I

—  Vir pra escola é chato, né, pai? — Diz ao entrar no carro, em tom de piada. Assim que sentou no banco, percebeu pela expressão séria de seu pai que a situação não estava para brincadeiras. — Hello, cadê o bom humor, meu velho? — Dá-lhe uma leve cotovelada, brincalhona. Franz se mantém invicto. — Tá, né — dá de ombros. — Pai, você pode me deixar na praça do Shopping às 19:30? Eu preciso encontrar a Brenda hoje — avisa enquanto coloca o cinto.

— Não.

Zoe encara seu pai incrédula.

— "Não"? — Repete. — Ué, por que não?

— Filha — suspira e põe a mão no bolso e retirando um papel, desdobra-o  —, que notas são essas? — Entrega-lhe o boletim. Zoe gela antes mesmo de ver suas próprias notas.

— Ahh... essas notas...? — Aponta com um risinho nervoso.

— Não pense que estou te punindo por notas baixas, Zoe, mas por não cumprir com nosso combinado. Você pediu para que deixássemos você se encontrar mais vezes com a Brenda, e temos feito isso, em troca de você tentar melhorar seu boletim. Você nos prometeu se esforçar, e a menos que você confesse que tem alguma dificuldade de aprendizado, o que você já disse pra gente que não, não vamos deixar você sair com a Brenda dessa vez.

— Vocês vão me trancar em casa, então?! — Assusta-se.

— Não, eu não disse isso. Disse que essa vai ser a forma de você perceber que suas atitudes têm consequências. Você disse que queria encontrar Brenda e não te impedimos disso, mas dessa vez não deixaremos.

— Argh! — Resmunga tombando a cabeça para trás. — Mas e se eu tiver me esforçado, só não tenha conseguido atingir a média? — Olha de relance para o pai, que começara a dar partida no carro.

— Eu tenho percebido a sua rotina nessas últimas semanas, mocinha. A única vez que parou em casa foi quando ralou o joelho depois do vôlei.

— Sim, mas...

— Zoe, eu entendo que queira protestar, mas você não está cumprindo com as suas responsabilidades, filha. E não podemos te dar tanta liberdade assim quando você não consegue discernir suas prioridades — tenta respondê-la de forma gentil, mas firme.

— E se eu tiver dificuldade na matéria? — Rebate.

— Se você tiver dificuldade, já teremos mais um motivo para não deixá-la sair: mentindo para nós, seus pais.

Zoe abre a boca para contrariá-lo, mas sem sucesso de resposta. Revoltada, ela resmunga mais uma vez e apoia a cabeça na janela. Um silêncio se forma dentro do carro.

Franz vira o quarteirão ao lado da rua de sua casa. Involuntariamente esboça um sorriso vitorioso, acabara de ganhar uma discussão com sua filha, a argumentadora célebre da família.

— Você tem dificuldade nas matérias, Zozo? — Franz pergunta após tirar o sorriso debochado do rosto.

— Como eu posso ter dificuldade se eu não consigo nem acompanhar as matérias? — Responde chateada.

— Quer tentar algum reforço ou algo do tipo? Eu e o seu pai podemos ver isso.

— Não, não precisa, pai... Eu dou meu jeito — levanta a cabeça da janela e olha para Franz. — Desculpa por essas notas, eu vou tentar me esforçar da próxima vez... — desvia o olhar, constrangida.

— Não quero que pense que estamos exigindo um dez de você sempre. Tudo bem tirar notas ruins, principalmente no ensino médio. Só queremos que você passe a tirar notas melhores do que essas — sorri para a filha.

— Tem razão, um 3,4 no boletim não é nada bonito...

— E um 3,4 não combina no perfil da minha garota, não é? — Pisca para ela, que ri.

— Não combina, pai! — Sorri confiante.

Finalmente chegaram. Franz estaciona o carro na frente de casa e o destranca. Zoe abre a porta e sai correndo para dentro de casa.

Ao entrar subitamente, ela se joga de costas no sofá, atrás de Leon e Gael, que estavam no chão pintando as unhas.

— Como foi seu dia, filha? — Pergunta sem se desconcentrar das unhas do filho, passando esmalte em seu dedo mindinho.

— Jogaram torta na cara de uma menina no intervalo hoje — diz e, ao se lembrar da cena, começa a rir progressivamente. — Ela deu o maior piti! — Gargalha.

— E por que fizeram isso com ela? — Gael pergunta, achando aquilo horrível.

— Ah, foi a Leah que tacou a torta nela, Gael. Também, ficou me chamando de Maria-macho, pediu! — Faz bico.

— Quem é Maria-macho? — Franz adentra a sala, fechando a porta atrás de si.

