24 - Ajuda
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou Tyler estranhando aquela intervenção.
— Eu queria muito falar com vocês — falei assim que todos sentaram na cama da Sue para ouvir o que Pete e eu tínhamos para dizer.
Tyler estava preocupado, Sue me encarava com um olhar desconfiado como se já tivesse entendido o que estava acontecendo e Arth não estava surpreso, pois já sabia que Pete era meu namorado.
Estava mais do que na hora de me abrir mais intimamente para meus melhores amigos.
— Este é o Pete — O apresentei. — Estamos juntos há quase oito meses.
— Eu sabia — disse Sue com um grande e abobalhado sorriso.
— Juntos? — questionou Tyler. — Como assim?
— Eles namoram, Tyler — explicou Arth.
Tyler arregalou os olhos com a surpresa.
— Não contei a vocês antes porquê não temos nos encontrado muito e basicamente começou depois que larguei o curso de Direito — justifiquei. — O único que sabia era o Arth, pois ele conheceu o Pete quando me levou para casa na última festa que rolou aqui no campus.
— Você sabia? — questionou Tyler diretamente para Arth. — Você sabia e não pensou em contar pra gente?
— Não cabe a mim contar a intimidade do Klay, Tyler — retrucou Arth.
— Sabemos agora! — exclamou Sue. — E se você está feliz com o Pete, nada mais importa pra mim.
Arth concordou com Sue, mas Tyler ainda estava confuso.
— Eu fico feliz por você, Klay — disse Tyler. —, mas não entendo como isso aconteceu. Você sempre foi assim?
— Assim? — questionou Sue dando um pequeno empurrão no Tyler.
— Quero dizer... — Tyler pigarreou. — Muitas garotas eram afim do Klay, sabe? Até você era afim dele, Sue!
Sue voltou a empurrar Tyler, mas daquela vez um pouco mais forte do que na primeira vez.
— E o que isso tem a ver? — perguntou Arth também ficando confuso.
— Achei que o Klay fosse hétero, pois conversávamos muito sobre garotas. — Tyler explicou.
— Você falava sobre garotas, Tyler — pontuei. — Eu apenas te ouvia e te aconselhava, seu safado!
Tyler concordou e todos começaram a rir. Pete envolveu um dos braços em minha cintura para ficar mais próximo a mim. Ele estava feliz por finalmente conhecer meus amigos e assumirmos nosso relacionamento para eles.
— Mas não foi só pra isso que você nos chamou aqui, não é? — perguntou Tyler. — Você disse que tinha algo muito importante para nos pedir.
— Na verdade é para pedir a você, Tyler — disse Pete.
Tyler voltou a arregalar os olhos.
— Lembra que pedi para você me ajudar a hackear um e-mail há alguns meses? — perguntei.
— Claro! — Tyler confirmou. — Tenho um amigo que é um Tony Stark da informática e hackeia o que você quiser.
— Precisamos que ele consiga uns arquivos pra gente — disse Pete. — Ele terá que invadir o sistema de um computador que está na recepção de um cemitério na Filadélfia.
A cara de espanto que meus amigos fizeram foi muito engraçada. Apertei os lábios e pigarreei para não começar a rir.
— Sei que parece estranho, mas estamos tentando ajudar um amigo nosso — expliquei.
— E o que exatamente o amigo de vocês quer em um cemitério? — perguntou Tyler.
— O laudo completo de uma autópsia — respondi. — Eu sei que este documento existe, pois estive na Filadélfia e conversei com a recepcionista.
Tyler, Sue e Arth trocaram olhares ainda um pouco espantados. Era muita informação e surpresas para eles digerirem em um único dia.
— Claro que ajudo vocês — disse Tyler. — Klay é um dos meus melhores amigos e o namorado dele agora faz parte da nossa turma, certo?!
Sue e Arth assentiram.
Pete sorriu e agradeceu a gentileza.
— Antes que eu me esqueça — disse Sue levantando para chamar nossa atenção. —, tomei a liberdade de pedir pizzas, cervejas pro Tyler e refrigerantes pra gente. Não é todo dia que o Klay vem nos visitar, então...
— Seu crush é gay, Sue! — exclamou Tyler em tom provocativo. — Você tem muito azar quando escolhe alguém para se apaixonar.
— Não sou apaixonada pelo Klay, seu idiota! — exclamou ela voltando a empurra-lo.
— Você era! — gritou Tyler ainda a provocando. — Melhor o Pete tomar cuidado, pois a Sue é uma predadora de homens!
— Cala a boca! — gritou ela chutando Tyler da cama.
— Esses dois vão acabar casando, Klay — sussurrou Pete próximo a minha orelha.
— Eu não duvido — respondi cruzando os braços enquanto via meus amigos brincando e se provocando.
Pete e eu passamos o resto da tarde no quarto da Sue junto com Tyler e Arth. Meu namorado estava se divertindo e se dando muito bem com meus amigos. Fiquei feliz e aliviado por eles terem aceitado aquela novidade numa boa.
Enquanto riamos e conversávamos, uma preocupação não saía da minha cabeça...
Onde Nathan estava?
