Lance ou Romance?
Sinto meu sangue ferver e sugo o ar até que meus pulmões estejam cheios, soltando lentamente. Respira! Um copo de água vai ajudar. Isso! Agarro o exemplar da revista do mês e caminho em direção ao bebedouro. Enquanto atravesso o salão da editora noto os olhares curiosos. Um frio na barriga faz com que eu entenda que todo mundo está ciente do que aconteceu. No meio da confusão encontro um olhar caridoso, Angélica; sentada atrás de sua mesa, o cabelo em um rabo de cavalo perfeito e a maquiagem ressaltando seus olhos castanhos. Parecia uma boa ideia chamá-la para gravar minha reação do quase certo: pedido de casamento.
Demos o nome de "ação discreta". Angel estaria mais ao fundo, com o play ativado assim que Caíque Bassore estendesse uma caixinha de veludo vermelha em minha direção. O movimento captando meu sorriso à medida que ele se ajoelhasse. Ele estaria usando o terno de corte italiano que lhe dei de presente no último Natal. As pessoas ao redor, pouco a pouco, notando minha emoção após dizer "sim". Elas se juntariam a nossa comemoração com palmas e sorrisos. O buquê de tulipas laranjas, deixado despretensiosamente no canto da mesa selaria aquele momento tão especial. Brindaríamos com duas taças de champanhe. Porquê não se pode negar que champanhe e ocasiões especiais são a combinação perfeita. Não era pedir demais, ou será que era?
Eu sabia tudo o que se precisava saber quando o assunto era pedidos de casamento, é o que faço: ajudar às pessoas que escrevem para a Revista Bassore. A coluna "Aceita se casar comigo?" tornou-se um sucesso desde que foi lançada, alavancando os números de venda. Amor não é apenas um sentimento. Em nosso meio o enxergamos como ele realmente é: algo que prende a atenção das pessoas e se você tem atenção, você tem tudo para se dar bem no mundo dos negócios.
Parece que meus anos de trabalho e conselhos amorosos não me serviram para nada, pois, agora eu tenho uma lembrança de como fui tola. Angélica não tem culpa, mas, nossa missão rendeu em um vídeo que pegou em cheio o meu sofrimento. Passei a noite revendo a gravação e depois da décima vez eu decorara bem cada expressão. Primeiro a confusão, como um ponto de interrogação pairando sobre minha cabeça, seguida dela: a decepção. Meu quase noivo, ou melhor, meu namorado que agora com certeza passara a ser ex, estava beijando a editora executiva da revista que por coincidência também era minha amiga.
Sinto meu estômago retorcer com a lembrança. Se alguém me perguntasse em minha coluna: "O que você faria se encontrasse seu namorado beijando sua amiga?", eu diria para agir com superioridade. Se importar não era proibido ao menos que o fizesse na frente de seus malfeitores. "Deixe o caos para depois".
Gostaria muito de ter seguido meu próprio conselho, ter dado meia volta no lugar de ter armado uma cena. A câmera de Angélica não gravou o que estava para acontecer, decepção dando lugar a raiva. Em meio segundo eu estava caminhando em direção aos dois, parando apenas para pegar uma cadeira de um das mesas vazias. Ninguém me impediu. As pessoas não passam seu tempo cogitando a possibilidade de alguém usar uma cadeira para quebrar uma mesa no meio de um restaurante. Bom, eu também não esperava ter meu coração partido naquela noite e olha em como a vida me surpreendeu.
Após meu ato de loucura, deixando todos boquiabertos, incluindo os dois traidores, dei meia volta e segui rumo a porta. Nenhum funcionário barrou minha saída, todos ficaram atônitos. Não tanto quanto eu. Ótimo, que se dane a superioridade! Aquilo não me tornava uma louca e sim humana.
Do mesmo modo que aquela mesa não poderia ser concertada, meu relacionamento e emprego evaporaram no mesmo instante. Era por esse motivo que eu ainda estava ali, precisava terminar esse ciclo com uma última sensação, chame-a de vingança se quiser, mas para mim está mais parecida com justiça. Eu só precisava entregar minha última contribuição para a revista Bassore e tudo estaria resolvido.
- Mais alguma coisa Caty? - Osmar, redator chefe me perguntou.
- Não, definitivamente. Estou indo embora.
- Ficamos sabendo do que aconteceu e... sinto muito. - afirmou melancolicamente - Você não merecia passar por isso, todo mundo aqui sabe disso.
- Você e Angel eu tenho certeza... quanto ao resto eu já não sei - disse ao me lembrar dos olhares curiosos.
Ele assente sorrindo, mas, paralisa ao ler o titulo da coluna. Como eu imaginei que ele faria.
- Caty? Isso é sério?
Balanço a cabeça em aprovação.
- Por que isso seria... uau... seria... no mínimo... não tenho palavras para isso... Está mesmo certa do que está prestes a fazer?
- As pessoas adoram um escândalo.
Osmar sabia que eu estava certa. Imagine a surpresa das pessoas ao ver que o título da "Aceita se casar comigo?" estamparia outra manchete: "Caíque Bassore e Luma Carvalho, lance ou romance? " por Carla Menossi. Eu havia pensado tudo na noite anterior. Ainda que a qualidade não tenha ficado entre as melhores, anexei ao lado do título uma foto na qual eu os observara se beijando. Acertaria Caíque no que ele mais amava: sua revista; e se contar ao Brasil que agora faço parte do camarote dos traídos era o preço para isso, eu pagaria de bom grado.
- Agora estou pronta para pedir demissão.
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