. Era mais seguro.

— Eu vou tomar banho.

— Precisa de ajuda? — ele perguntou sem um pingo de vergonha, arqueando uma sobrancelha.

Lancei um olhar mortal na direção dele.

— Preciso que você cale a boca.

Ele riu, e eu fui até o banheiro antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa que me fizesse corar.

Fechei a porta e me apoiei contra ela, soltando um suspiro longo.

O que eu estava fazendo?

Pior: o que eu ia fazer agora?

A água quente bateu contra minha pele, e por mais que eu tentasse, não conseguia apagar as lembranças da noite passada. O toque dele. O jeito que ele dizia meu nome. A forma como cada provocação dele me fazia querer bater nele e beijá-lo ao mesmo tempo.

Isso não era um problema. Eu podia lidar com isso.

O problema era o jeito como acordei nos braços dele e, por um segundo, tudo pareceu certo.

Isso sim era perigoso.

Saí do banho decidida a colocar um pouco de distância entre nós. Mas, claro, Jace tinha outros planos.

Ele estava de pé na cozinha, só de calça, preparando café como se fosse a coisa mais normal do mundo.

E o pior? Ele parecia completamente à vontade.

— Bom dia de novo — ele disse, sem nem olhar para mim, como se acordar juntos fosse rotina.

— A gente precisa conversar — soltei de uma vez.

Ele finalmente ergueu o olhar, os olhos azuis analisando meu rosto.

— Precisa mesmo?

Cruzei os braços.

— Jace.

Ele soltou um suspiro teatral, se encostando no balcão.

— Tá bom. Conversar sobre o quê? Sobre como a noite passada foi incrível?

Revirei os olhos.

— Sobre como isso... — gesticulei entre nós — não pode acontecer de novo.

Ele arqueou uma sobrancelha, como se minha declaração fosse hilária.

— Ah, claro. Você quer que eu acredite que isso foi um erro?

Mordi a parte interna da bochecha.

— Eu não disse isso.

— Então qual é o problema?

— O problema é que isso complica as coisas.

Jace soltou um riso baixo, descrente.

— Ivy, as coisas entre a gente sempre foram complicadas.

— E isso aqui só vai piorar tudo.

Ele ficou em silêncio por um momento, me estudando. Então, lentamente, começou a caminhar na minha direção.

— Então me diz uma coisa, Fantasminha... — ele parou perto o suficiente para que eu sentisse o cheiro dele, para que meu corpo inteiro entrasse em alerta — Se eu te beijar agora, você vai me afastar?

Abri a boca para responder.

Mas não saiu nada.

Porque a verdade era que eu não tinha certeza.

E Jace percebeu.

Seu sorriso surgiu de novo, satisfeito e presunçoso.

— Foi o que eu pensei.

Eu precisava dizer alguma coisa. Fazer alguma coisa.

Mas a única coisa que meu corpo parecia capaz de fazer era ficar ali, paralisada, enquanto Jace me olhava daquele jeito. Como se soubesse exatamente o que estava passando pela minha cabeça.

Eu odiava quando ele fazia isso.

— Isso não quer dizer nada — consegui murmurar, quebrando o silêncio pesado entre nós.

Jace inclinou a cabeça para o lado, como se estivesse se divertindo.

— Não?

Ele levantou uma das mãos devagar, e meu coração disparou quando seus dedos roçaram de leve a minha cintura. O toque foi sutil, mas foi o suficiente para fazer meu corpo inteiro entrar em alerta.

Eu podia me afastar. Podia dizer a ele para parar.

Mas não fiz nada disso.

E ele sabia.

— Se não quer que isso se repita, tudo bem — Jace murmurou, a voz baixa, carregada de algo perigoso. — Mas não mente pra mim, Ivy. A gente sabe que isso não foi só uma noite qualquer.

Engoli em seco.

Ele estava certo.

E esse era exatamente o problema.

Porque se eu admitisse isso, eu teria que admitir que algo entre nós estava mudando.

E eu não sabia lidar com isso.

Então fiz o que eu sabia fazer de melhor.

Levantei o queixo, tentando recuperar o controle da situação.

— A gente pode fingir que isso nunca aconteceu.

Jace soltou um riso baixo, um pouco descrente.

— Você realmente acha que consegue fazer isso?

Eu queria dizer que sim. Que era só seguir em frente e fingir que nada tinha mudado.

