21 - Propício

Cheguei um pouco tarde à KN Store na segunda-feira. Eu estava com dor de cabeça, morrendo de fome e sem a mínima vontade de trabalhar. Meu pai, que até tentou me tirar da cama para me fazer chegar no horário, já estava na loja assumindo minhas tarefas. Charlotte o estava ajudando, mas eles ainda pareciam perdidos no que estavam fazendo.

— Finalmente, Klayton! — resmungou meu pai, me seguindo assim que me viu entrar no corredor em direção a minha sala. — Os anunciantes estão querendo as fotos do Nathan para a próxima semana. O lançamento está chegando e...

— Pede para o Pete e o departamento de marketing adiantarem isso.

— Mas você já revisou? Já olhou as fotos e...

— Está tudo aprovado, então é só mandar!

— Sr. Nivans, a dona da Perfumaria Oriente ligou — disse Charlotte, também me seguindo. — Ela quer saber se você vai anunciar com ela, pois não ficou claro na última reunião se...

— Anuncia, Charlotte! Quanto mais anunciantes, melhor, não é?

— E mais dinheiro gasto, Klayton — resmungou meu pai. — A Perfumaria Oriente cobra quase o dobro do valor de nossos outros anunciantes.

— Então decide você, querido papai — falei, abrindo a porta da minha sala.

— Ah! Estava quase esquecendo, Sr. Nivans... — disse Charlotte, chamando minha atenção antes de eu entrar.

Suspirei.

— Vocês não conseguem resolver isso sozinhos? — questionei, irritado, fechando a porta com eles para fora antes que me fizessem mais perguntas.

Meu mal humor continuou até os lanches e sobremesas que pedi por aplicativo de delivery chegarem. Charlotte, que parecia perdida e cheia de trabalho para fazer, ajudou os dois motoboys a trazerem os sete sanduiches, dois baldes de batata frita com cheddar e bacon, três litros de refrigerante, quatro pedaços de bolo chocolate e uma torta crocante de amendoim, que eu nunca tinha comido e estava com vontade de experimentar.

— Haverá uma reunião aqui, Sr. Nivans? — perguntou Charlotte, depois de me ajudar a organizar tudo em minha mesa.

— Não! São todos para mim!

Minha secretaria arregalou os olhos, boquiaberta.

— Deseja mais alguma coisa, Sr. Nivans? — perguntou, parecendo assustada.

— Chama o Nathan, por favor. Quero falar com ele.

Ela assentiu e saiu da sala.

Eu estava no terceiro sanduiche quando Nathan e Pete entraram em minha sala. Pete trouxe as impressões das fotos que fez do Nathan nos últimos dias em sua pasta. Nathan, que estava ainda mais lindo com as roupas e o estilo que Pete sugeriu para as fotos, parecia animado com o novo trabalho.

— Nos chamou, Klay? — perguntou Pete, com aquele sorriso encantador de sempre.

— Chamei o Nathan, não você — respondi, rispidamente.

Pete apertou os lábios e assentiu. Minha intenção era ser frio com ele. Eu não tinha gostado do que aconteceu e do que conversamos no almoço com Phillip.

— Aqui estão as fotos do Nathan — disse, colocando a pasta em minha mesa. — Se precisar, estarei lá em cima.

— Não se preocupe que se eu precisar de você, chamarei — falei, forçando um sorriso.

Enquanto Pete saía da sala, convidei Nathan para sentar e ofereci um dos meus sanduiches.

— Você está lindo, Nate! — exclamei, alto o bastante para Pete ouvir enquanto fechava a porta.

— Obrigado, Klay — agradeceu, envergonhado, coçando a cabeça.

— Como está o trabalho? — perguntei, sentando em minha poltrona para continuar comendo meus lanches.

— É a realização de um sonho! Nem sei como agradecer a oportunidade que você me deu.

— Para me agradecer, faça um bom trabalho e não me decepcione, Nate.

Ele concordou, com um grande sorriso.

Nathan e eu passamos o resto da manhã conversando. Ele me falou sobre sua vida, seu colégio, seus gostos pessoais e o que estava achando do seu primeiro trabalho como modelo fotográfico. Aquele Nathan Lewis era bem menos problemático que o da minha realidade de origem, mas não era tão engraçado. Ele era mais sério, centrado e não parecia gostar de criar problemas como o Nate que eu conhecia. Apesar de ser mais tranquilo, aquele não era o Nathan que eu esperava. Percebi isso quando senti saudade das provocações e reclamações do meu ex-amigo fantasma.

Fui almoçar sozinho, pois queria comer bastante e não estava com vontade de ouvir questionamentos sobre isso. Phillip, como sempre, pareceu adivinhar minha vontade e não foi na KN Store, como sempre, para me levar para almoçar. Ele apenas me enviou uma mensagem desejando um bom dia.
Pete também me mandou mensagem, mas não abri a notificação para ler. Eu queria parecer frio e me fazer de difícil para ver até onde ele gostava de mim. Se fosse só sexo, ele não ia se importar, mas se sentisse algo além, teria que se esforçar mais para ter minha atenção.

