34 - Em Busca Da Verdade
— Eu conheço você! — disse Sr. Lewis me olhando atentamente. — Você esteve aqui no dia da reunião para homenagear meu filho Nathan.
— Sim — respondi depois de respirar profundamente para tentar me acalmar. — Eu sou amigo do Nathan e... Desculpe!
— Nós éramos amigos dele — disse Pete me ajudando a corrigir aquele trágico começo.
O Sr. Lewis cruzou os braços enquanto nos encarava esperando por alguma reação, mas eu não fazia ideia do que dizer. O plano que meu namorado e eu tínhamos não daria mais certo, pois a imagem que Mike me enviou por mensagem provando que o pai do Nathan esteve na quadra pouco antes de ele ser encontrado sem vida mudava completamente o rumo das coisas.
Não podíamos confiar no Sr. Lewis, pois ele tinha acabado de se tornar o principal suspeito da morte do Nathan.
— O que vocês querem? — insistiu Sr. Lewis.
— Queremos saber onde o Nathan está enterrado — disse Pete com aquela expressão simpática que só ele conseguia fazer. — Gostaríamos de levar flores e rezar por ele. Claro que se isso for incomodar a família de alguma forma, nós...
— Não vai incomodar — disse Sr. Lewis interrompendo meu namorado. — Ele está enterrado no cemitério central da Filadélfia. Quando vocês entrarem no cemitério, sigam em direção a quadra vinte e oito.
— Obrigado! — Pete agradeceu recuando e me puxando delicadamente pelo braço.
— Obrigado vocês pela consideração e carinho pelo Nate — agradeceu Sr. Lewis. — Fico feliz em saber que ele tinha bons amigos como vocês.
— Obrigado e bom dia! — exclamei acenando e acompanhando meu namorado em direção ao carro.
Por mais óbvio que algumas vezes aquilo pudesse parecer, me recusei a acreditar por um tempo que o Sr. Lewis fosse o responsável pela morte do Nathan. Por mais que o relacionamento deles não fosse dos melhores, era difícil acreditar que um pai pudesse matar o próprio filho daquela forma.
Aquilo me fez lembrar da jovem e frágil Rachel que apareceu em meu quarto depois de ser assassinada pelo pai e pela madrasta há algumas semanas.
— O que faremos agora? — perguntou Pete assim que entramos no carro. — Se foi aquele homem que nos atendeu, temos que ir direto na polícia denunciar o caso.
— Não temos provas — afirmei.
— A imagem que Tyler e Mike conseguiram é uma prova, Klay! — exclamou Pete. — Os resultados falsos da autópsia também são uma prova.
— Assim como são provas de que a gente está invadindo sistemas de segurança para conseguir documentos e imagens de forma ilícita — pontuei. — Ele pode até ser preso, mas nós corremos riscos também.
— E se apenas denunciarmos o caso? — Pete perguntou.
— Nathan tem um tio que é policial, mas não lembro se é por parte de pai ou de mãe — falei coçando a nuca. — Deve ser por parte de pai, pois ele ajudou no abafamento do caso.
Contei para Pete aquela parte da história e ficamos no carro por um tempo pensando em um novo plano de ação. Nathan reapareceu no banco traseiro do carro, mas ficou em silêncio enquanto Pete e eu conversávamos sobre nossas suspeitas.
— E se entregarmos os documentos anonimamente? — sugeriu Pete. — Podemos deixar os documentos em uma delegacia e esperar que se faça justiça.
— Se fizerem justiça — ressaltei. — Sem falar que eles teriam que abrir uma investigação, exumar o corpo do Nate, fazer uma nova autópsia...
— Levaria um tempo... — murmurou Pete antes de suspirar.
Nathan não parecia bem. Eu nunca o tinha visto tão distante e cabisbaixo como naquele momento. As suspeitas que Pete e eu tínhamos contra o Sr. Lewis foram demais pra ele.
— Você não lembra de ter encontrado seu pai naquele dia na quadra, Nate? — perguntei.
— Não. — Ele respondeu. — A última coisa que lembro é que meus colegas de time estavam no vestiário enquanto eu recolhia o material que ficou na quadra.
— Você não falou com mais ninguém antes disso? — questionei.
— Falei com meus pais antes de ir pro colégio, com meus amigos e colegas de time. — Nathan respondeu. — Foi um dia normal como todos os outros!
— Deve ter acontecido alguma coisa que você está deixando passar, Nate — afirmei. — De qualquer forma, melhor irmos buscar Tyler e Mike no colégio e Sue no cemitério.
Pete assentiu.
Tínhamos que nos reunir com nossos amigos e pensar em um novo plano.
***
Depois de um dia longo de viagem e investigações, Pete, meus amigos e eu finalmente chegamos ao hotel. Nos reunimos em um dos quartos que reservamos para comentar o que havíamos descoberto naquele dia.
Pete e eu contamos que o homem que apareceu nas imagens da câmera de segurança da saída da quadra do colégio no dia em que tudo aconteceu era ninguém menos que o Sr. Lewis, pai do Nathan. Também contei o que aconteceu no dia que o conheci e como ele ficou transtornado por achar que eu era o responsável por supostamente vender drogas para o filho dele.
— Vocês acham que o pai dele o matou? — Sue questionou. — Faz sentido, mas sem uma causa morte definida, fica difícil dizer...
