11 - Suporte
Cheguei derrotado em meu apartamento naquela noite. Meus olhos estavam inchados de tanto chorar. Meu corpo estava dolorido, pesado e cansado, como se eu tivesse levado uma surra. Meu pai, que dirigiu em silêncio todo o trajeto, não se atreveu a perguntar o que estava acontecendo. Ele deu o espaço que eu precisava, e foi bom não ter que responder perguntas depois do que tinha acontecido.
Como sempre, tomei banho antes do jantar. Repeti o prato de macarrão ao sugo três vezes, mas continuei com fome. Tentei entrar em contato com o Pete por mensagem, mas ele visualizava e não me respondia. Tentei ligar alguma vezes, mas ele ignorava as chamadas.
Phillip apareceu no meu apartamento um pouco tarde naquela noite. Ele chegou com a intenção de ficarmos juntos, mas percebeu que eu estava muito mal e resolveu apenas me fazer companhia. Quando me deu sono e fui para a cama, Phillip deitou a meu lado. Tentei evitar a princípio, mas ele insistiu e me envolveu em seus braços de forma carinhosa e protetora.
— Vai me dizer o que está acontecendo com você? — disse, nos cobrindo e me apertando um pouco mais contra seu peito. — Você está estranho há dias, Klay.
— Não é nada demais, Phillip.
— Nada demais? Você não costuma ficar assim por nada.
— Estresse no trabalho e assuntos que não tem nada a ver com a gente.
Eu queria desistir. Talvez aquele fosse o melhor momento para desistir de tudo e voltar para a minha realidade de origem. O Klayton Nivans dono daquele corpo acordaria nos braços do namorado e tudo estaria resolvido... Ou não, pois eu tinha estragado tudo com o Pete e provavelmente o verdadeiro Klay não entenderia nada quando despertasse.
— Você sabe que estarei sempre a seu lado, não é? — questionou Phillip, acariciando meu cabelo.
— Estará?
— O dia que nos conhecemos você disse que não estava procurando por nada em especifico, que você só queria desestressar e curtir, pois estava cheio com o trabalho e suas responsabilidades. Eu, já doido por você, decidi que minha meta era te fazer feliz, mesmo que fosse só por uma noite.
Apertei os lábios para não sorrir. Era notável o quanto Phillip gostava do Klayton Nivans daquela realidade. O relacionamento deles era incrível... Igual ao que eu tinha com o Pete.
— E acho que tenho conseguido te fazer feliz nos últimos meses — continuou. — Por isso fico tão chateado e desesperado quando você está assim e não fala comigo. Te dou espaço, te dou tempo e dou tudo o que você quiser, mas, por favor, não deixe de contar comigo e dizer o que te perturba, Klay.
Balancei a cabeça positivamente sobre o peito dele. Era óbvio que eu não podia falar nada do que estava acontecendo, mas me convenci de que o Phillip era um rapaz especial e que poderia contar com ele sempre que precisasse.
— Posso dormir com você? — Phillip perguntou, beijando minha cabeça.
— Claro — respondi, fechando os olhos e tentando não pensar em como consertaria tudo o que fiz.
O quarto dia naquela realidade estranha começou como se eu estivesse de ressaca. Meus olhos estavam inchados de tanto chorar na noite anterior. Peguei os óculos escuros do meu pai e fui para o trabalho junto com Phillip, que tinha passado a noite toda a meu lado.
Mais uma vez passei na cafeteria perto da KN Store. Comprei cinco lanches, pois eu estava com fome e o emocional abalado. Deixei os sucos naturais de lado e peguei uma garrafa grande de refrigerante, pois eu não me importava mais em engordar ou estragar os meus rins.
— Não precisava comprar lanche pra mim, bebê — disse Phillip, já dirigindo a mão até um dos meus pacotes.
— Não comprei pra você — falei, dando um tapa na mão dele. — Todos são meus.
— Os cinco são seus? Você não acha que tá comendo demais ultimamente?
— Eu tô com fome, ué! Muito estresse e ansiedade resulta em muita fome.
Meu namorado fofo, mas ainda indesejado, cruzou os braços e sorriu enquanto me observava devorar um dos sanduiches.
— Klay?! — chamou Charlotte, batendo na porta e entrando em minha sala. — Aqui estão seus recados e correspondências de hoje.
— Obrigado!
— O senhor precisa de alguma coisa para esta manhã?
Balancei a cabeça negativamente e voltei a comer. Eu não queria saber de trabalho ou de qualquer outra coisa que não fosse afogar meus sentimentos naqueles sanduiches e na garrafa de refrigerante.
— Charlotte, por favor, faça reservas no restaurante favorito do Klay para hoje a noite — pediu Phillip.
Charlotte assentiu copiando o pedido em seu bloquinho de anotações.
— Hoje a noite? — questionei, já na defensiva.
— Já que você está se alimentando bem, talvez queira comer no seu restaurante favorito, bebê — disse, se aproximando e me dando um selinho, mesmo com minha boca suja de maionese e cenoura ralada.
