Capítulo 3

Por um tempo, ele só ouvia seus sapatos esmagando as folhas secas e o canto dos pássaros que pareciam seguir uma melodia entre eles.

Hamish percebeu que Brigitte tentava ao máximo distraí-lo para que não ficasse apreensivo, ela contava histórias engraçadas que ela já passou, por ser uma fada muito desastrada, sua vida rendeu várias histórias hilárias.

A floresta, que tinha um ar mais encantador e mágico, deixou Hamish ainda mais encantado. Em seu íntimo, estava feliz em ver que sua crença era real, que desde sempre, ele estava certo.

Hamish, o Portador da Fé, estava onde seus sonhos lhe mostravam.

O rapaz sentiu um vento frio e angustiante bater em seu corpo, encarou a sua frente a escuridão que a floresta tinha. Ele podia ver a densidade, horror e angústia que o lugar transmitia.

Hamish assistiu Brigitte ser envolvida em luzes esverdeadas, onde em segundos, estava do tamanho de um ser humano, só com alguns centímetros a menos que Hamish. Ela sorriu para o rapaz e disse:

– Aqui é o Valley Deys, quando entrarmos vai estar muito escuro. Esteja atento, se mantenha perto de mim, tentarei nos proteger. E que a rainha Elanor esteja conosco. – Hamish engoliu em seco por sentir o pavor através do timbre da fada.

Há um passo de entrar na floresta escura, Brigitte juntou suas mãos e logo uma esfera fluorescente se formou, trazendo luminosidade o suficiente para se locomoverem na floresta.

  Silêncio torturante estava presente, Hamish podia sentir a angústia, terror e medo que essa floresta manifestava. Troncos de madeiras escurecidas, como se fossem consumidas por algo maligno, árvores secas com formatos estranhos. No chão, folhas como se estivessem queimadas, a cada passo eles ouviam seus pés torturarem as folhagens.

Hamish e Brigitte paralisaram ao ouvir um rugido ensurdecedor, havia ódio e rancor no som que ocupava a floresta.

– É um Deys! – ela expressou com seus olhos arregalados que Hamish conseguiu ver a cor verde que estava presente nas suas orbes através da luz da esfera.

Brigitte agarrou a mão de Hamish e com um impulso, os dois correram o mais rápido possível, eles pulavam os troncos envelhecidos, tentando ao máximo não cair para não perder tempo.

Hamish vivenciou seu coração bater freneticamente ao ouvir passos densos indo em direção a eles. Enquanto Brigitte liderava o caminho, Hamish desviava o olhar para o lado oposto, em um momento, viu a silhueta gigantesca e robusta, o terror invadiu seu corpo. Não demorou para ouvirem rangidos e passos pesados por todo lado, era insuportável estar na floresta com o alvoroço que os Deys estavam fazendo ao perceber a presença deles.

Hamish não aguentou, soltou a mão de Brigitte, levando rapidamente suas palmas para os ouvidos, suas pernas perderam forças caindo no chão molhados, cerrou os olhos tentando manter os sentidos.

Os gritos dos Deys se aproximavam, Brigitte se pôs a frente de Hamish, olhou para suas mãos e trouxe do seu âmago toda sua essência, luzes amareladas saiu de suas palmas. Olhou firmemente para frente trazendo toda coragem que lhe restava. Estava pronta para  proteger o portador da Fé com sua vida.

Estavam cercados, monstros enormes e corpulentos, pele cinza com a cor escarlate escorrendo como se estivessem feridas por todo o corpo, dentes amarelados que pareciam grandes espinhas de carpa, mãos e pés gigantes com unhas afiadas como espadas recém refinadas. Quanto mais eles se aproximavam, o cheiro de enxofre se misturava com o cheiro de terra molhada. Eram como demônios que existiam no mundo mágico.

A luz que a magia de Brigitte transmitia não era o suficiente para afastá-los, os Deys, com sua sensibilidade a luz, continuava se aproximando ao ver que a pequena luminosidade era insuficiente.

Hamish, por sua vez, conseguiu abrir seus olhos, enxergou Brigitte lutando, a fada lançando esferas e feixes de luz contra os monstros. Aquela fada, tão pequena em relação aos Deys, não aguentaria por muito tempo, eles estavam próximos.

O rapaz, com certa dificuldade, se levantou, sentindo uma angústia em ver Brigitte arriscar sua própria vida para salvá-lo. Ele não sabia o que fazer, vivenciando seu interior queimar, como se algo dentro dele quisesse transluzir naquele momento.

A urgência invadiu seu corpo quando viu como em câmera lenta a Brigitte cair no chão molhado, ela estava exausta. E os Deys, em poucos segundos chegariam perto e os matariam.

Hamish correu ao seu encontro, se ajoelhou tocando no rosto da fada a procura de algum resquício de consciência. Observou o corpo desfalecido da Brigitte com a pouca luminosidade que o ambiente se encontrava.

Os gritos dos Deys, que eram como o som de pessoas sendo torturadas, estava envolvendo os sentidos de Hamish, ele sentiu meu coração queimar, fechou os olhos vislumbrando visões de luzes incandescentes, como se dentro de seu ser estivesse a luz mais forte que alguém pode imaginar.

Ele vivenciou o cheiro forte de enxofre, os Deys estavam ao redor deles, podia senti-los ao seu lado, seus gemidos, murmúrios e zunidos, estavam prontos para atacá-los. Mas, Hamish estava tranquilo, algo estava acontecendo dentro de si para lhe causar calma, como se estivesse recebendo ajuda de algo que ele sabia que estava ao seu lado.

Os flashes de luzes que via explodiram em seu consciente, Hamish sentiu o calor o envolver, algo implacável e divino.

Ao abrir seus olhos, enxergou a completa luz intensa, cor prata resplandecente contornou toda a floresta. Hamish tornou a fechar seus olhos fortemente por não suportar os gritos torturantes dos Deys, pareciam estar carbonizando de tanta dor que seus gemidos transmitiam.

Hamish não sabia o que estava acontecendo, foi ele quem provocou essa luz? Estava morto? Não estava mais na floresta? Não sabia, ele só conseguia se concentrar em não desmaiar por causa dos gritos ensurdecedores dos Deys junto com o cheiro de pedra queimada.

O Portador da Fé não sabia quanto tempo aquela agonia aconteceu, somente se tranquilizou ao vislumbrar os gritos desaparecendo e a luz cessando.

Ele sorriu ao ver a floresta iluminada com a luz do sol, assistiu as árvores tomarem formas graciosas e folhas nascerem nelas, flores brotando no chão trazendo rapidamente borboletas para flutuar no ambiente. Não havia mais ódio, terror ou medo na floresta, os Deys foram derrotados com algo que nem o Hamish sabia explicar.

Ele sentiu a tranquilidade e magia que a floresta agora exalava.

Sua atenção foi para Brigitte, seus pequenos olhos foram se abrindo lentamente, como se fosse a coisa mais difícil do mundo. Ela sorriu para Hamish ao se deparar com seus olhos negros.

– Eu senti, Hamish. Senti sua fé. – a fada balbuciou.

– Você nos salvou, Hamish. – uma voz feminina e suave alcançou seus sentidos. Brigitte apertou os lábios erguendo seu corpo com a ajuda de Hamish.

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