Conto №24
O Hospital
*Só depois de alguns segundos foi que percebi que estava num hospital. E que eu fazia parte dos pacientes. O curioso é que não era um hospital muito comum. Pois hospitais são locais limpos e bem cuidados, fato que aquele estava longe de ser. Pelo que notei, não havia higienização há bastante tempo. As paredes eram completamente sujas e bastante deterioradas. As macas se apresentavam feias, velhas e cobertas por ferrugem, e o ambiente tinha cheiro forte de mofo e de feridas aberta.
"Como um hospital poderia ser tão precário dessa maneira?" _ Pensei.
" Será que ninguém sabe o quanto isso ajuda a ploriferar os vírus e as bactérias? Onde estão os responsáveis por este lugar? Preciso fazer uma reclamação!"
De repente era a hora da visita. E meus parentes e amigos vieram me ver, trazendo nas mãos, buquês com flores de coloração absurdamente escuras como a noite. Eu nunca tinha visto botões daquela cor, nem mesmo quando as via secar e morrer. Mas apesar disso, os ramalhetes eram bonitos e encantadores. Ao me entregarem as rosas, seus gestos e expressões, diziam que eu não tinha salvação, e que era só questão de dias. A fraqueza no corpo e nos ossos também me diziam isso o tempo inteiro. E eu estava bem ciente de que não havia muita esperança e que não havia mais nada a fazer. Mesmo assim, quis demostrar força, dando um sorrisinho aqui e ali.
"Vejam! Não está tão ruim assim. Ainda posso falar e caminho bastante pelos os corredores. Inclusive, foi andando por aí, que acabei conhecendo melhor o lugar... Vocês sabiam que existe um vasto terreno por trás deste hospital?"
Ok, chegamos onde eu queria. Vamos falar da área de terra do hospital.
Por que é tão importante destacarmos isto agora? Porque nele existia uma quantidade significativa de valas abertas. Todas prontas para receber há qualquer momento algum dos doentes da casa. E adivinhem? Uma das valas havia sido cuidadosamente cavada para mim, como se estivessem esperando a hora certa.
Como descobri que a dita cova estava destinada a minha pessoa?
Enquanto passeava entre os buracos, numa manhã cinzenta e amarga_ Aliás, não lembro de haver um dia de sol durante minha estadia. Sempre estava nublado e muito frio_, Parei diante de um deles e vi gravado numa placa de pedra o meu nome e minha data de nascimento. Abaixo, sobrava um espaço, que provavelmente seria completado com a data da aguardada morte.
Meus parentes pareceram não se incomodar muito com isto. Estavam tão certos do evento que até acharam prudente a conduta rápida do hospital. E mesmo achando bizarro, também concordei que foram bem práticos. Podiam ser desatentos com a limpeza, mas eram bastante eficientes nesta questão.
Não saberia dizer com franqueza que tipo de sentimento me consumia. Tinha tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, que no instante que sentia medo e desespero por saber que meu estado era mesmo grave, havia também uma aceitação que me submetia aquilo sem relutar. Sendo assim, só existia uma única coisa a fazer: Esperar o momento que meu corpo decidisse parar de lutar.
De repente, um sinal ensurdecedor atravessou as galerias, avisando que a hora de visitas tinha encerrado. Me despedi da família e voltei devagar para o leito, quase me arrastando pelas as paredes imundas. O quarto, eu dividia com mais duas mulheres, que também pareciam bastante debilitadas mais cedo. Lembrei disso e sorri, pois não me sentiria tão sozinha enquanto estivesse acompanhada delas. Ainda tentando chegar no meu quarto, tombei em alguns leprosos que zumbificavam pelos os cantos, e quando finalmente entrei pela a porta, vi que as minhas duas companheiras não se encontravam em suas camas.
"Ainda não voltaram da visita... Ou talvez, foram parar nas valas" _pensei.
Olhei em volta, dessa vez com mais atenção, afinal, minha visão estava fraca e fora de foco. Ergui o pescoço e vi as duas no centro do teto. Elas estavam envolvidas em trapos e esparadrapos encardidos e completamente ensanguentados. Os braços estavam abertos na posição de Cristo na cruz. Apesar de terem sido fixadas com enormes pregos nas mãos e pés, continuavam vivas. Mas não por muito tempo, acredito. Pois respiravam com dificuldade enquanto os globos oculares se estremeciam.
Vendo aquela cena de horror, tive a noção de que as valas e a sujeira naquele lugar era o de menos. Então, fiquei em hipnose, como uma criança em frente a TV, Pensando quando seria a minha vez de ser crucificada no teto.
"Mas que lugar é este, afinal?"_ Foi o meu último pensamento antes de ser acordado pelo o despertador.
_X_X_X_
*Retirado de um pesadelo_ Meu pesadelo.
Angell Moura
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