— Terminei suas unhas, Gael, agora espera secar — avisa e fecha o vidrinho de esmalte. — Sua filha é a Maria-macho, amor — responde ao marido enquanto se levanta do chão. — A Leah jogou uma torta na cara da menina que falou isso dela, só isso — Leon lhe dá um selinho e passa caminhando para a estante ao lado e um pouco atrás do moreno, abrindo a gaveta para guardar o esmalte.

— Ah, tinha que ter o dedo da Leah envolvido — balança a cabeça negativamente, com um sorriso. — Aquela sua amiga tem um parafuso a menos, né? — Franz ri.

— Ela pegou os da TV — responde Zoe, ironicamente. — Aliás, pai — referia-se a Leon —, eu também quero pintar as unhas, quais cores tem aí? — Ergue o tronco para encarar a gaveta ainda aberta.

— Dos que você mais gosta, tem o preto, azul-escuro, violeta e marsala — ela ouve o barulho dos vidrinhos de esmalte sendo remexidos. — Quer escolher outro?

Ela confirma e se levanta do sofá e indo até a gaveta. Leon dá espaço para ela e volta a estar ao lado de Franz.

— Amor, acerta lá o molho do macarrão? — Pede com uma sedução barata na voz. — Você sabe que eu sempre erro...

— Ah, então você já fez todo o almoço? — Surpreende-se.

— Tive uma pequena ajuda — olha para o filho por cima do ombro, ele ri ainda sentado no chão e assoprando suas unhas. Leon pisca para ele e dá um risinho. — Quis adiantar o trabalho.

— Mas aí quem tem que lavar os pratos sou eu, né? — Arqueia a sobrancelha com um sorriso ladino. O ruivo tenta esconder o sorriso, disfarçando-o algumas vezes.

— Bom, nessa casa existem regras, então... — dá de ombros. Franz ri e puxa seu queixo para dar-lhe um beijo no canto da boca, logo saindo para a cozinha.

— Pai, posso ajudar? — Gael pede.

— Suas unhas estão secas? — Vira o rosto para ele, ainda caminhando.

O garoto olha pensativo para as unhas.

— Tem razão — ele se levanta e corre para as escadas, indo subir para seu quarto.

— Cuidado com as escadas, Gael — Leon adverte. — Eu já cai umas três vezes nela e eu garanto, não é bonito!

Ele ouve a risadinha de seu filho lá de cima.

— Pai — Zoe o chama, vindo para seu lado com um sorriso aberto, cheio de segundas intenções —, pode me levar à praça do Shopping ho-

— Não. — Sorri após interrompê-la.

— Ah, qualé! — Joga os braços para cima. — Achei que você estaria do meu lado, pai!

— Esqueceu de que o seu pai é o meu marido, filhinha? — Debocha. — Ele me contou das suas notas antes mesmo de contar a você.

— Fofoqueiros... — resmunga. Leon ri. — É sério, pai! É perda de tempo isso. Eu sou burra, o que acham que eu devo fazer?

— Ow, de forma alguma. Você não é burra e ninguém aqui acha isso — repreende.

— O Gael com certeza acha.

— Ah, ele é seu irmão, é quase que natural implicar com você — dá de ombros. — Acho que nem preciso falar o porquê de estarmos te impedindo de ver a Brenda, né? O Franz já deve ter dito.

— Já — responde arrastado. — Mas, pai, é encontrar a Brenda! A Brenda! — Enfatiza para tentar desdobrá-lo.

— Eu sei que é pra encontrar "A Brenda!", mas a decisão já foi tomada, não posso contrariar o seu pai — dá as costas para ela, indo em direção a cozinha.

— Mas vocês fazem isso sempre! — Retruca indignada.

— Ficamos mais maduros do sempre pra cá — responde de forma irônica, sumindo para dentro da cozinha.

— Argh! — Joga a cabeça para trás e pisa fundo nos degraus da escada para seu quarto.

Leon a observa subir da porta da cozinha.

— Minha consciência tá pesada — admite ainda olhando para a sala.

— A minha também, mas temos que fazer isso — Franz responde, fechando a panela com o molho fervendo. — Ela está relaxada demais com a escola. Não estamos nadando em rios de dinheiro para pagarmos duas vezes pelo mesmo ano.

— Mas não acha que estamos sendo duros demais? — Pergunta apreensivo, encostado na parede. — Privá-la de ver a Brenda...

— O que quer que façamos? Tire o celular? — Faz uma voz esquisita. — Ela não vai se importar, mal para em casa, só atende o celular pela misericórdia — revira os olhos.

— Talvez devêssemos ajudá-la a estudar, você principalmente.

