05 - Namorado
O jantar foi maravilhoso. A comida que meus pais faziam era ótima, mas tive que admitir que o Phillip é um excelente cozinheiro. Claro que o fato de eu estar com muita fome contribuiu com este julgamento. Meu namorado não planejado ficou feliz por eu ter repetido o prato. Ele disse que cozinharia mais vezes se eu o autorizasse, mas naquele momento eu estava com a ideia fixa de que precisava terminar aquele relacionamento antes das coisas se complicarem ainda mais.
Depois de tomar banho, tentei arrumar um pouco da bagunça que estava o quarto que o Klay daquela realidade dormia. Haviam roupas, papéis e até caixas de comida espalhadas pelos cantos. Fiquei agradecido por não haver formigas, baratas ou até aranhas naquele quarto. Apesar de bagunçado, ele tinha uma certa noção de limpeza e deixava tudo separado em caixas ou sacos para não fazer uma bagunça ainda maior.
— Arrumando a sua bagunça, amor? — perguntou Phillip, entrando no quarto enquanto eu separava o lixo em um grande saco preto.
— Pois é! Não sei como deixei chegar nesse estado deplorável.
— Você é muito ocupado, bebê! Sempre chega cansado e estressado do trabalho. Acho que você devia tirar férias.
Antes que eu pudesse evitar, Phillip me abraçou por trás carinhosamente. Ele beijou meu pescoço e roçou o corpo contra o meu sugestivamente.
— O que tá fazendo?
— Tentando te relaxar.
— Nã... Não precisa!
— Vou fazer aquela massagem que você tanto gosta.
Tive que me soltar e me afastar dele. O abraço foi muito intimo e eu não queria que tivéssemos aquele tipo de intimidade.
— Estou arrumando o quarto, Phillip!
— Vou te ajudar então, bebê.
— Não é necessário...
— Tá calor aqui ou é impressão minha?
Phillip tirou a camiseta. Foi impossível não olhar e não concordar com o quão atraente ele é fisicamente. Seu porte físico é um pouco maior que o do Pete, ele é mais alto e os ombros mais largos. Os pelos que ele tem no peito são bem desenhados e muito atrativos. Tive que desviar o olhar, pois fiquei envergonhado e com uma sensação estranha no estômago ao vê-lo daquele jeito.
— Por que fez isso?
— Isso o quê?
— Por que tirou a... Deixa pra lá!
— Posso dobrar e guardar suas roupas?
— Não precisa, obrigado!
— Por que você está tão estranho hoje, amor?
Phillip começou a dobrar as roupas que estavam espalhadas pelo quarto.
— Não estou estranho, Phillip! Só estou cansado e com dor de cabeça.
— E não me deixou fazer a sua massagem favorita? Você sempre relaxa depois que a gente transa...
Meu coração acelerou e senti meu rosto aquecer de vergonha. Era estranho ter aquele tipo de conversa com uma pessoa que eu mal conhecia. Era insano saber que ele me conhecia intimamente, mas que eu não o conhecia da mesma forma.
— Você não ia me ajudar a arrumar as roupas? — questionei, desconsertado.
Phillip me ajudou não só a dobrar e guardar as roupas, mas também a arrumar o armário, varrer e tirar pó do quarto, trocar minha roupa de cama e jogar o lixo fora. Ele foi atencioso e prestativo. Conversava comigo descontraidamente sobre o que tinha acontecido em seu trabalho enquanto me ajudava.
— Obrigado pela ajuda, Phillip — agradeci assim que acabamos. — Pensei que não ia conseguir arrumar essa bagunça hoje.
— Pensei em fazer isso por você semana passada, mas você estava estressado e cheio de tarefas — disse ele, voltando a se aproximar de mim. — Eu não queria te incomodar.
— Obrigado novamente — falei, tentando manter distância.
Ele continuou se aproximando. Seu olhar carinhoso e sua espontaneidade eram assustadoras para mim, mas era natural, pois ele era namorado do Klay daquela realidade e ambos pareciam ter um excelente relacionamento.
— Eu fiz alguma coisa que te magoou?
— Não!
— Você já era lindo, agora ficou irresistível com esse rosto lisinho e esse cabelo cortado.
De tanto tentar me afastar, encostei na parede ao lado da janela. Não havia mais para onde fugir, a menos que eu pulasse do décimo quarto andar.
— Que bom que gostou, Phillip, mas...
— Meu homem agora ficou com uma carinha de bebê... Tenho a sensação que é quase um pecado o que quero fazer com você.
— O que você quer fazer?!
Eu estava apavorado, mas não tive reação. Phillip segurou em minha cintura antes de me beijar carinhosamente. Eu queria fugir, mas meu corpo estava paralisado e parecia ceder ao beijo e aos carinhos dele. Senti como se eu tivesse controle apenas dos meus pensamentos e que meu corpo se recusava a impedir o que estava acontecendo.
— Estou suado — disse Phillip, depois de pausar nosso beijo por um momento. — Sei que você não se importa, mas quero tomar um banho primeiro.
— Tomar um banho primeiro? — questionei, engolindo a saliva com dificuldade. — Por quê? O que acontecerá depois?
