Herança Carmesim - Gêmeos Miya & Suna

Este conto é voltado para o público adulto conforme orientação etária estipulada na sinopse, este perfil repudia qualquer tipo de ato com cunho abusivo, manipulador ou que corrobore um ato criminoso. É uma obra ficcional inserida num contexto de situações extremas, alguns temas tratados podem ser de natureza sensível.

Alertas: Sangue, bloodplay, palavras de baixo calão, reencarnação, Gangbang

Par: Gêmeos Miya & Suna x Leitora



"O primeiro dos registros data de 1820 na República da Moldova, um país sem costa marítima na Europa oriental e que faz fronteira com a Ucrânia e Roménia. Este último sendo o lar mais famoso entre os contos de vampiros, afinal, quem não conhece o famoso Conde Drácula?

Mas hoje nossa história não é sobre ele, é sobre uma mulher, uma rainha. Lady Marian Voronin Mellendorf, retentora de uma beleza extraordinária e um intelecto ainda mais rico. Depois da morte repentina do pai e sem a intenção de se casar, mudou-se para esta terra com todos seus criados e riquezas.

Queria liberdade, viver pelas próprias escolhas.

Estabeleceu plantações que perduram até hoje, tornando a cidade uma lenda viva mesmo naquela época. Claro que não passou a desapercebido, dizem as lendas que o próprio Conde Drácula vinha para a cidade de tempos em tempos, registros de terra sob o nome "Conde De Ville" – o mesmo codinome usado para a compra de propriedades em Londres - foram encontradas na prefeitura o documento atribui ao vampiro mais famoso de todos os séculos o castelo de pedra no topo da montanha.

Lady Marian teve uma juventude ativa, teve três amantes antes de casar com Ian Alexander Graham, um jovem bem visto com muita riqueza com o qual a Condessa de Mellendorf teve quatro filhos.

Claro que não são apenas as lendas que sustentam a exótica cidade de Von Dorff, as plantações centenárias são um marco e o Festival da Colheita que só acontece de 50 em 50 anos é quase um tesouro nacional. A comida, as danças típicas, a cultura que atravessou séculos e se manteve intacta chama a atenção de turistas do mundo inteiro."


-Afinal é justamente por isso que estão aqui não é? – o grupo de visitantes riu com o meu comentário. – O museu está aberto e a disposição para sanar a curiosidade e apresentar de maneira interativa os costumes da época, espero que tenham uma boa visitação.

O grupo de quase 30 pessoas aplaudiu depois da apresentação, e se dispersou seguindo com outros monitores para a próxima área do museu de Von Dorff.

-Bom trabalho senhora curadora.

-Senhora, obrigada senhora – me curvei levemente para a figura puxando uma parte do vestido tradicional. – Nes, não é comum te ver por aqui, principalmente com todas as coisas acontecendo pela cidade.

-Eu sei, mas eu precisava de cinco minutos longe do senhor "super protetor" – a resposta veio acompanhada de um resmungo enquanto minha amiga se sentava num dos bancos no hall de entrada. A barriga de seis meses ficava saliente mesmo com a blusa de tecido solto.

-Ele só se preocupa com vocês – sentei-me ao lado dela tomando sua mão esquerda ajustando o anel de noivado junto com a aliança de casamento no dedo anelar – Não posso dizer que me agrada ver você andando pela cidade carregando meu afilhado.

-Pelos céus estou grávida não morta, e um fato curioso andar ajuda na hora do parto. Eu venho aqui porque é o único lugar que o meu marido não coloca os pés apenas para ter o mesmo discurso? Achei que me amava.

– Pare de ser tão dramática Nesrin. – Levantei e beijei o topo de sua cabeça - Tenho um novo grupo em trinta minutos, que tal se esconder na sala do café enquanto isso? Beatrice trouxe cookies esta manhã.

-Abençoada seja – a ajudei a levantar e tomei seu braço enquanto a acompanhava para a área de funcionários. Nes trabalhava na prefeitura, no setor de cultura e eventos para ser mais preciso, então ter o maior evento em cinquenta anos coincidindo com a sua gravidez deixou todos os amigos preocupados. Principalmente pela quantidade de problemas e estresse que seria submetida até que o festival terminasse.

E Kaius, o marido barulhento dela, quase em pânico. Quando ele não estava dando aula na escola, estava grudado em Nesrin observando cada passo que ela dava como uma mãe coruja – ou melhor pai coruja – o que rendeu algumas reclamações da morena nas últimas semanas.

Nes virou a cadeira na frente dela usando de apoio para as próprias pernas enquanto mantinha o pote de delícias ao seu lado esquerdo. – Sabe, acho que eu nunca perguntei, mas porque tem uma passagem que vai do museu direto pro hotel?

-Bem – comecei a falar depois de pegar uma xícara no armário e me servir de um pouco de café – O hotel costumava ser a residência principal da Lady Marian. Mas depois de alguns anos, quando os filhos começaram a crescer e viraram jovens ela mandou que construíssem um segundo castelo para que pudessem ter suas próprias famílias. Essa passagem tornava a ida e vinda mais fácil.

-Então sua tatatatatatatatatatara, muitos tata, avó mandou construir um castelo porque não quis que os filhos ficassem longes? Meu Deus, será que eu deveria me preocupar em comprar mais uma casa ou um apartamento?

Não pude deixar de gargalhar – Tenho certeza que não precisa se preocupar com isso agora.

-Mas é bom sonhar um pouco, mesmo que sejam bobagens. Kaius teve um problema em me fazer parar de chorar quando pensei no casamento do meu menino.

-Meu Deus, ele nem nasceu ainda, Nes pare de loucuras.

-Eu sei mas... Meu bebê de terno num altar que nem o pai dele – a voz dela se tornou embargada – Malditos hormônios de grávida.

Empurrei o pote mais para perto dela – Tome, pegue um biscoito. Não vou ter tempo pra te tirar de uma crise agora.

-Também te amo. - a mulher trocou a posição das pernas antes de continuar – Como estão as coisas por aqui e no hotel. Mal tive tempo de falar com vocês, já que o prefeito fica falando e falando e falando mais um pouco no meu ouvido.

-Estamos com todas as reservas esgotadas segundo Lori me disse. Não sei, não passei muito tempo no hotel nos últimos dias. Estou ocupada demais abrindo e fechando o museu.

-Mas o hotel é seu não é? Não da sua prima.

-No papel é meu, mas ela tem um pouco mais de paciência para manter as coisas lá em ordem. E prefiro ficar no museu, então as duas partes ganham.

-Sabe [Nome], às vezes eu acho que você devia encarnar um pouco mais da sua ancestral e viver mais por você. Saia dessa cidade um pouco, ninguém vai se importar se o museu ficar fechado por uns dois meses, arrume um sonho para você.

Nesrin fechou o pote de biscoitos e em seguida revirou os olhos apontando para o ponto no ouvido. Com certeza alguém da prefeitura estava falando bobagens.

-Sim senhor prefeito, o palco está montado desde ontem e os convidados devem chegar esta tarde sendo recepcionados pelo senhor secretário no Castelo Mellendorf.

Algumas caretas depois a mulher suspirou – De volta ao trabalho, pelo menos o meu próximo destino está bem perto.

-Vai lá – respondi indicando a passagem com a cabeça – Vou avisar Lori que você está indo.

-Isso sim vai me ajudar – ela pegou a prancheta – Mas retomando, não espere você começar a morrer para viver um pouco.