Mas, no fundo, eu sabia que já era tarde demais pra isso.

Jace não insistiu. Só me observou por um momento, seu olhar intenso como se estivesse esperando eu desmoronar.

E talvez, de um jeito silencioso, eu já estivesse.

O silêncio se estendeu entre nós, pesado, carregado de palavras não ditas. Eu sabia que Jace estava esperando. Esperando que eu finalmente admitisse o que estava passando pela minha cabeça. Mas fazer isso significava encarar a verdade. E eu não sabia se estava pronta.

Respirei fundo, tentando encontrar a coragem que parecia sempre me faltar quando o assunto era ele.

— Isso é difícil, Jace — soltei, minha voz saindo mais baixa do que eu gostaria. — Eu não sei como lidar com isso.

Ele não disse nada de imediato. Apenas me observou, o olhar mais sério do que o normal. Então, devagar, cruzou os braços e encostou-se no balcão, como se estivesse me dando espaço para falar.

— O que exatamente é difícil? — sua voz era calma, mas firme. — Me diz, Ivy.

Engoli em seco, desviando o olhar. Eu odiava me sentir vulnerável, e Jace... Jace sempre conseguia me deixar assim.

— Isso aqui — fiz um gesto vago entre nós. — Nós. O que quer que seja isso.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— E o que você acha que isso é?

— Eu não sei — admiti, passando a mão pelo rosto. — Eu só... Nunca fui boa nessas coisas. Em me abrir, em confiar. E você... Você entra na minha vida, bagunça tudo e age como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.

— E não é? — ele retrucou sem hesitar. — Porque, pra mim, parece muito simples.

Soltei uma risada sem humor.

— Claro que parece simples pra você. Você nunca precisou se preocupar em se machucar.

A expressão dele mudou. O sorriso desapareceu, dando lugar a algo mais sério, mais intenso.

— Isso não é verdade — ele disse, a voz mais baixa. — Você acha que isso aqui não me assusta também?

Fiquei em silêncio, surpresa com a sinceridade no tom dele.

Jace passou a mão pelos cabelos, respirando fundo antes de continuar.

— Eu nunca senti isso por ninguém antes, Ivy. E, honestamente, não sei o que fazer com isso. Mas se tem uma coisa que eu sei, é que não quero fugir disso. Não quero fingir que não tá acontecendo.

Meu peito apertou.

— E se der errado? — minha voz saiu quase como um sussurro. — E se a gente se machucar no final?

Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós.

— E se der certo?

Minha respiração travou.

— Jace...

— Eu não tô dizendo que vai ser fácil — ele interrompeu, sua voz suave, mas firme. — Mas eu tô dizendo que vale a pena tentar. Eu faria de tudo pra isso dar certo.

Eu queria acreditar nele. Queria acreditar que, de alguma forma, eu poderia simplesmente deixar o medo de lado e me permitir sentir isso. Mas era difícil.

Jace percebeu minha hesitação e, sem dizer nada, ergueu a mão, deslizando os dedos pelo meu rosto. Seu toque era leve, paciente.

— Me dá uma chance, Ivy. Só uma.

Fechei os olhos por um segundo, deixando a sensação do toque dele me acalmar. Meu coração estava uma bagunça, minha mente gritando todas as razões pelas quais isso era uma péssima ideia.

Mas quando abri os olhos, tudo que vi foi Jace.

E, naquele momento, talvez isso fosse suficiente.

A tensão entre nós era quase palpável. Eu sabia que, se desse um passo à frente, não teria mais volta. Mas, ao mesmo tempo, a ideia de dar um passo para trás parecia ainda pior.

Minha mente estava dividida entre a razão e o que meu coração insistia em sentir. Jace estava ali, me olhando com uma intensidade que fazia meu estômago revirar, esperando por uma resposta que eu ainda não tinha certeza se poderia dar.

— Jace... — murmurei, minha voz vacilando.

Ele não pressionou, apenas deslizou o polegar de leve contra minha bochecha, um gesto tão simples, mas que me fez fechar os olhos por um instante.

— Eu sei que você tem medo — ele disse, a voz baixa e firme. — Mas, Ivy, eu não sou como as pessoas que te machucaram antes. Eu não vou embora.

Minhas mãos tremiam ao lado do corpo.

— Você não pode prometer isso.

— Posso — ele retrucou sem hesitação. — E eu tô prometendo agora.

