CAPÍTULO NOVE
9. Natal na Prisão
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O refeitório da prisão estava mais movimentado do que de costume. Sobre as mesas de madeira desgastada, alguns pratos com arroz, farofa e um pedaço de carne tentavam dar um toque de festa àquela noite abafada de dezembro. No canto, uma árvore improvisada exibia galhos secos pintados de branco, enfeitados com estrelas de papel crepom colorido.
As estrelas eram diferentes naquele ano. Cada uma trazia um bilhete escrito por filhos, esposas ou mães dos detentos. A ideia veio do diretor do presídio, que acreditava que palavras poderiam acender esperanças em corações endurecidos.
Nicanor, sentado sozinho, olhava para a árvore. Os outros presos conversavam em voz alta, tentando disfarçar a melancolia com risos e brincadeiras. Ele, porém, mal conseguia olhar para os colegas. Desde que foi preso por furtar um pacote de fraldas, sua vida havia parado. Não devido ao cárcere, mas pela distância de seu filho, Pietro, de oito anos.
Ele recordava a última vez que vira o menino: o olhar assustado quando o pai foi levado pela polícia, a vergonha nos olhos de sua esposa. Desde então, os dias têm sido longos e iguais, marcados pelo vazio e pelo arrependimento.
Um guarda se aproximou e entregou-lhe uma estrela retirada da árvore. No centro, com letras infantis e tortas, estava o bilhete de Pietro:
"Papai, o senhor ainda é meu herói. Eu te amo. Volta logo para a gente."
Nicanor apertou o pedaço de papel contra o peito. Uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto. Aquele pequeno bilhete parecia carregar o peso de uma segunda chance.
Mais tarde, na noite de Natal, o refeitório ficou em silêncio. Uma entrega especial de presentes havia sido organizada: algumas famílias haviam enviado pacotes simples para os detentos. Ele não esperava nada. Sua esposa não o visitava desde o julgamento, e ele sabia que Pietro era muito pequeno para entender como mandar algo.
Mas, para sua surpresa, seu nome foi chamado. Um pacote simples, embrulhado em jornal, foi colocado em suas mãos. Dentro, havia uma caixa de bombons baratos e uma carta.
A carta começava com uma caligrafia delicada:
"Papai, Feliz Natal! A mamãe disse que não podemos estar juntos, mas eu pedi para ela escrever porque eu queria te dar um presente. A senhora Lourdes, nossa vizinha, me ajudou a comprar o chocolate. Espero que goste. Te amo muito e quero que volte pra casa."
O homem segurava o papel com as mãos trêmulas quando encontrou um bilhete menor, escrito pela esposa:
"Nica, sei que você errou, mas também sei que o fez por desespero. Nosso filho sente sua falta, e eu espero que você esteja se esforçando para mudar. Talvez ainda haja um caminho para recomeçarmos.
Feliz Natal!"
Naquele momento, o peso que ele carregava parecia aliviar um pouco. Não importava o quão simples fosse o presente; era o maior símbolo de esperança que recebera em anos.
Enquanto os outros presos abriam seus pacotes e compartilhavam risadas, Nicanor sentou-se à mesa com o chocolate e a carta. A cada linha lida, algo dentro dele mudava. Ele sabia que o caminho de volta seria longo, mas, pela primeira vez em muito tempo, ele acreditou que era possível.
Naquela noite, sob o calor sufocante do verão, com uma árvore improvisada e estrelas de papel crepom, o preso sentou-se à mesa com a carta apertada contra o peito. As palavras do filho e da esposa ecoavam em sua mente como uma melodia que ele achava ter esquecido: amor, perdão e esperança. Ele fechou os olhos e, por um instante, conseguiu se imaginar fora dali, na pequena sala de casa, com o pequeno no colo e sua esposa ao lado. Era uma cena tão viva que ele quase podia sentir o cheiro do arroz-doce e ouvir a risada do filho.
Ele sabia que aquele sonho ainda estava distante, mas, pela primeira vez, acreditou que era possível alcançá-lo. Com lágrimas nos olhos, olhou para a árvore de galhos secos e sentiu, em meio àquele cenário desolado, a certeza de que, mesmo nas condições mais duras, a vida ainda podia encontrar uma forma de florescer.
No silêncio frio da prisão, enquanto segurava o presente mais valioso de sua vida, fez uma promessa firme: não decepcionaria Pietro. Não deixaria que o peso de seus erros apagasse a luz que o filho ainda via nele.
Naquele Natal, ele descobriu que o maior milagre não era ser perdoado, mas encontrar dentro de si a força para merecer esse perdão.
Total de palavras: 751
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