-Tchau Nesrin – cortei o assunto e virei o resto do líquido da caneca enquanto ela se afastava e tomava a passagem para o hotel. A mulher soltou os ombros e seguiu pelo corredor, coloquei a caneca na pia e girei o meu pescoço me mantendo apoiada na pedra por mais algum tempo.

Por mais que ela falasse aquilo não é como se fosse uma coisa possível, ainda precisavam de mim para acertar as coisas no hotel e no museu. E sobre os funcionários, ou minha irmã que mal consegue andar sem tropeçar nos próprios pés?

Falando na atrapalhada, Jules deveria estar no museu para ajudar a organizar as atividades. Isso a meia hora atrás.

A cozinha não era gigante, foi reformada a alguns anos, então já não tinha as características paredes de pedra como o restante do museu, mas era o suficiente. Nas tomadas estavam ligados alguns aparelhos como a cafeteira e um micro-ondas, para que pudéssemos nos saciar nos momentos de fome, acompanhado de cadeiras e poltronas que geralmente eram bem aproveitadas entre turnos.

Mas principalmente o local dava visão da passagem para o hotel e tinha os armários dos funcionários.

Coloquei a senha no cadeado que tinha meu nome e em seguida puxei o celular discando o número da minha irmã. Chamou algumas vezes antes de atender, apoiei a mão na minha testa.

-Hey [Nome] – a voz dela soou cansada, como se estivesse correndo – Eu sei que devia estar no museu, mas veja bem aconteceu essa coisa e tive que correr até a biblioteca da cidade. E você sabe como a bibliotecária é sozinha, ela precisava de alguém pra conversar.

-Jules – mantive a voz séria – Onde você está?

-Na rua principal, tentando subir pro museu.

Os barulhos no fundo suportavam a sua fala – Só venha o mais rápido que puder, sem cair no meio do caminho.

-Bem isso já não é possível... Estou chegando!

Ela desligou antes mesmo que eu pudesse continuar, Jules não tinha uma diferença tão grande de idade para mim mas mesmo assim continuava sendo a mais nova. E cumpria bem esse papel, sempre se metendo nos problemas mais inusitados possíveis.

Mas ainda a amava acima de tudo.

Vi uma sombra passar no meu canto de visão, como um vulto.

-Thomas? – perguntei imaginando que fosse um dos outros guias. Mas não recebi uma resposta, guardei o celular e segui para o corredor que dava acesso ao hotel. Aquela parte provavelmente ainda era uma das mais preservadas.

Na família era conhecida como a galeria das joias, não por ter pedras preciosas mas por ter pinturas.

Andei com passos vagarosos, não era do feitio dos funcionários andar por ali. E a essa hora não teria ninguém descendo do castelo.

Espiei pela borda apenas para reparar num rapaz parado à frente de uma das pinturas. Vestia roupas elegantes mas parecia ser como qualquer outro turista, contudo havia algo no rosto dele que eu não consegui identificar, uma expressão serena. Se fosse mais ousada diria que até se parecia com saudade.

-Você não pode entrar aqui. – disse na entrada da galeria chamando a atenção do rapaz. Imediatamente ele se virou para mim, os cabelos dele eram claros apesar da metade de baixo – num clássico undercurt - se manter num tom escuro. Os olhos eram de um castanho brilhante e uma linha de dentes brancos se apresentou quando os lábios dele se repuxaram num sorriso.

-Me desculpe, eu acabei me perdendo do grupo. – ele abaixou a cabeça um pouco colocando a mão no pescoço parecendo envergonhado – Parei para observar a pintura.

Olhei ele da cabeça aos pés, não deveria ser muito mais novo ou mais velho do que eu. E julgando que ele não me faria mal, pelo menos a princípio me aproximei, ele estava à frente de um dos retratos da Lady Marian.

-Lady Mellendorf era realmente bela – ele disse – O que sabe sobre ela?

Por algum motivo eu senti um tom de desafio na voz dele, e claramente não era uma coisa que eu iria ignorar.

-Supostamente foi o primeiro presente que Lady Marian recebeu como forma de cortejo, os registros indicam que o primeiro romance dela foi com um jovem tão apaixonado por ela e por sua beleza que a presenteava com as mais requintadas pinturas para que se lembrasse sempre desse fato.

-Acho que o primeiro amor é realmente difícil de esquecer – o homem disse – Devia ser alguém charmoso, digno.

-Pelas cartas que encontramos ele parecia um idiota obcecado. – respondi mantendo o olhar nas pedrarias que adornavam o pescoço da pintura – Lady Mellendorf tinha mais do que beleza, era inteligente tinha conhecimento sobre as artes, ciências, filosofia e o primeiro amante parecia ignorar tudo isso.

-Se eu tivesse que escolher um, diria que ela foi verdadeira apaixonada pelo terceiro amante. São cartas que retratam um amor ardente, verdadeiro, onde se aceitavam com suas falhas e valorizavam o que existia de melhor um no outro.

Voltei a olhar para o rapaz apenas para o ver fazendo uma careta, olhos mirando o chão tão intensamente que poderia fazer um furo nele. Ele não poderia estar tão chateado por conta de eu ter uma opinião contrária a dele, podia?

-E quem é você, jovem? Para saber tanto da história assim – se virou de repente com uma certa hostilidade que não estava presente antes.

Como se ele fosse muito mais velho, para me chamar de jovem.

-[Nome] Marian Stelle Mellendorf – ergui o queixo proferindo o meu quase título com orgulho – Sou a dona do castelo e do museu, e você até onde eu sei é alguém que está invadindo uma propriedade privada.

Ele se manteve em silêncio encarando meu rosto fixamente, vi os músculos da bochecha se contraindo e em seguida o homem deu um passo para trás levantando os braços.

-Tudo bem, você está certa. Me desculpe Srta. Mellendorf – ele fez uma reverência debochada e exagerada antes de fazer o caminho para fora da galeria. Não sabia quem ele era mas já o odiava por completo, que babaca.

Mas mesmo assim ele não sabia para onde era a saída, só iria se perder ainda mais. Andei na mesma direção que ele seguiu, foi apenas alguns segundos que o homem saiu do meu campo de visão mas mesmo assim foi o suficiente para que sumisse. Corri pelo caminho até a parte segura do museu e nada é como se ele tivesse desaparecido em pleno ar.

Não tive tempo para pensar naquilo pois um corpo se chocou contra o meu, uma cabeleira familiar se apresentando.

-Ai – Jules colocou a mão no rosto – Você tem um ombro duro [Nome].

-E você não olha para onde anda – esfreguei o local com qual ela deu de encontro – Thomas está te esperando nos fundos e vai te passar as tarefas.

-Está bem, está bem. Não se esqueça que temos jantar de família e amigos hoje no hotel.

-Você me lembrando de algo? Até parece – acenei com a mão antes de fazer meu caminho para guiar a próxima leva de turistas.

Ajeitei as vestes antes de continuar para fazer a minha introdução de sempre. Mas ali no meio dos visitantes um rosto me fez parar, era um homem igual ao que eu tinha visto na galeria. Mas com os cabelos diferentes e os olhos num tom levemente mais acinzentado.

Foi como se o ar tivesse fugido dos meus pulmões, todas as outras pessoas passaram a andar em câmera lenta e só existia nós no mundo. Ele sustentou o meu olhar, não como o outro, mas de uma maneira curiosa e o sorriso singelo de canto de boca foi mais do que charmoso.