— Se eu tivesse mais tempo, claro que eu ajudaria, mas ela mesma disse que não tem dificuldade nas matérias — Franz se distrai com a panela novamente.

— Mas e se ela só estiver com vergonha de admitir? — Rebate enquanto vê o marido mexendo no molho.

Franz vira o rosto para ele, parando de argumentar e abrindo um sorriso lentamente.

— Você quer mesmo que ela se encontre com a Brenda hoje, né? — Arqueia uma sobrancelha. Leon dá um risinho e caminha até o marido.

— Meu lado romântico tá falando mais alto — choraminga. — Tem certeza de que não quer reconsiderar? — Olha piedoso para ele.

— É melhor sermos consistentes nas decisões que tomando com eles, Leon — massageia seus ombros. — Numa próxima, discutimos melhor sobre o que fazer.

—  Tudo bem... — responde meio cabisbaixo.

— Ei, o castigo foi pra você? — Zomba. Leon percebe e sorri.

— Eu tô tomando as dores por ela — ri.

~ ♡ ~

— Talvez eu fuja — diz deitada na cama de Gael enquanto ele termina seu dever de casa sentado à escrivaninha.

— Tá maluca? — Vira-se para ela, indignado. — Nossos pai matam você!

— E eu lá tenho escolha? — Levanta. — Eu preciso encontrar a Brenda hoje!

— E por que essa urgência toda? — Cruza os braços.

— Sabe... no dia em que a Dedz veio aqui? — Morde o lábio inferior, pouco constrangida.

— Hmmm... saquei...

— É — joga-se sobre a cama novamente —, rolou algo estranho... — cora.

Gael fica em silêncio e se levanta da cadeira. Ele vai até a cama e se joga ao lado da irmã.

— Vai mesmo fugir? — Olha para ela.

— Você me ajuda? — Olha para ele.

O garoto sorri.

— Ajudo.

Zoe ri e abraça o irmão.

~ ♡ ~

> O que quer comigo?

                                 
                                  falei, conversar <

> Quer discutir sobre o que
aconteceu naquele dia?
         

                                                       Isso... <
                                       E preciso que
                                       você me escute <

> Tudo bem
> Hoje às 19:30 mesmo?

                                                  Às 19:30 <

Guardou o celular no bolso e se levantou da cadeira.

— Ué, não vai jantar, filha? — Leon pergunta ao entrar na cozinha e ver a filha saindo.

— A-Ah, daqui a pouco, pai — responde pouco nervosa. — Não tô com muita fome agora...

— Comeu besteira, né? — Sorri divertido.

— Aprendi com o melhor — ri. — Mas em fim... cadê o Gael?

— Tá no banho — apontou para a sala. — Por quê?

— Ah, eu queria dar boa noite à ele — mente.

— E desde quando você dá boa noite ao seu irmão? — Cruza os braços, com um ar desconfiado. A curva que sua sobrancelha esquerda fez intimidou Zoe.

— Ah é que... ele me ajudou com meu problema de matemática, então... eu queria desejar boa noite como forma de... de agradecer mesmo a ele... sabe? Eu não sou muito de ficar falando "eu te amo", então eu meio que fico criando meios de dizer isso pra ele sem dar tão na cara, até porque...

— Tá, tudo bem, filha — Interrompe, com vontade de rir. — Não precisa se justificar tanto. Tá parecendo o Franz — brinca.

— Ha ha ha ha ha ha ha ha ha! — Ri estranho. — Você é o melhor pai — elogia numa tentativa de se esquivar da situação, já saindo da cozinha de ré. — Eu vou lá ver se ele já terminou o banho dele. Ha ha ha ha ha, você é tão engraçado! — Sorri meigo e sai correndo para as escadas. Leon a observa confuso.

— Eu, hein...

~ ♡ ~

— GAEL! — Abre a porta do banheiro com tudo e a fecha na mesma rapidez. Gael se assusta e cobre o seu corpo por um momento.

— Zoe, tá maluca?! Sai daqui! — Reclama, constrangido.

— Ah, para! Eu já te vi pelado várias vezes, seu idiota — senta-se na tampa do vaso sanitário. — O assunto é meio urgente, não tem como esperar.

— Tá — responde e fecha um pouco mais o box do banheiro. — Ainda é sobre a sua fuga? — Volta ao seu banho.

— Ai, Gael... eu não sei se isso vai dar certo... — choraminga.

— Há grandes chances.

— Ei, me motiva, maninho! Qualé!

— Sinceridade, amiga — dá de ombros.

— Hum... — olha para ele de cima a baixo com desdém.

— Mas acho melhor você adiar esse compromisso aí. Deixa pras 22:00. Às 19 nossos pais ainda vão estar acordados, burra — Zoe parece pensar.

