10 - Reencontros

Fiquei na biblioteca estudando as questões que haviam caído na prova durante boa parte da tarde. Mesmo sabendo que eu tiraria a nota máxima depois da ajuda do Nathan, eu não queria passar por aquela prova sem ter aprendido e decorado todo o conteúdo dela.

Pete ainda estava em Nova Iorque, mas já esperava no aeroporto pelo o voo que o traria de volta. Ele disse por mensagem que ia chegar por volta das dez da noite e, que se não fosse um incomodo, queria me encontrar às onze e meia.

"Sem problema" respondi assim que recebi as mensagens dele. "Estou com muita saudade."

"Também estou" disse ele. "Como foi a prova?"

"Muito bem!" respondi com uma carinha feliz.

"Meu loirinho é muito inteligente" disse ele junto a um emote de coração.

— Que fofo! — exclamou Nathan a meu lado.

Prendi a respiração e quase pulei da cadeira por conta do susto. Eu ainda não tinha me acostumado com aquilo.

— Você ainda está por aqui? — resmunguei em voz baixa para não chamar a atenção das pessoas a minha volta.

— Só fui dar uma volta — respondeu ele. — Eu não queria te atrapalhar enquanto estudava.

— Será que dá pra parar de me assustar? — pedi levantando um pouco a voz sem perceber.

Alguns olhares desviaram em minha direção naquele momento. Pessoas me encaravam com curiosidade e outras com reprovação por estar falando relativamente alto na biblioteca.

— Vão começar a achar que sou louco — sussurrei quando aquelas pessoas pararam de me encarar.

— Confesso que é divertido te assustar — disse Nathan.

Depois de arrumar minhas coisas e devolver o livro que peguei em uma das prateleiras da biblioteca, saí em direção a recepção para finalmente ir embora. Já estava um pouco tarde e eu não via a hora de chegar em casa, tomar um banho quente e relaxar até meu namorado voltar de viagem.

— Pra onde vamos agora? — perguntou Nathan ainda me seguindo.

— Fantasmas não tem outras coisas para fazer? — questionei já irritado. — Assustar casas abandonadas, por exemplo.

— Você é a única pessoa que consegue me ver e me ouvir, Klay — disse ele.

— Eu duvido — resmunguei. — Você não deve ter procurado direito, Nathan.

— Já disse pra me chamar de Nate — disse ele.

— Esquece! — exclamei antes de passar pela porta giratória da recepção.

Por estar distraído com Nathan, acabei esbarrando sem querer em um rapaz que estava parado ao lado da saída. Para minha surpresa e alegria, eu o conhecia...

— Klay?! — exclamou Tyler.

— O que faz aqui? — perguntei animado. — Este não é o prédio de Direito.

— Vim buscar um amigo que cursa Biologia. — Ele respondeu olhando o celular. — Não sabia que vocês dividiam o mesmo prédio do campus.

— Aqui não é igual o curso de Direito que tem um prédio exclusivo — afirmei. — Nós da Biotecnologia dividimos o prédio com o pessoal de Biologia, Química e tem até um andar para Medicina e Biomedicina.

— Suruba, gostei! — brincou Tyler enquanto olhava para os lados.

Era muito bom rever um dos meus melhores amigos. Fazia um bom tempo que não conversávamos.

— Como está a Sue? — perguntei.

— Com saudade de você, seu ingrato! — retrucou Tyler. — Você sumiu e mal tem conversado com a gente. Estudamos na mesma faculdade e nossos prédios nem são tão distantes...

— Desculpa, eu sei — confessei. — É que tem tanta coisa acontecendo comigo ultimamente que...

Tive que parar de falar.
Por sorte, meu amigo Tyler não era uma pessoa curiosa e insistente.

— Eu te perdoo com uma condição, Klay... — disse ele.

Ergui uma sobrancelha e balancei a cabeça para ouvi-lo.

— Que você me acompanhe em uma festa no campus esta noite — propôs ele.

Era a mesma festa que Jessica e Sara queriam que eu fosse. Eu não podia usar a mesma desculpa que usei com minhas colegas de curso, pois Tyler ainda não sabia sobre Pete e minha sexualidade. Sem falar que enganar Jessica e Sara era fácil, mas lidar com a persuasão do Tyler e a chantagem emocional que Sue faria quando descobrisse seria mortal.

— Sue estará na festa? — perguntei.

— Ela está me esperando, pois sabe que as festas não começam sem mim. — Ele respondeu. — Sem falar que Arth, Andie, Mike e nossos outros colegas também estarão lá.

