Compress Bundy




[Nome] já achava o relato por si só ridículo, de que modo a polícia local pode ser tão incompetente a ponto de deixar um acusado fugir do prédio da instituição. Como se a história dele mesmo se representar como advogado já não fosse absurda o suficiente.

O salto de seus sapatos ecoavam ritmados pelos corredores da delegacia, apressados enquanto os dedos amassavam a pasta de arquivo feita de papel amarelo preso em suas mãos. A princípio quem visse Atsuhiro 'Compress' Sako nunca iria desconfiar da mente perversa, dentro do padrão, bonito, e muito eloquente, só aquelas que realmente viram de perto o horror poderiam testemunhar o monstro por trás da máscara.

E graças a uma estupidez ele estava solta na sociedade novamente, quando foi concedido a ele o direito de se defender o homem ganhou acesso aos arquivos da delegacia, e da pequena biblioteca no primeiro andar da janela no canto ele conseguiu sua primeira fuga.

O delegado responsável, nervoso por ter uma agente em sua delegacia, segurava o copo do café em sua frente com firmeza, não conseguindo erguer a cabeça para encarar a figura que entrava.

A pasta foi batida na mesa e a cadeira puxada descuidadamente, o corpo da mulher se soltou e logo após se ajeitar começou.

— Não quero saber o que aconteceu para ele escapar, afinal já aconteceu mesmo — anunciou com voz séria —, quero saber o que está fazendo para o encontrar. Já que acabou de se tornar um dos homens mais procurados do FBI, acusado por homicídio qualificado premeditado.

O homem puxou o colarinho do terno — Só tem duas estradas principais na cidade, bloqueios foram implementados nas saídas, polícia está verificando os carros saindo da comunidade. Temos também patrulhas nas montanhas atrás deles, com cães e policiais.

Era um jogo de gato e rato, ele com todo seu egocentrismo gostava de brincar com a polícia. Os relatos nas celas era de que ele odiava ser tratado como mais um dos condenados, seus advogados não conseguiam falar sobre o caso já que ele tinha mais interesse em comentar sobre si.

— Quero todas as pessoas disponíveis procurando esse cara. — foi o que disse antes de se levantar, arrastar a pasta de arquivo detonada e sair da sala junto do agente que a acompanhava.

Já se passaram três dias dos desaparecimentos de 'Compress' e não podia deixar as coisas se acalmarem. Os dois saíram do prédio em direção aos carros e um vente gelado os atingiu transpassando suas roupas.

— Como está a previsão do tempo para os próximos dias? — perguntou a mulher olhando para o céu não tão brilhante.

— É esperado chuva e frio.

Para ela era claro que ele andava se esgueirando pelas florestas próximas à montanha, no alto onde era mais difícil de chegar, sem comida e apenas as vestes do corpo, se o tempo colaborasse talvez voltassem a o capturar.

[Nome] que fora uma das enviadas da agência especial para a captura dele, disponibilizou homens e também carros. Além de helicópteros e tecnologias, entretanto, não havia muito mais ao caso do que os locais já sabiam.

Os dias e as noites passaram, e depois de uma intensa chuva de granizo, logo na manhã seguinte a recepcionaram com a notícia que todos estavam esperando. Compress havia sido capturado novamente.

Ao menos foi o que a polícia divulgou, não que ele deliberadamente se entregou a polícia após ter a chance de fugir de carro.

No momento em que a mulher chegou a delegacia, ele já estava preso numa das salas de interrogação, descalço com pelo menos dez quilos a menos do que no dia de sua fuga e com uma barba rala aparente devido os dias descuidados. Pelo espelho ele parecia encarar diretamente para ela, causando uma sensação de desconforto, havia um sorriso puxado nos cantos dos seus lábios que transbordava deboche.

E mesmo que tivesse arrepios subindo sua coluna e uma sensação estranha, [Nome] entrou na sala para obter um relatório e conseguir tirar do homem mais informações.

Seu rosto virou lentamente para a porta por onde passou e com uma confiança desmedida ele a cumprimentou solenemente — Olá, [Nome].

Foi nesse momento que soube que o homem esteve acompanhando as notícias que saíam a seu respeito. Ela não havia sido sequer mencionada antes da fuga, apenas quando assumiu junto da polícia local que teve o nome divulgado pelos veículos.