Alguém pareceu o chamar, fazendo com que nossos olhares se desviassem. Olhei em volta tentando disfarçar o rubor que tomou minhas bochechas seguindo a minha apresentação como de costume.

Não me direcionei ao homem pois sabia que no momento que encarasse aqueles olhos novamente estaria perdida. Terminei de falar indicando para que seguissem a próxima ala, respirei aliviada quando reparei que era a última apresentação do meu turno. Uma das voluntárias da escola viria para fazer as introduções na parte da tarde.

-Com licença.

Pulei com a voz que me pegou de surpresa, todos os turistas tinham passado para a sala seguinte. Não deveria ter mais ninguém ali, e como o destino me odiava é claro que era aquele homem. Dessa vez acompanhado por um ligeiramente mais baixo com olhos afiados e de um tom de oliva intenso, tão belo quanto o outro, os cabelos escuros fazendo um contraste exotico com o rosto fino.

-Desculpe - respondi sorrindo nervosamente - Como posso ajudar?

-Gostaria de saber se as pinturas da Lady Marian estão na exposição. Os retratos são famosos.

-Sim claro, é a seção do meio logo depois da geografia de Von Dorff.

-Mas não são as originais, são? - o acompanhante comentou mantendo a voz num tom entediado.

Franzi o cenho, o que era isso uma quadrilha?

-Me permita, somos estudiosos. Sei que as perguntas podem parecer estranhas.

Cruzei os braços na frente do corpo - Isso e o outro homem que eu imagino ser algum parente seu invadindo a área reservada apenas para os funcionários. Espero que tenha uma boa explicação e motivo para eu não reportar os três à polícia.

-Ele é um idiota - o outro disse.

-Sobre isso você tem razão. Provavelmente quem você encontrou mais cedo foi meu irmão gêmeo, Atsumu. Me chamo Osamu - e continuou - Estamos estudando alguns aspectos da vida da Condessa de Mellendorf, as pinturas são uma parte importante já que foram os presentes enviados pelos três amantes dela.

O homem, ou melhor Osamu, estendeu a mão na minha direção oferecendo um cumprimento -Peço desculpas pelo comportamento inapropriado de meu irmão. Ele sempre foi... Impaciente.

-Pelo menos alguém da família tem educação. – tomei a mão estendida dele, um pouco mais fria do que eu esperava. Mas mesmo assim era suave. – E o amigo?

-Suna – foi o que ele disse, o mesmo toque de neve quando encostou a mão contra a minha. Nesse momento reparei no anel com uma joia ornamentada de ele levava na mão, uma aparência antiga demais para ser apenas um acessório.

Bati na lateral do vestido – Infelizmente eu não posso deixar vocês entrarem na galeria, é necessário a permissão do comitê do museu e do castelo. Talvez se vocês esperarem até o fim do festival eu possa-

-Receio que isso não será possível – a voz de Osamu se sobressaiu me interrompendo – Não vamos ficar mais do que alguns dias na cidade, teria alguma maneira de fazer isso possível até a noite da colheita?

-São apenas quatro dias – comentei, os festival tinha início amanhã e se pendurava até o próximo domingo. A noite da colheita era marcada para a quarta feira, quatro dias de preparação e três dias de trabalho é o que falavam antigamente.

-Será que você pode tentar? – Suna chamou a minha atenção, os olhos reluzentes dele mirando o fundo da minha alma. E mesmo sem perceber me vi concordando em tentar fazer algo para os ajudar.

-Ótimo – ele sorriu – Nos encontramos por aí [Nome].

Os dois saíram rapidamente deixando apenas uma mente enevoada. Eu tinha falado meu nome para eles? Não me recordava, pareciam cenas distorcidas de um sonho.

-[Nome] podemos trocar de turno – a voluntária me puxou dos pensamentos turvos colocando uma mão no meu braço em seguida – Está tudo bem?

-Sim, acho que foi o calor – disfarcei com um sorriso – Bom trabalho, qualquer coisa chame Thomas no rádio tem uns 20 minutos até a próxima turma.

A jovem assentiu e sai para os vestiários e em seguida a cozinha, já nas minhas vestes de dia a dia. Passei na direção apenas para ver Thomas e Jules trabalhando nos bastidores. Eram uma boa dupla apesar de tudo, ele sério demais e ela de menos, se compensavam de alguma maneira.

Não tinha planos para a parte da tarde, além de talvez ficar olhando para o teto do meu quarto, a maioria dos membros da família moravam num pequeno prédio de três andares e aparência colonial ao lado do castelo. Não tinham muitos de nós de qualquer maneira.

Lori e meus tios ficaram com o primeiro andar, minha mãe e Jules no segundo e eu tinha o terceiro só para mim. Isto é, quando os familiares estavam longe. Alguns primos e parentes que saíram de Von Dorff voltavam para reafirmar suas origens justamente nesse período do ano.

Poderia tomar o caminho da galeria, mas nunca fui muito fã de passar por ela, então sai para a rua. O sol a pino brilhando intensamente numa imensidão de azul sem nuvens, as ruas estreitas de pedra nasciam da montanha como raízes e tinham enfeites e bandeirolas enfeitando cada pedaço do centro da cidade.

O vale se abria abaixo de nós, deixando que o rio e o lago que se formava dele refletissem os raios solares enquanto cortava pelas vastas terras de plantações e fazendas. Além delas, o castelo de rubi – comumente conhecido como o castelo do conde – parecia vivo com suas pedras de tom avermelhado.

Era muito belo mas continuava perdendo para o Castelo Mellendorf em tamanho e em exuberância, a relíquia da família nascia da própria montanha atrás de nós. As centenas de quartos e corredores adentravam a montanha atravessando até que saísse do outro lado, uma arquitetura refinada e misteriosa que trouxe inúmeros engenheiros e estudiosos para analisar como foi possível tal feito mesmo sem nenhuma tecnologia.

Nem nós mesmos conseguimos explicar, mas as histórias passadas entre as gerações contam sobre magia, seres que protegem essa terra assim como as pessoas que nascem e escolhem morar nela.

No centro da cidade um enorme e charmoso palco foi montado para o discurso do prefeito e o caminho até ele estava recheado de barracas vendendo comidas, doces e salgados. Combinações exóticas, mudas de plantas, qualquer coisa que nasceu em Von Dorff a fim de que os turistas comprassem como souvenir. Guias com as mais variadas bandeiras também andavam com seus respectivos grupos apontando os pontos mais famosos.

Cinquenta anos de visitas acumulados numa única semana.

Me vi parada na frente de um dos restaurantes mais requisitados da cidade, famoso por suas iguarias servidas em pedra quente. Estava cheio como de costume, sempre tinham pessoas no famoso Trichelle.

-Achei que não vinha, atraso não está no seu vocabulário.

-Contratempos acontecem Beatrice.

-Por favor – a morena se debruçou sobre o balcão falando numa voz mais baixa – Nem minha mãe me chama disso, sua mesa está nos fundos.

- Obrigada Bea – disse recebendo um sorriso cativante em resposta – Vai me acompanhar?

-Em alguns minutos, estou morta de fome.

-Me conte uma novidade.

Se eu fosse menos perceptiva não teria reparado no gesto obsceno feito com o dedo do meio na minha direção. Era a última mesa do salão, a mais apertada e discreta, mas o que compensava era a visão da grande janela. A comida do hotel era boa, e sim eu poderia a ter de graça mas preciso movimentar a economia da minha cidade não?