Quando voltei para a KN Store, ainda comendo a sobremesa que comprei no restaurante, dei de cara com meu pai me esperando em minha sala com uma expressão nada amigável.

— Klayton, a loja está cheia de problemas para resolvermos — disse, cruzando os braços. — Você chega atrasado, fica a manhã toda comendo e conversando com o modelo fotográfico que também devia estar trabalhando e depois simplesmente sai sem dar satisfação? O que está acontecendo com você ultimamente, Klayton Nivans?

— Nada demais — respondi, ainda de boca cheia. — Só possuí o corpo do Klayton Nivans desta realidade e estou fazendo uma baguncinha na vida dele.

Ele respirou profundamente.

— Filho, eu sei que você está cansado, mas essa não é a melhor hora de você relaxar! O lançamento da próxima coleção é na próxima semana e temos muito o que fazer!

Revirei os olhos. Eu não sabia fazer nada daquilo. Pensei que meu pai e minha secretária dariam conta do trabalho, mas eles precisavam da minha ajuda... Da ajuda do outro Klay, na verdade.

— Só estou tendo um dia ruim, okay? Me mande tudo o que tenho que fazer e resolver. Vou ver se adianto tudo para esta tarde.

— Vou te ajudar, mas você precisa focar! Tem o lançamento, anunciantes, coquetéis, distribuição e a apresentação do Nathan como novo rosto da KN Store.

Era muita coisa e eu mal sabia por onde começar, mas precisava tentar. Eu já tinha bagunçado demais a vida daquele Klay, então o mínimo que eu podia fazer era trabalhar corretamente para não prejudicar sua loja.

A tarde e o trabalho pareciam não ter fim. Haviam dezenas de contratos para discutir, negociar e assinar. O local da festa de lançamento ainda não estava definido, nem o buffet, convidados, modelos e imprensa. Quanto mais trabalho chegava, mais eu via a importância da KN Store. Não era apenas mais uma loja de roupas do centro, mas sim uma marca com bastante influência e notoriedade.

— Atrapalho? — perguntou Phillip, depois de bater na porta e entrar em minha sala.

— Claro que não, Phillip — respondi, suspirando por ainda não estar nem na metade do que eu tinha para fazer.

— O que houve? Você parece meio perturbado.

— Eu tô atolado de trabalho! Estou um pouco distraído e relaxado esses dias, então acabei deixando tudo para a última hora e não faço ideia de como resolver tudo isso.

— Quer ajuda?

Franzi o cenho e desviei minha atenção para ele, parando o que estava fazendo.

— Você não devia estar trabalhando?

— Acabei o trabalho mais cedo.

— E teve a ideia de vir me ajudar?

Ele sorriu fazendo uma careta, estranhando a minha pergunta.

— Tive a ideia de ver como o meu namorado estava, mas se ele precisa da minha ajuda no trabalho, ficarei honrado em ajudar.

Suspirei.

— Vou te agradecer demais se me ajudar com tudo isso, Phillip.

Ele assentiu e pegou uma das cadeiras para sentar a meu lado.

— Você sabe que sempre estarei por perto quando você precisar, não é?

— Obrigado.

E mais uma vez tive aquela estranha sensação... A presença e principalmente a voz do Phillip fez voltar a sensação de que eu estava esquecendo alguma coisa. Olhei as notificações do celular e revisei o trabalho que fiz naquela tarde, mas tudo parecia correto e normal. Enquanto Phillip me ajudava com os detalhes do local do lançamento da coleção, abaixei a cabeça e fechei os olhos por um momento para tentar descobrir de onde vinha aquela sensação, mas nada vinha à minha cabeça.

Pouco antes do anoitecer, Phillip e eu decidimos fazer uma pausa. Tínhamos resolvido muitas coisas atrasadas e precisávamos respirar um pouco.

— Vou ao banheiro, quer alguma coisa? — perguntou Phillip, depois de me dar um longo e molhado selinho.

— Eu aceito fazer um lanchinho de fim de tarde — respondi, ainda com fome.

— Volto já, gatinho — disse, me beijando mais uma vez antes de levantar e sair da sala deixando a porta entreaberta.

Segundos depois do Phillip sair, Pete entrou em minha sala. Apesar de estar com sua pasta de fotos em mãos, ele não parecia querer falar de trabalho.

— Precisa de alguma coisa? — perguntei, sem tirar minha atenção do computador.

— Por que você tá me evitando? — disse Pete, quase sussurrando.

— Não estou te evitando — menti, cruzando os braços.

Ele suspirou, apertou os lábios e sentou em uma das cadeiras a frente da minha mesa.

— Você não respondeu minhas mensagens ontem e nem hoje, Klay.

— Estou ocupado e cheio de trabalho.

— Isso não te impediu de ficar trancado com o Nathan a manhã toda. Isso não te impediu de ficar trancado com o seu namorado a tarde toda.

Tentei não sorrir. O que eu mais queria estava acontecendo... Pete parecia estar com ciúme e se importar comigo.

...

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