43 - Além da Matéria
Livro: Além da Matéria
Página 29.
Capítulo 03 - Experiências de quase-morte.
Passar por estágios semelhantes ao desencarne permite às pessoas terem uma nova perspectiva de vida, reformando intimamente muitos de seus conceitos.
No livro Vida Depois da Vida, o dr. Raymond Moody Jr. descreve as experiências de 150 pessoas que viveram o fenômeno de quase-morte. Ele tem pesquisado este assunto há vários anos e seus estudos recaíram sobre três categorias distintas: a experiência de pessoas que foram ressuscitadas depois de terem sido julgadas, consideradas ou declaradas mortas por seus médicos; a experiência de pessoas que, durante acidentes, doenças ou ferimentos graves, estiveram muito próximas da morte física; a experiência de pessoas que a contaram para outras que estavam presentes enquanto morriam.
O dr. Moody considera mais dramática a primeira categoria, na qual realmente ocorreu o desencarne clínico, já que o paciente teve um contato direto com a morte. Em suas pesquisas, pôde notar que as pessoas que estiveram "mortas" por um tempo mais longo puderam contar sua experiência com riqueza de detalhes, além de a terem vivido por completo, ou seja, passado por vários estágios da EQM.
Nos primeiros passos dessa experiência, muita gente descreve sentimentos de paz muito agradáveis. Outro dado importante é que quem teve uma EQM não sai falando para todo mundo o que aconteceu. Normalmente, a pessoa faz um comentário para algum parente ou amigo, porém, ao ser reprimida por seu interlocutor e com medo de ser vista pela sociedade como uma desequilibrada, prefere o silêncio, não tocando mais no assunto. No entanto, essa pessoa jamais esquece cada detalhe do que ocorreu, a experiência fica viva em sua mente como um filme que assistiu há poucos minutos.
No instante da morte clínica, algumas pessoas ouvem o médico declarar seu falecimento. Contam que, neste momento, escutam sons de sinos, harpas, uma música majestosa. Logo após a ocorrência do ruído, conforme algumas declarações, tem-se a sensação de que se entrou em um lugar escuro, como se tivesse sido puxado para aquele local com uma certa velocidade. Tal espaço escuro é descrito de diversas formas: caverna, buraco, poço, túnel, bueiro, vale, vácuo, vazio, cilindro etc. Após a passagem rápida pelo local escuro, o dr. Moody explica que "a pessoa que está morrendo tem, com freqüência, uma surpresa muito grande, pois, nesse ponto, encontra-se olhando seu próprio corpo físico de um ponto fora dele, como se fosse um espectador, uma terceira pessoa no quarto apreciando as figuras e os eventos".
Outro estágio da Experiência de Quase-Morte é o encontro com o ser de luz. Vale lembrar que, quando uma pessoa está vivendo este fenômeno, ela pode seguir os estágios conforme são colocados, mas também pode ter experiências que não seguem este enredo ou apenas parte dele. A experiência é considerada completa quando segue todos os estágios, independentemente da forma que foi executada.
Entre os relatos que estudou, o dr. Moody considera como mais incrível o elemento que tem o efeito mais profundo no indivíduo, que é o encontro com uma luz brilhante. Muitas pessoas fizeram questão de frisar que, apesar da luz ser forte e intensa, em momento algum ela ofusca ou faz doer os olhos, não impedindo que elas vejam outras coisas ao redor. Para o pesquisador, talvez a luz não afete os olhos das pessoas "porque, a essa altura, elas já não têm olhos físicos para serem ofuscados".
— O que isso significa? — indaguei já com dor de cabeça.
Levantei da cadeira da sala de espera e comecei a andar de um lado para outro tentando entender o que eu tinha acabado de ler. Nada estava claro e nem uma ideia que eu tinha fazia sentido.
O tempo estava passando e eu não fazia ideia do que estava acontecendo.
— Fica calmo, Klay — falou meu irmão me oferecendo uma garrafa d'agua.
— Não consigo me acalmar — murmurei inquieto.
Naquele momento, o médico que estava atendendo Pete voltou para a sala de espera. A mãe do Pete, meus pais e meu irmão desviaram a atenção completamente para ele.
Eu permanecia paralisado em estado de choque.
— Como está meu filho? — perguntou a mãe do Pete.
— O quadro do Peter é extremamente grave — respondeu o médico. — Deus o está levando e não há nada que mãos humanas possam fazer.
Senti como se minha alma fosse cortada ao meio. Por uns segundos, esqueci como se respirava.
