Conto №20

Essa é uma historia real que foi vivida e contada por minha mãe ✍

Minha mãe sempre trabalhou como doméstica em casa de família. Geralmente em grandes casarões e para pessoas da alta sociedade. Sua fama de ótima cozinheira lhe levava a organizar jantares importantes para gente importante. 

Num desses jantares, ela foi apresentada a um rico fazendeiro, que logo de cara  adorou sua comida e fez mil elogios sobre o cardápio daquela noite. Ele havia gostando tanto, que imediatamente fez a proposta para que ela trabalhasse em sua casa. Minha mãe não resistiu ao bom salário oferecido e aceitou rapidamente sem pensar duas vezes.

A fazenda era enorme e luxuosa como nunca tinha visto em sua vida, segundo ela. É claro que, por conta de seu trabalho, Já tinha entrado em muitas outras residências requintadas. Mas definitivamente, nada era tão majestoso como aquele lugar. 

Nas primeiras semanas, tudo parecia perfeitamente normal. Minha mãe ficou responsável pela a cozinha enquanto mais duas mulheres se dividiam entre a limpeza dos inúmeros cômodos e havia também um rapaz que cuidava das flores e da terra. A rotina dos donos até que era simples diante de tanta riqueza. E eles eram, de uma certa forma muito estranha, pessoas totalmente solitárias e reservadas. O Fazendeiro era um senhor de cinquenta anos, sem herdeiros e que vivia apenas na companhia da sua velha e recatada esposa.

Os compartimentos eram devidamente limpos diariamente. E mesmo sem nunca receberem uma visita sequer, as roupas de cama e toalhas dos quartos de hóspedes eram trocadas constantemente. Mas diante disso, minha mãe começou a notar que apenas um dos cômodos não se fazia essa limpeza diária. Na verdade, nunca se fazia, porque nenhum dos  empregados da casa tinha acesso. Depois de um tempo, mamãe descobriu que havia ordens rigorosas sobre ninguém entrar nesse quarto. Era restritamente proibido até mesmo se aproximar da porta.

O tal quarto ficava no fim do corredor acima das escadas.  Entre todos os outros, esse era o único que possuía uma porta bastante interessante, com uma característica marcante muito própria. A porta gigante e pesada era em madeira escura, retalhadas com figuras de serpentes e homens que pareciam ser anjos e demônios. A maçaneta circular era tão dourada e maciça que não seria uma surpresa se fosse realmente de ouro puro.

Durante o curto período em que minha mãe ficou na fazenda_ logo explicarei o porquê deste curto período_  sua curiosidade só aumentava cada vez mais. Além de todo o mistério sobre o que realmente existia dentro do complexo, havia também o comportamento estanho do próprietario que chamava muita atenção. Toda manhã, ele entrava pela a porta assustadora e ficava por horas trancafiado sozinho. Nem mesmo sua esposa era permitida a entrada. Somente ele tinha acesso e ninguém se atrevia a desobedecer as regras da casa_ Mas, como minha mãe sempre foi alguém que nunca se deu bem com preceitos, acabou ela mesma revelando o que de fato havia no enigmático recinto.

Um belo dia, quando o Fazendeiro e sua esposa sairam para resolver alguns assuntos na cidade, minha mãe percebeu que os dois haviam esquecido de levar a chave do quarto secreto com eles. O objeto, estava sobre uma das cômodas, no quarto do casal.  Mamãe tinha ido buscar as xícaras sujas de chá que eles sempre esqueciam sobre os móveis quando se deparou com o achado.

A chave, que mais parecia vinda dos tempos medievais, era de bronze. E tinha uma particularidade composta por uma estrela de cinco pontas nas extremidades. Mamãe a pegou nas mãos e imediatamente a indentificou como sendo da fechadura da grande porta de figuras bizarras. Ela a reconheceu logo assim de cara porque sempre a via pendurada na cintura de seu Patrão. Ele e a chave não se desgrudavam um só segundo. Era  como se o objeto de bronze já fizesse parte do seu corpo há muito tempo.