Eu começava a ver motivos para ir àquela maldita festa. Eu estava com saudade dos meus amigos e queria muito rever a Sue e o Arth. Sem falar que eu não precisava ficar a festa toda. Eu podia muito bem acompanhar Tyler até lá, conversar com meus velhos amigos e voltar para casa a tempo de tomar banho, descansar um pouco e esperar meu namorado voltar.

— Que horas a festa começa? — perguntei.

— Já começou. — Tyler respondeu. — As festas do campus começam quando as aulas terminam na sexta à tarde e acabam quando as aulas voltam na segunda de manhã.

— Se eu for, terei que voltar para casa às nove — afirmei.

— Arrumo uma carona pra você — disse ele.

Concordei.
Seria legal rever meus amigos depois de tanto tempo.

— Sue vai morrer quando te ver, Klay! — exclamou Tyler animado. — Só quero ver a cara de surpresa dela quando você aparecer comigo na festa.

***

Não estava tão cheio quanto eu temia, mas segundo Tyler, a festa só ia esquentar depois das dez da noite. Foi um alívio saber, pois eu não tinha a menor intenção de ficar até aquele horário. Eu só queria rever meus amigos, conversar com eles um pouco e ir embora antes das sete e meia. Daria tempo de chegar em casa, tomar banho, jantar, descansar e esperar pelo Pete.

Quando cheguei, vi alguns rapazes enchendo uma piscina grande de gelo e garrafas de cerveja, vinho, vodka e outras bebidas que eu não conhecia. As garotas estavam arrumando a iluminação, decoração e as caixas de som do lugar.
Acredito que a festa tomaria um prédio inteiro de dormitórios.

— A festa vai ser aqui? — questionei espantado.

— As festas sempre são aqui, Klay — disse Tyler.

— No corredor dos quartos dos alunos? — perguntei boquiaberto.

— No corredor, nas escadas e até em outros andares — explicou Tyler.

— E não é perigoso? — perguntei.

— Tudo na vida é perigoso, meu amigo! — brincou Tyler pegando duas cervejas da piscina e me oferecendo uma delas.

Tive que pega-la, mas a descartei na primeira mesa improvisada que encontrei em um dos cantos daquele longo corredor.

Tyler me levou para o dormitório de um dos amigos dele que eu não conhecia. No quarto estavam Sue, Andie e Arth. Eles preparavam baldes grandes de salgadinhos, pipoca, biscoitos e outros doces para a festa.

— Galera! — exclamou Tyler assim que entramos no quarto. — Olha só quem eu encontrei perdido pelo campus.

— Olá! — cumprimentei acenando com uma das mãos.

Assim que me viu, Sue passou pelo curto espaço entre a cama e a escrivaninha quase derrubando alguns baldes de pipoca para me abraçar.

— Seu desgraçado! — exclamou ela. — Quando eu me formar vou te processar por abandono dos amigos.

— Não acredito que você veio — disse Andie também se aproximando para me cumprimentar. — Você nunca gostou das festas aqui do campus.

— Estava com saudade de vocês — afirmei. — Não vou ficar muito tempo. Só vim cumprimenta-los e colocar o papo em dia. Tenho que voltar pra casa e estudar.

Tyler, Sue e Andie fizeram um monte de perguntas. Eles estavam surpresos e ao mesmo tempo felizes com minha presença. Eu não os via desde que entrei para o curso de Biotecnologia no início do semestre. Não tive tempo para visita-los ou conversar com eles por telefone até então.

— Mike me mandou uma mensagem — disse Arth. — Ele está no térreo e precisa de ajuda para subir algumas coisas.

— Eu vou com você, Arth — propôs Tyler.

Arth não tinha me cumprimentado ou feito perguntas como meus outros amigos. Durante todo o tempo que estive no quarto, ele apenas me observou com sorrisos simpáticos e acenos com a cabeça.

— Você vai ficar aqui ajudando Sue e Andie com a comida, Tyler — rebateu Arth. — Pode deixar que o Klay me ajuda a trazer, certo?! Klay?!

— Claro! — concordei prontamente.

Depois que Arth e eu saímos do quarto, ele finalmente se sentiu confortável para falar comigo sobre o que realmente queria saber. Algumas semanas haviam passado desde a última vez que conversamos. Arth tinha me enviado mensagens, mas eu não tinha respondido tanto pela falta de tempo quanto por ter esquecido.
Ele continuava preocupado com o que tinha acontecido no lago.