— É... você tem razão...  Às 22:00, tá bom? — Levanta-se.

— Tá bom.

Zoe vai até a porta.

— Ei...

— Fala.

Ela ri.

Pequeno, né? — Gargalha e corre para abrir a porta, sendo quase atingida por um frasco de shampoo.

Zoe desce as escadas e se depara com seus pais no sofá da sala, assistindo a novela, conversando.

— É agora que ela mata a irmã? — Leon pergunta para Franz com ansiedade.

— Talvez... — responde tão vidrado quanto o marido. — Mas acho que ela ainda vai chamar pra conversar, aí vai prender ela no porão.

Zoe se aproxima deles.

— Novela? — Apoia os cotovelos nas costas do sofá.

— Quer assistir com a gente, filha? É hoje que a Marina mata a Erika! — Diz Leon.

— Não, não, eu já vou dormir — boceja falsamente.

— Mas já? Não são nem 19:00. Por que tão cedo? — Franz questiona.

— Eu preciso fazer um trabalho importantíssimo amanhã, por isso quero estar bem disposta — sorri. — Beijo, pais. Amo vocês — despede-se já caminhando para o quarto, no andar de cima novamente.

Ela tira o celular do bolso enquanto sobe.

   
                                 Brenda, mudança de
                                 planos, hoje às dez <

Guardou novamente e abriu a porta de seu quarto para se arrumar.

~ ♤ ~

Gael havia dito que ia dormir com a irmã essa noite. Claro que Leon e Franz estranharam. Gael e Zoe sabiam que seus pais não eram estúpidos e que provavelmente já estariam desconfiando de alguma empreitada.

— Me sinto horrível por quebrar a confiança que eles têm comigo... — diz colocando a blusa por dentro da calça, enquanto se encarava pelo espelho.

— Eu também tô quebrando, e tô me sentindo péssimo com isso — responde observando a irmã se arrumar, sentado em cima da cama dela.

Zoe suspira.

— Tudo bem... eles vão me perdoar depois... — vira-se para o irmão. — Eu tô bonita?

Gael a analisa de cima a baixo.

— Dá pro gasto... — balança os ombros.

— Babaca! — Ri.

— Coloca aquele seu perfume cheiroso, mana. Tenho certeza de que a Brenda vai amar.

— Aliás, eu nem vi se ela me respondeu — pega o celular e vê que a única coisa que ela respondeu foi um seco "tudo bem". — Acho que ela está brava comigo.

— Não, Zoe — puxa o braço da irmã para que ela se sente na cama. — Ou pelo menos, não pelos motivos que você acha. Ela só deve estar frustrada de ter sido rejeitada, mas ela tem completa noção de que você não era obrigada a ceder a ela.

— Argh, você não faz ideia de como eu queria ter cedido a ela... — suspira e se joga no colo de Gael.

— Deixa de ser safada, mulher — encara-a com reprovação.

— Ah, é? Pois eu vou lembrar disso quando você quiser ter "um momento à sós" com a Dedz, tá? — Levanta-se e vai até o guarda-roupa.

— Eu jamais pediria isso a você.

— É verdade, esqueci que a Dedz é a que come.

Gael cora.

— Deixa de ser suja, garota! — Joga um travesseiro nela.

— Ei, não me bagunça! Eu vou encontrar minha futura namorada!

— Você é tão confusa.

— Eu sei que eu sou, mas quando eu chegar lá, vou esclarecer as coisas com ela! — Agarra o perfume de mel e o põe em seu corpo com abundância.

— Ou tremer igual vara-verde como sempre faz.

— Talvez, mas hoje rola beijo — caminha até a porta do quarto, pegando sua bolsa no trajeto. — Que horas são, maninho?

— São 21:44 agora. Com sorte você chega lá a tempo — responde já se levantando.

— Ótimo. Agora vem — gesticula enquanto abre a porta.

Eles descem as escadas e passam pela sala com cautela. Veem seus pais dormindo no sofá da sala, cada um com a cabeça apoiada em um dos braços do móvel.

— Eu vou pela janela — sussurra para o irmão, passando de fininho para a cozinha junto com ele.

— Por quê? — Sussurra de volta.

— A gente vai demorar muito pra encontrar as chaves, fora que eles podem acordar enquanto a gente tiver abrindo a porta, burro! — Responde de forma mais agressiva.

— Tá, tá, entendi! — Resmunga e passa para a frente da irmã. — Eu vou deixar ela aberta pra quando você voltar, é só empurrar — diz enquanto vai descendo a tranca da janela com cuidado para fazer o mínimo barulho possível.

Quando estava quase terminando, a tranca solta um barulho de ferro pouco alto. Ambos olharam assustados para trás, mas seus pais não haviam se mexido. Eles suspiraram aliviados.