— Parece bem informado Sr. Atsuhiro — ela optou por usar seu nome verdadeiro —, foi assim que se manteve escondido nas matas por sete dias?

Ele a observou com olhos atentos, até que puxasse a cadeira e se sentasse em sua frente, se ajeitando no próprio assento apenas depois que a mulher havia se ajeitado. O barulho das algemas e correntes que o prendiam a mesa ecoou pelas paredes cor de verde musgo, sendo o único som além de suas respirações.

— Sabe eu estava prestes a sair da cidade quando decidi fazer um retorno — comentou ignorando sua pergunta inicial —, eu encontrei uma cabana onde pude dormir e comer. E a sorte me presenteou com um carro no dia seguinte, mas por algum motivo resolvi voltar e ver o que iria acontecer.

Ele não a enganava, ele é narcisista, além de psicopata.

— Ou seria pior para seu incrível personagem ser capturado, estragaria a magia não é? Existem dois bloqueios separados por menos de dois quilômetros, você não iria conseguir fugir da cidade com carro. — rebateu não desviando o olhar dele —, então melhor se entregar e ficar com a sensação dê "a polícia não é tão boa assim", não é mesmo?

— Você que está falando isso, agente não sou eu, seu chefe está ouvindo sabia bem atrás daquele espelho falso — o homem deu risada como se não fosse ele a estar sendo acusado de homicídio —, vocês ouviram isso certo?

— Atsuhiro Sako, você está sendo acusado de sequestro, estupro e assassinato de pelo menos quinze jovens — [Nome] anunciou não se deixando levar por seus joguinhos mentais —, ossos quebrados, partes dos corpos mutilados, não são acusações levianas. Não considerando uma testemunha ocular.

— Veja bem, pode condenar um homem por querer um pouco de liberdade, passei dias presos andando apenas 45 metros até a biblioteca e era tudo que eu tinha de sol e ar por dia. — suas mãos se mexiam enquanto falava, e a feição galante também nunca deixava seu rosto — Estou com calos nos pés de andar nas montanhas arranhões, mas foi uma experiência incrível.

— Tive inúmeras oportunidades de apenas sair andando.

— E de todas elas escolheu pular de uma janela — ela não recuava —, um aventureiro então, certo? Tão desesperado por liberdade que ocasionalmente resolveu agarrar a chance bem no dia de seu julgamento. Bem conveniente para você.

O homem era alguém que gostava de manter o controle, atraia as garotas até seu carro pedindo por ajuda. Até então o cara garboso de boa aparência era o que deixava as vítimas de baixa guarda, até o momento em que as levava para uma área remota seria lá que ele profanaria seus corpos e as deixariam para apodrecer.

— Se seu objetivo era fugir do julgamento, não deu certo — a mulher se levantou — uma nova acusação será inclusa no seu processo, o de fuga. O julgamento será no próximo mês.

— Espero ter sua vigilância constante nesse tempo — disse por fim antes dela sair — é bom ver um rosto bonito no meio de tantos homens.

— Os homens barbudos será tudo que vai ver — a porta se abriu —, não tenho tempo para perder com você.

O clique soou logo atrás de si e diversas ordens foram dadas em relação à segurança do recuperado prisioneiro. Eles não tinham tempo para servir de babás de policiais, eles precisavam se colocar no lugar certo e manter a cabeça no lugar enquanto lidavam com o homem.

Ele era um sociopata com um grande desprezo pelas regras da sociedade e pessoas em geral, arrogante, sentiu a aura de superioridade que ele emanava nos poucos momentos que ficou com ele na sala. [Nome] não estava a tanto tempo na agência de segurança, aquele era seu primeiro caso grande, mas se havia algo que poderia dizer com todas as palavras era a sensação inquieta que o homem a causava.

— Ei está a fim de comer alguma coisa? — o agente que estava a acompanhando no caso perguntou.

— Não, mas aceito tomar uma xícara de café enquanto você come — respondeu respirando fundo.

— Fechado, esse fica por minha conta — ele sorriu e abriu a porta para que passasse.

