vs Fukurodani
Fukurodani realmente sabia criar uma atmosfera, daria esse mérito a eles, porém a Nekoma por estar jogando em casa não estava em tanta desvantagem. A capitã de torcida Akane, irmã de Taketora, estava logo na primeira fileira puxando o coro para deixar nossos jogadores mais motivados.
Os garotos se reuniram no centro da quadra para se cumprimentarem e os respectivos times retornaram para seus treinadores para receberem algumas orientações finais e no caso da Nekoma, para o desespero de Kenma. Seguir com o ritual pré-jogo.
— Somos como o sangue em nossas veias. Fluímos sem parar, mantendo o oxigênio se movendo e o cérebro trabalhando.
A verdade sobre esse jogo é que se Bokuto entrar no ritmo certo, ninguém segura ele. Sabemos que ele está entre os cinco melhores Aces do país, mas quando a inspiração bate ele pode até passar isso.
Em quadra os jogadores se organizaram um pouco diferente do que o de costume, na rede da esquerda para direita a ordem era Tetsurou, Kai, Yamamoto, e na linha de fundo Fukunaga, Kenma no meio e Lev na posição de saque na rotação com Yaku. O saque estava com as corujas, como esperado eles não pouparam força, Yaku se adiantou fazendo um passe limpo conseguindo uma boa sequência para Kenma e Tetsu atacar pelo meio o conquistar o primeiro ponto.
Os jogadores rodaram e Tora foi para o saque, Fukurodani fez a recepção e armou o contra-ataque rapidamente. Akaashi e Bokuto estavam na rotação da frente uma vez que ambos começaram o jogo na rede. Mesmo olhando de fora, os conhecendo, o primeiro ataque do jogo viria pela mão de Bokuto, todos sabíamos isso.
Kai e o capitão subiram para fazer a contenção, mas o ataque foi tão forte que desviou no bloqueio e então foi parar nas mãos de Akane na arquibancada.
No banco, ao lado de Naoi e do treinador Nekomata, me inclinei para frente. — Eu sabia que ele ia estar animado, mas isso chega a ser ridículo.
— Bokuto tende a nos impressionar sempre — Naoi respondeu com um tom de voz que não soube identificar se era positivo ou negativo.
Da quadra percebi Kenma me olhando com uma careta, provavelmente se lembrando da minha projeção. Erguia as mãos respondendo gestualmente que a culpa não era minha, o levantador respirou fundo e voltou a sua expressão padrão de pensamento. Tomar um ponto como esse, que inflama a torcida adversária, é chamativo e gera confiança, é potencialmente problemático.
Contudo, nesse caso é exatamente o que estávamos esperando. Se sabemos como eles agem, é mais fácil adequar o ritmo para contra-atacar, ainda que seja no chão e não no ar.
Yaku é uma peça central para a estratégia e para o time, nos momentos em que ele estava em quadra podia neutralizar Bokuto impedindo ele de marcar como bemquisesse. Claro, sem desmerecer o bloqueio que estava deliberadamente controlando as trajetórias da bola, abrindo o caminho para a recepção.
O jogo progrediu, em certo momento, quando o placar estava 18 para a Fukurodani e 14 para a Nekoma treinador pediu o primeiro tempo técnico.
— Bokuto está em sua melhor forma hoje — Kenma comentou.
— Isso é óbvio — Tora retrucou ganhando um olhar raivoso prontamente ignorado.
Entreguei uma garrafa para o líbero escutando os garotos continuarem a ponderar.
— Ele está especialmente bem na paralela hoje e está bastante consciente de Yaku na diagonal. — disse o levantador.
Kai, que trabalhou ativamente no bloqueio, completou — Estamos nos fechando para fechar a diagonal, devemos fechar a paralela?
— Talvez — Kenma respondeu num tom assustadoramente baixo —, mas vamos deixar o Bokuto ficar um pouco mais confortável com as paralelas.
Um arrepio subiu a minha espinha, eu esperava que o segundanista viria com uma solução, mas não imaginei que fosse essa. De repente o caminho que ele tinha aberto e estava acostumado a tomar se fechou, a defesa completa da Nekoma estava pronta para reagir a qualquer momento.
Ou quase isso.
Precisei cobrir os olhos quando Lev entrou na quadra e errou o tempo do corte, fazendo com que a bola caísse em sua cabeça. Fukunaga ainda tentou salvar, mas não foi o suficiente, pressionei os lábios juntos para não rir. A animação dele às vezes tirava o seu melhor.
— Pelo menos se fosse futebol, seria uma boa jogada — coloquei a mão no ombro do garoto.
— Calli-senpai! — reclamou ficando levemente vermelho.
— Não se afobe Lev, o time joga com seis — disse e passei recolhendo as garrafas. Depois que eu me afastei, vi Kenma se aproximando, provavelmente recitando o mesmo mantra de sempre.
