Fix you

University of Michigan, EUA — Agora
Jace

O barulho do cortador de grama no campo ao lado passa despercebido enquanto viro a pulseira entre os dedos. Pequena demais para caber em meu pulso agora, mas grande o suficiente para carregar todo o peso do que eu queria dizer naquela época.

Eu lembro exatamente do dia em que comprei. Foi no verão, no parque perto da minha casa. Minhas mãos estavam suando tanto que a caixinha escorregou quando tirei do bolso. Eu fiquei ensaiando o que dizer por uns 15 minutos antes de ela aparecer.

Ivy, eu... eu fiz isso pra você. — Não. — Ei, achei que você ia gostar disso. — Pior ainda.

Quando finalmente vi ela chegando, com o cabelo preso de qualquer jeito e o sorriso de sempre, eu esqueci todas as palavras que tinha pensado. Porque era simplesmente assim com a Ivy: eu tinha grandes ideias na minha cabeça, mas, quando ela estava por perto, nada fazia sentido.

Eu só sabia que precisava entregar para ela.

O que é isso? — ela perguntou, olhando para a caixinha que eu entreguei, os olhos dela brilhando de curiosidade.

— Só... abre. — Eu tentei parecer casual, mas as palavras saíram rápido demais, e eu senti minhas bochechas queimarem.

Ela abriu devagar, como se fosse um tesouro. Quando viu a pulseira os olhos dela se arregalaram. Por um segundo, ela ficou sem reação, e eu achei que tinha feito algo de errado.

— Jace... — ela começou, mas a voz falhou.Ela pegou a pulseira com cuidado, como se fosse a coisa mais preciosa do mundo.

— Eu sei que você vai começar a treinar mais agora. E talvez... talvez a gente não se veja tanto. Mas, Ivy, você é minha melhor amiga. E, eu quero que você saiba que, não importa o que aconteça... — Minha voz tremeu, mas eu continuei. — Eu sempre... vou estar aqui. — digo tocando na pulseira em meu pulso igual a dela.

Ela não me respondeu de imediato. Só ficou me olhando, com seus olhos cheios de alguma coisa que eu não sabia descrever na época, mas que agora entendo muito bem.

— Você é um idiota, sabia? — ela disse, rindo, mas com uma voz embargada.

— E você é uma chorona. — rebati, tentando esconder o quanto aquilo me afetava também.

Quando ela finalmente colocou a pulseira, eu senti algo em mim mudar. Não era só um presente bobo. Era um pedaço de mim que eu estava dando para ela, mesmo sem saber se ela entendia isso.

E agora, anos depois, eu seguro essa mesma pulseira, e tudo volta. Cada detalhe. O sorriso dela. O som da risada dela. O jeito como ela sempre fazia eu me sentir como se pudesse qualquer coisa.

Mas a verdade é que, não importa o quanto eu queira esquecer. Não importa o quanto eu diga a mim mesmo que ela foi embora, e que isso devia ser o suficiente para me afastar. Porque sempre que eu vejo essa pulseira, a única coisa que eu consigo pensar é: "E se ela ainda precisar de mim?"

O vento frio corta o campo vazio enquanto estou sentado na arquibancada, com a pulseira apertada entre os dedos. O som distante do cortador de grama preenche o silêncio ao meu redor, mas, na minha cabeça, é como se eu fosse o único no mundo.

Sempre venho aqui quando preciso pensar. É irônico, na verdade. O campo de futebol, o lugar onde tudo deveria ser sobre força, estratégia e competição, acabou virando o único espaço onde eu me permito abaixar a guarda.

O sol está começando a se pôr, tingindo o horizonte de tons alaranjados. O brilho suave reflete na pulseira, destacando as palavras gravadas nela: "I'm Always here."

A promessa que fiz e que, de alguma forma, sinto que não cumpri.

Eu olho para o gramado, vazio agora, mas que logo estará cheio de gritos, euforia, passos pesados e o som das jogadas. Já deveria ter ido embora há horas, mas algo me mante aqui. Talvez o peso dessa pequena peça prata na minha mão. Ou talvez o peso que sinto por ela e nunca disse.

Respiro fundo e me forço a lembrar. Não do fim, mas do começo. Da Ivy que corria pela pista de patinação com aquele sorriso despreocupado, como se o mundo todo desaparecesse quando ela estava no gelo. Da Ivy, que olhava para mim como se eu fosse mais do que eu mesmo acreditava ser. Da Ivy, minha Ivy, a minha estrelinha.

Jace! — Sua voz ecoa na minha memória, viva demais, como se ela estivesse ali, chamando meu nome de novo.

Fecho os olhos e balanço a cabeça tentando afastar a lembrança. Que merda! Ela não sai da minha cabeça...

O que antes eram momentos felizes agora são fantasmas. Ela virou um fantasma. E, por mais que eu odeie admitir, tem dias como hoje que esses fantasmas são tudo o que eu tenho.

Sinto meu telefone vibrar no bolso me tirando dos pensamentos. Pego o aparelho e vejo uma mensagem de Caleb, o quarterback.

"Se você vai ficar aí filosofando, pelo menos traga a bola que esqueci no banco. Tá no armário do vestiário."