Eu precisava falar com ele o quanto antes, pois Tyler falaria com o amigo hacker dele naquela semana e precisávamos planejar tudo com antecedência.
Não podíamos desperdiçar aquela chance.
***
Quando Pete e eu chegamos em minha casa naquele final de domingo, estávamos tão cheios de pizza que não quisemos jantar com meus pais e meu irmão. Subimos direto para o meu quarto e ficamos na cama assistindo vídeos curiosos e curtindo o restante do tempo que tínhamos juntos.
Enquanto passava um vídeo engraçado de um falso mágico enganando pessoas, Pete insistiu que devíamos procurar ajuda de sensitivos mais experientes. Pai Noah tinha sido um erro, mas ele estava disposto a continuar procurando.
— Talvez Theodora saiba de alguém, Klay. — Pete sugeriu. — Talvez até ela possa nos ajudar.
— Ela mentiu pra você na última vez que estivemos lá — falei.
— Não foi bem uma mentira — rebateu ele.
— Mas eu não confio nela — afirmei. — Ela não devia ter te falado aquelas coisas absurdas.
Pete assentiu.
Ele deu um carinhoso beijo em minha cabeça antes de começar a massagear meu cabelo com as pontas dos dedos.
— Da pra acreditar que eu namoro um X-Men? — brincou Pete começando a rir.
Revirei os olhos e o belisquei.
— Até parece, Pete!
— Klay, é sério! Você via o futuro e agora conversa com pessoas mortas. O que mais uma pessoa com seus dons é capaz de fazer?
— Segundo um livro esquisito que eu li, sensitivos podem ver o futuro, conversar com pessoas mortas, captar emoções, vagar por mundos diferentes, fazer projeção astral e um monte de outras baboseiras que eu sinceramente não acredito.
— Projeção astral? Andar por aí enquanto seu corpo está desacordado?
— Isso é tudo besteira, Pete!
Apesar de eu ser uma prova viva que sensitivos existiam, havia muitas coisas que o livro que eu li falava e que eu não acreditava que era possível alguém conseguir fazer. Eu nunca tinha ouvido relatos de pessoas que fizeram tais coisas. Nem minha avó, por mais excêntrica que fosse, parecia fazer mais do que adivinhar o futuro.
— Você precisa falar com o Nathan sobre nosso plano, Klay — lembrou Pete.
— Ele ainda não apareceu — falei. — Nunca mais o vi.
— Você acha que ele vai voltar? — perguntou Pete. — Será que ele não partiu para o além ou algo assim?
— Não — respondi convicto. — De alguma maneira, eu consigo senti-lo e sei que ele não foi embora.
...
– 6 –
Depois de subir as escadas e entrar no quarto onde aquela mulher dormia, vasculhei o guarda roupas, as gavetas da escrivaninha e todo o local atrás do livro que eu queria, mas não o encontrei. O tempo estava acabando e se eu não o encontrasse, talvez não tivesse outra oportunidade como aquela.
Sai do quarto e avancei até o final do corredor para entrar em uma porta entreaberta. Era um pequeno escritório onde haviam dezenas de livros empilhados em prateleiras, estantes e em caixas espalhadas por todo o cômodo.
— Merda — resmunguei.
Eu levaria horas para encontrar o livro que precisava.
O desespero voltou a me dominar. Eu não podia voltar de mãos vazias. Eu precisava concluir o que tinha ido fazer naquela casa se quisesse encontra-lo novamente.
— Por favor, por favor, por favor... — murmurei enquanto olhava em volta.
Antes de eu começar a abrir as gavetas daquele escritório, um livro aberto ao lado do notebook chamou minha atenção...
Era justamente o livro velho de capa azul aveludada e sem título que eu estava procurando.
— Graças a Deus — sussurrei aliviado.
Peguei o livro e o escondi em minha cintura por baixo das roupas. Sai do escritório com muito cuidado para não fazer barulho com a porta ou com meus passos pelo corredor em direção as escadas.
— Onde você estava? — perguntou a mulher assim que entrou na sala carregando a bandeja de chá.
— No banheiro — menti.
Por sorte, eu já estava ao lado do sofá quando ela voltou.
— Por que tirou o tênis? — Ela perguntou desconfiada.
— Eu não queria sujar sua casa — menti novamente. — Eu tenho o costume de andar de meias ou chinelos pela casa para não levar as impurezas que o tênis traz da rua.
A mulher continuou desconfiada, mas aceitou minha explicação. Eu sentia que ela estava ansiosa para saber o final da minha história.
— Trouxe seu suco — disse a mulher colocando a bandeja na mesa de centro. — Vai continuar me contando o que aconteceu?
— Claro — confirmei forçando um sorriso.
Eu estava bem mais calmo depois de encontrar o que me ajudaria a superar tudo aquilo. Eu tinha fé que com a ajuda daquele livro, eu conseguiria concluir meu plano.
— O que aconteceu depois que você voltou da Filadélfia? — perguntou a mulher.
— Tive que contar a verdade para o meu namorado — falei voltando a sentar no sofá com cuidado para não marcar em minha jaqueta o livro que roubei. — Ele estava desconfiando que Nathan e eu tínhamos alguma coisa.
(...)
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