Conto II - A Mente de Seleva
A lua já brilha solitária lá fora e nem sinal do Kalil. – Onde estás tu estimado servo? – pensei cansada da sua demora. Me levantei da cama de prata e ouro, era bem gostoso sentir as moedas duras e frias quando mexia meu corpo quente e escamoso. Eu estava estranhando a demora dele.
– O que pode ter acontecido? – eu me perguntava. – ele vinha sempre a cada três noites, e esta era uma daquelas noites. Ele já deveria ter chegado. Meus olhos podem ver no breo, mas não é com eles que poderia vê-lo naquele momento. Fechei meus olhos e manifestei meu poder. Os olhos da mente. Então eu podia vê-lo.
– Do que foges? – eu indagava como se ele pudesse me ouvir, quem dera ele pudesse. – Vejo seus olhos assustados. Tão apavorado... como se fugisse da morte. – Vi uma mancha escura em sua roupa, era como sangue, só que mais escuro. Não parecia dele, pois não havia dor nos olhos dele, mas havia medo.
– O que tu vistes? Tu estás longe. – eu sabia que meu poder precisa tocá-lo. – Vamos, ouça minha voz e acalma-te, chega e conta-me. – eu o vi entrando na vila, passando pelas ruas, e respirei aliviada, ele vinha em minha direção, não via a hora de saber o que houvera. Ele só precisava chegar mais perto pra que meu puder pudesse tocá-lo, aí poderia ajudá-lo. Não só espiá-lo.
Eu podia ouvir suas emoções e seu coração, ainda estava aflito. Ele nem mesmo tinha parado na casa da esposa amada. Estava vindo direto à minha morada. Foi quando algo estranho começou. – Oh, o que foi Kalil? Por que paraste? – eu perguntei estranhando ainda mais a situação. Ele descera do cavalo, não acreditei quando vi uma fêmea, uma mulher, era pra onde ele olhava. Ele vinha a mim com tamanha urgência e parou por causa duma maldita fêmea. – Humano idiota! – pensei.
O que ela tinha de especial? Eu me perguntava, senti que havia algo errado. Sentia que havia. – Kalil, não vês a malicia no olhar desta fêmea? Este belo olhar, tão irresistível... – então percebi algo nela, engoli em seco, senti um aperto em meu coração. – É isso! Kalil ouça meu chamado e deixe-a. Saia daí! Saia agora! – mas ele não podia me ouvir.
Pensei em sair naquele momento e libertá-lo do feitiço dela. Ele a acompanhou por uma rua, tinha menos humanos por perto. Eu podia vê-lo e também o seu redor, mesmo estando aqui. Graças ao vínculo. Eu quis alcançá-lo, foi quando vi algo na mão dela. – Nããããão! – gritei. Ela o apunhalou pelas costas. E a visão doeu como se eu sentisse aquela faca atravessando minhas escamas. Quem era ela?
– Kalil resista. – eu dizia enquanto seguia pra lá. Viajei através das areias pra poupar, tão rápido como só um da minha espécie pode fazer. Me vesti de humana e corri pelas ruas até ele. – Resista! Resista! – era o que repetia. Ele estava morrendo, eu via o caminho com meus olhos e via Kalil caído com minha mente, via ele sangrando sozinho naquela rua. Eu corri o mais rápido que pude, que eu conseguia na forma de mulher.
Quando eu cheguei, lá estava ele. Meu querido servo Kalil. Tinha chegado tarde, ele estava frio e inerte. Como um quadro pintado por mãos fúnebres. Que fim ele teve. – Que triste fim tu tiveste Kalil.
Agora, lembrando dele, de todas as vezes que veio a mim. – Tantas vezes vinheste em busca de orientação, tantas vezes me ouviste. Da minha água bebeste. Acuidade as teus sentidos e agilidade ao teu corpo, poder eu te dei. Mas não foste suficiente. Eu devia ter lhe dado mais poder. Eu devia ter lhe dado poder de verdade, devia tê-lo despertado.
Ele foi enganando tão facilmente, e pereceu. Quem era ela? E por que o matou? Quem era esta assassina? Seria uma serva da necromante?
Aqueles humanos em volta, olhando o corpo dele, não fizeram nada. Eu devia queimar todos por isso. Não sabiam do valor dele. Se eu tivesse voado... Mas agora irei atrás da assassina. Vou arrancar sua pele com minhas garras. E depois que eu souber quem a mandou, vou consumi-la com meu hálito de fogo.
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créditos da capa: Ingred_O
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DISPONÍVEL A PARTIR DE 14/08/2020
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