Não evitei o selinho daquela vez. Foi tão natural que eu já estava retribuindo sem me dar conta.
— Ah! Quase esqueci de te dar um recado, Sr. Klay — disse Charlotte, voltando a atenção para mim. — O novo fotógrafo mandou avisar que já chegou e que já está com a equipe de marketing. Ele também quis saber mais detalhes do modelo que o senhor quer contratar para a campanha, mas eu disse que não estava nada decidido, pois você não entrevistou o rapaz.
Meu estômago congelou.
— O Pete já chegou?
— Sim senhor.
— Ele perguntou por mim?
— Perguntou? Como assim?
— O que ele te disse exatamente, Charlotte?
— Só pediu para te dar esse recado.
Pete ainda não tinha passado em minha sala como costumava fazer. Ele também não tinha respondido minhas mensagens ou retornado minhas ligações. Não era surpresa que ele me evitaria depois do que aconteceu noite passada.
— Ele é tão bom quanto você esperava, bebê? — Phillip perguntou, parecendo desinteressado.
Balancei os ombros e suspirei.
— Desejam mais alguma coisa? — Charlotte perguntou.
— Não, Charlotte. Você já pode ir — respondeu Phillip.
Ela assentiu e saiu da sala.
Parte de mim queria levantar daquela mesa e ir atras do Pete pedir perdão por tudo, mas a outra parte queria apenas jogar tudo para o alto e ignorar aquela realidade até a hora que eu enjoasse e saísse de vez daquela loucura.
— Você não trocou a roupa de ontem? — perguntei, percebendo pela primeira vez o que meu namorado indesejado estava vestindo.
— Não tive tempo de ir para casa, Klay.
— Pegue alguma roupa da loja para não ir para o trabalho desse jeito, Phillip.
Ele concordou e me deu outro longo e carinhoso selinho para agradecer.
— A propósito, onde você mora mesmo?
— Como assim onde eu moro, Klay? Você sabe!
Eu tinha esquecido, mais uma vez, por um momento que estava ocupando o lugar de outro Klayton Nivans.
— Verdade! Eu sei — menti, abrindo outro dos meus lanches.
— Te vejo a noite, bebê. — Phillip se despediu beijando o meu rosto antes de sair.
Fiquei pensando por um momento no que tinha acabado de acontecer. Minha cabeça doeu, meus olhos arderam e senti minha barriga roncar mais forte, mesmo já tendo devorado dois dos lanches que comprei. Intrigado e um pouco tonto, chamei minha secretária...
— Sim, Klay?
— Charlotte, onde o Phillip mora?
— O senhor esqueceu? Foi o senhor que o ajudou a encontrar um novo endereço.
Entortei a boca. Qualquer informação simples como aquela era um mistério para mim. Eu não sabia de quase nada das pessoas a minha volta por estar apenas focado no Pete nos últimos dias.
— Não esqueci, é que... ele está sempre em casa quando preciso, então imagino que seja próximo do meu apartamento, né?
— Imagino que sim, senhor.
— Obrigado, Charlotte.
Eu me sentia estranho. Algo estava acontecendo comigo, mas ainda não sabia o que era.
– 4 meses antes –
— Esquece isso, irmão — disse Shawn, enquanto insistia para que eu comesse o jantar. — Tenho certeza que o Pete teve um bom motivo para não aparecer para você quando morreu.
— Que motivo?! Qual motivo seria?! — questionei, foleando um dos livros da pilha que eu tinha separado para aquela semana. — Até o Nathan quando descobriu tudo teve tempo de me abraçar e agradecer por tê-lo ajudado.
— Irmão, eu acho qu...
— Deve ter acontecido alguma outra coisa, Shawn.
— Klay...
— Ele deve ter ficado preso em algum lugar ou ainda esteja por aí. Talvez tenha um jeito de trazer o Pete de volta ou falar com ele de alguma outra forma!
— Como você vai trazer o Pete de volta? Ele morreu há semanas... O corpo dele já... você sabe!
— Há casos que o corpo fica conservado por um certo tempo, mesmo depois da morte. Se a causa da morte do Pete foi sobrenatural, ele pode estar intacto e...
— Klay, escuta o que você está falando, irmão! Isso não é possível. Isso é loucura!
— Se eu posso mover as coisas com a mente, qualquer coisa é possível, Shawn! — exclamei, jogando o prato com o meu jantar que estava em cima da cômoda para longe apenas com um pensamento.
Meu irmão suspirou e imediatamente foi limpar a bagunça que eu tinha feito.
— Achei que você tinha dito que seus dons eram uma maldição depois de tudo o que aconteceu.
— Podem ser uma maldição, Shawn, mas é tudo o que tenho para tentar trazer o amor da minha vida de volta.
E eu não ia desistir... Ter qualquer contato com o Pete era o meu objetivo, e mesmo que eu tivesse que ler todos os livros do mundo, ia conseguir.
...
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