E era bom poder ter como companhia uma das minhas melhores amigas, já que as outras pareciam estar ocupadas demais com seus próprios afazeres.

Um dos garçons me reconheceu e logo me trouxe uma bebida a deixando na mesa com uma piscadela, Rian era uma das pessoas que escolheu viver em Von Dorff adotou a cultura e o método de viver mesmo tendo uma beleza que denunciava que era um estrangeiro. Cabelos escuros como a noite, pele cor de bronze e olhos de tom azulado que quase brilhavam em ametista.

Passando por ele, Bea veio na direção da mesa com dois pratos e já livre do avental que usava para ajudar no restaurante.

-Então vai me contar o porquê dessa cara?

-É a minha cara, não posso fazer nada sobre isso.

Minha amiga cerrou os olhos e cruzou os braços antes de se recostar na cadeira – Mentirosa, quem é o cara?

-Porque toda vez que acontece alguma coisa é porque tem "um cara"? – bati a mão na mesa antes de pegar o copo e levar a minha boca. Quem sabe me livraria daquela garganta seca e pensaria numa resposta melhor para dobrar Beatrice e suas suposições corretas.

Mas nós duas sabíamos que isso não ia acontecer, suspirei pegando os talheres para começar a me servir – Não é bem, um cara... – coloquei um pedaço de carne na boca, suculenta como sempre, mas o assunto tinha que continuar – São três.

Ela abriu a boca deixando que o veneno escorresse em forma de palavra – Sempre soube que você era uma pervertida, mas não que era uma gulosa.

Essa segunda frase ela falou bem mais baixo, pegando uma batata enquanto ria do meu engasgo repentino.

-Não é desse jeito.

-Por favor me ilumine então.

Contei para ela enquanto almoçamos sobre o mal educado, o irmão gentil e o amigo misterioso. Era estranho que aquilo rendeu quase uma hora inteira de conversa sendo que eu os vi por apenas alguns minutos, alguma parte de mim achava que os conhecia por séculos.

-E o que vai fazer? Vai falar com seus parentes? – perguntou enquanto raspava a taça de sorvete até o fundo.

-Não sei – mordi o canto da minha unha – Deveria?

-É a sua família, não posso fazer isso pra você, mas... Se fosse eu, não teria nada demais. Só levar mais alguém junto pra ajudar a supervisionar vai que realmente é uma gangue ou algo do tipo.

Joguei a cabeça para trás, se fosse fazer isso era uma coisa boa que o jantar da família seria hoje. Tirei algumas notas da carteira e coloquei na mesa – Ainda tenho algum tempo para pensar, te vejo a noite certo?

-Pode apostar que sim.

Coloquei a bolsa no ombro e saí do restaurante, não sem deixar de pegar algumas balas de menta na saída. Não queria voltar para casa ou ir para o hotel, Jules comentou sobre a biblioteca... Seria um dos poucos lugares sem uma multidão de pessoas, um bom refúgio para uma mente momentaneamente conturbada.

Entretanto não queria ficar muito tempo falando com a bibliotecária, então acenei rapidamente dizendo algumas palavras e me meti tão fundo nos corredores que até a poeira ali parecia ter centenas de anos.

Corri as mãos pelas prateleiras cheias de pó, os livros eram todos de história, devia ser por isso que estavam esquecidos por aqui. Mas comicamente havia um distúrbio na camada branca, um livro havia sido retirado recentemente e recolocado, já que não parecia ter um lugar vazio.

Não tinha nenhuma escritura aparente na lateral, mas o couro já era antigo e estava desgastado. Tomada por curiosidade o puxei da prateleira o levando para uma das poltronas de leitura fora do alcance da visão da entidade do local.

As páginas amareladas eram exatamente o que eu esperava, mas o conteúdo parecia menos constante, era um livro epistolar. Não possuía autor mas todas as cartas pareciam estar direcionados a Mary, me ajeitei na cadeira e coloquei a ler a primeira página.


"12 de Julho – Nova Cidade – A viagem que se sucedeu depois da partida da capital foi estranha e variada. As pessoas que tomavam a atenção do cocheiro contratado para fazer minha viagem haviam de estar comentando sobre a minha pessoa, sem dúvida, pois me olhavam de soslaio.

Assim como todo o restante da cidade, conversas sempre da mesma maneira as mais recorrentes sendo, fugitiva, feiticeira, desonra. Já me era familiar os boatos pois me acompanhavam desde minha terra natal, não seriam os últimos e também não eram os primeiros a acreditar que eu tirei a vida de meu pai. Para tomar seus títulos e riquezas.

Quando na verdade quem o levou naquela noite turbulenta e raivosa foi a febre.

Não demorou para que a beleza da paisagem me fizesse esquecer aqueles olhares odiosos, embora que não por muito tempo. A diante estendiam-se montanhas de encostas verdejantes margeadas por colinas e rios de prata, a pequena estrada era íngreme e a carruagem seguia com um pouco de dificuldade. Mas sem parar.

Era aquela a terra que tomara para mim, meu novo lar sem títulos ou obrigações nada além de oportunidade, uma história em branco para ser escrita. Uma que poderia chamar de minha.

03 de Outubro – Nova Cidade – Os cães de caça latiam para a noite escura. O casebre iluminado por lamparinas estava claro, apesar da camada de breu que se assentava no restante da propriedade, os cavalos começaram a relinchar e se atormentaram. Meus criados de confiança tentaram me mandar para dentro da casa com medo de que fosse alguma fera sanguinária.

Os moradores originais da terra andaram enchendo as cabeças deles com lendas sobre um demônio que se alimentava de sangue, que possuía uma capa feita de noite e se movimentava como um relâmpago em noite de tempestade. Disse a eles que era tolice e que não existia tal coisa no mundo.

De repente, vi brilhar um reflexo esverdeado à esquerda. Os cachorros agora choramingando e de orelhas abaixadas para o que quer que estivesse na escuridão, e então tudo parou. As terras se pintaram de branco, uma cortesia da lua acima de nossas cabeças, e não havia nada se espreitando nas sombras."

Creio que adormeci logo após acalmar os outros residentes.

Comecei a sonhar com o incidente, pois se repetiu indefinidamente, agora de maneira horrível. Ao invés do breu se dissipar perante a luz da lua ele me contornava e levava ainda mais para o seu centro escuro tão fundo que mal podia separar o que tinha ao redor das sombras.

Quando pude distinguir as coisas novamente, havia três figuras na minha frente, cavalheiros de uma beleza tão extrema que não tinha uma palavra no vocabulário para atribuir a eles. Haviam me salvo daquele deus feito de escuridão? Por mais que a minha cabeça estivesse gritando em pensamentos meu corpo permanecia imobilizado, os lábios firmes um contra os outros e os braços soltos na lateral do meu corpo.

-Você tem uma escolha, pode fugir agora ou descobrir uma nova realidade que te espera. Só é preciso um pequeno sacrifício, e você terá terras.

-Mais riquezas

-Mais conhecimento

-Uma rainha de verdade.

Eram três vozes que se sobressaiam uma sobre a outra, tentei mexer minhas pernas mas não consegui.

-Seja honesta.

A fala foi dita como um carinho contra meus pensamentos, eu não queria voltar para a casa patética. Apenas para lidar com uma plantação falida e riquezas se esgotando com o tempo.

