25 - Almoço de Natal
Na manhã da véspera de natal, Shawn e eu ajudamos nossos pais na decoração e na montagem da árvore natalina. Estávamos planejando fazer um almoço especial e convidar alguns amigos para aquela data que meus pais adoravam celebrar.
Minhas falecidas avós sempre faziam um banquete nos almoços de natal. Elas faziam questão de reunir toda a família e amigos. Elas não economizavam nem um pouco na comida, na decoração e nos presentes.
Meus pais queriam continuar com aquela tradição.
Convidei meus amigos Tyler, Arth e Sue para aquele almoço em minha casa, mas tanto o Arth quanto a Sue iam viajar para passar o natal com suas famílias. Tyler aceitou, pois os pais dele eram separados e ele não tinha o costume de passar as festas de fim de ano com a família.
Pete tinha viajado com a mãe e os irmãos para Nova Iorque naquela manhã. Aquele natal era o primeiro que Nuri passaria sem a mãe, então, Pete e a família dele decidiram se reunir para conforta-lo. Apesar de sentir muito a falta do meu namorado naquela data, combinamos de passar a virada de ano juntos. Teríamos duas semanas livres da faculdade e passaríamos pelo menos cinco dias sozinhos na casa da minha avó.
Valia a pena esperar.
Depois de terminar a decoração da árvore e ajudar meu pai a pendurar guirlandas na parte de fora da casa, resolvi subir para meu quarto para trocar de roupa e descansar um pouco. Liguei o notebook, coloquei meus fones de ouvido e abri minhas redes sociais para ver as atualizações dos meus amigos.
Enquanto eu visualizava alguns stories de amigos no Facebook, lembrei que há muito tempo eu não via o Nathan e não acessava o Instagram dele. Ele ainda estava desaparecido e não respondia minhas preces.
— Nathan?! — O chamei depois de fechar os olhos e me concentrar. — Faz muito tempo que você desapareceu, meu amigo. Preciso falar com você. É importante!
Abri os olhos e olhei em volta.
Nathan não apareceu.
— O que será que aconteceu com ele? — indaguei coçando a cabeça.
De repente...
— Nada! — exclamou ele aparecendo do outro lado do quarto. — Não aconteceu nada comigo, Klay.
Minha vontade era de soca-lo.
— Eu te mataria se você já não estivesse morto, Nate! — exclamei irritado. — Onde você se meteu?
— Por aí — respondeu ele balançando os ombros.
— Por aí?! — resmunguei. — Eu precisei da sua ajuda! Pete e eu precisamos da sua ajuda para seguir nosso plano de descobrir o que aconteceu com você.
Nathan cruzou os braços e desviou o olhar.
— Nem sei se ainda quero saber o que aconteceu comigo, Klay — disse ele.
Franzi o cenho.
— Ficou maluco? — questionei pronto para jogar um dos meus livros nele. — Não podemos desistir depois de todo o trabalho que tivemos. Você quer passar o resto da sua morte vagando por aí sem saber o que aconteceu?
— Não quero te machucar, Klay — disse ele exalando boas vibrações.
Daquela vez, Nathan não estava me causando tanto mal-estar físico. As emoções dele eram calmas e agradáveis. Dava para sentir o quanto ele estava preocupado.
— Como assim? — questionei.
— Fiquei muito preocupado quando você apagou por todos aqueles dias. — Nathan explicou. — Eu sabia que minha presença era fisicamente incômoda pra você, mas não fazia ideia que te causava tão mal. Por isso me afastei um tempo. Eu queria que você se recuperasse e não tivesse mais desmaios por minha culpa.
— Não foi você que me fez apagar por nove dias, Nate — afirmei. — Você sabe que não é o único espirito que eu vejo.
— Claro que fui eu! — retrucou ele ainda de bom humor. — Passamos o dia e tarde toda juntos quando você foi pra Filadélfia.
— Vi vários espíritos na cozinha aqui de casa naquela noite — afirmei. — Eles estavam carregados de dúvidas e energias negativas. Foram eles que causaram meu desmaio.
Nathan ficou pensativo por uns segundos.
— E tenho visto vários espíritos ultimamente — continuei. —Por sorte, eles aparecem e desaparecem rapidamente. É raro quando um deles tenta conversar ou me pedir ajuda.
Nathan sorriu.
— Eles não enchem tanto o seu saco quanto eu, Klay — disse ele.
— Exatamente! — confirmei.
Atualizei Nathan com os últimos passos que Pete e eu tínhamos dado para tentar descobrir o que aconteceu com ele. Como Nathan não apareceu quando o chamei, pedi para o amigo hacker do Tyler conseguir apenas os resultados da autópsia. Minha intenção era conseguir mais pistas nas redes sociais da família do Nathan, mas como ele não tinha respondido meus chamados, eu não sabia o que fazer ou por onde começar.
— Não daria certo — disse Nathan enquanto eu contava todas aquelas novidades. — Meus pais não tem redes sociais. Meu pai usa um e-mail e um número de celular, mas só para o trabalho.
— Talvez exista alguma pista no e-mail dele — afirmei.
— Pode ser que tenha, mas eu não faço ideia do endereço de e-mail dele — disse Nathan.
Suspirei.
— Talvez seja fácil descobrir dependendo de onde ele trabalha — falei abrindo uma nova aba no navegador. — Qual é o nome completo do seu pai e o nome da empresa que ele trabalha?
— Por que estamos investigando meu pai mesmo? — questionou Nathan aparentemente incomodado.
— Seu pai deixou claro pra mim no dia que fui em sua casa que maquiou a causa da sua morte — respondi. — Se foi ele que maquiou, provavelmente sabe a real causa.
— Isso faz dele um suspeito? — Nathan perguntou começando a ter uma variação de humor.
