13 - Respostas
Antes de entrar, Pete bateu três vezes na porta já aberta do quarto e me olhou de longe com aquele sorriso que eu adorava admirar. Enquanto ele se aproximava, ergui meu corpo para sentar na cama e passei a mão no cabelo para corrigir qualquer problema que me fizesse parecer mais abatido do que eu já aparentava.
— Você não parece bem, Klay — disse Pete com o olhar preocupado.
— Estou tão feio assim?
— Não foi isso que eu disse, mocinho.
Pete sentou na cadeira ao lado da cama e ameaçou pegar em minha mão, mas desistiu no último segundo e coçou a nuca.
— Pete, o que aconteceu na estação? — questionei já preocupado. — O que aconteceu com o seu carro e o que aconteceu depois que perdi os sentidos?
— Acho que não devíamos falar sobre isso agora, pois você está visivelmente cansado e doente, Klay.
— Por favor, me fala!
Eu precisava de todas as informações possíveis para tentar entender o que estava acontecendo. Aquela era a terceira vez que tive que correr atrás do Pete para salva-lo. Na verdade, quarta vez, pois eu começava a acreditar que o sonho do posto de gasolina teria acontecido se eu não tivesse intervindo.
— Ontem, quando cheguei em casa, meu carro parou de funcionar sem mais nem menos. — Pete começou a explicar. — Eu até pensei em ver o que estava acontecendo, mas como minha mãe estava me esperando para cuidar dos meus irmãos, eu deixei o carro na garagem e resolvi chamar um antigo amigo do meu pai que entende bem mais do que eu sobre carros.
O carro do Pete podia ser um problema.
— Não use seu carro até fazer uma vistoria geral em um mecânico autorizado, Pete.
— Mas o amigo do meu pai é...
— Por favor... — murmurei antes de tossir algumas vezes.
Pete ficou preocupado, levantou da cadeira e se aproximou um pouco mais para me ajudar a arrumar o travesseiro e me sentar de maneira mais confortável na cama do hospital.
Nossos rostos ficaram mais próximos e o olhar dele encontrou com o meu por alguns segundos.
Foi o suficiente para me deixar envergonhado.
— Tudo bem, Klay — disse Pete antes de pigarrear e voltar a sentar na cadeira ao lado da cama. — Vou levar a um mecânico autorizado.
— Obrigado, Pete — agradeci. — Agora continue me contando o que houve, por favor.
Pete voltou a sorrir depois do meu pedido. Aquilo me deixou ainda mais envergonhado, pois pelo tom que usei, ele provavelmente tinha reforçado a ideia de que eu gostava de dar ordens.
— Sim senhor — murmurou ele tentando disfarçar a vontade de rir.
Suspirei.
Era impossível não se render a fofura do Pete.
— Hoje de manhã tive que levar minhas irmãs para a escola — continuou ele. —, mas como a escola fica ao lado da Estação Parque Nacional, preferi ir de metrô que é bem mais barato que chamar um Uber.
— Você recebeu todas as minhas mensagens?
— Recebi e fiquei muito confuso com elas, principalmente depois de saber que você estava indo me encontrar na estação. Eu até tentei responder, mas o sinal estava horrível e eu não conseguia completar as ligações.
A partir daquele momento, eu tinha quase a certeza de que Pete pensava ou ia começar a pensar que eu era louco. Por mais que eu quisesse explicar o que estava acontecendo e o motivo de eu ter entrado na vida dele, eu não encontrava palavras ou fatos que me fizessem provar tudo aquilo.
Ou ele ia pensar que eu o estava perseguindo, ou que eu sofria de algum distúrbio mental grave.
— E depois?
— Fiquei te esperando em uma das catracas da entrada da estação, mas tive vontade de ir ao banheiro e acho que por isso não te vi chegar. Quando vi aquela aglomeração se formar próximo a uma das escadas rolante, fiquei preocupado e fui ver o que estava acontecendo. Foi aí que eu te encontrei caído, tendo uma convulsão e espumando pela boca, Klay.