John era a clássica imagem de um jovem detetive, os cabelos curtos numa cor de castanho claro sempre com um topete organizado. Olhos verdes e ombros largos e atléticos que ficavam escondidos embaixo do paletó do terno, no geral era uma boa companhia, mas tinha uma certa tendência a falar demais quando não devia.

Ainda com a pasta de arquivo na mão, [Nome] se sentou na cadeira do café local e sorriu para a atendente enquanto pedia um copo grande repleto de cafeína, o suficiente para a manter desperta pelas próximas horas. Não teve muito tempo de sono na noite passada e nem nas anteriores, a preocupação em se deparar com uma nova vítima enquanto Compress estava solto era maior.

— Pode relaxar agora, o cara está preso de novo.

— Fale por você John, apenas vou me contentar quando o ver permanentemente atrás da cela e uma com várias trancas e de preferência sem janelas.

— Fala sério, você acha que ele pode escapar de novo?

— Honestamente, se os locais continuarem tratando ele como um cara normal. Sim. — a mulher bateu o indicador na mesa — Não consigo dizer se foi um acidente ou se a negligência foi programada.

— Pensa que ele pode ter subornado o guarda? — disse numa voz mais baixa se inclinando para frente.

— Talvez, não faz sentido ele estar naquela sala sozinho. Nem digo com todas as letras suborno, envolvendo dinheiro, só que a persuasão também parece ser uma das suas armas favoritas. Uma conversa aqui ou ali, uma meia verdade e ele pode ter conseguido dobrar o guarda e conseguir tempo para a fuga.

Um longo gole no café puro e quente, sentiu queimar de leve sua língua, mas não ligou, preferia assim — Ninguém tem garantia que não vai acontecer de novo. Não houve vítimas dessa vez, e algo me diz que foi sorte.

— Sabe enquanto você estava com ele na sala prestei atenção, seus olhos era pura crueldade, pude ver isso — John levantou o garfo até a boca — faz bem em o evitar.

— Está falando que eu não sei em cuidar?

— Não, sei melhor que qualquer um o quanto seu soco é bom e certeiro, só que mesmo assim existem situações em que se não pode fazer nada. É minha amiga, me preocupo com você.

Ela agradeceu mentalmente, naquela vida amarga que vivia talvez ele fosse o único que se preocupasse. A mãe a abandonara quando escolheu sua carreira e o pai ela nunca havia conhecido, sequer sabia seu nome, o mesmo desapareceu quando soube da gravidez.

Sua vida fora simples, começou a trabalhar cedo, era uma aprendiza de bibliotecária. Vivia aventuras pelos livros, mas desejava no fundo, ser aquela inspirando os grandes casos policiais. Era impossível não se encantar com os métodos de dedução e os contos fantásticos que levavam o nome de Sherlock Holmes dentre suas linhas, as investigações contadas pelo ponto de vista do fiel companheiro John Watson eram suas favoritas.

Coincidência ou apenas um mimo do destino, tinha seu próprio John para a acompanhar nos contos da realidade.

— Obrigada, mas por hora se preocupe em não sujar a camisa. Já não somos bem quistos pelos policiais, não daremos motivos para falarem mal a nosso respeito.

— Tem razão, mas não é como se tivéssemos muito o que fazer. Ninguém sabia nada, chegamos aqui apenas para limpar a sujeira deles.

De leve o chutou por debaixo da mesa — Feche sua boca grande.

Ela olhou em volta para se verificar se não havia ninguém conhecido, não viu ninguém, só que numa cidadela pequena como aquela era estranho não ter as pessoas se conhecendo. Fofocas iriam surgir e naturalmente os oficiais da região ficariam sabendo.

— Você vai ficar na cidade?Já que o cara foi capturado, não temos mais o que fazer — John disse.

— Provavelmente não, mas vou me manter por perto mais um tempo — ela respondeu terminando em fim de beber o conteúdo da xícara —, garantir que nada mais escape de onde não deveria.

— Boa corte continuando naquele quarto de hotel decrépito — John respondeu se servindo da comida.

[Nome] olhou as folhas soltas na pasta, era os registros dos corpos das vítimas, as fotos eram brutais do começo ao fim. Ela mesmo não conseguia imaginar pelo que as garotas haviam passado, desde a pancada na cabeça até o estupro. Algumas delas até mesmo foram presas com algemas dentro do carro do acusado.

