Conto №17
Desejos
Para cada desejo realizado ficou prometido uma vida.
Três desejos.
Três almas.
Esse foi o contrato que fez com um Djinn*
Riqueza e fama foram lhe atribuído em um piscar de olhos. A sua sorte no jogo era quase inacreditável. Sem contar nas belas damas que sempre estavam a seus pés. Mas logo de início algo de estranho lhe chamou a atenção. De repente percebeu que seus entes queridos estavam morrendo um a um conforme o desejo era alcançado.
Certamente ele lembrava das palavras no contrato sobre a troca de bens por almas. A questão é que ele jamais imaginou que os sacrifícios de sangue viriam justamente das pessoas que mais amava. Talvez pensou que seriam apenas inimigos e desafetos.
Estava equivocadamente enganado. Sua ingenuidade em acreditar fielmente nisso, lhe custou bastante caro. Vejam porquê...
Desejo №1_ Foi pedido muito dinheiro. Muito mesmo! E com uma única aposta, acabou ganhando sozinho na loteria.
Sempre foi um menino muito pobre que desde cedo precisou trabalhar. Todos os dias saía cedinho de casa para vender balinhas no sinal no intuito de ajudar nas despesas diárias. Sua mãe tinha sido abandonada pelo o marido e sozinha não conseguia suprir as necessidades básicas apenas com seu mísero salário numa fábrica de papelão.
Um dia, um ano após ter recebido o grande prêmio, sua mãe sofreu um terrível acidente em um das suítes da luxuosa mansão em que moravam. No instante em que deixava a banheira depois de um belo banho relaxante, a velha senhora escorregou no piso de mármore e caiu, batendo a cabeça com força no chão.
Desejo №2_ Foi pedido muito sucesso com o sexo oposto_ Até mais do que poderia dar conta.
Ele nunca dominou muito o universo feminino. Não entendia absolutamente nada sobre mulheres. Na escola, era apenas o patinho feio e sem graça que as meninas evitavam e faziam piadinhas. E mesmo na vida adulta, jamais soube o que era ser um cara popular entre elas. Mas com a ajuda do seu Djinn, rapidamente se transformou num verdadeiro Don Juan da noite para o dia. Um amante completamente irresistível e extremamente galanteador como sempre sonhou ser.
Mulher alguma agora era capaz de se negar a ele. Se jogavam literalmente na sua cama e ele tinha total controle sobre todas elas. Um simples olhar e ele tinha a mulher que quisesse. Seu ego estava mesmo nas alturas.
Uma noite, enquanto estava num tipo de orgia, num requintado hotel em Paris, seu único e melhor amigo desde os tempos de infância, se jogou da cobertura. Ele estava na cama com algumas mulheres quando viu o amigo se atirando pela a janela.
Desejo №3_ Cansado de relacionamentos baseados apenas no sexo e no interesse, foi pedido então uma relação firme e pura. Um amor consideravelmente verdadeiro.
Numa manhã de Primavera, a garota dos seus sonhos bateu na sua porta prometendo amor eterno. Assim do nada. Eles se conheciam desde o ensino médio e ele sempre foi muito apaixonado por ela. Mas naquele tempo ela nunca foi de prestar muita atenção nele, criando-se assim uma paixão quase platônica pela a moça durante os três anos do colegial.
Vê-la na sua porta, confessando que sempre o amou, era quase surreal. Sem perder mais nem um minuto, rapidamente se casaram. Logo ela engravidou, dando a ele um menino lindo e saudável.
Foram exatamente sete anos de convivência feliz e cheia de harmonia. E ele estava começando a se convencer de que sua teoria sobre alguém ter que morrer sempre quando pedia alguma coisa, era somente um devaneio da sua cabeça. Ou apenas uma simples coincidência.
