33 - O Paralelo

– Realidade 02 –

— Ele tá preso — murmurei, assim que despertei.

— Klay?! Graças a Deus! — disse Pete, aliviado.

Meu namorado tinha me carregado até o quarto e me deitado na cama. Meu corpo estava dolorido e eu até conseguia sentir gosto de sangue em minha boca. A luta que tive com minha outra versão foi muito intensa.

— O que aconteceu, amor?

— Ele tá preso, Pete.

— Ele?! Preso?! Quem está preso, Klay?!

— Outra versão minha de outra realidade. Está preso na minha cabeça!

Tentei levantar, mas meus braços e pernas doíam. A dor física superava qualquer dor que tive naquela luta mental insana.

— Não acredit... Não acredito, Klay! Isso já tá ficando fora do controle!

— Não, Pete...

— Você precisa dar um jeito nele como fez com o último Klay!

— Não, Pete! Me escuta, ok?!

Ele me ajudou a levantar esperando minha explicação, mas eu não conseguia pensar com clareza. Havia outra versão minha extremamente poderosa presa em minha mente e, a qualquer momento, ele podia perceber tudo o que estava acontecendo e fazer de tudo para ocupar o meu lugar. Eu precisava de tempo... Tempo para aquele Klay desconhecido e perigoso se acalmar e para tentar ajudá-lo a voltar a sua realidade sem se perder.

— Eu preciso ajudá-lo.

— Ajudar ele?!

— Ele tá confuso, revoltado e não tem ideia do que está fazendo. Sua aura estava cheia de dor, culpa e não parecia ser do mesmo jeito que os Klays que conheci..., apesar de ter me dado uma surra.

— Ele te machucou? E você ainda quer ajudá-lo?!

— Ele foi o que mais viveu momentos com o Pete da realidade dele, amor — comentei, ainda pensativo. — Não só ele, mas todos os outros Klayton Nivans que conheci querem sempre a mesma coisa.

Pete não demorou para processar e entender onde eu queria chegar.

— Eles insistem em vir aqui por...

— Sua causa, Pete! Tudo isso é por você, amor.

— Por quê?!

Suspirei.
Já estava na hora de contar a verdade.

— Em centenas ou talvez milhares de realidades próximas a nossa, existe um Peter Praves que conhece um Klayton Nivans, mas que acaba morrendo em seguida. Acidentes, catástrofes ou até naturalmente... Eu sei que é estranho ouvir algo assim, pois você não tem os dons que tenho, mas é a verdade.

— E como eles te encontram?

— Existe uma infinidade de realidades, mas alguns Klays tem o dom de atravessar essa barreira invisível que cobre o nosso mundo. É como olhar no espelho e de repente atravessá-lo. Apesar de ser uma camada fina, por existir uma infinidade de realidades, não podemos ir muito longe. Eles me encontram porque nossa realidade é a mais próxima, quase que espelhada.

— Espelhada? Então a vida deles é idêntica a nossa?

— Basicamente.

— Então... Eu vou morrer?

Aquela era uma pergunta que nem eu sabia explicar a resposta.

— Até onde eu sei, não! Vejo um longo futuro pra gente, Pete.

— Não me convenceu, Klay! Eu tô pirando com essa história e com essa sua versão maluca que está presa sei lá onde! Você precisa se livrar dele depressa!

— Não posso!

Agora que estava em minha cabeça, eu conseguia sentir a dor que ele sentiu. Eram sentimentos que se arrastavam por um longo tempo. Uma revolta, uma mágoa e um remorso que não pareciam ter fim. Era quase desesperador.

— Por quê?! Por que não pode se livrar dele?

— Por que eu o entendo, Pete!

Meu namorado me encarou, confuso.

— O entende?

— Sim! Acho que faria o mesmo se te perdesse. Acho que é meio que o nosso destino, sabe? Não posso julgá-lo, pois julgaria a mim mesmo.

Ele suspirou, me abraçando com força em seguida. Soltei um grunhido de dor com aquele abraço, pois meu corpo ainda não tinha se recuperado.

— O que vamos fazer, Klay?

— Primeiro vamos ajudar o Klay que está na minha cabeça, depois... Depois vou encontrar um jeito de mascarar nossa realidade de alguma forma para que isso não volte a acontecer.

— E como exatamente você vai fazer isso? Tem alguma ideia?

— Sim! — exclamei, esperançoso. — Vovó, é claro!

Eu queria resolver aquilo o mais rápido possível, mas estava cansado demais para ir até a casa da minha avó naquela noite. Eu sentia que por hora a versão que estava presa em minha cabeça estava segura. Ele estava em uma ilusão criada por mim, inconscientemente modificada pelo poder dele e por lembranças recentes que teve em sua vida. Eu sabia que não podia demorar a resolver aquele problema, pois por mais que sua alma estivesse segura em minha mente, seu corpo estava vazio. A alma dele estava ligada ao corpo por uma linha umbilical que ficaria mais frágil e fina com o passar dos dias. A desidratação por falta de água e alimentos podia matá-lo.

Pete e eu cancelamos o programa que tínhamos para aquela noite. Ele entendeu que aquele não era o momento para comemorarmos nosso aniversário, mesmo assim, não permitiu que eu tomasse banho sozinho.

— Você tá melhorando? — perguntou, passando sabonete líquido em meus ombros.

— Ainda dolorido, mas bem melhor.

Pete beijou meu pescoço e desceu os lábios por meus ombros. Ele não me apertou em seus braços, mas isso não o impediu de ficar excitado.

— Eu amo suas tatuagens, Klay — disse, alisando o desenho com o número onze separado por um sinal de slash. — Sei que você não está no clima porque tem um maluco preso na sua cabeça.

— Desculpa se isso estragou nosso dia, Pete. Isso serve para você ver que minhas premonições não são tão exatas assim.

— Mas é justamente neste momento que eu quero que elas sejam o mais exatas possível — respondeu, começando a rir enquanto eu me virava de frente para ele. — Agora que sei que corro risco de vida e...

— Não fala isso — sussurrei, depois de impedi-lo de continuar o que dizia com um beijo. — Eu nunca vou deixar nada acontecer com você, ok?

Ele concordou com a cabeça e voltou a me beijar.

Claro que aquilo me preocupava e este era outro motivo para ajudar o Klay que estava preso em minha mente. Talvez ele me ajudasse com o meu Pete se eu o ajudasse a voltar em segurança para casa.

...

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top