O mundo do Pete parecia ter caído naquele momento. Ele estava sério, preocupado e olhava para os lados demonstrando inquietação. Eu sentia que ele queria me dizer alguma coisa, mas não tinha coragem.
Então...
— Você quer me perguntar alguma coisa? — questionei.
Pete suspirou.
— Eu não quero que nada de ruim aconteça com você e não quero te magoar, Klay.
— Mas...
— Mas ouvi seu pai falar alguma coisa sobre drogas.
Tive que revirar os olhos.
— Não estou usando drogas, Pete!
— Eu não acreditei nele, mas eu vi o que aconteceu com você hoje na estação de metrô, Klay. Eu sei que você está escondendo alguma coisa, mas não sei o que é.
— Pete...
— Eu não acredito que sejam drogas, mas pode ser algum problema de saúde. Talvez, nem você saiba que tem!
— Eu não...
E meu meus pais entraram no quarto antes que eu pudesse terminar a frase.
— O médico está vindo com alguns resultados dos seus exames, filho — falou minha mãe se aproximando da cama.
— Queremos mais uma vez agradecer o seu amigo pela visita e por ter te acompanhado durante o resgate e internação — disse meu pai. — Pete, se você não se importar, gostaríamos de ter uma conversa em família com o médico.
Pete balançou a cabeça positivamente e levantou da cadeira, mas eu não queria que ele fosse embora. Primeiro porque eu tinha muitas coisas para perguntar já que agora eu estava plenamente convencido de que alguma coisa grave estava acontecendo. Segundo porque eu não queria que ele se afastasse, pois se algo acontecesse, eu não estava em condições físicas para intervir.
— Acho melhor o Pete ficar — murmurei.
— Klay...
— Ele precisa ouvir do médico que eu não uso drogas como você andou dizendo por aí — remunguei.
— Talvez seja melhor o Pete ficar, querido — disse minha mãe. — Ele é da turma do Klay e precisa avisar para os outros colegas o que está acontecendo.
— Sra. Mãe do Klay, me desculpe, mas eu não sou...
— Tem razão, mãe! — exclamei interrompendo o que Pete ia dizer. — Pete precisa avisar o Tyler e a Sue o que está acontecendo, pois nós quatro tínhamos trabalhos e anotações para fazer esta semana.
Pete me olhou de forma confusa, mas aparentemente entendeu que aquilo era um truque para que ele permanecesse ali.
Quando o médico chegou, minha mãe sentou na cadeira a meu lado, Pete e Shawn sentaram no pequeno sofá ao lado da janela e meu pai ficou de braços cruzados ao lado da cabeceira da cama.
A tensão no quarto era tão grande que ninguém se atreveu a falar.
— Como está se sentindo, Klay? — perguntou o médico.
— Ainda com o corpo dolorido e cansado, doutor.
— Acabei de receber os resultados de alguns exames que fizemos — disse ele.
Meu pai avançou dois passos em direção ao médico com uma expressão preocupada.
— O que ele tem, doutor? — perguntou minha mãe.
— Por hora, nada que suspeitamos a princípio devido a convulsão que ele teve — respondeu o médico tranquilamente. — Fizemos tomografia, exames de sangue e toxicológicos. Todos deram negativo. Posso afirmar com certeza que descartamos qualquer problema físico do paciente Klay Nivans.
— Então, ele já pode ir para casa? — questionou meu pai.
— Ainda não, pois ele está em observação e temos que aguardar os resultados de mais dois exames para eu conseguir libera-lo — disse o médico.
Era possível ver a dúvida no rosto de todo mundo naquele quarto.
— Meu filho teve uma convulsão, espumou pela boca, desmaiou na rua e o senhor está me dizendo que ele não tem nada? — questionou meu pai rispidamente.