Solto um suspiro, guardo a pulseira no bolso e me levanto. Cada passo até o vestiário parece pesar mais que o anterior, mas talvez seja isso que eu precise agora. Uma distração. Algo para afastar a sensação sufocante desde que eu ouvi o nome dela de novo.

O corredor do dormitório está barulhento, com risadas e vozes altas escapando de portas abertas. Quando chego à porta do quarto do Caleb, já posso ouvir a música tocando e as vozes animadas dos caras do time. Eu hesito por um momento, pensando em virar e sair dali, mas respiro fundo e entro.

— Finalmente! — Caleb levanta as mãos como se eu fosse algum tipo de herói por ter trazido a bola. Ele pegou o objeto da minha mão e aponta para os outros caras. — Olha quem resolveu aparecer.

— Nossa estrela em ascensão. — provoca Carter, jogado no sofá com um copo de plástico na mão. Ele levanta o copo como se fosse brindar comigo, mas o sorriso dele é mais sincero do que a maioria dos outros por aqui.

— Que festa incrível. — digo, deixando meu tom sarcástico transparecer enquanto olho ao redor. O quarto está uma bagunça: roupas espalhadas, restos de comida e algumas latas de cerveja acumuladas em um canto. — Vocês têm certeza que isso não é um treinamento para um futuro como donas de casa falidas?

Os caras riem, e Carter aponta para uma cadeira perto do sofá onde ele está jogado.

— Senta aí, Barrett. Relaxe um pouco. Tá na hora de você parar de agir como se estivesse carregando o peso do mundo nas costas.

— Não estou carregando nada. — Minto, pegando uma cerveja da caixa no chão.

Carter me observa em silêncio enquanto os outros voltam a conversar e a brincar entre si. É típico dele. Ele não força, mas sempre sabe quando algo está errado.

— E aí, o que tá pegando? — ele pergunta, baixo o suficiente para que só eu escute.

Dou de ombros e abro a lata.

— Nada demais. Só cansaço. — digo, logo depois de dar um longo gole.

— Cansaço... — Ele inclina a cabeça, como se estivesse analisando minhas palavras. — Isso tem nome?

Eu rio sem humor e dou outro gole na bebida.

— Deixa quieto, Dylan.

— Ah, então tem mesmo... — Ele sorri, mas não pressiona mais. Só dá um tapinha no meu ombro antes de mudar de assunto, como sempre faz quando percebe que eu não estou pronto para me abrir.

Enquanto eles continuam conversando e rindo, finjo estar presente, mas minha mente para em um lugar distante.

— Aliás — Dylan muda o tom, sempre casual, mas com aquele jeito de jogar algo no ar que parece inocente demais para ser coincidência. — Amanhã à noite tem uma festa. Coisa da galera do time, mais umas pessoas de outros cursos. Achei que você ia querer.

Arqueio uma sobrancelha, fingindo indiferença.

— Festa? Amanhã? — dou um gole na cerveja. — Não sei, cara. Já tenho o suficiente pra me ocupar sem adicionar ressaca à lista.

— Ah , para com isso Jace. — Ele da um sorriso de lado, aquele clássico "você não me engana". — É a última antes das aulas começarem pra valer. Além disso, preciso de você lá.

— Precisa de mim pra quê? — pergunto, mais por curiosidade do que por interesse.

Dylan se ajeita no sofá, o sorriso só cresce.

— Vou chamar Claire.

O nome soa familiar, mas eu demoro alguns segundos para ligar os pontos. É a garota que ele tem mencionado nas últimas semanas, uma caloura que divide o quarto com... não me lembro se ele chegou a comentar sobre.

— E daí? — pergunto, mantendo a voz neutra.

— E daí que ela vai junto com uma amiga. — Carter da de ombros como se fosse algo trivial, mas o olhar dele está mais atento do que deveria estar. — Aquela resmungona fica reclamando que fica de vela. Você podia, sei lá, aproveitar a noite e... relaxar. Arrumar alguém pra tirar essa tensão toda.

Eu dou uma risada curta, sem humor, e balanço a cabeça.

— Tô bem, valeu.

— Não, não tá. — Ele aponta com o copo na minha direção. — Vai me dizer que é saudável passar tanto tempo remoendo coisas no campo ou sozinho no seu quarto? Nem você acredita nisso, Jace.

Suspiro e apoio os cotovelos nos joelhos, passando a mão pelo rosto. Dylan sabe como cutucar. E isso me irrita.

— Vamos fazer assim. — Ele se inclina, conspirador. — Vai ser depois da apresentação de boas-vindas no ginásio. Você vai para a festa comigo, conhece a galera, se distrai, bebe quantas quiser. Prometo que ninguém vai te obrigar a dançar ou, sei lá, socializar demais.

— Isso não é muito convincente. — Olho para ele, que está rindo, satisfeito.

— Confia em mim, você vai me agradecer depois.

Eu balanço a cabeça, mas não digo mais nada. Dylan parece levar isso como um "sim". E, enquanto ele volta a interagir com os caras do time, tento ignorar o nó no estômago que se forma ao pensar na amiga da Claire.

Parte de mim sabe quem é. Talvez eu esteja errado. Talvez seja paranoia.

Mas, se não for...

Amanhã à noite pode ser um desastre.


✩ — Não se esqueça de votar!♥️

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