Engoli em seco. O jeito que ele falava, tão certo, tão decidido... Isso me deixava ainda mais confusa.

— Você não entende, Jace. Eu não sei ser essa pessoa. Eu não sei... me entregar desse jeito.

Ele inclinou a cabeça, os olhos presos aos meus.

— Então deixa que eu te ensino.

Minha respiração travou.

— Você não vai querer lidar com isso — murmurei, desviando o olhar. — Comigo. Eu sou complicada demais.

Ele soltou uma risada baixa, como se achasse minha insegurança absurda.

— Ivy, eu já tô lidando com você há tempo suficiente pra saber exatamente no que tô me metendo.

Balancei a cabeça, ainda tentando me convencer de que isso era uma má ideia. Mas então ele deu mais um passo à frente, eliminando qualquer espaço entre nós.

— Eu faria de tudo por você — ele sussurrou. — Só me deixa tentar.

Fechei os olhos. Se eu cedesse agora, não teria mais volta. Mas, de algum jeito, isso não parecia tão assustador quanto antes.

Abri os olhos devagar, encontrando o olhar azul de Jace fixo em mim, cheio de uma paciência que eu nunca achei que alguém teria comigo.

— Tá bom — soltei baixinho. — Mas não me solta, Jace.

O sorriso que surgiu no rosto dele foi diferente de todos os outros que já vi. Não era de provocação, nem de brincadeira. Era genuíno.

Ele segurou meu rosto com mais firmeza e sussurrou contra minha pele:

— Nunca.


Algumas semanas depois

Se alguém tivesse me dito que eu terminaria aquele semestre dormindo todas as noites na cama de Jace Barrett, teria rido na cara dessa pessoa.

Mas ali estava eu, deitada ao lado dele, sentindo o peito subir e descer em um ritmo tranquilo enquanto seus dedos deslizavam preguiçosamente pelo meu braço.

Não foi fácil. Nos primeiros dias, eu ainda mantinha um pé atrás, esperando pelo momento em que tudo desmoronaria. Esperando que ele desistisse. Mas Jace não recuou. Pelo contrário. Ele ficou. Me puxou de volta toda vez que tentei fugir, me segurou quando eu mesma não tinha certeza se queria ser segurada.

E, de alguma forma, aqui estávamos.

— No que tá pensando, Fantasminha? — ele murmurou, sem abrir os olhos.

Suspirei, deitando a cabeça contra seu ombro.

— Que isso ainda parece estranho pra mim.

Jace abriu um dos olhos e arqueou uma sobrancelha.

— Estranho? A parte de dormir juntos? Ou a parte de você finalmente admitir que gosta de mim?

Revirei os olhos, mas o sorriso no canto da minha boca me traiu.

— Eu sempre gostei de você. O problema é que você sabe disso.

Jace riu, o peito vibrando sob minha mão.

— E qual o problema nisso?

Engoli em seco.

— O problema é que, quando as coisas são boas assim, significa que tem algo prestes a dar errado.

Ele ficou em silêncio por um momento, apenas me olhando, como se estivesse tentando entender os caminhos confusos da minha mente.

Então, virou-se de lado, me puxando para mais perto.

— Para de pensar assim — ele disse baixinho, como se fosse um segredo só nosso. — Não precisa ser sempre luta, Ivy. A gente pode só... ser.

Eu queria acreditar nisso. De verdade. Mas parte de mim ainda se agarrava ao medo de perder o controle.

Jace percebeu. Porque ele sempre percebia.

— Eu sei que você acha que eu vou embora — ele continuou, traçando círculos lentos contra minha pele. — Mas eu já te disse antes, e vou dizer de novo. Eu não vou a lugar nenhum.

Fechei os olhos, deixando o peso daquelas palavras se instalar dentro de mim.

Ele não ia embora.

Talvez fosse hora de finalmente acreditar nisso.

Fiquei em silêncio por um momento, apenas sentindo o calor do corpo dele contra o meu. As palavras de Jace ecoavam na minha cabeça, e, pela primeira vez, não tentei lutar contra elas.

Ele não ia embora.

E talvez, só dessa vez, eu pudesse acreditar nisso.

Soltei um suspiro, fechando os olhos por um segundo antes de abrir de novo e encará-lo.

— Tá bom — murmurei.

Jace arqueou uma sobrancelha.

