Meninos Cogumelos
Copa dos Contos - Edição 2022
Fase 2
Tema: Último diálogo de uma família em um fim de mundo
Gênero: Fantasia, Drama
Número de palavras: 570
~~~~~~~~~~~
A vara de pescar repousava na água quando, de repente, Tylin sentiu a isca se mordida.
"Finalmente! Acho que dessa vez tive a sorte grande", falou o menino cogumelo para seu irmão ao seu lado.
Rapidamente puxou a linha e logo o anzol saiu do água. Mordendo a isca estava um peixe da espécie Oppalosa. Suas escamas tinham uma coloração arco-íris. Seus olhos eram amarelos como mel de Mashfly.
Ele pegou o peixe e adicionou à rede.
Dentro da rede outros peixes se debatiam, desesperados em busca da respiração marinha do grande mar.
Era assim que decidiram passar seus últimos minutos de vida em uma canoa de folhas, fazendo aquilo que mais gostavam na vida: pescar.
Alguns moradores da Floresta Branca haviam escolhido por decisão própria o modo que passariam os seus últimos momentos de vida antes do despertar da grande Tartaruga Celeste. Soube que algumas famílias de Minotauros haviam preparado uma farta ceia com tudo que tem de melhor para se comer. Os coelhos da terra haviam se retirado para seus túneis subterrâneos em meditação como preparo para o fim daquela existência. Os Rillatums balançavam-se de galho em galho pelas árvores da Floresta Branca, cantando cantigas de amor e gratidão em torno da grande Árvore Mãe.
Tylin e Gustav, no entanto, não tinham mais ninguém no mundo além de um ao outro. Além disso, sua espécie não era exatamente conhecida por seus laços familiares. De certa forma os dois formavam a sua própria família.
Seu pai e mãe haviam morrido durante a guerra da fronteira e desde então Tylin ficara responsável por cuidar do seu irmãozinho que, nesse momento, olhava para seu reflexo na água, causando pequenas ondas com o toque de sua mão.
"O que você tanto pensa", perguntou Tylin para ele.
O garoto cogumelo virou sua atenção para o irmão.
"Você não está com medo?"
"E por que eu teria medo?"
"Apenas o fato de algumas horas a Tartaruga Celeste vai despertar e devorar toda a nossa realidade, nada... eu acho", respondeu ele ironicamente franzindo o cenho.
"Bom quando eu ainda era criança o papai e a mamãe me contaram a história da Tartaruga Celestial. Segundo eles ao despertar de seu longo sono de 500 mil anos, ela irá devorar todo o tecido da realidade, mas logo voltará a dormir e, assim, o nosso mundo voltará a existir."
"Mas a gente não vai estar vivo para ver a criação desse novo mundo."
"Aí que você se engana! A cada mundo apagado pela Tartaruga Celestial um novo nasce, e nesse novo mundo os habitantes do antigo renascerão para mais uma existência."
"Isso quer dizer que a gente vai se encontrar novamente no novo mundo?". Ele coçou sua cabeça de cogumelo em confusão.
"Exatamente. E o papai e a mamãe também voltarão a existir."
Gustav deu um sorriso de orelha a orelha ao considerar a nova perspectiva trazida pelo irmão.
Ao ver a alegria transbordar nos olhos do pequenino, Tylin sentiu-se contagiado.
Apesar de ter mentido, às vezes uma mentira capaz de causar um sorriso esperançoso é mais benéfica do que a dura e cruel realidade do desconhecido.
No final de tudo eram apenas dois meninos cogumelos sozinhos no mundo e prestes a serem eliminados da existência.
Enquanto refletia não reparara que algum peixe havia mordido a isca.
"Agora vem um dos grandes", disse ele sem saber que aquelas seriam suas últimas palavras proferidas em vida.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top