CAPÍTULO QUATRO

4. O Milagre do Morro
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       No alto do morro do Rio de Janeiro, Dona Rosa era conhecida por sua força. Viúva do abandono de um marido que sumira sem explicações, ela sustentava sozinha os três filhos pequenos: Jonathan, de 14 anos, que cuidava dos irmãos como um pequeno adulto; Miguel, de 9 anos, cheio de perguntas sobre a vida; e Sara, a caçula de apenas 5 anos, que ainda chamava o pai nos sonhos.

Rosa trabalhava como faxineira, saindo cedo e voltando tarde. Naquela véspera de Natal, ela carregava na bolsa o resultado de um mês inteiro de trabalho: dinheiro para comprar uma ceia simples e, quem sabe, algum presente para os filhos. Era tudo o que podia oferecer, mas era suficiente para ela.

A chuva começava a cair fina quando Rosa desceu do ônibus e começou a subir a ladeira. As ruas estavam vazias, e as luzes das casas piscavam ao longe. Ela pensava no sorriso dos filhos ao verem a comida e os pequenos presentes.

Foi então que ouviu passos atrás de si. Um arrepio percorreu sua espinha. Antes que pudesse reagir, dois homens surgiram.

— Passa a bolsa, dona! Passa logo!

— É o dinheiro das crianças, moço. É Natal... — implorou.

Mas a compaixão não encontrou espaço naquelas almas endurecidas. Um puxão violento e a bolsa já estava longe. Rosa caiu no chão molhado, com o coração disparado e as lágrimas escorrendo. Quando os homens desapareceram, ela sentou-se na calçada, sem forças para continuar.

"Como vou encarar meus filhos agora?" — pensou.

Mas Rosa não era de desistir. Levantou-se, limpou o rosto e começou a andar. Não sabia exatamente o que fazer, mas precisava chegar em casa. Pelo caminho, encontrou Dona Conceição, uma vizinha idosa que a viu abatida e perguntou o que havia acontecido. Rosa contou a história em poucas palavras, mas Conceição percebeu tudo: o cansaço, o desespero, a culpa.

— Espere aqui, minha filha.

Dona Conceição entrou na sua casinha e voltou com uma sacola. Dentro, havia arroz, feijão, farinha e um pedaço de carne.

— Não é muito, mas dá para fazer algo para vocês.

Rosa agradeceu, emocionada, e continuou subindo o morro. Quando chegou em casa, seus filhos a esperavam ansiosos. Jonathan, sempre o mais perceptivo, percebeu a tristeza nos olhos da mãe.

— O que houve, mãe? — perguntou baixinho.

Ela pensou em esconder a verdade, mas não conseguiu. Contou tudo, desde o assalto até a ajuda de Dona Conceição. Os meninos ficaram em silêncio por um momento, até que Miguel, o do meio, disse:

— A gente não precisa de presente, mãe. A gente só quer você aqui com a gente.

As palavras do filho iluminaram o coração de Rosa. Foi então que Jonathan teve uma ideia.

— Tem aquele grupo da igreja lá embaixo. Eles ajudam quem precisa no Natal. Talvez eles tenham alguma coisa para a gente.

Rosa hesitou, orgulhosa como era, mas sabia que não tinha escolha. Juntos, mãe e filhos desceram até a capela do morro. Lá, encontraram um pequeno grupo de voluntários distribuindo cestas básicas e brinquedos simples.

Ao ver Rosa, o responsável a reconheceu — era um dos homens para quem ela fazia faxina ocasionalmente.

— Dona Rosa? O que faz aqui a essa hora?

Ela contou, encurtando os detalhes, e ele não pensou duas vezes: entregou-lhe uma ceia completa e alguns presentes embrulhados para as crianças.

— É o mínimo que podemos fazer por alguém que trabalha tanto.

Quando Rosa e os filhos voltaram para casa, já era quase meia-noite. Na mesa, improvisaram uma ceia simples, mas cheia de significado. As crianças abriram os presentes — eram carrinhos usados e bonecas antigas, mas estavam todos perfeitos aos olhos dos pequenos. Para elas, tinham o brilho de algo novo.

Naquela noite, Rosa descobriu que o verdadeiro milagre do Natal não brilhava nas vitrines nem se escondia em embrulhos, mas florescia no amor e na solidariedade que aproximavam os corações, tornando cada gesto simples uma dádiva inesquecível.

Total de palavras: 656

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