25 - Insólito

Cheguei onde minha avó morava com a nova família da minha mãe naquela realidade. Foi uma grande e feliz surpresa quando descobri que ela estava viva. Na última vez que a visitei, ela deu a entender que sabia que eu não era o Klayton Nivans daquela realidade. Se ela havia se dado conta, talvez pudesse me ajudar a descobrir o que estava acontecendo.
Depois de estacionar o carro na frente da casa, ir até a porta da frente e tocar a campainha, senti mais uma vez meus dedos formigarem. Aquilo costumava acontecer quando eu usava meus dons para fazer alguma coisa, mas eu não estava fazendo nada demais naquele momento.

— Klay?! — exclamou minha mãe, surpresa em me ver.

— Oi, mãe! — exclamei, feliz em reencontra-la. — Cheguei em uma hora ruim?

— Claro que não, querido — disse, me abraçando antes de abrir passagem para eu entrar na casa.

As coisas pareciam diferentes. A casa estava com uma decoração mais clara e moderna. Os móveis pareciam mais novos e até as janelas pareciam ter mudado de lugar.

— Como está o Shawn? Ele foi me visitar hoje!

— Está estudando no quarto. Ele disse que vocês se divertiram bastante hoje.

Eu não lembrava de quase nada, mas saber que meu irmão tinha se divertido era o bastante para mim.

— Vai ficar para o jantar? — perguntou, enquanto íamos juntos para a cozinha.

— Na verdade vim falar com a vovó, mãe...

A expressão dela mudou completamente. De gentil e amável passou para uma expressão surpresa e incrédula.

— Com a minha mãe?

— Sim! Ela está?

— Que brincadeira é essa, Klayton?

— Brincadeira...?

— Sua avó morreu há quase três anos e você sabe!

Aquilo não podia estar acontecendo. As coisas estavam mudando de uma hora para outra sem nenhuma explicação.

— Isso não é... não é possível.

— Por que você veio aqui fazer este tipo de brincadeira? Você sabe o quão difícil é para mim este assunto.

— Me desculpa! Eu não quis brincar ou provocar você, mãe. É só que...

Eu não sabia o que dizer ou fazer. Eu estava sem forças, assustado e quase enlouquecendo com tudo o que estava acontecendo. Como aquela realidade podia mudar tão radicalmente?

— Você vai ficar para o jantar? — perguntou minha mãe, depois de suspirar e se recompor.

— Não posso, infelizmente — respondi, atordoado. — Preciso voltar para casa. Só vim ver como você e o Shawn estavam.

Minha mãe concordou. Ela não parecia se importar com minha presença. Ela estava mais fria e distante do que antes.

Todas as pessoas ao meu redor estavam diferentes naquele dia. Shawn apareceu em uma realidade que não deveria existir e minha avó, que até semana passada estava viva, de repente morreu há quase três anos. Estava claro que eu tinha feito alguma coisa, mesmo sem perceber. Talvez aquela realidade não fosse a que eu estava antes... Talvez eu tivesse dormido e simplesmente acordado em outra realidade, semelhante, mas completamente diferente da anterior. Outra possibilidade era que todos os meus desejos estavam se realizando, pois Pete estava mais carinhoso, Phillip estava mais distante e Shawn havia reaparecido..., mas esta teoria não explicava a morte da minha avó, pois eu jamais desejaria algo assim.

Quando voltei para o meu apartamento naquela noite, liguei meu computador para pesquisar e tentar achar alguma resposta para o que estava acontecendo. Em minha antiga realidade foi difícil encontrar informações sobre realidades paralelas, mas eu não tinha buscado nada sobre o assunto na realidade em que eu estava.

— Sua mãe ligou, Klayton — disse meu pai, me fazendo desviar a atenção do computador por um momento. — Ela disse que você foi visitá-la esta noite.

— Foi uma visita rápida — comentei, desligando a tela do computador para ele não ver sobre o que era minha pesquisa.

Ele cruzou os braços e me encarou com um olhar desconfiado.

— Lembra hoje a tarde quando você perguntou se estava estranho?

— Sim?!

— Está agindo estranho agora.