O silêncio foi mais do que a resposta positiva que esperavam, apenas observei os três se aproximarem e a tomar meus braços e pernas. Me despindo com olhares de moléstia, correndo dedos frios e maliciosos pela minha pele quente. Pensamentos se misturando e entrelaçando com desejos recém descobertos, um ardor acompanhado de arrepio que me fazia tremer a espinha.

Minha cabeça foi inclinada para trás enquanto a saia que me cobria as pernas era levantada até a cintura. Não tinha nada para eu ver além de um céu iluminado pelas estrelas e a lua, a jóia no centro da coroa noturna. Os toques se perpetuaram como a primeira brisa da manhã me arrancando suspiros e resmungos, não tinha nada a perder.

Naquela noite tomada pela escuridão e com a senhora do céu de testemunha, meu sangue pingou ao chão se enraizando com as promessas de grandeza e uma maldição pela eternidade.

Levantei-me num susto pelo livro que agora estava caído no chão, gotas de suor se agarravam ao meu pescoço. Uma sensação de latência me atingiu em alguns pontos específicos, senti meu rosto ficar quente, devia ter adormecido na poltrona depois de começar a ler o livro.

Peguei o objeto do chão, a última frase da página sendo "As terras se pintaram de prata, uma cortesia da lua acima de nossas cabeças, e não havia nada se espreitando nas sombras."


O que quer que tenha sido o que se formou na minha mente em forma de sonho foi um desejo sujo do meu subconsciente, atribuiria essa culpa a Bea que me manteve falando imoralidades durante nosso almoço.

Enfiei o livro na bolsa e me levantei, tinha ficado ali por tempo demais, quase a tarde inteira pela altura do sol. O que me levava direto para o fato de precisar estar presente no jantar de família, andei rapidamente para a saída sem me importar em me despedir da bibliotecária. Os passos foram tão apressados que só houve uma opção – talvez fosse mais parecida com a minha irmã do que gostaria de admitir – me vi caindo sobre os degraus de pedra e fechei os olhos para o impacto.

Que felizmente não veio.

-Cuidado.

Abri um olho para espiar o meu salvador, e com isso quase engasguei. Osamu, dessa vez sozinho.

-Você está me seguindo ou algo do tipo? – falei antes mesmo de conseguir filtrar o pensamento.

Uma gostosa gargalhada deixou a boca dele antes de me ajudar a ficar de pé novamente – Não – explicou e continuou – Disse que era um estudioso e bem, a biblioteca parece ser um dos locais ideais para fazer isso. Não posso deixar de comentar que parecia um tanto quanto confortável dormindo na poltrona, estava até corada. Teve bons sonhos?

-Bom isso não é realmente da sua conta é? – havia um tom de zombaria na voz dele e um brilho nos olhos acinzentados que fez com que meu coração batesse mais rápido. – E pensar que eu estava considerando em te ajudar.

Tentei andar na direção do hotel mas fui impedida por uma mão leve que escorregou pelo meu braço segurando meu pulso – Por favor não me leve a mal, me deixe te acompanhar até seu destino e talvez possa repensar sobre o meu pedido.

-O que tem de tão importante nas pinturas de qualquer jeito? – indiquei o caminho com a cabeça para que ele me seguisse.

Osamu pareceu ponderar se me contava ou não, resolvendo no final que compartilharia os pensamentos.

-Estamos interessados nas pinturas enviadas pelos amantes, nossas pesquisas dizem que existe um tipo de tesouro escondido atrás das telas. Realmente só viemos estudar.

-Um tesouro de que tipo? – perguntei – Eu já vi esses quadros milhares de vezes e não tem nada além da pintura.

- Bem, algumas coisas são valiosas apenas pela beleza que têm e pelas lembranças que guardam.

Não tive uma resposta afiada para dar, tinha alguma coisa na presença dele que me trazia pequenos lapsos de lembrança do sonho. Um par de olhos acinzentados que me erguia as saias e corria as pontas dos dedos pelas coxas.

Chega, balancei a cabeça barrando os pensamentos de continuar.

-Vou ficar no castelo então você pode seguir o seu caminho.

-Sou um hóspede.

Ótimo.

-Nesse caso é aqui que nos separamos – de repente tudo que eu senti foi raiva, de como ele era incrivelmente gostoso, tinha um sorriso de tirar o fôlego e uma voz que poderia até encantar os deuses. Porque o destino coloca pessoas como ele na minha frente?

Entrei na casa quase batendo os pés, seguindo direto para o terceiro andar me jogando na cama fofa antes de encarar o teto. Tudo estava bem até aquele loiro idiota aparecer na galeria, sabia que não era uma boa coisa.

Garotos bonitos só trazem problemas.

A única coisa agradável é que poderia esquecer tudo aquilo enquanto estufava a cara com comidas durante o jantar de família. A minha casa mesmo se tornou movimentada nas horas seguintes, parentes indo e vindo dos quartos se arrumando. O hotel separava uma ala inteira apenas para essa reunião.

Lori devia ter trocado com o segundo gerente e soube pela minha mãe que Jules tinha chego acompanhada de um Thomas de riso solto.

Fiz o caminho familiar para a parte dos fundos do castelo. Uma mesa gigante já estava posta com algumas távolas circulares ao redor dela. Cumprimentei alguns dos parentes sendo parada pela minha tia avó.

A mãe da minha mãe faleceu no mesmo festival da colheita a cinquenta anos atrás, então Agnes era a figura mais próxima que tive nesse sentido.

-Se meus olhos não me traem parece que a própria Lady Marian Mellendorf está na minha frente.

-Não deixa de ser – a abracei respondendo seu entusiasmo – Porque não ficou em casa?

-E perder todos os mimos do hotel? Já estou velha querida, estou na idade de apenas aproveitar as regalias.

A mais velha deu dois tapas na minha mão e segurou meu braço me levando em seguida para o parapeito emoldurava a visão para o lado de dentro da montanha - Não importa quantos anos tenham se passado, eu nunca me esqueço dessa imagem. Nossa família vem fazendo sacrifícios desde o começo para manter as pessoas dessa cidade e nosso próprio sangue a salvo, e principalmente bem.

-Sei disso, e se depender de mim vamos continuar cuidando de todos.

-Você é gentil [Nome]. Assim como a minha irmã também era, eu vejo muito dela em você, mas com uma força diferente. Deixar todos a salvo e bem não quer dizer viver para os outros.

Aquela conversa novamente suspirei – Nesrin falou com você não falou?

-Falou com o tio dela, que comentou com seu tio avô, que falou comigo. Ela se preocupa com você.

Às vezes me esquecia que quando puxamos as árvores de família todos na cidade não passavam de parentes distantes – Nesrin achou o que queria, tem um marido uma vida estável, mas o que ela projetou pra vida dela não é o que eu quero. Ou o que Jules ou Lori sonham.

-E o que você quer então?

Me apoiei no balaústre de pedra – Honestamente, não sei.

-Então deixe que o destino traga até você.

A mulher colocou a mão no meu ombro antes de seguir para perto da entrada onde Nesrin e Kaius passavam. Claro que o mais novo integrante da família - que nem havia nascido - era quem recebia a maior atenção, o que não significava que a mãe dele gostasse. Sentei numa das mesas que estava por perto apenas para me ver acompanhada por Nes e Kaius logo em seguida.

O homem me deu um beijo no rosto de cumprimento antes de puxar a cadeira para a própria esposa se sentar se mantendo ao lado dela em seguida. Lori e o noivo dela Akhiel apareceram em seguida junto de Jules e Beatrice.