— Provavelmente foi uma parada cardíaca causada por um soco forte no peito do Nathan — disse Pete. — Minha mãe é enfermeira e disse que dependendo da idade da vítima, do local da pancada e da força do golpe, o coração pode sofrer uma arritmia ou até parar.
— O pai dele teria força suficiente para golpeá-lo e fazer o coração dele parar — disse Mike.
— Mesmo assim é apenas uma teoria baseada nas fotos da autópsia — afirmei. — Não tem como saber se foi o que de fato aconteceu.
Mais uma vez minha intuição apontou para outro caminho. Eu não sabia se não acreditava que o pai do Nathan o matou por fé em meus princípios ou por influência dos dons selados em minha mente.
— Lembra que você pediu para eu perguntar no cemitério quem costumava visitar e cuidar do túmulo do seu amigo? — perguntou Sue. — Um dos funcionários que cuida da limpeza e manutenção dos túmulos disse que é uma garota.
— Uma garota? — questionei.
— O funcionário disse que ela é um pouco mais baixa que eu, branca, cabelos cacheados e cumpridos... — contou Sue.
— É a Ellen! — exclamou Nathan aparecendo de repente no quarto.
Tyler balançou os ombros e cruzou os braços.
— Ficou frio de repente — disse ele. — Me deu até um arrepio.
— Vou fechar a janela. — Mike se prontificou.
Dei um selinho no meu namorado, levantei da cama e disfarçadamente fiz sinal com os olhos para que Nathan me acompanhasse. Sai do quarto e andei até o final do corredor. Debrucei em uma das janelas depois de abri-la e admirei a neve cair do lado de fora do hotel.
— Você está bem, Klay?
— Estou, Nate.
— Foi um longo e confuso dia hoje, não é?
Suspirei.
— Não acredito que seu pai fez isso com você, Nate — afirmei, pois conseguia sentir que ele estava preocupado com aquela possibilidade. — Não preciso usar meus dons para constatar o quanto ele te amava.
— Ele pensava muito mal de mim.
— Ele queria o seu bem — afirmei. — Meu pai também pensou que eu estava usando drogas quando...
Uma teoria veio de repente à minha cabeça.
— Quando? ...
— Quando eu estava exausto por ter premonições em sonhos e salvava o Pete da morte.
Nathan franziu o cenho.
— Não tenho dons como os seus, Klay — disse ele.
— Porém alguma coisa deve tê-lo feito pensar que você estava usando drogas, Nate — afirmei. — Você não lembra de nada que possa ter feito seu pai pensar isso de você?
Ele cruzou os braços e pensou por um momento.
— Teve uma festa na casa de um dos meus amigos — disse Nathan. — Alguns garotos estavam usando drogas, mas eu não estava com eles. Meu pai foi me buscar, viu o que estava acontecendo e tivemos uma briga quando chegamos em casa. Ele passou a me vigiar e a querer controlar as vitaminas que eu tomava para meus treinos na academia.
— Ele parecia convencido de que você morreu por uso de drogas — comentei. — Então alguma coisa aconteceu no dia que você morreu, Nate.
— Eu não lembro de nada, Klay — disse ele.
Eu estava a um passo de abrir o lacre que me impedia de usar meus dons. Eu queria muito ajudar o Nate a descobrir o que tinha acontecido, mas tinha medo de usar as habilidades adormecidas em minha mente.
Eu sentia como se um sussurro insistisse em dizer que eu não podia usa-los.
— Vou dar um jeito — afirmei firmemente. — Juro pra você que de amanhã não passa, Nate!
Ele assentiu antes de abrir um largo sorriso.
— Se tudo der certo e for isso que esteja me prendendo aqui... — Nate fez uma pausa e suspirou como se realmente pudesse e precisasse respirar. — Não vamos mais nos ver, Klay.
— Claro que vamos — falei balançando os ombros. — Um dia eu também vou para onde você vai, Nate.
Nathan estava feliz pela ajuda, mas ao mesmo tempo triste e com um sentimento de despedida. Eu ainda conseguia sentir o que ele sentia e nós sabíamos que aquela história estava finalmente chegando ao fim.
— Eu vou sentir sua falta — disse Nathan. — Você me ensinou coisas que eu jamais vou esquecer.
— O que exatamente? — questionei cruzando os braços para encará-lo.
— Que fui um babaca quando era vivo em julgar as pessoas — disse ele. — Que eu estava errado em ser preconceituoso e agressivo com o Patrick O'Brien e com pessoas do arco-íris.
— Pessoas do arco-íris? — resmunguei.
— Você é o melhor amigo que eu já tive. — Nathan continuou. — E estendeu a mão pra mim mesmo depois que te falei todas as merdas que eu tinha feito.
Balancei os ombros e a cabeça.
— Ninguém neste mundo é perfeito, Nathan — afirmei. — Até na busca pela perfeição de caráter, as pessoas cometem erros. Não existe uma pessoa neste mundo que não tenha errado ou que não vá errar na vida. Errar faz parte do crescimento e amadurecimento do ser humano.
— Leu isso em algum livro? — perguntou Nathan em tom de brincadeira.
— Sim e quando eu morrer e ir para o além te reencontrar, vou soca-lo na sua bunda, idiota! — resmunguei aceitando a brincadeira para espantar aquele clima pesado.
Estávamos a poucas horas de finalmente descobrir toda a verdade.
...
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