— Tá bom o quê?

Respirei fundo, sentindo o coração acelerar.

— Eu acredito em você.

Os olhos dele brilharam com algo que parecia pura satisfação, e antes que ele pudesse soltar mais alguma provocação, me inclinei e pressionei meus lábios contra os dele.

Foi um beijo lento, diferente da urgência das últimas semanas. Não era sobre desejo ou provocação — era sobre nós.

Sobre aceitar o que quer que estivesse acontecendo aqui.

Jace respondeu no mesmo ritmo, deslizando uma das mãos para a base da minha nuca, me mantendo ali como se quisesse prolongar o momento o máximo possível.

Quando finalmente nos afastamos, ele me olhou por um segundo antes de sorrir.

— Não acredito que você finalmente admitiu.

Revirei os olhos, mas não consegui evitar o sorriso que surgiu nos meus lábios.

— Você é insuportável.

Ele riu baixinho, puxando-me para mais perto até que minha cabeça estivesse aninhada contra seu peito.

— E você gosta disso.

Suspirei dramaticamente, fingindo exasperação.

— Infelizmente.

Jace riu de novo, beijando o topo da minha cabeça antes de fechar os olhos.

E, pela primeira vez em muito tempo, eu me permiti relaxar nos braços dele.

Sem medo.

Sem dúvidas.

Só nós dois.

A tranquilidade durou exatamente três batidas na porta.

TOC. TOC. TOC.

— Jace! Ivy! — a voz de Claire soou alta do outro lado. — Se vocês não saírem dessa droga de quarto agora, eu juro que entro aí!

Senti Jace suspirar contra meu cabelo antes de murmurar:

— A gente devia ter trancado essa porta.

Soltei uma risada baixa, mas antes que eu pudesse responder, outra voz surgiu:

— Se vocês estiverem pelados, avisem antes! — Dylan acrescentou, claramente se divertindo. — Ou não avisem. Eu gosto de viver perigosamente.

Jace riu e se afastou um pouco, me olhando.

— A gente vai ter que sair, né?

Revirei os olhos, mas sorri.

— Sim, se não quiser que eles arrombem essa porta.

Ele fez uma careta dramática.

— Você destrói todos os meus sonhos, Fantasminha.

— Você vai sobreviver.

Jace suspirou pesadamente, como se aquilo fosse um grande sacrifício, mas deslizou para fora da cama, pegando uma camiseta do chão.

— Sério, o que vocês estão fazendo aí dentro? — Claire insistiu.

Troquei um olhar com Jace e percebi o exato momento em que ele teve uma ideia.

Ele abriu a porta de repente, pegando Claire e Dylan de surpresa. Antes que qualquer um deles pudesse reagir, ele passou um braço ao redor da minha cintura e me puxou para perto, lançando um olhar satisfeito para os dois.

— O que a gente parece estar fazendo? — ele perguntou, divertido.

Os olhos de Claire se arregalaram, e Dylan soltou um assobio baixo.

— Finalmente — ele murmurou, cruzando os braços. — Achei que ia morrer antes de ver vocês dois assumirem isso.

Claire, por outro lado, ainda parecia estar processando.

— Espera... Isso significa que vocês... Tipo... Vocês...?

— Sim, Claire — respondi, rindo da expressão dela. — Nós.

Ela piscou algumas vezes antes de soltar um gritinho e praticamente pular em cima de mim.

— Eu sabia! Meu Deus, eu sabia!

Jace apenas riu enquanto ela me abraçava com força.

— Tá, tá, agora dá pra vocês explicarem por que estavam infernizando a gente tão cedo? — ele perguntou.

Dylan deu de ombros.

— Café da manhã. E... — ele olhou para nós dois, um sorrisinho aparecendo. — Eu precisava ver isso com meus próprios olhos.

Jace revirou os olhos, mas puxou minha mão e entrelaçou nossos dedos.

— Bom, agora você viu. Podemos comer?

Claire ainda parecia emocionada demais para responder direito, então Dylan apenas riu e começou a andar pelo corredor.

— Vamos logo antes que Claire tenha um colapso.

Jace olhou para mim, um sorrisinho satisfeito nos lábios.

— Pronta pra enfrentar o mundo como a minha garota?

Senti meu rosto esquentar, mas apertei a mão dele de volta.

— Sempre.

E saímos juntos, sem mais segredos.

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