16 - Interrogações

— Entra no meu Instagram, Klay — pediu Nathan aparecendo de repente em meu quarto enquanto eu colocava uma roupa depois de sair do banho.

— Mas que droga, Nate! — resmunguei um pouco assustado. — Há quanto tempo você está aí? Eu estou pelado!

— Eu não vi nada, juro! — retrucou ele exalando ansiedade. — Por favor, entra no meu Instagram.

Terminei de me vestir antes de ir até minha cama para pegar o celular. Desbloqueei, abri o aplicativo Instagram e procurei nas pesquisas recentes o perfil do Nathan.
Haviam postado uma nova foto dele com a seguinte legenda:

"Convidamos familiares e amigos para a cerimônia que celebrará a memória do nosso querido Nathaniel."

Não li o restante da publicação.

— Você precisa ir, Klay! — exclamou Nathan completamente perturbado.

— Primeiro, você precisa se acalmar — afirmei já passando muito mal. — Segundo, eu não posso ir, pois tecnicamente não te conheço!

Comecei a sentir uma forte dor de cabeça.
Minha visão ficou turva e tive que sentar na cama para lidar com aquela onda negativa.

— Se você for, poderá descobrir o que aconteceu comigo — disse ele. — Esta é a chance de sabermos o que aconteceu!

— Não posso ir para a Filadélfia sem dar um motivo — retruquei. — Como vou explicar que vou na celebração de uma pessoa que eu nem conhecia? O que vou fazer quando chegar lá?

— Vai mentir — sugeriu ele. — Pelo que ouvi, essa celebração será no sábado e você pode dizer que era um amigo da internet ou qualquer outra coisa para entrar. Vai ser na casa que eu morava com meus pais e minha irmã.

— Na Filadélfia! — exclamei e me arrependi quase que imediatamente.

Eu não queria que meus pais ou meu irmão me ouvissem do cômodo de baixo.

— É uma cidade vizinha, Klay — disse Nathan. — Não é tão longe e você pode voltar no mesmo dia.

Eu não queria e nem podia ir, mas se não o ajudasse, Nathan me mataria com toda aquela insistência, ansiedade e carga negativa. Eu ainda não entendia meu dom de captar os sentimentos daqueles espíritos e nem o motivo deles me causarem tanta dor. De qualquer forma, eu me via na obrigação de ajuda-lo.
Eu quase já o considerava um amigo.

— Podemos falar sobre isso depois? — sugeri. — Pete está para chegar e vamos jantar com meus pais esta noite. Não é uma boa hora.

— Vai ser este final de semana, Klay — insistiu Nathan. — Não resta muito tempo para pensar.

Seria arriscado.
Como eu escaparia dos meus pais e do meu namorado naquele final de semana? Pete estava estranho e extremamente carinhoso comigo. Eu tinha a mais absoluta certeza que ele não tiraria os olhos de mim naquela semana.

— O que vou dizer pro Pete? — questionei. — Ele está todo estranho comigo.

— Estranho como? — perguntou Nathan cruzando os braços.

— Você não entenderia — afirmei tentando desviar daquele assunto para não dar detalhes que não o interessavam.

Nathan não engoliu minha desculpa.

— Eu te ajudo com o seu namorado — propôs ele. — Fico de olho nele e descubro o motivo de ele estar estranho com você, mas você precisará me ajudar e ir até minha casa neste sábado participar da celebração.

— Por que você não tenta descobrir sozinho? — questionei. — Você está morto! Você pode aparecer e desaparecer onde quiser!

— Já te falei que não consigo me aproximar da minha casa, da minha família ou dos meus amigos, Klay — respondeu Nathan. — Eu tento, mas não consigo.

— Então como soube da celebração? — perguntei desconfiado.

Nathan balançou os ombros e a cabeça como se não tivesse uma resposta.

— Você está me enganando — concluí.

— Não! — exclamou ele seriamente.

Eu sentia verdade, mas ao mesmo tempo uma intensa confusão nos sentimentos dele.

— Como você soube?! — questionei novamente com um tom mais severo.

— Eu apenas ouvi — respondeu ele. — Não sei explicar como, mas ouvi.

O mais confuso é que era verdade.
Não havia mentira no olhar e nos sentimentos do Nathan.

— Como? — questionei intrigado.

— Às vezes escuto vozes. — Ele respondeu. — Escuto minha mãe, minha irmã e alguns amigos falando comigo. Não sei explicar como, mas parece que eles...