Senti uma pontada leve, porém incômoda em minha cabeça.
— Não pense assim, okay? — aconselhei. — Ele estava triste e disposto a tudo para não manchar sua memória, Nate. Talvez ele tenha pedido para mudar a causa da sua morte por que te ama e não queria te expor.
— Ou talvez por ser o responsável pela minha morte, Klay — retrucou Nathan já irritado.
Pigarreei para disfarçar meu incômodo.
— Acho melhor esperarmos os resultados com o amigo do Tyler — sugeri para não continuar perturbando as emoções do Nate.
Ele assentiu.
Nathan me fez companhia o resto da tarde. Ele contou mais detalhes do que gostava de fazer quando estava vivo e me confessou o que esperava para o futuro. Ele ficou encantado quando eu disse que tinha encontrado minha falecida avó no linear entre a vida e o pós-vida e que provavelmente ele também passaria por lá antes de seguir adiante.
— Então depois que morremos, passamos por esse lugar iluminado aí?
— Creio que sim. Pelo menos foi isso que aconteceu comigo.
— Mas você não seguiu para o pós-vida, né?
— Eu tinha que fazer uma escolha. Se eu seguisse em frente, não estaríamos tendo esta conversa.
— Você escolheu ficar para salvar seu amado Pete, não é? Igual aqueles romances dos anos noventa.
— Cala a boca!
Naquele momento alguém bateu na porta do quarto.
— Klay? — chamou meu pai. — Pode me ajudar com algumas caixas?
— Já vou, pai! — exclamei antes de me espreguiçar, e levantar da cama.
— Espero que você tenha um ótimo natal, Klay — disse Nathan antes de eu sair do quarto. — E muito obrigado por tudo que você tem feito por mim.
Apertei os lábios para não sorrir e balancei a cabeça.
— Para que servem os amigos? — perguntei ironicamente. — E mesmo sendo diferente, espero que você também tenha um ótimo natal, Nate.
Ele sorriu antes de desaparecer. Mesmo com aquele sorriso, era impossível não sentir o quanto Nathan estava triste por passar aquela data daquela forma. O desespero que ele sentia por não conseguir seguir em frente ficava cada dia mais evidente.
— Vamos dar um jeito, Nate — sussurrei antes de sair do quarto e encostar a porta.
Na manhã seguinte, meus pais, meu irmão e eu fomos até uma igreja para assistir à missa de natal. Eu não tinha costume de frequentar igrejas, mas meus pais insistiram tanto que meu irmão e eu os acompanhasse que foi impossível recusar. Eles queriam agradecer por eu ter me recuperado e por mais um membro da família estar a caminho.
Quando voltamos, começamos a arrumar a mesa e a casa para receber nossos amigos. Meus pais tinham convidado colegas de trabalho e alguns vizinhos com quem eles mais tinham contato. Eles chegaram todos juntos pouco depois do meio dia com vários presentes para meu irmão, para mim e até para o bebê que minha mãe esperava.
Shawn não tinha convidado ninguém. Segundo meu irmão, adolescentes da idade dele não costumam passar o natal longe dos pais.
— Onde estão seus amigos, Klay? — perguntou meu pai enquanto me ajudava a colocar os presentes na árvore de natal.
— Tyler está para chegar — respondi. — Arth e Sue viajaram para ficar com suas respectivas famílias.
— E suas amigas da biotecnologia? — Ele perguntou.
Desviei meu olhar para ele e balancei a cabeça com uma careta.
Meu pai começou a rir.
— É uma pena que o Pete não esteja com a gente. — Ele comentou.
— Pois é — concordei depois de suspirar.
— Você comprou um presente de natal pra ele? — Meu pai perguntou antes de parar o que estava fazendo para me encarar.
Franzi o cenho.
— Comprei sim — respondi desconfiado. — Por quê?
— Por nada. — Ele respondeu com um meio sorriso. — Ele é seu melhor amigo, então...
Graças aos deuses a campainha tocou naquele exato momento.
— Deve ser o Tyler — afirmei. — Acho que ele é o único que falta chegar.
— Vá recebê-lo! — incentivou meu pai. — Não vamos demorar para servir o almoço.
Assenti.
Tyler estava estranhamente bem arrumado. Ele costumava andar com o cabelo bagunçado, camisetas e moletons bem largos e a mesma bermuda azul marinho surrada. Para aquele jantar de natal em minha casa, meu amigo estava usando uma calça jeans skinny e uma jaqueta de couro preta. O cabelo dele estava bem penteado e o pequeno alargador que ele tinha na orelha esquerda estava com uma cruz preta pendurada.
— Quem é você e o que fez com o Tyler? — questionei admirado.
— Tive que tomar banho — respondeu ele. —, pois não é todo dia que sou convidado para um almoço de natal.
Tyler segurava um envelope em uma das mãos. Ele me entregou assim que limpou os sapatos no tapete da entrada.
— Seu amigo conseguiu? — perguntei esperançoso.
— Conseguiu! — Tyler confirmou. — Ele disse que foi fácil, pois o sistema de um cemitério não costuma adotar medidas de proteção contra hackers. Só você e seu namorado são loucos o bastante para querer hackear um cemitério, Klay.
— Muito obrigado, Tyler! — agradeci animado.
Abri o envelope para conferir o que eles tinham conseguido hackear. Os relatórios e resultados dos exames da autópsia do Nathan estavam todos em minhas mãos. Também havia alguns papéis menores no fundo do envelope, mas deixei para olhá-los em um outro momento.
— O almoço está servido! — exclamou minha mãe chamando a atenção de todos os convidados. — Vocês podem se servir à vontade na cozinha.
E o almoço de natal tinha oficialmente começado.
Previsão para o restante do livro: 30 dias!
Até o final, pessoal! ❤️
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