Gael abre a janela e dá passagem para a irmã subir, ajudando ela a passar. Com dificuldade, ela conseque atravessá-la quase que por inteira, até que um barulho de algo batendo no chão a distrai. Vendo que não vinha de seus pais, não deu importância. Já do lado de fora, ela agradece a ele e se despede.

— Espera aí, mana — chama e ela se vira. — Só mais uma coisa...

— O quê, fala.

— Tá levando camisinha, né?

— Ah, garoto, se toca! — Bate no ombro dele, que ri e manda um beijinho no ar para a irmã enquanto ela caminha emburrada. Ele a encara se afastar.

— Boa sorte, maninha.

~ ♤ ~

Brenda esperava por Zoe na praça onde haviam combinado. Ela caminhava de um lado para o outro sutilmente, mas impaciente.

Olhou para o relógio de pulso e notou que ela já estava atrasada 10 minutos. Logo, os pensamentos intrusivos começaram a fazer morada.

Será que ela ainda apareceria? Ou então amarelou?

Era algum tipo de piada?

Com as mãos nos bolsos da calça e a cabeça erguida para cima, respirando fundo para guardar a pouca paciência que ainda tinha, ela encara o shopping a sua frente.

Era tão iluminado que pareciam mil estrelas. Parecia compactar a cidade luz, Paris. Sua admiração se transformou em confusão quando percebeu alguém correndo em sua direção.

Ela virava a rua do shopping correndo e vinha de encontro a Brenda. Não a reconheceu de primeira, uma vez que estava com os cabelos curtos acima do ombro.

— Zoe? — Sussurra antes mesmo da garota ser capaz de ouvir, já que ainda estava distante.

Ela correndo estava belíssima, seus cabelos pretos agora curtos esvoaçavam enquanto seu fundo era iluminado pelas luzes infinitas do shopping.

Era uma cena digna de filme.

— Brenda! — Grita sem fôlego ao chegar até ela.

— O-Oi, Zoe... — responde sem reação, ao mesmo tempo que nervosa. — Você veio a pé?! — Aproxima-se um pouco dela, preocupada com sua falta de ar.

— Eu vim o mais rápido que pude!

— Por que não pediu pro seu pai te trazer? Foi pra fazer essa cena toda pra mim? — Sorri, para amenizar a situação.

— Eu fugi.

— O quê?! — Seu sorriso se desmonta. — Zoe, você tá maluca?! Seus pais vão morrer ou TE MATAR quando descobrirem!

Pensou em brigar mais com a garota, mas a percebeu prestes a chorar.

— Brenda — inicia com uma voz chorosa —, me desculpa...!

— Descul...?

— Sim, me desculpa! — Seus olhos se tornam mais marejados. — Desculpa por ter te rejeitado, desculpa por ter te negado, desculpa por ter dar faltas esperanças... — as lágrimas já não pediam permissão para escorrerem pelas bochechas da garota.

Suas bochechas já começavam a ficar vermelhas. E os soluços eram eminentes.

— Eu não quero te dar falsas esperanças, porque se tem uma pessoa que tem muita esperança de ficar com você sou eu! — Declara com o choro presente. Brenda fica sem reação, mas se aproxima do corpo frágil da amiga. — Eu te quero tanto, Brenda, tanto que você não tem ideia! M-Mas eu não sei se sou a melhor pessoa pra você...! — Cruza os braços, em um abraço consigo mesma.

— Melhor pessoa pra mim? Como assim, melhor pessoa pra mim? — Sorri bobo. — Zoe, você é sem dúvida a melhor pessoa pra mim! — Toca seus braços e os acaricia. — Desde o dia que eu criei coragem pra ir até você, e você veio com aqueles papos estranhos, eu sabia. Eu sabia que você era a melhor pessoa pra mim.

— M-Mesmo? — Pergunta insegura, fungando.

— Mesmo, mesmo — assente. — Se tem uma coisa que você não faz ideia, é o quanto eu já te queria.

Zoe cora. Brenda mantém seu sorriso bobo. Vendo a amiga sem resposta, ela ergue sua mão sobre o rosto perplexo da morena e passa seu polegar pela bochecha dela, limpando as lágrimas.

— Quando eu te vi emburradinha num canto da sala, com vergonha de sei lá o quê. Ou quando você dançava lindamente na minha frente, sem nem perceber o quanto eu te secava só de olhar. Ou quando você passou pela primeira vez pela porta do teatro olhando para todos os lados, procurando com quem falar, eu já te queria.

— Brenda, eu...

— Eu bati o olho em você e pensei, é com essa garota que eu vou me casar.