Eu tinha lido sobre aquilo em algum livro espírita da minha avó.

— São orações — afirmei convicto. — Eles conversam com você em pensamento.

— E isso é possível? — Nathan perguntou.

Curioso, levantei da cama ainda com dores de cabeça e vasculhei a caixa onde eu tinha guardado a maior parte dos livros que peguei na casa da minha avó. Procurei o livro "Além da Matéria" e o foleei até a parte onde eu tinha lido sobre aquilo.

— Depois do desencarne, nosso espírito consegue ouvir preces — falei enquanto lia o capítulo com aquela informação. — Geralmente ouvimos pessoas que amamos e que se importam conosco.

— Não consigo ouvir meu pai ou meu melhor amigo, Klay — disse Nathan.

— O livro diz que só é possível ouvir pessoas que temos uma forte ligação de sentimentos — falei. — Pessoas que nos fizeram mal são bloqueadas cosmicamente ou algo assim.

Nathan pareceu decepcionado.

— Eu não queria ouvi-los mesmo. — Ele resmungou.

Era mentira.
Mesmo com toda a raiva que Nathan tinha do pai dele, ele ainda se importava.

— Você sabe que não é verdade, Nate — afirmei.

— Seu namorado chegou — disse ele desviando do assunto. — Não quero atrapalhar vocês.

— Espera, Nate... — pedi.

— Não se preocupe, pois vou ficar de olho no Pete — respondeu ele antes de desaparecer.

Por mais que eu pensasse, era difícil encontrar uma desculpa boa o bastante para escapar da minha família e do Pete naquele final de semana. Mais do que nunca eu sabia o quão era importante para Nathan descobrir toda a verdade. Ele estava cada dia mais agressivo e agoniado por não ter respostas e por não conseguir seguir em frente. Em consequência disso, eu estava cansado e era cada dia mais insuportável toda aquela carga de energia e sentimentos negativos.

Abri a porta da frente assim que Pete tocou a campainha. Tentei sorrir e fazer uma cara mais animada, mas acho que não deu muito certo...

— Você está pálido, Klay — disse Pete colocando a mão em meu rosto assim que me viu.

— Impressão sua — afirmei.

Pete pegou em minhas mãos enquanto entrava.
Ele não tirou os olhos do meu rosto nem por um segundo.

— Você está tremendo. — Ele pontuou.

— Deve ser fome — menti.

— Você está igual as vezes que...

Pete não continuou a frase, mas eu sabia exatamente o que ele queria dizer.

— Não é nada disso — falei seriamente enquanto o encarava. — Aquilo acabou. Não vai mais acontecer.

Meu pai passou da cozinha para a sala naquele momento. Pete soltou minhas mãos e sorriu para disfarçar o que estava acontecendo.

— Pete! — exclamou meu pai. — É sempre um prazer recebe-lo.

— Obrigado, Sr. Nivans. — Ele agradeceu.

— Parem de namorar aí e vamos para a cozinha — brincou meu pai. — Temos uma novidade fantástica para contar a vocês.

Antes de servirem o jantar, meus pais contaram para Shawn, Pete e eu que estavam grávidos de quase quatro semanas. Por mais que eu já desconfiasse por ter sido cúmplice da minha mãe quando comprei aquele teste de gravidez, fingi surpresa e não perdi a oportunidade de zoar meu irmão por ele não ter mais o privilégio de ser o mais novo da família.
Pete se emocionou com a notícia e parabenizou meus pais. Ele sempre gostou de crianças e confessou que sentia falta de cuidar e brincar com seus irmãos.

— Você poderá vir e brincar com seu novo sobrinho quando quiser, Pete — disse minha mãe.

— Sim, rapaz! — exclamou meu pai. — Você já é da família.

Franzi o cenho quando ouvi meus pais dizerem aquilo. Pensei por um segundo que eles desconfiavam do meu relacionamento com Pete.

— Obrigado, Sr. e Sra. Nivans. — Pete agradeceu. — Me sinto muito bem aqui com vocês.

O clima era de descontração e felicidade, mas eu estava inquieto, pensativo e cheio de dúvidas. Fiquei em silêncio a maior parte do jantar pensando em como viajaria para a Filadélfia e como faria para que nem Pete nem meus pais descobrissem. Até cogitei contar para meu namorado o que estava acontecendo dezenas de vezes, mas eu não fazia ideia de como ele iria reagir. Eu queria que Pete vivesse bem, tranquilo e longe de todas as minhas maluquices. O que eu menos queria era que ele se preocupasse e deixasse de viver tranquilo como estava para tentar me ajudar.
Já era o suficiente todo o trauma que tínhamos passado há alguns meses.