Meu pai sorriu, balançou a cabeça e saiu do meu quarto resmungando alguma coisa. Revirei os olhos, levantei da frente do computador e comecei a tirar minhas roupas para tomar banho. Eu estava cansado, estressado, com fome e com a cabeça cheia de problemas. Aquela realidade estava ficando estranha e eu estava com medo de ter feito algo errado com ela. Pete ia casar naquele final de semana e aquele era outro problema que eu vinha ignorando, mas que teria que encarar mais cedo do que gostaria.

— Será que não vou ter boas notícias? — resmunguei, passando nu na frente do espelho para pegar uma toalha no guarda roupas.

Um detalhe passou por minha atenção, mas levei alguns segundos para dar importância. Voltando para frente do espelho, dei conta de que uma das tatuagens que o Klay daquela realidade tinha havia sumido. A tatuagem que ele/eu tinha do lado esquerdo das costelas não estava mais lá. Eu não sabia o significado dela, mas eram algumas palavras escritas em algum idioma que eu não conhecia.

— Alguma coisa muito errada está acontecendo — comentei, me aproximando um pouco mais do espelho.

Talvez fosse hora de terminar com tudo aquilo antes que as coisas continuassem a mudar e eu estragasse para sempre a vida daquele Klayton Nivans... mais do que eu já havia estragado.

– 21 dias antes –

Eu estava na quarta garrafa de água, morrendo de ansiedade e raiva. Não fazia ideia de quantos livros e quantas páginas da internet havia entrado. Não encontrei nada sobre como entrar em realidades paralelas. Tudo que eu encontrava eram teorias, especulações e mentiras sobre mediunidade.

— Onde você vai? — perguntou minha mãe, enquanto eu descia a escada de casa com minha mochila nas costas. — Vai sair de carro de novo?

— Vocês me deram o carro do Pete para isso, certo? — respondi, sem paciência.

— Claro, querido, mas não gosto da ideia de você dirigir por aí sem carteira de motorista — disse, se colocando na frente da porta. — Seu pai te ensinou a dirigir, mas você tem que dar entrada na carteira para poder andar com o carro.

Suspirei, impaciente.

— Só vou a biblioteca, ok?!

— Mais livros, Klay?! Seu pai e eu já tiramos cinco caixas cheias de livros do seu quarto!

— Vou devolver livros, na verdade — menti, balançando a mochila. — Prometo voltar antes do almoço.

Ela não acreditou, mas me deu passagem depois de me encarar com uma expressão preocupada.

— Tudo bem, mas dê entrada na sua carteira de motorista o quanto antes! Não quero que você se meta em confusões.

Concordei, mas minha cabeça estava pensando em outros problemas.

Eu estava cansado de procurar respostas em livros e páginas na internet. Eu já havia revirado todas as livrarias da cidade, mas foi tudo perda de tempo. Também tentei conversar com outros sensitivos e até espíritos quando religuei meu dom de ver pessoas mortas, mas não tive nenhuma resposta do que eu procurava. Eu estava cada dia mais nervoso, ansioso, instável e com vontade de me jogar de um prédio só para ver o Pete pelo menos uma última vez... Eu precisava pedir perdão a ele.

Depois de entrar no carro e colocar minha mochila no banco do carona, peguei uma das fotos de quando Pete e eu fomos para Nova Iorque que eu mantinha guardada no porta-luvas. Eu sempre olhava para aquela foto antes de sair com o carro.

— Prometo que a gente vai se ver em breve, Pete.

Antes de guardar a foto, vi um cartão de visitas jogado no fundo do porta-luvas. Curioso, o peguei para ver do que se tratava.

— Dra. Susan — falei, fazendo uma careta depois de ler o nome dela.

Aquele cartão de visitas deve ter caído de um dos livros que guardei no porta-luvas nos últimos dias. Eu não o via há muito tempo, pois nunca dei importância para ela ou para a ajuda que tinha me oferecido... Até aquele momento.
Eu me sentia em uma gaiola, correndo em uma rodinha de hamster. Não havia encontrado respostas e nem ajuda nos lugares que procurei... Eu já estava perdendo tempo mesmo, então não custava ouvir o que ela tinha a dizer.
Peguei meu celular e procurei no GPS o trajeto até o endereço que estava no cartão...

...

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