Contudo, o que chamava a sua atenção e não de uma maneira boa eram as marcas de mordidas deixadas em todas elas. Duas delas, fortes e bem marcadas no corpo, como uma assinatura.

Um toque soou e junto com ele a vibração, a mulher alcançou o aparelho na parte de dentro do paletó e ignorou deliberadamente a ligação o jogando sobre a mesa logo em seguida.

— Vovê non gai adender? — mesmo com a boca cheia ele a questionou.

— Sou difícil, e não gosto de ligações. Então, não.

John a olhou com curiosidade e virou o rosto para o aparelho vendo um nome na tela, surgindo depois algumas mensagens. O ex-namorado que também era uma agente, e talvez um peixe mais que os dois sentados ali na mesa, eles não haviam se separado há muito tempo. Se se lembrava bem o agente Morgan queria que ela ficasse no escritório ao invés de sair no campo para investigações.

Não era inteligente tentar prender alguém como a amiga de suas vontades, afinal ela já passara muito tempo da vida presa.

Ele a conhecia a pouco mais de um ano, quando chegou de outro país para estudar na academia ela foi a primeira pessoa que encontrou chegaram a dividir um apartamento por um tempo, e era até que agradável. [Nome] era uma pessoa bonita, mas peculiar demais para seus gostos. Se contentava em ser seu colega de quarto e de estudo, isto é, até que Morgan a convencesse a mudar de apartamento.

— Sabe — começou —, onde você está morando? Depois que tudo aconteceu?

— Hotéis, na maioria. Serviço de quarto, refeições inclusas, um pouco mais do que eu gostaria de usar do meu pagamento, porém muito conveniente.

— Seu quarto ainda está vago sabe, pode voltar pro apartamento se quiser. Não posso garantir a comida, mas o valor ainda é o mesmo.

A mulher me sua frente riu, um dos raros que apenas apareciam algumas vezes.

— Parece uma boa ideia, espero que Gladstone esteja bem.

— Meu cachorro está muito bem, obrigado — respondeu —, ainda não acredito que me convenceu a dar esse nome para ele. Você é sua obsessão.

— Admiração, é diferente.

Novamente o telefone começou a tocar, a mesma pessoa, tão insistentemente tentando entrar em contato. Com um rosto de desprezo, ela pegou o aparelho e sem sequer o cumprimentar pela chamada.

— Estou trabalhando, o que você quer?

Obviamente John não conseguia ouvir o que estava sendo falado do outro lado da linha, mas viu a expressão se mudar para uma de choque. Seus olhos passaram rapidamente de um lado para o outro a pasta de arquivos amassados, espalhando as folhas sobre a mesa.

— As mordidas, procure por mordidas. Vou pedir para te mandarem as fotos, encaminhe os seus arquivos para mim agora. — ela olhou para o amigo — Se apresse precisamos ir.

John enfiou o resto da comida se seu prato na boca de uma única vez, enchendo as bochechas até que quase explodisse. Parecia um esquilo se preparando para o inverno, rapidamente alcançou algumas notas na carteira e deixou na mesa a seguindo para fora mastigando.

Apenas quando eles entraram no carro foi que o homem conseguiu perguntar sobre o que era tudo aquilo.

— Morgan acha que pode ter mais vítimas de Compress no caso que ele está trabalhando. Vítimas antigas que não se encaixam nos assassinatos do assassino deles, mas foram encontradas na mesma época. — as chaves ligaram o carro enquanto ela continuava — Colegiais, estranguladas, vistas pela uma última vez entrando num carro e depois nunca mais vistas. Não até que os corpos fossem encontrados.

— Céus, e quantas são.

— Cinco.

Rapidamente eles voltaram para a delegacia, correndo pelos corredores até a sala onde montaram sua base de operações. Como esperado, o agente perfeito já havia mandado para eles os arquivos. As impressoras foram tomadas pelos arquivos e as fotos expostas nas mesas, assim como ela havia pedido, as mordidas estavam lá. Presentes nas cinco novas vítimas.

— Aquele filho da puta está brincando com a gente, falando e falando e nunca dizendo nada. Mas isso aqui, a arcada dentária, pode ser o ponto final de tudo isso.

