O ancião que vi no parque


Esse fato ocorreu a mais ou menos 30 anos atrás. Nessa época eu estava no ensino fundamental e vivia em uma pequena vila no interior de Hokkaido, um local onde ursos normalmente vagam a solta.

Era véspera das férias de verão e eu havia decido passar a noite estudando para as provas finais. Mal comecei meus estudos e já me senti dominado pela sonolência. Para tentar me despertar, peguei o meu cachorro e decidi dar uma caminhada na vizinhança, indo até o parque da vila que se encontrava ao lado de um santuário budista.

Por ser uma vila pequena, onde todos se conheciam, eu me sentia totalmente seguro em vagar pelas ruas quase que desertas em plena noite. Havia suas desvantagens, tal como a iluminação que era precária em determinados pontos do trajeto, principalmente no parque. Contudo, isso não me desestimulava, achava a escuridão na zona rural um ambiente relaxante...E ainda mais, não estava sozinho, meu cachorro me acompanhava nesse passeio noturno.

Chegando ao parque, notei que o mesmo estava ainda mais escuro do que o habitual. Talvez mais um poste tivesse queimado sua lâmpada, presumi. Mesmo com a pouca luz advinda do único poste funcional, pude notar a silhueta de um velho senhor também passeado com o seu pequeno cachorro.

Eu o reconheci, era o ancião que morava logo no fim do meu quarteirão. Se o reconheci pelas roupas ou rosto? Não, só concluiu que deveria ser ele, pois não era a primeira vez que o encontrava quando saia para passear. E como nas outras vezes, eu sorri e acenei.

Pude perceber que ele levantou a sua cabeça em um movimento meio travado, talvez devido a idade. Em seguida, ele acenou em minha direção, de forma lenta. Infelizmente, não pude sequer ter um vislumbre de sua fisionomia. Ele também sorriu? Não fazia ideia...Realmente era uma noite escura.

Sem pensar muito a respeito comecei a voltar para casa. Dei uma última olhada para o parque e ainda pude notar o velho lá. Parecia ainda acenar e movimentar a cabeça, como se estivesse balançando a mesma para os lados, ainda de um jeito meio travado, talvez não tivesse percebido que eu já tinha ido embora, quem sabe.

No dia seguinte, depois da escola, novamente levei o meu cachorro para passear. Entretanto, algo estranho estava ocorrendo. No fim do quarteirão vários carros da polícia estavam parados na frente da casa do ancião e um pequeno aglomerado de pessoas se formava no local. Curioso, me aproximei.

— O que aconteceu? — perguntei a uma vizinha.

— Hã? Você não soube? O ancião que morava aqui estava desaparecido há alguns dias...

— Desaparecido? — inqueri agora mais assustado que curioso. Devido a minha preocupação com as provas, estava meio por fora em relação as fofocas da vila. Contudo, o que realmente me causou temor era saber que velho estava desaparecido...Mas eu o tinha visto ontem...

—Sim, desaparecido. — confirmou outro vizinho — A policia estava buscando por ele e tudo mais.

— Mas ele foi encontrado ontem. — suplementou outra pessoa.

Soltei um suspiro aliviado. Então, não havia nada de entranho. Eu vira o ancião ontem, quando ele deve ter retornado para casa, só isso.

— O pobre coitado estava morto... Ele foi para as montanhas próximas da vila, na floresta. Ele se enforcou lá...

O alívio foi substituído pelo horror.

— E eles tem certeza...Digo...Que ele...

Eu nem mesmo consegui terminar a minha pergunta notando que ela era meio tola de ser feita. Afinal, ali todos se conheciam e era fácil verificar a identidade do corpo.

Enquanto eu estava tentando não entrar em pânico, uma van branca lentamente estacionou na frente da casa do falecido. Eu não posso descrever o que senti ou vi, mas quando eles abriram a porta de trás do veículo...Havia algo coberto por um lençol branco. Um vento frio, em desacordo com o clima quente do verão, percorreu a rua, fazendo que parte do tecido se levantasse. Pude ver as pernas do ancião, suas calças de algodão e seus pés descalços. Uma onda de calafrio percorreu meu corpo.

— Dizem que ele se enforcou com a correia do seu cachorro... — continuavam a fofocar.

— O cachorro também morreu. O velho quebrou o pescoço do animal, antes de ...

Eu já não mais ouvia. Meu corpo estava gelado e minha mente só focava em duas questões não respondidas:

Quem era a pessoa que encontrei a noite no parque?

Quem acenou para mim?

~~Palavras da autora~~

Tradução de "The old guy I saw at the park" - Kabawana volume 1 - Tara A. Devlin.


E vocês, já tiveram contato com pessoas que já faleceram? Antes mesmo de saber que eles tinham morrido?

Minha resposta: Eu já sonhei com um amigo que teve uma morte horrenda (assassinado pelo próprio pai), mas na época eu não sabia disso. Meus pais fizeram questão de ocultar sobre os fatos do crime que foi bem pesado. Eu ainda era uma criança e sonhei com esse amigo que me perguntou sobre a sua mãe, se ela estava bem. Ele também me garantiu que estava muito bem agora e pediu para dizer para a sua mãe que ela não se preocupasse. 

Eu não sabia de nada na época. Só fui saber sobre as condições de sua morte a poucos anos atrás, já adulta. E com essa informação, pude entender melhor a mensagem deixado por ele.

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