CAPÍTULO SEIS

6. O Natal do Vendedor de Rua
.。❅*⋆⍋*∞*。*∞*⍋⋆*❅。.

       No coração do centro da cidade, sob o calor escaldante de dezembro, Ernesto ajeitava sua pequena banca improvisada. Uma velha caixa de madeira servia como suporte para os brinquedos que ele mesmo fazia. Bonecos articulados de madeira, carrinhos de latas reaproveitadas, estrelas de papel colorido e bolas de Natal pintadas à mão davam um toque especial à sua mesa.

Os pedestres apressados passavam suados e sem paciência. A pressa da noite de Natal parecia ainda mais intensa naquele calor.

Ernesto, um homem de pele queimada de sol e olhar cansado, tentava sorrir para os passantes. "Boa tarde, senhor! Um brinquedo para seu filho? Um enfeite para sua árvore?" Mas os olhares eram apressados e as respostas, sempre negativas.

Desde que perdeu o emprego na fábrica de enlatados da região, Ernesto sobrevivia do pouco que conseguia vender. Naquela noite, ele sabia que não teria o suficiente para uma ceia digna. Sua pequena filha, Ana, esperava em casa, enquanto a avó tentava distraí-la. "Papai vai trazer algo especial", ela dizia, mas Ernesto não tinha certeza se conseguiria cumprir a promessa.

O sol se escondia no horizonte, mas o calor persistia. Ernesto enxugava o suor da testa com um lenço surrado, mas não desistia. Continuava chamando os passantes, mesmo que a esperança diminuísse a cada minuto.

Foi então que uma senhora, aparentando ter 60 anos, parou diante de sua banca.

— Você fez tudo isso sozinho? — perguntou, admirando um boneco articulado de madeira.

— Sim, senhora. Trabalho com o que encontro por aí. Dou uma nova vida às coisas que as pessoas jogam fora.

A senhora pegou o boneco e sorriu, mas não tirou dinheiro da bolsa. Em vez disso, olhou diretamente nos olhos de Ernesto.

— Você acredita no espírito do Natal? — perguntou.

Ernesto hesitou. Ele queria dizer que sim, mas o peso dos últimos anos o tornara cético. Ainda assim, respondeu com um sorriso triste:

— Tento acreditar, senhora.

— Às vezes, o que recebemos não está à venda. — sorriu, enigmática.

Antes que Ernesto pudesse responder, a senhora foi embora, levando o boneco sem pagar. Ernesto ficou sem saber o que pensar. Ele não teve coragem de chamá-la de volta.

— Mas, olha isto! — praguejou.

Pouco tempo depois, um homem de camisa social, ensopado de suor, apareceu. Ele carregava uma garrafa de água e parecia deslocado no cenário.

Olhou os brinquedos, analisando cada detalhe.

— Você fez todos esses brinquedos? — perguntou.

— Sim, senhor! Tudo reciclado. São únicos!

O homem pegou vários brinquedos e os colocou debaixo do braço. Quando terminou, disse:

— Pois vou levar todos!

Ernesto ficou atônito. Nunca havia vendido tanto de uma só vez. Ele engasgou com as palavras:

— Todos? Mas... são muitos...

O homem sorriu.

— Tenho uma festa hoje à noite, e esses brinquedos vão alegrar muitas crianças. Quanto custa?

Ernesto gaguejou ao calcular o valor. O homem tirou a carteira e pagou o dobro, deixando Ernesto sem palavras.

— Feliz Natal, meu amigo. Não desista de acreditar. — disse, antes de se despedir.

Com o dinheiro nas mãos e o coração aquecido, Ernesto olhou para o céu. Ele correu para casa com o suficiente para comprar uma ceia e até mesmo um presente para a Aninha, a boneca que tanto pediu ao Papai Noel.

Ao entrar na sala e ver o sorriso da filha, compreendeu algo importante: aquele cliente inesperado não era apenas um comprador, mas um mensageiro silencioso. Um sinal de que, mesmo nos dias mais difíceis, em que as esperanças parecem escoar, o espírito do Natal encontra maneiras inesperadas de tocar os corações.

Total de palavras: 591

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top