Zoe põe a mão sobre a boca, em choque. Suas lágrimas se tornaram mais desesperadas, e Brenda ria enquanto suas lágrimas também caíam. Lágrimas de emoção.

— Eu... Eu te... — seu choro a interrompe, mas Brenda já não queria ouvi-la. Com pressa, puxa Zoe pela cintura e a beija.

A praça estava vazia, o que parecia tornar o cenário ainda mais privado para ambas. Era um momento apenas delas.

— Zoe... — chama ofegante.

— Hm?

— Eu adorei o cabelo — e a beija novamente.

~ ♡ ~

Franz geme de sono, sentindo o peso das pernas de Leon entrelaçadas nas suas. Espreguiça-se e olha para frente, vendo seu marido dormindo do outro lado do sofá. Ele sorri com a cena fofa.

Senta-se e leva sua mão até o quadril do marido e o chacoalha para acordá-lo.

— Leon... Leon, acorda... — pede rouco e escuta ele resmungar. — Vamo pro quarto, já tá tarde...

— Eu quero ficar aqui... — franze a testa.

— Você vai acordar com dor amanhã, vamo... — acaricia a cintura do marido.

Leon se mantém invicto, fingindo que não era com ele, mas assusta-se quando a janela da cozinha abre subitamente por causa do vento.

— O-O que foi isso? — Leon levanta a cabeça, desnorteado.

— Eu... eu não sei... — Franz se levanta e vai até a cozinha. Leon, atrás, senta-se no sofá, receoso.

— E aí? — Pergunta vendo o marido parado na porta da cozinha.

— Leon... vem aqui... — pede sério. O ruivo arqueia a sobrancelha e se levanta do sofá.

— O que foi? — Para ao seu lado e presta atenção na janela, vendo a silhueta de alguma coisa no chão. Ele se aproxima e se agacha para agarrar a tal coisa.

— Não me diga que...

— É o celular da Zoe — responde sério, antes mesmo de Franz terminar de falar. — E você não vai acreditar no que tem escrito aqui — Franz aproxima-se dele.

Leon ergue o celular diante do marido, com a tela de bloqueio focada em uma notificação de mensagem. Era de Brenda. Uma mensagem enviada logo após um "Tudo bem".

"Zoe, você ainda vem, garota? Eu estou te esperando aqui. Você disse que era hoje às 22, sem falta. Não está me enganando, está?"

Leon se levanta e bloqueia a tela do celular da filha, guardando-o no bolso.

— Então a bonita fugiu? — Franz cruza os braços.

— Eu espero que ela esteja no quarto nesse exato momento! — Leon passa por Franz, irritado. Se tinha uma coisa que o tirava do sério era ser enganado.

Ele sube as escadas com Franz atrás. Vai em direção ao quarto da filha e abre a porta sem nenhuma preocupação.

O barulho repentino assusta Gael, que estava deitado na cama. Leon vai até ele tira a coberta de cima. Vendo que o volume que estava ao lado dele não era nada além de um amontoado de travesseiros e os cabelos de uma boneca antiga de Zoe.

— Gael, eu só vou perguntar uma vez — respira fundo —, onde está sua irmã?

Seus olhos verdes encararam seu filho com frieza, que gelou até sua espinha.

— Err... a Zoe...? — Sorri sem-graça.

— Não encoberte sua irmã, mocinho — Franz repreendeu da porta.

— O que significam essas mensagens, Gael? — Retira do bolso o celular de Zoe. O menino encara a tela e gela ao perceber que não daria mais para enganar seus pais.

~ ♤ ~

— Quando você saiu irritada da minha casa, foi por que eu te rejeitei? — Pergunta, sentada ao lado de Brenda no banco da praça.

— Eu sabia que você não obrigada a ficar comigo, mas não vou mentir dizendo que não fiquei frustrada — confessa. — Eu ia me desculpar com você, aliás. Não foi certo você achar que era obrigada a ficar comigo. Sei que dei essa impressão... Desculpa.

— Tudo bem, Bê — encosta a cabeça da garota em seu ombro. — Sabe, você é baixinha, mas tem uma boa pegada, hein? Meu soluço até passou!

Brenda gargalha.

— Obrigada, eu acho! — Ri, acariciando a bochecha da, agora, namorada. — Espero que não seja estranho pra você se eu começar a te chamar de amor a partir de agora.

— Err... — desvia o olhar. Ela passou a odiar ser chamada de amor depois do embuste que namorava antes. — Eu prefiro que você crie um apelido pra mim... — ri insossa.

— Oh... entendi... — lembra do porquê e das histórias que Zoe a contava. — Então eu vou te chamar de... — ergue o olhar para ir de encontro ao da garota. — Jóia.