Numa manhã de domingo, sua doce esposa saiu de carro para visitar os pais. Já era costume visitá-los quase todo final de semana. O dia parecia ensolarado e bonito... Mas de repente, quase que por meio de magia, o clima mudou. Se tornando num dia cinzento e de nuvens pesadas. Uma enorme tempestade estava prestes a se formar mas isso não a intimidou. E ela continuou a dirigir tranquilamente rumo a casa dos pais.
A chuva começou cair violenta seguida de raios e trovões. E com a alta nebulosidade, nem percebeu quando um caminhão de carga bateu na traseira de seu carro, jogando-a com violência para uma ribanceira. Sem chance alguma de escapar, ela não conseguiu sair do veículo há tempo e morreu carbonizada na explosão.
Desolado, numa ira descomunal, ele invocou o seu Djinn novamente. E com olhos flamejantes, o afrontou corajosamente...
_ Você trapaçeou!_ gritava, com a face molhada e lábios trêmulos enquanto quebrava tudo a sua volta _ Disse que era um gênio... mas na verdade você não passa de um demônio!... Um demônio sujo e sedento por sangue de vida inocente.
_ Mestre..._ O Espírito nada abalado com a dor que presenciava somente falou calmamente _ Apenas sou o que sou...
O homem inteiramente desesperado se ajoelhou aos prantos. Nesse momento, o Gênio se levantou da poltrona sofisticada da sala de estar e o fitou fortemente enquanto sua própria figura se transmutava. Quando ele ergueu a cabeça e viu a verdadeira face do espírito maligno não acreditou que um rosto tão angelical tivesse agora as feições repugnantes de um monstro.
O Djinn havia finalmente se revelado. Mostrando sua verdadeira identidade de pele enrugada e olhos escurecidos como trevas. Nada nele era humano. E os dentes apodrecidos e chifres deixava claro que aquela criatura era o próprio diabo.
_ O senhor, meu mestre, é o que melhor se classifica como um demônio_ Prosseguiu a criatura, numa voz doce que não correspondia a nada seu aspecto sombrio_ Vocês, humanos, com sua almas pequenas e ambiciosas, são os únicos mal desta realidade. Vocês acham mesmo que podem violar as leis do destino sem haver consequência nenhuma?
_ Você... Me enganou!_ sibilando raiva extrema, ele rosnou.
_ Oh, Mestre! Você ficou tão cego pelo o sucesso, que nem se importou em ler os termos escritos no nosso contrato... Se tivesse dado mais atenção, se tivesse lido tudo, até a última linha, estaria ciente de sua condição agora. É claro que as almas escolhidas seriam justamente das pessoas que mais tinha apreço.
_ Eu ainda sou seu senhor_ esbravejou, se erguendo_ Então ordeno que desfaça o contrato.
O gênio maligno soltou uma gargalhada que ecoou por todo a mansão.
_ Sua alma já está perdida, meu caro... E Ser nenhum tem o poder de mudar o que já foi feito... Nem mesmo um Djinn tão poderoso como eu...
_ Não ligo para a minha alma... Eu só quero eles de volta... Minha mãe, meu amigo e.... Minha amada esposa_ chorou com as mãos cobrindo todo rosto_ leve a mim... Pois sou o único responsável por tudo isso... Sou eu que devo pagar com o meu próprio sangue e não eles... Por favor, eu peço como último desejo, traga-os de volta a vida!
_ Mestre, não é tão simples como pensa. Eu nunca realizei um ato tão extraordinário assim durante toda essas minhas andanças durante os milênios nesta vida terrestre. Trazer um humano de volta a vida requer muito mais do que magia ou poder.
_Então pelo menos tente! Se nunca tentou, como sabe se não consegue?_ desafiou.
_ Isso é verdade, Mestre..._ O Djinn caminhou pensativo pela a sala com as mãos deformadas no queixo pontudo_ Talvez haja uma forma de contornar tudo isto...
_ Como? Diga gênio. Diga! Agora!
_ Almas por almas_ Sorriu diabólico.