— Mas é preciso um mandato, pode demorar um tempo para conseguir. — John observou — não é tão importante quanto buscar uma casa, por exemplo. As investigações também já foram concluídas.

— Certo, você pode ter razão, mas deve ter algo a mais que podemos fazer antes da maldita autorização chegar — ela disse batendo as mãos na mesa —, algo que faça a condenação ser certeira.

— E o que seria?

— Frutas.

Os dias seguintes foram... Intensos, por assim dizer, John não voltou para cede, mas sim ficou para ajudar [Nome]. O que foi bom, pois os problemas começaram logo em seguida, o cartório responsável por expedir o mandato não parecia querer cooperar — uma vez que a mulher estava na cafeteria quando John falou demais —, estavam andando em trilhas de ovos sem ter realmente muito o que fazer.

A ideia das frutas caiu por terra, originalmente eram para conseguir uma impressão de sua arcada por uma mordida. Só que após ter os outros prisioneiros questionando o que estava acontecendo, e por que eles não tinham frutas, Compress parou de as aceitar.

Já faziam vinte dias que estavam nesse vai e vem de informações, secando gelo aguardando a não boa vontade da expedição. O delegado também não estava ajudando muito, frustração açoitava [Nome] de todos os lados, era seu primeiro, se não pudesse resolver isso Morgan teria um bom motivo para a jogar num escritório para o resto da vida, e não era isso que queria.

Por esse motivo o copo de uísque era sua companhia fiel naquela noite, já tinha contado quantos buracos tinha no quarto e até que tinha se acostumado. Passava horas e mais horas vendo as linhas vermelhas que ligavam todos os casos a um único homem.

Ela não havia pendurado uma foto dele no centro do quadro de investigação, não queria dar a ele o luxo de ficar a observando, nem mesmo por foto.

Metade do líquido cor de âmbar da garrafa já havia desaparecido, absorvido pelo seu sistema, esperava apagar e apenas se levantar no dia seguinte.



Haviam paredes de vidro a cercando, do lado de fora cadeiras com pessoas conhecidas, sua mãe, Morgan, John, os policiais que trabalharam no caso. Todos eles sentados esperando para que algo acontecesse, a observando dentro de um aquário com não mais de um metro cúbico de espaço disponível. Se levantasse os pés e esticasse os braços conseguiria tocar o teto.

Olhares de todas as formas ultrapassavam as paredes transparentes, inveja, desgosto, pena, se mantiveram fixos e intensos na sua figura. A despiam com os olhos, a feriam como lâminas. Sempre tantas promessas feitas, sempre tantas expectativas, mas quando verdadeiramente a pronto de se provar apenas uma falha.

A observavam, apenas para apontar seus erros e dizer que sonhos não se concretizam. Não aqueles fantasiosos que mantinha no fundo de sua mente, apenas aqueles que são normais, sonhar mais um sonho impossível era o que diziam.

As mãos suavam quando espalmadas na transparência, sua respiração já começava a deixar o cubículo embaçado, foi então que do chão começou a subir a água acariciando suas pernas, gelada, molhando suas vestes acariciando sua pele com moléstia e trazendo para o peito o pânico de um final eminente.

Sabia estar gritando, sua garganta ardia, o ar que tinha reservado se esvaia rapidamente. Hora, consumido por sua tentativa falha de sair ou tomado pela água que nesse ponto já estava na altura de sua cintura, punhos ensanguentados por bater naquele grande aquário na tentativa de se livrar. Sei peito pensado como se alguém estivesse o pressionando, os pés levantados tentando ganhar espaço enquanto a água subia, perdendo o apoio do corpo para conseguir galgar força e o teto cada vez mais próximo.

Por que ninguém a ajudava? Por que todos eles só estavam parados a vendo sufocar? Valia tão pouco para eles que não merecia ser salva?

Provavelmente não, a mãe a amaldiçoava desde sempre, Morgan a via como um troféu, aquela que era intocável, mas que esteve depois em sua cama. Os policiais a odiavam, governo não os julgavam inteligentes o suficiente para lidar com o caso, e John...

Bem, John tinha pânico em seus olhos e algemas o mantendo no assento, correntes que o prendiam no lugar.