A sensação era de que faziam anos que não nos encontrávamos desse jeito – Se recuperou do susto? – Nesrin perguntou a Lori que se sentou na frente dela.

-Muito engraçada – minha prima respondeu.

-O que aconteceu? – Jules perguntou tomando a cadeira ao lado da minha.

Nes começou a contar sobre como ela usou a galeria para chegar ao hotel mais rápido, tendo uma Lori desatenta no lobby resultou na gerente do hotel jogando uma caixa de grampos para cima.

-Não foi nada disso não, conta direito – Lori interrompeu – Eu estava arrumando o balcão. Sabe, às vezes as coisas ficam intensas e acaba ficando uma bagunça, eu estou lá arrumando os grampos calmamente na caixa e essa coisa fica parada atrás de mim igual uma assombração.

Não pude deixar de gargalhar.

-Desse tamanho todo, de preto e parada atrás de mim só podia ser a morte que veio para me buscar.

-Em minha defesa [Nome] disse que ia te avisar.

Minha prima me lançou um olhar de questionamento – Por qual motivo você não me avisou?

-Tinha um turista na galeria – respondi, não era mentir.

-Fale a verdade, você esqueceu – Bea entrou na conversa apenas para me atacar.

-Esqueci, porque tinha um turista na galeria e ele me tirou do sério. Não deixa de ser verdade.

-[Nome] Marian Stelle Mellendorf, sempre com uma resposta na ponta da língua. – Nesrin levantou uma taça com água como um brinde.

-Aposto que ela queria outra coisa na ponta da língua.

-Beatrice! – bati a mão na mesa sentindo meu rosto esquentar – Você não era assim falando todas essas safadezas.

-É tempo demais com você.

-Pelos céus vocês tiraram a noite para pegar no meu pé?

Os participantes da mesa ergueram suas taças num tipo estranho de acordo, bando de traidorezinhos dissimulados. O jantar seguiu como de costume, cheios de piadas, risadas e comida boa e talvez um pouco mais de vinho do que necessário... O que me levou a esquecer da coisa importante que deveria falar com a família.

A permissão dos estudiosos.

Era uma coisa tão simples, mas mesmo assim o álcool e os bons momentos me tinham entorpecido os pensamentos a ponto de simplesmente apagar o pedido da minha mente. Mas de alguma forma não queria desapontar o garoto de olhos acinzentados.

Então com um pouco de drama e explicar a situação para Lori, consegui o número do quarto dele. Agora era ter coragem para bater, levantei a mão mas antes que eu pudesse de fato fazer algo a porta se abriu.

Osamu estava com uma toalha enrolada na cintura, e só uma toalha, os cabelos pareciam molhados e corpo esculpido pelo melhor dos artistas.

-Imagino que tenha algo melhor para fazer além de ficar me olhando do corredor

O homem devia ter um estranho fetiche em segurar os outros pelo pulso, pois mais uma vez me puxou para dentro do quarto fechando a porta atrás de nós em seguida.

-Se você não me deixar sair eu vou gritar.

-Não estou te segurando – cada mão estava apoiada de um lado da minha cabeça. – O que veio fazer aqui [Nome]?

-Sua permissão, amanhã durante a abertura do festival – meus olhos não deixaram seus lábios um minuto sequer.

Osamu abaixou a cabeça, a boca roçando de leve contra a minha, meu corpo ficou rígido com o movimento ousado. Esperava algo assim do irmão dele então mal percebi quando as mãos desceram para pressionar a minha cintura contra a porta, me sentia intoxicada pela beleza monumental do homem que estava a minha frente e o fato dele estar seminu não ajudava em nada.

Qualquer coisa culparia o vinho.

Esperei que ele aprofundasse o beijo, a leve mordida no meu lábio foi um pedido, ele parecia quente contra a minha língua enquanto explorava a minha boca avidamente. Minhas mãos encontraram seu caminho passeando por seu tórax e ombros. Com um puxão Osamu colocou algum espaço entre nós se pressionando contra a minha coxa os dedos dele passaram por debaixo da minha blusa alcançando meus seios e-

-Toc, toc, toc.

Pisquei os olhos algumas vezes, ao meu lado Suna estava apoiado na parede do corredor. E eu mesma estava de pé com Osamu parado do mesmo jeito de antes. Ainda com a mão na porta e a toalha amarrada na cintura.

-Tem alguma coisa acontecendo aqui? – perguntou.

-[Nome] provavelmente tem algo para falar mas não teve tempo já que você se aproximou.

Um calor me tomou a coluna – E-eu – balancei a cabeça – Amanhã durante a abertura, é o único momento que eu posso ajudar vocês. Me encontrem no jardim interno do hotel.

Tentei passar por Suna mas ele segurou o meu braço em seguida erguendo a mão para a minha bochecha a qual ele puxou na direção do próprio rosto dando um beijo doce quase no canto da minha boca.

-Obrigado.

Numa atitude bem madura, corri, qual era o problema daqueles caras e todos os sonhos, ilusões e miragens?

-Hey devia olhar por onde anda. Ah, é você?

Agora eu tenho certeza que o destino me odeia.

-Atsumu – respondi passando a mão no meu braço onde tinha batido contra ele.

-Não me lembro de ter dito meu nome – ele franziu o cenho e manteve o olhar fixo no meu junto com uma expressão confusa.

-O que é? Vai enfiar um monte de ilusões na minha cabeça também? – para o inferno tudo aquilo que estava acontecendo e eu não entendia.

A feição dele se suavizou – Então é isso que está acontecendo – um sorriso ladino brotou nos seus lábios, ao mesmo tempo que dava uma passo em minha direção - Ao contrário daqueles covardes eu posso te dar uma coisa bem real.

Uma bagunça de apertos e puxões, qualquer um que passasse pelo corredor do hotel acharia que eram dois adolescentes no auge da paixão. Era um beijo violento e possessivo que tentava me dominar. Bati em seu peito tentando me soltar.

-Perdeu a cabeça? Você me mordeu! – coloquei a mão na boca vendo as pequenas gotas de vermelho manchando as pontas dos meus dedos.

Ele respirou fundo e fechou os olhos por um momento antes de contornar os próprios lábios com a língua, não deveria achar aquilo extremamente sexy. Mas achei.

-E você gostou.

Empurrei ele pro lado antes de encontrar o meu caminho para o saguão deixando um Atsumu rindo para trás. – Sabe onde me encontrar se quiser mais.

O dia de hoje veio apenas para me atormentar, e era uma ilusão achar que pelo menos teria uma boa noite de sono. Mãos que exploravam lugares não à mostra, mordidas que me pintavam de carmesim e quando o sangue alcançava a terra, plantações inteiras que antes estavam secas se tornavam verdejantes. Cofres se enchiam de ouro e prata e as pessoas se tornavam felizes ao custo do derramamento de sangue, do meu sangue.

As imagens das pinturas apareceram na minha mente, enquanto corria pela galeria das jóias que se estendia num túnel infinito. A tinta das imagens começaram a descascar e se desmancharam numa nuvem de mariposas que me tomaram a visão, colocando o braços na frente dos meus olhos, tentei me proteger daquela nuvem de insetos e quando tudo se dissipou quem estava nos quadros não era Lady Marian.

Mas sim eu.

Nossa família vem fazendo sacrifícios há muito tempo.

As molduras de ouro começaram a sangrar.

Então deixe que o destino traga até você.

Os olhos retratados começaram a chorar.

Sacrifício.

Raízes se espalharam pelas paredes de pedra

Destino.