Ele sorriu, e me fez começar a rir também. Por um momento achei que ele estava brincando, mas vi que era sério quando ele pegou em minha mão e a levou para sua parte íntima excitada.
— Vem tomar banho comigo?
— Tom... Tomar banho com você?
— Faz tempo que a gente não transa no chuveiro.
— Que a gente o quê?! Eu não... Não posso agora.
— Por quê? Tô com tanta vontade de te fod...
— Ok! Chega!
Tirei minha mão de onde ele a tinha levado e consegui me afastar. Eu já estava com calor, com os batimentos cardíacos acelerados e com uma sensação estranha no estômago. Confesso que eu estava excitado, mas colocava a culpa na carência e saudade que eu tinha do Pete em minha antiga realidade.
— O que houve com você?
— Comigo?!
— Você está estranho, vermelho e fugindo de mim.
— Só estou um pouco cansado demais hoje.
— Não é melhor tomar um banho para relaxar?
Eu ia concordar, mas lembrei que ele tinha me convidado para tomarmos banho juntos.
— Vai na frente, Phillip! Eu vou terminar uma coisinha aqui antes de tomar banho.
— Mas o quarto já está brilhando, Klay.
— É outra coisa importante que preciso fazer.
Phillip concordou, mas me olhou da mesma forma desconfiada que meu pai tinha olhado hoje mais cedo. Eu estava tentando disfarçar, mas era difícil ser uma pessoa igual, porém diferente do que eu era. Era óbvio que eles nunca descobririam o que estava acontecendo comigo. Era mais óbvio ainda que, mesmo se descobrissem, não acreditassem em um absurdo como aquele...
Uma versão de um Klay de outra realidade? Impossível ser verdade!
Não precisei de muito para convencer o Phillip a me deixar em paz naquela noite. Inventei que estava cansado, com dor de cabeça e com diarreia para não termos qualquer tipo de intimidade. Quando ele foi embora e me deitei para dormir, pensei em tudo o que tinha acontecido naquele dia. Todas as diferenças absurdas que aquela realidade tinha com a minha e tudo que eu teria que fazer para consertar as coisas. Talvez eu não pudesse fazer meus pais ficarem juntos novamente por minha mãe já estar casada com outra pessoa, mas eu podia conquistar o Pete...
Eu tinha que conquistar oamor do Pete daquela realidade.
— E então? Como foi?! — perguntou Nathan, de repente se materializando em um dos meus sonhos.
Revirei os olhos. Lidar com minha consciência em meus sonhos lúcidos nunca foi algo bom.
— Você sabe como foi, falso Nate! Você é minha consciência aparecendo mais uma vez para me irritar.
— Não estou aqui para te irritar, mas sim para te alertar, Klay!
— Agradeço, mas não é necessário!
Tentei mudar de sonho e fazer o falso Nathan desaparecer, mas foi em vão. Por mais que eu tivesse controle de quase tudo em meus sonhos lúcidos, essas aparições indesejadas eram mais complicadas de conter.
— Seus pais estão separados, seu irmão não existe e o amor da sua vida é heterossexual.
Cruzei os braços e respirei fundo, pois eu sabia que não ia gostar daquela conversa.
— Você sabia desde o início que essa realidade seria diferente da sua, mesmo assim quis vir para reencontrar uma versão viva do seu ex-namorado.
— Vale o preço por vê-lo novamente.
— Tem certeza? Não vejo nada do seu ex-namorado no Pete que você acabou de conhecer. Klay, eles não são a mesma pessoa!
— São a mesma pessoa, mas de realidades diferentes!
— Então... Não são a mesma pessoa, Klay!
Sorri ironicamente.
— Eu sei o que você quer fazer... Como você é meu subconsciente, deve estar frustrado por ter visto o Pete com outra pessoa. Deve estar com ciúme e doido para encontrar um motivo para desistir de tudo.
— Essa é a conclusão que você chegou? Impressionante!
— Não vou desistir! Vou me aproximar do Pete e conquistá-lo! Tenho certeza que consigo!
— Vai tirá-lo de sua noiva? Como é o nome dela mesmo?!
— Não importa! Ele não é propriedade dela! Eu cheguei primeiro na vida dele!
Nathan fez uma careta e balançou a cabeça negativamente.
— Você ouviu o que eles disseram, né? Eles foram prometidos um ao outro antes mesmo de nascerem. Sinto muito, mas você não chegou primeiro, Klay.
— Vai embora, falso Nathan!
— Eu acho o Phillip um bom rapaz. Por que você não tenta conhecê-lo melhor na sua realidade original? Vai que ele é gay e está solteiro?
— Vai embora!
— Acho meio difícil o Phillip estar solteiro se for igual ao desta realidade. Você viu aquele corpo? Eu sou bonito, mas o cara conseguiu me superar!
— O que você está falando?! Por favor, vai embor...
— Se não der certo com o Pete, fica com o Phillip! Eu sei que você ficou impressionado quando colocou a mão no pau dele.
— Cala a boca!
(...)
O despertador do meu celular tocou pontualmente às sete e quinze da manhã. Nunca fiquei tão grato por acordar de um sonho lúcido constrangedor como aquele.
...
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top