Ela contou, que naquele momento, uma onda quase irresistível de tamanha curiosidade tomou conta de si. E sem pestanejar, pegou a chave e se dirigiu para o anexo. Ao abrir, a porta rangeu forte por causa das dobradiças de ferro, então, para que nenhum dos empregados ouvisse, ela foi abrindo devagarinho até finalmente se deparar com o algo que a deixou bastante intrigada.

O quarto era incrivelmente espaçoso e as paredes pintadas com tinta escura. O piso também era no mesmo tom, em mármore. As janelas, eram cobertas por cortinas vermelhas de veludo e não se via uma fresta de luz solar atravessa-las. Dentro, não havia um móvel sequer, nem mesmo um simples quadro para quebrar a frieza e obscuridade do lugar. Mas curiosamente, existia bem no centro do cômodo, uma pequena mesa redonda.

Sobre essa mesa, tinha uma peça transparente em forma de bolha, que parecia ser de vidro. A bolha era três vezes maior de que uma bola de futebol, e mamãe logo notou que havia alguma coisa dentro dela. Quando se aproximou mais, ficou em choque com o que viu. Dentro da cúpula, estava nada mais ou nada menos do que uma tarântula de tamanho colossal.

A aranha era monstruosa e volumosa, com patas gigantescas, peludas, e olhos assustadoramente vermelhos e brilhantes. Mamãe lembra que ficou perplexa a fitar o aracnídeo por longos segundos, pensando porque que Diabos alguém possuía um bicho daquele e ainda mais daquela forma tão escondida.

Ainda buscando por respostas, percebeu de repente o barulho lá fora de pneus. Eram os donos voltando. Então ela saiu do recinto depressa, trancou, e depois foi ao quarto do casal, deixar a chave no mesmo local que achou.

Depois desse dia, ela ficou mais atenta ao que acontecia. Sempre quando o patrão entrava no quarto, ela ficava na espreita, esperando encontrar algum sentido. Alguma explicação sensata. Ela já tinha ouvido falar de pessoas que criavam aranhas como bichos de estimação, mas só não conseguia entender porque era guardada num quarto escuro e em segredo. Mas não custou muito para ela descobrir os verdadeiros motivos que levavam aquele rico fazendeiro ter uma aranha gigante como aquela em casa.

A noite, todos os empregados, terminado o expediente, voltavam para suas casas, inclusive minha mãe. Mas numa dessas noites, quando estava no ponto do ônibus pronta para pegar o transporte, lembrou que havia esquecido a carteira com o seu pagamento do mês. Ela precisava retornar a fazenda, pois sem dinheiro, como pagaria a  passagem do coletivo? Rapidamente ela seguiu o caminho para o Casarão.

Quando finalmente chegou, abriu a porta de entrada com a cópia das chaves que lhe foram dadas assim que começou a trabalhar e subiu as escadas. Se dirigiu até o cubículo onde ficava uniformes e materiais de higiene pessoal e é claro, onde tinha esquecido também a carteira. Quando a encontrou, voltou pelo o mesmo corredor, e antes de descer os degraus, notou a porta de madeira do quarto do aracnídeo semi aberta. Mesmo receosa, ela decidiu verificar o que estava acontecendo. Afinal, nunca tinha visto aquela porta daquele jeito, quase escancarada. Devagar, seguiu até lá.

O quarto estava com as luzes acesas e parecia que havia alguém. "Deveria ser o fazendeiro ou mesmo sua esposa"_ Mamãe pensou. Ela se enconstou e ficou espiando através das frestas. Para seu horror, viu quando o homem retirou a cúpula de vidro e depois picou o dedo com uma agulha, deixando o sangue pingar sobre a mesa. Quando uma considerável quantidade de líquido se formou, A Aranha mexeu suas enormes patas negras, como se guiada pelo o cheiro, e foi  até a poça de seiva vermelha e pareceu bebe-la.