Escrito ali estava uma maldição eterna

Mary, Mary... Maria... Marian.

-... Marian Stelle Mellendorf!

Levantei num pulo dando de testa com outra pessoa.

-Que droga [Nome] qual seu problema?

-Nesrin? – perguntei vendo a morena de pé ao lado da minha cama passando a mão no rosto. – O que está fazendo aqui?

-Você sumiu – respondeu se sentando no pé da minha cama em seguida – Jules disse que você tinha apagado mas não imaginei que fosse o dia inteiro.

Virei nas cobertas para encarar o relógio na cabeceira da cama, eram quase seis horas da tarde.

-Não acho que tomou tanto vinho para apagar assim, aconteceu alguma coisa?

Os olhos de Nes me miravam com alguma preocupação, mas não poderia apenas dividir que a minha mente estava tomada por lembranças que não pareciam minhas e que tinham três caras gatos fodendo comigo ao mesmo tempo enquanto lançava uma maldição na cidade através de um pacto.

-Devo estar mais cansada do que o comum. Não é nada demais, e você não veio até aqui apenas para me acordar do sono da beleza.

-Não, realmente não. Sua credencial para a abertura do evento – ela levantou um objeto na minha direção - Você vai, não é?

-Sim, preciso resolver umas coisas antes mas apareço depois.

A minha amiga me deixou sozinha, realmente tinha se passado quase um dia inteiro. Por quanto tempo estive presa naquele looping de sonhos?

Parecia claro para mim que o que serviu de ativação para aquelas sensações todas eram os três garotos que entraram no meu caminho no dia anterior. Se fosse para ter alguma resposta então que fosse. Não demorou mais de meia hora para que eu andasse pelo hotel até o ponto de encontro.

Numa das câmaras esculpidas dentro da montanha um jardim alimentado pela umidade do lugar surgia. Uma fonte ficava bem no meio dela cercada pelos arbustos de flores coloridas. No tempo que ainda me restava me dediquei a ler o restante do livro que compilava as cartas de Marian.

Tinha visto os registros traduzidos, mas nunca os originais. Ver a escrita na própria letra da minha ancestral trazia mais veracidade aos sentimentos complicados distribuídos aos três amantes. Ela descrevia como se fosse uma divindade de três faces, o primeiro sendo Eros o amor romântico associado à sexualidade, uma devoção cega que trazia em sua raiz muitas tragédias desenhando a linha que separava o sentimento bom de ser perigoso, era tênue, cruel e inebriante.

O segundo era Philia, a amizade, muito mais no sentido de companheirismo e menos associado com impulsos emocionais mas mesmo assim um dos mais admiráveis. O compartilhamento de um interesse ou uma vida comum.

Já o terceiro era Ágape, o amor incondicional talvez mais associado nos dias de hoje como uma virtude cristã. Mas utilizado na Grécia antiga pelos filósofos de maneira diferente se ligava mais ao amor a uma esposa, aos filhos uma feição relacionada a carinho e a afinidade, contrária a afeição sexual representada por Eros.

Passos me tiraram dos pensamentos, Atsumu, Suna e Osamu estavam parados exatamente nessa ordem. Eros, Philia e Ágape.

-Vocês não estão aqui apenas pela pintura não é? – mantive o olhar fixo na fonte de água corrente.

-Ela não é burra, afinal das contas – Atsumu ergueu os braços, imagino quantas mais dicas teríamos que dar antes de ter você correndo para nós a fim de salvar a cidade de Von Dorff da falência.

-Claro o sacrifício de 50 em 50 anos. Foi por conta disso que a minha avó sumiu?

Suna deu um passo à frente – O que aconteceu com ela foi um acidente, assim como Marian original não precisamos de um sacrifício completo.

-Só o suficiente para nos manter pelos próximos cinquenta anos – Osamu concluiu.

-Por favor podemos ir ao que realmente interessa?

-A última vez que isso aconteceu tivemos que lidar com um corpo – o gêmeo retrucou – [Nome] está colaborando e parece estar bem a par de sua situação. O mínimo que podemos fazer é responder aos seus questionamentos.

O loiro se jogou numa das outras cadeiras balançando a mão num sinal de deboche.

-O que são vocês? Vampiros? Bruxos? Algum deus antigo?

-Vampiros é o que mais se aproxima do que somos fisicamente, apesar de ter sangue e um organismo operante como humanos. Temos habilidades o suficiente com magias e o pacto firmado sobre a lua requer a periodicidade como um deus.

Abaixei a cabeça juntando as mãos na minha frente, ter a verdade jogada na minha cara era algo diferente.

-Porque eu?

-A herança foi passada para você - Suna respondeu - Não a material, a cada cinquenta anos alguém da família é escolhido pelo sangue. Aquele que leva o espírito de Marian dentro do corpo.

-Os sonhos que você vê, não vem da psique. São lembranças despertadas pelo festival.

-É sua alma tomando consciência de seu dever com a terra e com o povo.

-E se eu me recusar?

-50 anos de miséria e pestes - Atsumu mantinha a cabeça para trás - Sem falar nas mortes.

Deixar que eles me tomassem parecia no momento um preço pequeno a pagar por mais cinquenta anos de paz e prosperidade. Meu afilhado cresceria e teria os filhos dele, uma vida inteira para que eu descobrisse como livrar a cidade dessa herança maldita.

Se o espírito de Marian de alguma maneira estava reencarnado em mim, entrelaçando suas memórias com o meu conhecimento talvez houvesse uma solução a longo prazo. Mas não agora, não nesse momento.

Me levantei e pedi para que me seguissem, o castelo estava vazio já que a maioria das pessoas estavam ocupadas demais na abertura do festival, não foi trabalho nenhum pegar as chaves da galeria das jóias e guiar os três. Cada um foi direto até uma pintura, os presentes que eles mesmos deram a Lady Marian a séculos atrás.

Abri os compartimentos de acrílico a fim de que eles tivessem acesso às obras originais, enquanto isso apenas observei o que acontecia entre eles, Atsumu e Suna sumiram primeiro depois das molduras emitirem um brilho dourado.

Osamu me estendeu a mão para que o acompanhasse, acho que havia chego num ponto tão profundo e sem saída que só me restava seguir. Não queria ter a morte de milhares de pessoas nas minhas mãos.

Senti uma sensação de puxão no meu umbigo e num segundo me vi numa câmara subterrânea, livre das minhas roupas comuns com nada além de uma túnica fina de seda vermelha me cobrindo. As paredes também de um tom de carmim me deram uma ideia da onde estávamos.

-O castelo do conde.

-Meu castelo – Atsumu disse – Suna inventou a história para despistar nossas identidades da história.

-E mesmo depois de séculos continua chateado por ser menos conhecido do que ele. Preferia ser famoso e velho como eles?

O loiro tombou a cabeça parecendo ponderar, acho que manter o aspecto juvenil no momento era mais importante do que ter histórias contadas sobre você. Um aceno de mão acendeu tochas deixando à mostra um altar de pedra com runas que eu desconhecia entalhadas.

Ranhuras se espalhavam da pedra principal como raízes, o sonho. Eu devia sangrar ali e manter Von Dorff viva por mais cinquenta anos.

-Não se preocupe, nós fazemos isso muito bem.

Atsumu deu dois tapas na mesa de pedra e o toque nas minhas costas nuas cortesia do gêmeo me fez andar para frente. O coração no meu peito batia tão forte que mal conseguia ouvir o que eles conversavam entre si.

