CAPÍTULO CINCO
5. Uma Ceia para Dois
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Era véspera de Natal, mas, para Mateus, a data não tinha mais importância. Na solidão de seu pequeno apartamento, ele preparava uma mesa simples: uma toalha já desbotada, um prato fundo, um copo e uma velha garrafa de vinho pela metade. Na panela, esquentava um pouco de macarrão com carne que havia comprado no dia anterior.
Esse seria o jantar, sua última ceia, como ele chamava em pensamento. Não tinha ninguém para quem ligar, nenhuma mensagem de Natal esperava por ele. Após perder o contato com sua ex-esposa no começo do ano e se afastar dos poucos amigos que tinha, Mateus decidiu que não havia sentido em seguir com tradições vazias.
Enquanto mexia na panela, seu olhar recaía sobre o calendário na parede, marcando o dia 24 de dezembro. Uma pequena vela acesa iluminava o ambiente.
"É apenas mais uma noite" — pensou.
Na hora marcada, Mateus se sentou à mesa. Serviu o macarrão com molho e carne, derramou um pouco de vinho no copo, mas não teve coragem de começar. O silêncio o engolia. Seu peito estava pesado demais para mastigar ou engolir.
Foi então que ouviu batidas na porta. Hesitou. Quem poderia ser? Ninguém o visitava há meses. Ele abriu e lá estava Charles, um velho amigo dos tempos de juventude.
Charles parecia cansado, com a pele marcada pelo tempo e por algum sofrimento recente.
— Boa noite, Mateus. Eu... eu sei que é estranho aparecer assim, mas... eu estava por perto e pensei em visitar você.
Mateus ficou parado por um instante, surpreso. Charles tinha algo diferente no olhar, um misto de cansaço e uma vulnerabilidade que Mateus não via desde que eram jovens. Ele engoliu em seco.
— Charlie? Minha nossa! Entra, por favor!
Charles entrou e sentou-se na pequena sala. A proximidade reacendeu memórias de anos atrás, da amizade intensa que partilhavam na juventude. Mateus sempre admirou o amigo mais do que deveria, um sentimento que ele nunca soube explicar, mas que sempre guardou para si.
Enquanto dividiam o jantar e o vinho, a conversa começou a fluir. Charlie, como Mateus o chamava, contou sobre os problemas que enfrentava: perdera o emprego, estava distante dos irmãos e quase não tinha onde ficar.
— Você foi o único em quem pensei, Mateus. Lembrei dos nossos natais antigos... das festas que fazíamos na casa dos seus pais. Eram sempre as melhores noites.
A menção ao passado trouxe um sorriso contido a Mateus. Ele sentiu um calor estranho no peito, algo que não experimentava há anos.
— Eu também me lembro, Charlie. Você era o único que conseguia trazer vida àquela casa. Meus pais te adoravam! — riu.
Os olhos verdes de Charles se iluminaram, um brilho que seu amigo não via há muito tempo.
— Saudades dos bolos de tapioca da dona Eloá!
— Mamãe era a fada dos bolos!
Entre risos e memórias, os dois foram se aproximando, com os pequenos gestos carregados de significado. Quando o relógio marcou meia-noite, Charles sugeriu algo.
— Vamos fazer um brinde. Não ao que perdemos, mas ao que ainda temos pela frente!
Mateus pegou os últimos goles de vinho e levantou o copo, hesitando por um segundo antes de olhar diretamente para o amigo.
— Ao que ainda temos.
— Ao que ainda temos, Mat. — repetiu, com um sorriso sincero.
O silêncio que se seguiu não era mais incômodo, mas carregado de algo novo. Charlie o olhou com ternura, e Mateus percebeu que aquele Natal, mesmo simples, não era o fim, mas talvez o começo de algo que ele nunca ousara imaginar. Sorriu em troca.
A pequena vela na mesa parecia brilhar mais intensamente. Não era mais apenas uma noite; era uma promessa de que, mesmo no vazio, a vida ainda podia surpreender - e, quem sabe, podia reacender sentimentos que Mateus acreditava estarem apagados para sempre.
Total de palavras: 635
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