Minha mãe, completamente espantada, deu um passo para trás, quando sentiu o toque de uma mão no seu ombro. Quando se virou, quase gritou ao ver a esposa do patrão, parada, bem ali diante dela.
A mulher, com uma expressão serena, lhe acalmou. E pediu em sussuros que fossem conversar em outro local da Casa.

Na cozinha, as duas sentaram e conversaram bastante. Principalmente sobre o que foi visto. A mulher explicou que a aranha era tipo uma herança de família, passada de pai para filho há quase cinco gerações. Ela contou, que o tataravô de seu marido era um homem pobre e miserável. Passava muito fome e ganhava quase nada na mina de carvão que trabalhava quase como um escravo. Um dia, cansado de tanta probeza, fez um pacto com o Diabo, prometendo sua alma em troca de uma vida melhor.

Sete dias depois, durante as escavações na mina, achou um filhote de aranha entre as pedregulhos. E foi então que o Diabo sussurrou em seu ouvido_ para que o pacto deles funcionasse de verdade, ele deveria alimentar a aranha com sangue fresco duas vezes ao dia. Sempre pela manhã e por último a noite. E outro detalhe também muito importante que não poderia ser esquecido nunca! Deveria alimenta-la somente com o seu próprio sangue. Caso o bicho morresse de fome, ou provasse de outro tipo  sanguíneo que não fosse o seu, perderia tudo e voltaria a ser pobre novamente.

Assim ele fez. E rapidamente se tornou o homem mais rico da região. Quanto mais rico ficava mais a aranha crescia de tamanho. Ele casou, teve um filho, e não teve problemas com dinheiro até os últimos dias de sua vida.  Quando estava no leito de morte, já depois de muito velho, o diabo lhe apareceu outra vez, com um novo recado. Se quisesse que a vida de riqueza e luxo continuasse na família, antes do suspiro final, deveria passar seu animal de estimação para as gerações seguintes, dando é claro as mesmas instruções que lhe foram impostas. Afinal, para o trato valer, seria necessário alimenta-la com o mesmo sangue sempre. Filhos e netos têm o mesmo sangue não é? Assim sendo, teriam também a mesma vida luxuosa se quisessem.

Todos concordavam, e foi assim, dessa forma, que a aranha foi passada de pai para filho cada vez que um dos patriarcas morria.

Minha mãe ficou muito assombrada com a história que tinha acabado de ouvir. Com medo, e por ser uma mulher muito temente a Deus, pediu demissão na mesma hora. E ela foi embora, prometendo que nunca mais voltaria aquela Fazenda.

Eu lembro_ como se fosse hoje_ mamãe contando isso para nossa família pela primeira vez. E mesmo depois de trinta anos, quando eu pergunto sobre a aranha gigante da fazenda, ela faz o sinal da santa cruz e narra com detalhes o aspecto assustador que o bicho tinha nos olhos.

Se acreditam ou não, isso é com vocês! Todo mundo tem o direito de duvidar sobre "As absurdas histórias reais de terror que as pessoas contam por aí" Mas eu nunca duvidei da minha mãe. E nem poderia. Afinal, algo que nunca vou esquecer é o modo como ela chegou do seu último dia de trabalho naquela noite. Minha mãe estava completamente apavorada e horrorizada com o que havia presenciado.

Isso foi mais um dos casos peculiares que alguém já me contou durante essa minha vidinha repleta de coisas assombrosas e inexplicáveis. Há tantas ainda que pretendo narrar aqui que chega a ser inacreditável. Mas como disse anteriormente, vocês têm todo o direito de não acreditar.

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*Nota sobre um breve pensamento que me surgiu de repente:_ Fiquei pensando, será que a grotesca aranha continua viva? Afinal, na época, o fazendeiro já era um senhor de idade  e pelo que parece não teve filhos. Sem herdeiros, e sem o sangue da linhagem após a sua morte, acredito que ela não tenha sobrevivido por muito tempo. A monstra deve ter morrido de fome. Assim eu espero porque, é óbvio que aquilo era o próprio Capiroto encarnado no bicho.

Cruz credo! Credo em cruz!

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