Quando pensava em nós dois...

Às 3:30 da manhã já estava acordada. O quarto escuro me deixou com medo e me inclinei para o canto da cama, esticando o braço para pegar meu celular.

Aproveitei para ler um pouco mais. Meus pensamentos viajavam em algumas teorias sobre o amor. Uma das vantagens em ler livros de romance quando se é adulta é entender as facetas que o constroem.

Sabe quando você caminha por um campo ensolarado e se sente feliz ao ver uma árvore? Ela faz com que você se sinta grato por ter uma sombra refrescante. Agora, imagine que esse campo ensolarado é a sua vida e a árvore alguém que você ama. Ela lhe dá poder. Ainda que você não saiba ao certo.

Olhei as horas novamente e elas confirmavam que em alguns minutos teria de levantar. Comecei mudando minha roupa por uma que ajudasse a evitar o vento da manhã.

Eu e minha mãe saímos de casa, caminhando pela estrada enquanto comentávamos sobre os Ipês amarelos. Em seu tempo, significavam que era época do jubileu de Congonhas.

Ao chegar no ponto de ônibus minha visão foi preenchida por uma pequena senhora. Na cabeça um lenço preto com bolinhas brancas, a roupa combinando com o tom verde abacate de sua bolsa. Estava indo rezar, disse.

Ela e minha mãe, começaram a conversar sobre como sentiam saudade do passado. “As dificuldades pareciam menores”, brincou. Disse que sentia pena dos jovens: “as coisas estão piorando”

A juventude.

Sem que eu esperasse ou pedisse ela se dirigiu a mim e começou a me contar da época em que acordava cedinho, antes das 4:00.  Como aconteceu comigo naquele dia, só que ela não acordava cedo por se sentir ansiosa. Aquela senhora tinha a melhor desculpa do mundo para poder ver o seu amor.

“Acordava cedo e preparava a marmita do meu irmão. Depois, subia correndo até a linha do trem para poder vê-lo: o meu amor. Ele passava cantando, indo para a lavoura. Minha vó detestava ele, dizia que eu estava perdendo meu tempo para ver um negro. Sabe... Minha avó era morena, mas, não gostava de negro. E eu? eu... eu amava. Gosto é gosto não é minha filha?” terminou com uma gargalhada e se despediu sem que eu perguntasse o seu nome.

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