— Nada físico, Sr. Nivans — respondeu o médico educadamente. — Suspeito que o que o Klay tenha é exaustão.
— Exaustão? — repetiu minha mãe sem entender.
— Ele faz atividades físicas? Pratica algum esporte?
— Não, doutor — respondeu meu pai. — Ele só faz faculdade.
— Seja o que for, está exigindo muito do Klay — falou o médico. — Minha recomendação é que ele descanse por uns dias, durma bastante e depois volte a rotina. Beba bastante água, sucos naturais, evite comidas gordurosas e guloseimas.
— Algum remédio, doutor? — perguntou minha mãe.
— Klay, você tem dificuldades para dormir? — perguntou o médico diretamente a mim.
Balancei a cabeça negativamente.
— Alguma dificuldade de concentração?
— Não, doutor.
— Então não vejo necessidade de medicação. Uma alimentação correta e alguns dias em repouso são suficientes. Talvez eu receite alguma vitamina, mas nada além disso.
Minha mãe voltou a sorrir e apertou minha mão carinhosamente. Meu pai permaneceu sério e de braços cruzados, pois não estava acreditando nos resultados dos exames. Shawn e Pete continuavam em silêncio no sofá.
— Vou deixa-los com o Klay mais uns minutos, mas peço que o deixem descansar — falou o médico antes de sair do quarto.
Meu pai esperou que o médico se afastasse para bufar de raiva.
— Droga de hospital! — exclamou ele. — Quando você sair de alta, vamos a um maior fazer novos exames.
— Albert! — resmungou minha mãe.
— Não estudei medicina, mas sei que exaustão não causa convulsões — concluiu ele.
Eu sabia a verdade, mas ninguém naquele quarto acreditaria em mim. Tudo levava a crer que aquela exaustão era por causa das premonições que eu tinha em meus sonhos lúcidos.
Não havia outra explicação.
Eu precisava de respostas.
Respostas claras e imediatas.
— Eu tenho que ir, Klay — disse Pete voltando a se aproximar da cama.
Meus pais e meu irmão tinham acabado de sair do quarto.
— Fica com o celular ligado e tenha cuidado, Pete.
— A preocupação agora não é comigo, é com você e sua recuperação.
— Seja como for, mantenha o celular ligado e não deixe de me atender, por favor.
Pete ficou sério.
Eu não ia conseguir guardar aquele segredo por mais tempo, mas aquela não era a hora e nem o lugar certo para falar.
— Não deixe de se cuidar e descanse bastante — falou Pete antes de colocar a mão dele carinhosamente sobre a minha.
Meu peito aqueceu.
Aqueles arrepios prazerosos nos ombros e na nuca me fizeram sorrir.
— Obrigado por ter vindo — agradeci segurando a mão dele.
Eu estava disposto a ter dores, convulsões, desmaiar e ser hospitalizado várias vezes se isso mantivesse Pete a salvo. Eu ainda não estava convencido da ideia de que a hora da morte dele havia chegado, mas se fosse o caso, eu não deixaria isso acontecer. Não era justo! Pete era muito jovem e tinha muitas responsabilidades para morrer. Como a mãe do dele faria para trabalhar e cuidar dos filhos pequenos? Aquelas crianças precisam dele, principalmente depois do falecimento do pai...
E eu ficaria muito triste se algo de ruim acontecesse a ele.
Confesso.
Eu precisava de respostas.
Quando Pete foi embora e eu finalmente fiquei sozinho naquele quarto de hospital, minha cabeça não parou de pensar no livro sobre sonhos que era da minha avó. Minha mãe o tinha guardado em algum lugar, mas com toda a agitação e rotina, eu tinha esquecido de pega-lo para ler.
Minha intuição dizia que aquele livro era a chave.
Ler aquele livro e conseguir as respostas que eu tanto queria para ajudar o Pete era a primeira coisa que eu ia fazer quando voltasse para casa.
...
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