— Ele mereceu essa — comentou o capitão quando passei perto dele.
— Mas mesmo assim já está sendo mais lembrado no jogo que você — alfinetei e saí andando. Era uma estratégia do bloqueio, mas agora que Kenma deu a permissão para inverter, não fazia mal algum dar um incentivo.
Nos recuperamos no fim, mas não foi o suficiente para virar e talvez nem fosse o objetivo do grupo em quadra. A Fukurodani saiu na frente levando o primeiro set de 25 a 21.
— Parece que nossa defesa está se firmando, como planejado. De agora em diante, é um teste de força de vontade. — Nekomata-sensei se levantou para dar aos garotos algumas palavras. — E vocês têm força de vontade de sobra, né?
O grupo estava bem alinhado, mas um deles parecia estar conflitante. Lev sempre foi falante, mesmo nos intervalos, agora sustentava uma feição pensativa que lhe parecia estranha. Não era frustração pelos erros, parecia algo a mais.
A defesa se solidificou para o segundo set, a armadilha que eles montaram estava funcionando. Bokuto se tornou consciente demais sobre a recepção feita no chão que esqueceu que o bloqueio também faz parte dela.
Respirei alto — E de certa forma admirável o que a Fukurodani faz com o Bokuto, é um jogador excepcional, mas com seus defeitos, se é que podemos chamar disso. Se ele não tivesse todos os outros jogadores o apoiando e entendendo todas essas nuances, seria um time bem diferente. Pensamos que encurralar o Ace seria o suficiente, mas todos eles eram bons e o principal, sabiam lidar com o Bokuto de todas as formas.
No fim, depois do milagre da recuperação, a Fukurodani também ganhou o segundo set, dessa vez de 30 a 28.
— Temos que parabenizar o trabalho do Akaashi — treinador colocou em voz os meus próprios pensamentos. — Conseguiu fazer o Bokuto se recuperar no jogo.
Quem não se recuperou foi Lev, depois de cumprimentar nossos adversários e sair das quadras para aguardar o segundo jogo do dia, o garoto se sentou num banco completamente decepcionado por sua partida.
— Eu... Eu devia estar acertando várias cortadas, bloqueando várias bolas e recebendo vários aplausos e gritos da plateia!
Me escondi atrás de Tetsurou e apoiei a cabeça em suas costas, ele não precisava me ver rindo.
— Sabe, não dá para odiar esse seu jeito sincero e meio palerma — o capitão comentou.
— Sei que a Nekoma é um time que depende muito de trabalho em equipe e que eu não devia fazer nada para acabar com esse equilíbrio.
Me inclinei para o lado — Bom, pensar nisso já é um grande passo para evolução.
Lev levantou a cabeça para mim, saí detrás do meu namorado e me sentei ao seu lado.
— Ficar frustrado não é algo ruim, geralmente é o que faz a gente melhorar. Mas ela sozinha não adianta nada, o time sabe como você é e age Lev. Mas você sabe? — questionei. — Kenma te deu uma bronca no meio da partida, não deu? Quantas vezes você já ouviu ela?
O garoto voltou a abaixar a cabeça — Algumas...
Coloquei a mão em suas costas e bati numa forma de conforto — Não estou falando isso para te deixar mal, mas seus colegas de time vão ter uma visão diferente de você que pode ajudar a moldar a sua melhor versão. Só que você precisa escutar.
— É algo bem importante mesmo. Jogar em equipe é complicado — o capitão tomou o fim da minha fala e continuou —, trabalhar com outras pessoas pode ser bem difícil, às vezes. Mas eu não acho que o prego que se destaca tem que ser martelado.
A confusão no rosto de Lev foi clara, então ele tentou se explicar. — Como eu posso dizer... Quando o trabalho em equipe começar a dar certo, vai ser muito mais recompensador do que você pode imaginar.
Bati mais uma vez nas costas do mais novo, como conforto. — Vá comer alguma coisa, vai te deixar melhor. Ficar sozinho também não ajuda muito nessas horas.
Em poucos segundos me vi sozinha com o capitão novamente, ele respirou pela boca e se sentou do meu lado.
— De repente parece que temos um filho na fase rebelde.
Alcancei sua mão entrelaçando nossos dedos — Não deixa de ser mais uma criança para cuidar, mas falou bem.
— Agi como um capitão dessa vez? Ou vai me dar outra bronca?
Tetsurou virou a cabeça para me olhar nos olhos, as lembranças daquela briga depois da Nekoma perder para a Itachiyama voltando a mente em pedaços.
— Dessa vez não — deitei em seu ombro — só um feedback. Pode usar ditados que pessoas com menos de cinquenta anos vão entender, essa do martelo até eu não entendi.
Ele riu alto e se inclinou, deixando um beijo carinhoso na minha têmpora.
— Vou me lembrar disso.
N/A: Obrigada por ler até aqui!!
Até mais, Xx!
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