— Amor? — sussurrou Pete em meu ouvido enquanto terminávamos de comer a sobremesa. — Posso subir e usar seu notebook?

— Claro — concordei. — Vou ajudar meus pais a tirar a mesa e já subo.

Pete levantou, felicitou meus pais novamente e subiu para meu quarto. Tateei meus bolsos a procura do meu celular, mas lembrei de que o tinha esquecido em cima da minha cama.

— Algum problema, Klay? — perguntou minha mãe.

Eu ainda estava desconfiado de uma coisa...

— Tem alguma coisa que vocês queiram me contar? — perguntei.

Meus pais trocaram olhares e balançaram a cabeça negativamente.
Shawn revirou os olhos.

— E você, filho? — questionou meu pai. — Gostaria de nos contar alguma coisa?

Fiz que não com a cabeça, levantei e comecei a tirar os pratos e talheres da mesa.

Eles desconfiavam de alguma coisa, mas não queriam falar...
Eu lidaria com aquilo depois, pois já haviam muitas preocupações em minha cabeça.

Quando entrei em meu quarto, Pete estava sentado em minha cama fazendo algumas pesquisas importantes para a faculdade em meu notebook, mas resolveu parar pouco depois que me viu chegar.
Meu namorado sorriu e me encarou de um jeito sugestivo e sedutor.

— Continua — sugeri.

— Prefiro ficar com você — disse ele depois de fechar o notebook, levantar rapidamente para fechar a porta, me abraçar e me puxar de volta para a cama com ele.

— Pete... — resmunguei, mas me entreguei aos beijos e carinhos dele.

Pete continuava diferente. Seus beijos estavam mais intensos e seus toques mais ansiosos. Ele roçava o corpo dele contra o meu de uma forma mais agressiva do que de costume.

— Calma, amor — sussurrei entre um beijo e outro. — Assim vamos acabar nos machucando.

— Me desculpa, Klay — disse ele diminuindo a força que fazia contra meu corpo. — Eu só quero você, loirinho.

— Também quero você — afirmei. —, mas talvez esta noite não seja uma boa ideia.

Pete parou de me beijar e se afastou um pouco para me olhar diretamente.

— Por que não é uma boa ideia? — Ele questionou.

— Por tudo que aconteceu esta noite e a novidade dos meus pais... — expliquei. — Talvez eles queiram continuar comemorando com a gente e...

— Sempre transamos no seu quarto mesmo com seus pais em casa — disse Pete. — Você nunca recusou transar comigo.

— Não estou recusando — falei com um sorriso sincero. — Só não estou me sentindo seguro esta noite. Sem falar que acho que meus pais desconfiam da gente.

Pete saiu de cima de mim com uma expressão decepcionada. Ele sentou na borda da cama, ajeitou a camiseta e suspirou.

— Pete? — O chamei me reaproximando dele.

— Me desculpa? — Ele pediu. — Não sei onde estou com a cabeça.

— Por que está se desculpando? — perguntei envolvendo minhas pernas na cintura dele para abraça-lo por trás.

— Não sei — confessou ele. —, mas quero me desculpar por qualquer coisa que eu tenha feito com você. Se você me disser onde estou errando, posso melhorar!

Aquilo me deixou ainda mais confuso.

— Você não tá errando em nada, seu bobo — afirmei dando um longo e carinhoso beijo no rosto dele.

— Eu só quero te fazer feliz. — Pete disse. — Não quero que você me deixe.

— Isso nunca vai acontecer — afirmei seriamente. — Por que está dizendo tudo isso, Pete? 

Meu namorado estava triste e inseguro e era completamente compreensível depois do que ele passou nos últimos dias. Tínhamos ficado uma semana longe um do outro e eu também senti muito a falta dele.
Pete estava sensível e eu estava disposto a ajudá-lo a superar tudo aquilo.

— Você ainda me deseja? — Ele perguntou.

— Mais que tudo neste mundo — respondi.

Pete abriu um meio sorriso e se encolheu em meus braços.

— Nunca esqueça do quanto eu te amo — disse meu namorado.

— Nunca duvide do meu amor por você — falei apertando-o um pouco mais contra mim.

...

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