O lugar estava cheio, arquivos, papéis distribuídos em pilhas de maneira organizada, do chão até as paredes e em todo balcão. No ar existia um odor que apenas aqueles que leem conseguem compreender, o cheiro de páginas amareladas. Das muitas prateleiras alinhadas surgiu uma mulher, óculos escondiam seus olhos, a saia escura esvoaçava enquanto andava com passos apressados fazendo mover-se como ondas também os cabelos escuro. Os lábios finos estavam pressionados numa linha e nos braços carregava muitos livros.

— Olá, é a primeira vez que recebo alguém na biblioteca de crimes — passou apressada andando até o balcão e batendo com força os objetos na tampa de madeira —, na verdade, é a primeira vez que recebo qualquer pessoa.

Ela se abaixou atrás do móvel repentinamente, não deixando de continuar a falar — Aquele italiano malandro me pediu para separar algo para você, Tenebrose precisa parar de achar que manda na Grande Biblioteca, e principalmente em mim. Mas como é uma ocasião especial vou abrir uma excessão, a propósito me chamo Verita.

Apesar dos braços finos, ela se ergueu com cinco grandes livros de capa de couro, grossos e sem descrição — Verita Rimec, o true-crime, guardo nessas páginas e prateleiras infinitas os casos verdadeiros, as palavras sem filtro e os detalhes impiedosos de mentes e pessoas destrutivas.

— Também há beleza na não-ficção, existem fatos, um compromisso com expor a versão dos envolvidos. A maioria das pessoas possui uma curiosidade inerente de compreender e buscar conhecer a natureza humana, muitas vezes na sua forma mais cruel.

Suas mãos tamborilaram na madeira batendo as unhas curtas ritmadamente — Estive esperando por você, então espero que nosso tempo juntas seja... Proveitoso.

— Não precisa se preocupar, não estou sozinha, ficção e suspense estão comigo para tornar a leitura mais interessante. Pense em mim como sua guia de referências — Verita alcançou o primeiro livro da pilha, abrindo a capa de tom roxo e folheando as páginas velhas até uma certa marcação.

— Se tiver coragem, podemos começar, mas desde já aviso; por aqui, não existe um final feliz.