Conto №39

_História Real

O garoto do céu

Já contei sobre alguns eventos sobrenaturais da minha família, os Batista. E hoje venho com mais uma narrativa que é contada constantemente desde que me conheço por gente. Vou repassar pra vocês a curiosa história de Pedrinho, filho caçula de uma das minhas tias- avó_ A já falecida tia Maria.

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Pedrinho tinha apenas quatro anos quando começou a apresentar, casualmente, quadros febris inexplicáveis sempre aos finais de semana. Especificamente, para ser bem mais exato, durante as sextas-feiras.

Nestes dias, sempre que o sol se despedia no horizonte, a pobre criança, que se mostrava saudável horas mais cedo, iniciava uma jornada de tormento e sofrimento junto com o anoitecer. Era incompreensível como um garoto aparentemente bem ficava doente de repente sem ter ao menos uma explicação concludente.

Devemos lembrar que estamos falando de algo que aconteceu há noventa anos atrás, e que naquele tempo a medicina não tinha o avanço de  hoje. Muitas doenças ainda não eram tão estudadas, e além disso, as pessoas mais antigas, como a minha tia-avó, não tinham o hábito  de procurar por um hospital quando ficavam doentes.

A maioria procurava por uma rezadeira ou cuidava da doença em casa mesmo, com chás e ervas. Só mesmo quando não viam resultado nisto, procuravam algum profissional da área. Geralmente um farmacêutico, dono da farmácia da esquina de casa. Sendo assim, Pedrinho permaneceu com as suas febres sem nunca ter havido um diagnóstico correto. Logo porque, a febre sempre ia embora com a sexta-feira e tudo voltava ao normal no decorrer da semana.

Num desses dias, Pedrinho começou com umas conversas estranhas para com a mãe. Quando ela falava sobre qualquer coisa que se referisse ao futuro, imediatamente era cortada por ele dessa maneira:

" Meu fi, quando crescer, vai levar  todo dia a marmita do Papai na fábrica, né?"_ Sonhava tia Maria.

E ele respondia, prontamente:

_ Eu não!!!..  Eu vou é pro céu!

No início, tia Maria não deu muita atenção e achou que era só uma brincadeira de criança. Mas depois, vieram outras frases, bem mais mórbidas, que a fizeram ficar bastante assustada dessa vez.

Pedrinho agora dizia que havia pessoas perto dele. Logo pela a manhã, durante as sextas, é claro, ele acordava e comentava com a mãe que tinha " Homens de Branco" no quarto.

" Os homens já chegaram, mãe"_ As vezes até sorria falando isso.

Tia Maria ficava amendrontada mas o menino parecia não se abalar com isso e agia naturalmente. E foi por causa dessa mais nova de Pedrinho que ela resolveu levá-lo então numa reunião espírita em busca de orientação e alguma solução para ajudar o filho.

Tia Maria não voltou com a solução. Pois pelo o que foi dito durante a sessão, Pedrinho não era desse mundo. Eles disseram que Pedrinho era um espírito de luz e que tinha vindo para a Terra apenas cumprir uma missão. Tia Maria não entrou em detalhes do que se tratava essa missão, talvez nem ela soubesse, por isso não disse muito para a família. Ela somente repassou sobre o filho ser um Espírito Iluminado e que tinha essa tal missão a cumprir. Ah, e que os Homens de Branco que ele via, eram os bons espíritos o ajudando a passar por isso.

As febres, segundo os professores espirituais, também faziam parte do processo de evolução de Pedrinho. Somente isso foi esclarecido.

A questão é que as febres continuaram. Mas fazendo com quê não fosse mais nenhuma novidade na vida deles. Pedrinho ficava febril na sexta a noite e no outro dia amanhecia como se nada tivesse acontecido, até chegar a próxima sexta. E assim foram levando, torcendo para que um dia tudo isso passasse e eles nunca mais tivessem que lidar com isto.

Bom, só que não foi como imaginaram.

Numa dessas sextas, Pedrinho começou com as febres novamente. E como de costume, tia Maria pediu que ele ficasse quietinho na cama enquanto ela iria até a cozinha preparar o chá.

Ela acendeu o fogareiro, pôs a água pra esquentar e separou as Evas. Sentou um pouco para esperar a fervura quando de repente ouviu a voz do pequeno ecoar pela a casa...

_ Mainha! Eles já vieram me buscar, viu?... Sua benção, mamãe?

As crianças tinham o hábito de pedir a benção aos pais quando saiam ou quando chegavam de algum lugar, e talvez por isso Tia Maria tenha sentido o arrepio subir a espinha e as pernas pesarem ao mesmo tempo.

Trêmula, abondonou as folhas de campim santo na velha mesa de madeira e com aquela sensação de aperto no peito, que só uma mãe sente quando tem alguma coisa errada com um filho, se dirigiu até o quarto imediatamente.

Quando entrou, viu Pedrinho serenamente com os olhinhos selados. Pôs as mãos na cabeça, se aproximando devagar, como se já soubesse o que havia acontecido, e ao tocar na testa da criança, sentiu que estava fria como gelo.

Ela lembra que gritou tão alto, mas tão alto! Que teve certeza que o bairro inteiro ouviu e sentiu a sua dor.

Pedrinho infelizmente estava morto. Sua missão havia sido cumprida. E os "Homens de Branco", dessa vez, vieram apenas no intuito de ampara-lo até o lugar onde ele sempre disse que iria: O céu.

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Essa é uma das histórias mais enigmáticas que ronda minha família. Nunca saberemos o que realmente assolava Pedrinho. Se era uma doença que por coincidência surgia apenas nas sextas feiras ou se ele era mesmo um espírito que veio cumprir alguma coisa na terra. Sempre será um mistério.

Bem, uma coisa é certa: Nunca houve outra criança como essa na família Batista. O que sabemos é que Pedrinho era mesmo um menino excepcional, que soube lidar com a morte sem medo e com a sabedoria de um grande espírito iluminado e evoluído.

Descanse em paz, pequeno anjo.

Angell Moura




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