O loiro virou a minha cabeça para a direita – Eu consigo ouvir seu coração batendo, é quase erótico sabe que você está pronta para ser penetrada de todas as maneiras possíveis. – a língua dele correu pela extensão do meu pescoço onde a minha veia pulsava. - Você é uma vadia no fundo não é pequena [Nome].

Suna tomou a minha mão esquerda, beijando as costas delas como um cavalheiro seguindo com beijos pelo meu pulso – Se você não fosse tão cabeça quente aproveitaria mais.

A túnica de seda foi erguida pela mão de Osamu que percorreu a minha batata perna segurando-a atrás do meu joelho ganhando um pouco de espaço para que ele tivesse acesso a parte interna da minha coxa. – Ele não consegue evitar.

-Para o inferno vocês dois – A mordida no meu pescoço foi violenta, e não pude deixar de soltar um gemido de dor. O líquido viscoso escorria pela minha pele e nuca, Suna mordeu meu pulso de uma maneira menos desesperada mas ainda apertava com força a minha pele.

Na parte interna da minha coxa estava o problema, o calor que tomava meu centro ao focar nas sensações que os três estavam proporcionando chegava a enevoar os meus pensamentos. E não ajudou quando Osamu começou a usar os dedos para causar outro tipo de prazer.

Atsumu levantou o rosto do meu pescoço, trilhas de sangue fresco escorriam pelo seu queixo e lateral da boca seguindo pelo pescoço – E ele tem coragem de falar que eu sou impaciente, você não devia brincar com a comida Samu – ele ergueu a mão para limpar o sangue do queixo apenas para em seguida colocar os dedos na minha boca o polegar e o dedo do meio brincaram com a minha língua enquanto o gosto metálico se mantinha presente. Ainda de pé do meu lado direito tomou a minha mão colocando diretamente sobre seu membro rijo, investindo contra a palma da minha mão na busca de alguma fricção.

Enquanto o gêmeo usava a minha mão como fonte de diversão Osamu se levantou me puxando junto, ganhando um grunhido do irmão que de repente ficou sem contato, ele mesmo se deitou na pedra com o meu corpo por cima, a fazendo de uma cama improvisada.

Suna tinha soltado meu braço e do mesmo jeito que Atsumu ele passou a mão pelo rosto e com o dedo sujo de sangue desenhou algo nas minhas costas, algo que eu imaginei ser uma seta. E acompanhando o desenho da minha coluna ele desceu a mão ao mesmo tempo de sussurrava em meu ouvido.

-Vou precisar te relaxar um pouco [Nome] – ele beijou a área abaixo das minhas costelas mordendo em seguida – Não quero que você sinta dor desnecessária, certo?

Pelo canto de olho vi ele lamber os próprios dedos antes de sentir eles penetrarem em mim por trás, Osamu se mantinha abaixo de mim percorrendo os dedos pela pele exposta. Mirou a mordida que o irmão deu no meu pescoço levantando a cabeça para lamber o local e o sangue que vertia da ferida.

Não segurei o gemido que saiu da minha boca quando Suna tocou num ponto sensível, suas mãos se mexiam estimulando o meu buraco e isso pareceu ser mais do que um sinal de que eu estava pronta para receber seu membro. Meu corpo tremeu quando seu pênis entrou em mim, as mãos subiam e desciam pelo meu quadril.

Osamu se posicionou na minha frente, seu membro se pressionou na minha entrada mas ele tomou o tempo dele se inclinou sobre o meu corpo mordendo com força o seio esquerdo enquanto se esfregava contra mim.

O irmão loiro que não parecia muito contente com a falta de atenção se inclinou na direção da minha boca tomando meus lábios e acariciando sedutoramente a sua língua contra a minha. Uma mão se levantou até a minha nuca puxando com força os meus cabelos.

-Você é tão gostosa – grunhiu mordendo meu ombro em seguida. Não só ele se beneficiou disso mas Osamu também, pois as lambidas por onde o sangue escorria eram constantes.

Gritei quando ele me penetrou, me senti cheia, quase podia sentir eles se encostando dentro de mim. Ele estocou com força o que fez com que Suna gemesse também já que o movimento brusco fez com que ele também se mexesse.

Era uma dança loucamente pervertida e sedutora, mãos traçavam desenhos em sangue vivo enquanto exploravam meu corpo e gemidos animalescos rasgavam pela garganta de todos sem um pingo de constrangimento.

-Se sente bem sendo fodida desse jeito [Nome]? É isso que você sonhou?

Atsumu apoiou uma das pernas perto do meu rosto, seu pênis batendo na minha bochecha antes de eu abrir a boca para ele e o tomar por completo.

Ele se movimentava devagar até chegar a minha garganta enquanto apertava meu seio tomado por mordidas do irmão, levantou os dígitos para os meus cabelos pegando um bom punhado e puxando com força.

-Olha pra mim enquanto está com meu pau na sua boca.

Levantei os olhos para ele que estava com manchas de sangue escorrendo pelo queixo e o resto do corpo. Atsumu ia tão fundo que chegava a encostar no fundo da minha garganta.

-Que gulosa.

Me sentia quase dopada, fosse pela perda de sangue ou por ter três criaturas metendo em mim a ponto de me fazer perder qualquer pingo de sanidade. Um flash de amarelo tomou o canto da minha visão e se reverberou até o topo da sala.

Osamu espalmou uma mão nas minhas costas, minhas pernas se mantiveram na lateral de sua cintura trêmulas me senti apertar ao redor dele e de Suna ao mesmo tempo que Atsumu ejaculou na minha boca o líquido espesso e quente passando pela minha garganta.

Um grunhido do loiro tomou a câmera, logo depois de seu membro deixar o calor da minha boca – O poder, sinto voltando para as minhas veias.

Eu não conseguia falar, estava completamente exausta, dolorida. Tomada por suor que se misturava com sangue e sêmen. Meu peito subia e descia rapidamente, nenhuma das feridas me incomodavam, a dor deixava cada centímetro do meu corpo mais sensível.

Suna acariciou de leve a minha pele arrepiada, a respiração batendo quente contra ela. – Não quero que você sangre até a morte – Sua língua percorreu os furos mais fundos feitos pelas presas do dito impaciente.

O único que permanecia dentro de mim era Osamu que tinha a cabeça apoiada entre meus seios e as mãos acariciando a extensão da perna que estava envolta dele.

-Me leve com você – sussurrei levantando seu rosto para que encarasse o meu.

Todo mundo fala para eu seguir meus sonhos, achar algo que eu realmente queira fazer por mim. No momento estar com aquele estranho em qualquer lugar do mundo era tudo que eu queria, não precisam de mim em cinquenta anos e até lá eu descobriria como salvar a cidade da maldição sem prejudicar os três amantes originais.

No momento que ele deixou o meu centro me senti vazia e me tomando nos braços ele deu um último olhar para Suna que permaneceu deitado na pedra cruzando os braços atrás da cabeça. – Tem cinco minutos até ele perceber que fugiram, sugiro que aproveitem.

Murmurei um obrigada enquanto me alinhava no pescoço daquele que eu desejava além do prazer carnal. Tia Agnes disse que o destino traria meu sonho até mim, tive algumas outras surpresas no caminho mas no final...

Ela estava certa.






N/A: Ehem, é isso mesmo.

Sem ter muito o que falar, mas me digam se estão gostando!

Ainda temos mais 2 para vir.

Xx

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