— Joia? Por que joia?

— Não acha autoexplicativo, Zoe? — Revira os olhos. Ela cora. — Mas se preferir, eu posso criar outros apelidinhos pra você. Como como Ratinha, Mel, Pintinha, Piggy... — passou a listar uma série de apelidos que faziam referência a garota, enquanto a beijava.

Dessa vez, Zoe finalmente seria amada como merecia.

— Então eu vou criar alguns apelidinhos pra você também... — Sussurra perto do rosto da garota.

— Eu gosto de , lembra bebê também...

Bebê é cafona, Brenda! — Ri. — Mas enquanto eu não acho um melhor, vou agendar esse como seu contato — esfregou o nariz no da garota e buscou o celular na bolsa.

Passou a mão e não o achou. Vasculhou mais e nada dele. Zoe passa a encarar dentro da bolsa, com o desespero se aflorando.

— O que foi, Zozo? — Pergunta pouco assustada.

— Meu... meu celular... — ergue a bolsa e olha dentro dela — não tá aqui... Ah! Será que caiu enquanto eu vinha correndo pra cá?! — Levanta-se desesperada e começa a caminhar de um lado para o outro. — Não, não, não! Isso é um desastre, um desastre, um desastre, um desastre, um desastre!!

— Zozo, se acalma, não deve ter caído — fala de forma calma. — Pensa positivo, você deve ter deixado em casa.

Assim que Brenda fala isso, Zoe para. Sua ficha cai no mesmo instante.

O barulho de algo caindo quando eu estava passando pela janela... Era o meu celular...

— Brenda, eu preciso voltar pra casa! — Diz nervosa.

— Mas já? Por quê? — Levanta-se da cadeira.

— Meus pais vão descobrir que eu fugi de casa! Se não descobriram, né...

— Vixe! — Elas se encaram com certo pânico. — Eu te levo até em casa, vamos.

— Tá de moto, carro?

— Não, a gente vai de bike mesmo!

Zoe arregala os olhos.

— Esse vai ser nosso primeiro perrengue como casal, Jóia.

~ ♤ ~

Depois de vários quebra-molas atravessados da forma mais sofrida possível, elas finalmente chegaram na casa de Zoe. Brenda põe o pé no chão para parar a bicicleta. Zoe engole seco e desce.

— Boa sorte, Zozo — deseja a namorada, vendo-a nervosa.

— A janela tá aberta... — encara assustada. — Brenda, se eu não aparecer na escola amanhã, esse é o meu último adeus — beija a loira.

— Tchau, linda. Até amanhã.

Brenda dá a a volta e pedala para sua casa. Zoe a observar se distanciar e sumir de vista, logo voltando a encarar sua casa e a janela pela qual avisa passado antes, aberta. Seu rosto começa a ficar quente de vergonha, e caminha até a porta da frente de cabeça baixa.

Ao entrar, a casa estava com a mesma atmosfera de antes, mas agora parecia mais sombria. As luzes da sala estavam acesas, mas as da cozinha estavam apagadas. Como ela e Gael haviam deixado antes da fuga. A diferença é que seus pais já não estavam mais deitados no sofá, quem estava sentado nele era seu irmão, que a encarou com um olhar receoso de "você está encrencada".

Ela engoliu em seco novamente quando ouviu batuques na mesa da cozinha escura. Ela sabia que ia ter que caminhar até lá e dar de cara com seus pais furiosos.

A passos lentos Zoe vai até a porta da cozinha de cabeça baixa e para ali. De relance, olha para seus pais. Eles estavam sentados um do lado do outro, Leon de braços cruzados e Franz batucando com os dedos sobre a mesa.

— Oi, pai e... pai...

Sem respostas, Leon ergue o celular dela e o arrasta sobre a mesa, deixando ele próximo à cadeira que estava na frente deles. Era para Zoe sentar nela.

— Pode nos explicar que ideia foi essa? — Franz pergunta em um tom nada amigável. Seu olhar para ela era firme, o que a intimidou. Zoe ouviu Leon respirar fundo.

— Você foi encontrar a Brenda, Zoe? — Complementa o marido.

— Eu... eu fui... — desvia o olhar, mesmo que já não estivesse de encontro com os deles. Leon encara Franz, que passa a mão sobre o rosto.

— Mesmo depois de dizermos que não era pra você ir? — Franz para de batucar. Finalmente o som da morte havia parado. De forma estranha, o clima pareceu se tornar mais ameno e então ela tomou coragem para se sentar na cadeira a frente deles.

— Zoe, por que fez isso? — Leon pergunta tentando se manter calmo. — Você sabe como é perigoso sair a essa hora da noite? Sozinha? — Descruza os braços e os apoia sobre a mesa.