_ Do que está falando?
_ Me dê uma quantidade significativa de almas e eu entregarei sua família como se nada tivesse acontecido.
_ Mas como farei isto? Como lhe darei almas?
_ Mate algumas pessoas e as ofereça a mim. Simples assim, Meu Senhor.
Ele pareceu ficar chocado por alguns segundos. Mas logo quando lembrou que isso era o preço para ter seus entes queridos ao seu lado novamente não pensou duas vezes.
_ Eu aceito a condição._ Disse, com uma firmeza fria e calculista.
_ É só assinar bem aqui, Amado Mestre._ O demônio tirou do casaco outro contrato novinho em folha, pronto para ser assinado.
Mas dessa vez ele não se deixou enganar pelo o Djinn e analisou cada vírgula e parágrafo. Aparentemente tudo parecia estar nos conformes.
O pobre homem, em desespero, fez o que lhe foi incentivado a fazer. E logo arquitetou um plano macabro onde pudesse assassinar várias pessoas ao mesmo tempo. Então, num dia de ação de graças, entrou numa igreja lotada de fiéis, carregando pistolas e fuzis nas mãos, acertando o máximo de pessoas que conseguisse. E cada corpo que caía aos seus pés, ele encomendava a alma para o Djinn. A polícia foi acionada e rapidamente chegou ao local. Mal esperaram ele colocar os pés para fora da igreja quando um atirador da Elite acertou a cabeça dele em cheio.
Gênios são trapaceiros e ele não levou em conta essa questão. Quando chegou nas profundezas mais obscuras da terra, a primeira coisa que encontrou foi sua amável mãe e seu melhor amigo pendurados numa forca. Os dois estavam sendo alvos de de tortura por todos os demônios que ali passavam. Um dia era enforcamento, no outro brasa quente, e tudo de mais horrível que se podia imaginar.
Ao ver aquela cena tão aterrorizante, ele apenas gritou de dor, pedindo perdão aos dois corpos que estavam suspensos por uma extensa corda. Sua mãe e o amigo estavam tão castigados pelas as torturas constantes que seus corpos nem de longe lembrava mais uma forma humana.
De repente o cenário no inferno mudou. E o que restava da mãe e do amigo havia desaparecido. Só tinha escuridão a sua volta e gritos angustiantes. Mas um grito em especial lhe chamou atenção. E o que antes era escuro agora se mostrava mais claro. Ele olhou bem para as imagens a sua frente e reconheceu a dona da voz ou melhor a dona dos berros. Era sua linda esposa. Jogada numa cama lavada de sangue, completamente nua e indefesa, sendo usada por uma fila de homens com rostos grotescos cheios de feridas e pus. Ela servia de protistuta para os seres inferiores daquele lugar. E o castigo dele era presenciar isso todos os dias, por toda eternidade, sem parar. Até o fim dos tempos. Ao se deparar com aquilo, apenas colocou as mãos na cabeça, em lágrimas, numa sensação de loucura absoluta. Mas antes de ficar louco completamente, pensou...
"Desejos são perigosos"
O único sobrevivente de toda essa tragédia_ o filho dele de sete anos_ foi parar num orfanato e logo depois foi adotado por uma boa família. Um dia, no seu aniversário de quinze anos, recebeu pelos os correios uma bela caixa de papelão vermelha revestida em veludo, e detalhe, sem remetente. Em letras douradas apenas dizia o seguinte " Seu pai gostaria que ficasse com isto"
O Garoto foi para o quarto curioso. E quando abriu a caixa, viu uma garrafa de formato e aparência antiga, quase milenar. A garrafa estava vazia. Mas junto dela havia um bilhete escrito com caneta tinteiro dizendo...
" Abra e realize todos os seus sonhos...
Até mesmo os mais impossíveis"
Assinado: Djinn.
Ao seu dispôr.
Por toda eternidade!
E lembre-se...
Três desejos!
Três almas!
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