— O que aconteceu com ele, doutor? — perguntou meu pai.
— Nossos exames constataram que ele teve um dano grave no cérebro — respondeu o médico.
— Não tem como operar? — questionou Shawn.
— Neste caso, esta não é a melhor opção — respondeu ele. — O paciente Peter ainda tem atividade cerebral, mas está caindo pouco a pouco.
Voltei a sentar na cadeira e a abraçar a mochila que eu carregava com as roupas dele com muita força.
A dor interna estava insuportável.
— O que podemos fazer? — perguntou a mãe do Pete arrasada.
— Se vocês têm alguma religião, rezar — respondeu o médico. — Ele pode se recuperar, mas como neurocirurgião, é minha responsabilidade avisa-los que as chances são bem baixas. Se ele não reagir nas próximas horas, a atividade cerebral chegará a zero.
Eu não consegui ouvir mais nada depois daquela notícia. Deixei a mochila e o livro Além da Matéria na cadeira ao lado, levantei e sai da sala andando sem rumo pelos corredores e prendendo a respiração para não começar a gritar.
Era minha culpa.
Pete estava morrendo naquele hospital e a culpa era inteiramente minha.
Eu fui arrogante quando achei que minha premonição acordado tinha desvendado e resolvido tudo. Fui burro em achar que por ele estar a meu lado, nada de ruim poderia acontecer. Estraguei tudo no momento que resolvi me jogar daquela passarela e deixa-lo sozinho, pois naquele momento, o destino concretizou aquilo que vinha tentando fazer nas últimas semanas.
O destino e a morte tinham finalmente me vencido.
— Como está o Billy? — perguntou uma senhora à uma enfermeira no mesmo corredor que eu estava.
— Ele vai ficar bem, não se preocupe — respondeu ela.
— Foi um verdadeiro milagre, não acha? — questionou a senhora.
— Ele morreu por alguns minutos — respondeu a enfermeira. — Por sorte a equipe médica chegou a tempo de reanima-lo.
— Morreu por alguns minutos? — indaguei curioso.
Como aquilo era possível?
Andando por aquele corredor ainda devastado por tudo que estava acontecendo, parei em frente a um quadro de avisos e recortes de jornais. Uma das matérias destacadas era de um acidente que ocorreu há alguns meses onde uma vítima de afogamento relatou ter morrido por alguns segundos.
— Nova vida para vítima de afogamento — li o título em voz alta.
De repente, todas as peças começaram a encaixar.
Peguei meu celular no bolso da calça e procurei o número do Tyler na agenda, mas quando liguei, a chamada caiu diretamente na caixa postal. Tentei ligar para o celular da Sue, mas aparentemente ele também estava desligado.
Saí do hospital enquanto pedia um carro por aplicativo para me levar até o parque ao lado do campus da minha antiga faculdade. Não avisei meus pais e meu irmão, pois eu tinha certeza que eles tentariam me impedir por causa do estado em que eu estava.
Tentei ligar para Tyler e Sue mais uma vez enquanto o motorista de aplicativo não chegava, mas eles não estavam atendendo.
Vasculhando a agenda, encontrei por acaso o número do Arth.
— Que se dane — falei antes de clicar para fazer a chamada.
O carro do motorista do aplicativo cruzou a esquina no segundo que meu amigo Arth atendeu.
— Klay?
— Arth, você viu o Tyler ou a Sue?
— Não os vejo desde o final da aula de ontem.
— Estou indo para o lago que fica no parque ao lado do campus. Sabe onde é?
— Sim, eu sei...
— Você poderia ir até o dormitório deles avisar que estou indo para lá? Preciso encontra-los antes de fazer uma coisa importante.
Arth ficou em silêncio por uns segundos.
Ele tinha percebido minha voz falha e chorosa.
— Algum problema, Klay?
— Preciso fazer uma coisa importante. Por favor, avisa o Tyler e a Sue.
— Espera, Klay...
— Conto com você, Arth.
Encerrei a ligação.
Fechei os olhos, acumulei coragem e entrei no carro que eu tinha pedido assim que ele estacionou na frente do hospital. Eu tinha uma missão, uma última chance de salvar a vida do Pete e tinha que fazer aquilo mesmo que custasse a minha vida.
Eu não sabia se estava fazendo a coisa certa, mas precisava seguir minha intuição e confiar na junção daquele quebra cabeça que foi completado com o que li no livro recomendado pela minha avó.
Aquela era minha última chance e eu não podia falhar.
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