— Mas pai, o que eu poderia fazer? Eu precisava ver a Brenda!

— Afinal, que assunto era assim tão urgente ao ponto de você sair de casa fugida às dez horas da noite pra estar na rua?! — Franz soa mais agressivo.

— Eu... fui me...

— Zoe, sem mais mentiras — Leon adverte, acariciando o braço do marido para acalmá-lo, mesmo que ele não fosse nenhum perigo. Pelo menos, não para a situação.

— Eu fui me encontrar com a Brenda pra me reconciliar com ela! — Diz firme. Leon e Franz se encaram sem entender.

— Você tinha toda essa urgência por causa de uma briga? — Franz arqueia a sobrancelha.

— Ela tinha me pedido em namoro... e eu a rejeitei mesmo querendo muito estar com ela.

Franz se manteve firme, já Leon sente seu coração amolecer.

— Zoe, nós...

— Franz — chama o marido —, deixa... eu conversar com ela — pede com um olhar distante. — Você decidiu o que fazer depois das notas vermelhas dela, me deixe decidir o que fazer depois da fuga dela —  aperta sua mão. Mesmo hesitante, Franz concorda com a proposta e se levanta para fora da cozinha.

Há um silêncio constrangedor entre os segundos em que Franz sai e leva Gael para o andar de cima para conversar com ele também.

— Pai, em minha defesa você e o pai Franz já fizeram bem pior do que eu na juventude de vocês! — Tenta se defender.

— Isso não vem ao caso, Zoe. O que você fez foi perigoso. Muito perigoso. — Responde em um tom diferente do habitual, esse que a garota nunca havia experienciado. Era tão firme quanto o de seu pai Franz, ou pior. Talvez ele tenha aprendido bastante nesses mais de 20 anos com o marido. — O que contamos pra vocês não são exemplos, são histórias imprudentes e imaturas que vocês jamais devem repetir.

Zoe se envergonha.

— E se acontecesse alguma coisa com você? Hein? Se alguém tivesse te parado antes mesmo de você sequer estar perto de encontrar Brenda? Tem ideia da preocupação que nos causou fazendo isso? Em como iríamos ficar caso te acontecesse algo?

— Não, pai... — suspira. Ele fica em silêncio, mas logo volta a falar.

— Nem preciso dizer o quanto ficamos chateados de você ter mentido pra nós.

— Não, pai... — desvia o olhar. Leon põe a mão em sua têmpora e permanesse em silêncio.

— Pegue o celular, Zoe — diz. — Vá pro seu quarto. Durma bem.

Zoe fica em choque.

— O-O quê? Só isso? — Leon cruza os braços, confuso. — Não vai me castigar, nem nada?

— Na verdade... — revira os olhos, sorridente. — A faxina dos sábados NA CASA é sua por 1 mês, mocinha — dá língua para ela. — Acho que o susto que você tomou foi suficiente para aprender a lição.

— Ô! — Põe a mão sobre o peito, aliviada. — Mas e o pai Franz?

— Ah, deixa que com ele eu me resolvo — pisca para ela, com um sorriso sapeca. — Eu sei domar aquela fera.

Zoe ri e Leon a encara com amor.

— Não pense que seu pai está com raiva de você ou algo do tipo. Ele só está preocupado, e tem um jeito diferente de demonstrar isso — aperta a mão da filha. — Mas nunca mais minta para nós, Zoe. Senão, não é comigo que vai ter que lidar.

— Não precisa me ameaçar, senhor Leon — ela brinca, levantando-se. — E caso você queira saber, a gente se beijou, tá?

— Ela beija bem? —Sorri ladino.

— Tem uma pegada sen-sa-ci-o-nal! — Abana a mão na frente de seu rosto. Leon ri.

— Vai dormir, moleca! O namorico é só amanhã!

Zoe corre até seu pai e o abraça.

— Eu te amo, pai — ela diz docemente, com a voz infantil que antes possuía. O coração de Leon se enche de saudade de sua pequena menina. A pequena Zoe.

— Eu também te amo, filha — aperta mais o abraço, controlando-se para não chorar.

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Ariadney123 Bagunhao Yumie1312 nuko099 essa foi a fic mais longa que eu já escrevi na minha vida! Mais de 5 mil palavras, Deus! (Isso vai demorar pra ser corrigido depois, viu?)

Obs: Elya, se quiser se voluntariar pra escrever um hot dessas duas, é só entrar em contato, tá? porque não esperem esse tipo de coisa de mim kaakakak

Eu sou boa em ler, não em escrever (vergonhaaa)

Apreciem enquanto eu sumo porque precisarei estudar pra prova de física!! Me desejem sorte 🥲

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