Boiando se segurando nas juntas do aquário, aproveitou os últimos cinco centímetros de ar e se deixou afundar. Não havia mais nada que pudesse fazer, além de observar, de sentir o desespero, o sufocamento. O ar que faltava, a vida que se esvaia e a queimação em sua garganta. O soluço buscando por ar que estava preso e as lágrimas que deixavam seus olhos e se misturavam com sua assassina.




Seus olhos estavam semicerrados, e a primeira coisa que percebeu foi o vulto sentado em sua cintura.

— Oh, elas geralmente não acordam.

[Nome] tentou se virar empurrando o rosto do homem para o lado e ganhando alguns segundos de ar, sua cabeça rodava e a visão estava levemente embaçada. Muitos dizem que sonhos podem refletir pequenas realidades, conversas e sons que se propagam durante os momentos de descanso.

— Eu te disse ter um rosto bonito, não me faça destruir ele antes de acabar meu assunto com você agente [Nome] — um grunhido, como um animal, deixou sua boca. Nem um único resquício do homem educado e egocêntrico que conversou semanas atrás.

— Disse que poderia sair quando quisesse, e olha só estou aqui. Como sonhei com esse momento, foi um pouco cruel o que me disse na sala de interrogação sabia? Mas gostei, a muito que não tinha um desafio, sabe aproveitar quando elas estão desacordadas é mais a minha praia, mas posso abrir uma exceção para você.

A mão alcançou a garrafa na cabeceira da cama e um sorriso vil foi lançado em sua direção — Apenas um momento, sim?

Não foi uma batida forte o suficiente para a apagar, mas a atordoou, o cinto que prendia a calça em sua cintura já iria ser retirado de qualquer jeito que pusesse algum uso para ele. Valera a pena passar fome e perder os quilos extras, foi quase fácil passar pelo buraco da iluminação em sua cela. As vestes de um zelador roubadas o deram direito de sair pela prisão pela porta da frente.

O que poderia fazer, sempre gostou de saídas dramáticas.

— Eu fiz sabia — disse para a mulher parcialmente desacordada — o que dizem.

Os botões da camisa foram desfeitas, os punhos presos a cabeceira da cama e ele se mantinha sentado em sua cintura. Da pancada na cabeça um pequeno filete de sangue manchava o travesseiro, era mais velha do que sua preferência, mas podeira imaginar como ela teria sido na faculdade.

Quando a desprezou imaginou como seria a sensação de lhe dar uma lição, quem achava que era para falar com ele daquela maneira? Não era qualquer um, nunca foi.

— Isso é sua punição, sabe, traga até você por suas próprias decisões. Não teria acontecido se tivesse escolhido ficar num escritório ou algo do tipo — a própria camisa que tirou serviu de mordaça —, seria horrível se alguém nos interrompesse, não é?

Era uma boa bebida que ela tinha ali, seria o suficiente para si. — Eu até a ofereceria, mas isso não será necessário, certo?

O restante das vestes foram arrancadas de seu corpo, as mãos imundas corriam sua pele de maneira doentia. Não havia nada em seus olhos, como alguém de morais distorcidas se forçar sobre ela e fazer um carinho na cabeça de um filhote de gato não fazia diferença.

Impiedosamente, causando dor, vendo as lágrimas que caiam de seus olhos e marcando na pele seus dedos. Ela era quente, seu centro apertado, ela era boa talvez uma das melhores e isso o excitava, fazia a violência aumentar. Compress se abaixou, arranhou com força o interior das coxas lisas, mordendo com força a pele que ali ficava. Manchas de vermelho estavam nos lençóis, não fazia diferença de onde vieram.

O abajur próximo à cama tombou tamanha força e brutalidade causada por seus movimentos, com dificuldade o alcançou ainda estocando fundo no corpo embaixo de si.

Pessoas iriam falar sobre ele por muitos anos, fariam filmes, teriam livros, viveria eternamente. Sabia que seria preso de qualquer jeito e também conhecia o homem atrás de suas pálpebras, suas palavras serviam para os outros não para ele.

Sua palma apertou o objeto antes de o levantar no alto, seria seu último ato, o 'grand finale'.

— Tenha bons sonhos.





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