— Eu entendo que você precise de um tempo, Klay — comentou ele enquanto descíamos em direção ao térreo. —, mas ainda estou preocupado com você.

Assim como meus pais e meu irmão, Arth pensava que eu tinha tentado me matar quando pulei naquele lago. De fato, eu tinha a intenção de morrer, mas não para sempre...
Eu sabia que ele ia me salvar.

— Estou bem — afirmei. — Não precisa se preocupar.

— Se você se sentir triste, perdido ou tiver qualquer problema que te leve ao limite como aconteceu naquele dia, você pode me ligar — disse ele. — Eu gosto muito de você e não quero que nada de ruim te aconteça.

— Não vai mais acontecer — falei firmemente para convencê-lo. — Eu não sei onde estava com a cabeça quando tentei me matar daquela forma.

Arth sorriu e assentiu. 


Quando chegamos no térreo, meu amigo se adiantou para conversar com um dos porteiros da recepção. De repente e antes que eu pudesse alcança-lo, Nathan apareceu mais uma vez na minha frente.

Tive que tapar a boca com uma das mãos para não gritar por conta do susto que levei.

— Você tentou se matar?! — questionou ele. — Por que?!

— Da pra parar de me assustar? — sussurrei entredentes. — Toda vez que você aparece, sinto um arrepio e uma carga de energia muito densa. Sem falar no susto quando te vejo aparecer assim, de repente.

Tanto meu amigo Arth quanto os porteiros olharam em minha direção para ver o que estava acontecendo. Eles tinham percebido meu susto, mas não entenderam o que estava acontecendo ou o que tinha me assustado.

— É que... — murmurei enquanto pensava em uma saída. — Acabei de lembrar que esqueci de comprar uma coisa pra minha mãe. Ela vai me matar quando eu chegar em casa hoje, sabe?

Arth e os porteiros balançaram a cabeça positivamente e voltaram suas atenções para o que estavam fazendo. Respirei aliviado e virei de costas para eles para conseguir conversar com Nathan sem problemas.

— Que história é essa de ter tentado se matar, Klay? — perguntou ele.

— Longa história — sussurrei cruzando os braços.

— Tudo em relação a você é uma longa história — disse ele desconfiado. — Talvez seja só uma desculpa para você não me contar.

— Prometo te contar tudo esta noite — falei impaciente. — Depois que eu sair daqui e rever meu namorado a gente conversa.

— Rever quem? — perguntou meu amigo Arth atrás de mim.

Eu não tinha percebido que ele já tinha terminado de falar com os porteiros.

— Ninguém! — exclamei com um sorriso forçado. — Eu só estava lembrando de um filme que eu vi no começo da semana.

— Um filme? — questionou Arth. — Qual filme?

— Falou com os porteiros? — perguntei para mudar o assunto.

Arth me olhou com curiosidade, mas depois voltou a sorrir.

— Falei. — Ele confirmou. — Eles precisam monitorar tudo que entra no prédio antes de levarmos lá pra cima.

Nathan observou Arth com uma expressão nada amigável.

— Esse cara gosta de você, Klay — disse Nathan rodeando meu amigo enquanto o encarava.

— Cala a boca — sussurrei instintivamente.

Arth arregalou os olhos e ergueu as sobrancelhas.

— Quer que eu cale a boca? — Arth perguntou confuso.

— Não! — exclamei já envergonhado. — É o filme que te falei que não sai da minha cabeça, sabe?! Eu estava lembrando de uma cena engraçadíssima e mandei meu próprio cérebro calar a boca.

— Acho que você consegue mentir melhor do que isso, Klay — disse Nathan começando a rir.

— Você mandou seu cérebro calar a boca? — perguntou Arth ainda confuso.

— Deve ser também a bebida que Tyler me deu quando cheguei na festa — menti. — Quando bebo um pouco, minha cabeça não para de pensar e pensar, sabe?

Arth voltou a sorrir.
Ele acenou com a cabeça me chamando para acompanha-lo.

— Onde você vai com ele? — perguntou Nathan ainda em tom provocativo. — Você tem namorado, Klay!

Cocei o nariz com o dedo médio enquanto fuzilava Nathan com o olhar. Ele parecia se divertir enquanto me desestabilizava na frente das pessoas...

Eu precisava encontrar uma maneira de provoca-lo para me vingar, mas como eu faria isso com um espírito?
Sem dúvida que eu pensaria em algo.

...

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top