No momento em que pisei em quadra com o time, todo o entorno deixou de ser importante. Meu foco estava nos jogadores e nos adversários.

Enquanto na lateral tomei um momento para observar a Escola Mokami, nos relatórios colocamos como característica principal a movimentação e a defesa, aproveitam as falhas dos adversários para atacar e tem uma excelente capacidade de reação para lidar com os próprios erros.

O apito soou indicando que o tempo de aquecimento em quadra acabou, os garotos se organizaram uma última vez para receber orientações. Geralmente Nekomata-sensei deixa que eles se organizem sozinhos, então dessa vez não foi diferente.

— Vamos precisar nos apoiar bastante na defesa, não vamos esperar os adversários abrirem pontos de vantagem para começar a agir.

— Sabemos que eles se movimentam, limitem as trajetórias o máximo que der.

O capitão colocou a mão na frente deles, o levantador imediatamente fez uma careta, mas acabou acompanhando o grupo, então o capitão recitou palavras bem conhecidas pelo time

— Somos como o sangue em nossas veias. Fluímos sem parar, mantendo o oxigênio se movendo e o cérebro trabalhando.

— Bom jogo — levantei a mão para os titulares iniciais baterem antes de entrar em quadra —, mantenham a calma e vão encontrar o caminho.

Respirei fundo e soltei os ombros, eles não precisavam do meu nervosismo adicionando ao deles.

Nekoma iria receber enquanto a escola Mokami escolheu sacar, não conhecia com muita profundidade os jogadores. Os vi pela primeira vez durante a pesquisa, nenhum deles parecia se destacar individualmente, mas assim como nosso time, conseguem fazer sua força em grupo.

O apito soou dando início ao jogo, o primeiro saque veio forte, porém Yaku fez uma sólida recepção dando a chance de Tora marcar o primeiro ponto do jogo. É a primeira vez que eles entram num jogo oficial com a formação definida depois dos acampamentos.

Na linha da frente, próximo à rede, da direita para a esquerda estava Taketora, Kai e Tetsurou, na linha do fundo Lev na rotação com Yaku, Kenma e Fukunaga.

Tora foi para o saque depois do primeiro ponto marcado, os adversários receberam e deram sequência pelo meio, encontrando mais uma vez o deus guardião da Nekoma e sendo impedidos de marcar um ponto. Dessa vez Kenma escolheu o capitão para marcar.

Conforme o primeiro set foi seguindo e as jogadas feitas, o que começou com uma vantagem foi lentamente virando. O bebê russo era o maior alvo deles, inegavelmente, uma vez que apesar de estar melhorando, ainda é o elo mais fraco do time. Os levantamentos eram em sua maioria longos, muitas vezes atravessando a quadra, ganhando nesse tempo de reação a vantagem para atacar.

Até os vinte pontos a Nekoma conseguiu segurar o placar, mas depois disso as coisas ficaram um pouco complicadas.

Após um saque nosso, a Mokami usou pela primeira vez um passe curto pelo meio, tirando os garotos do ritmo. Todos os ataques que eram longos, e por consequência lentos, se transformaram em ataques e contra-ataques rápidos e compactos. Nossa vantagem sumiu, e o placar se igualou.

Foi então que pedimos tempo pela primeira vez.

— Sabíamos que seria assim, mas é muito mais irritante do que eu esperava — Yaku reclamou aceitando a toalha das minhas mãos.

— Conseguimos segurar bem o jogo — Kai comentou —, falta pouco para levar o set.

Tora estava com uma cara irritada — Tsc, não entendo porque de repente eles mudaram.

— Provavelmente foi uma estratégia de cadência — comentei estendendo uma garrafa para ele —, até agora eles estavam com um ritmo. Querendo ou não, vocês se acostumaram a isso, eles mudando de repente faz vocês terem que se adaptar de novo.

— Estão querendo controlar o ritmo de jogo, usar nossa confusão para marcar os últimos pontos. Um time normal levaria algumas jogadas para se recuperar — Kenma completou —, considerando que estamos no final de set, a probabilidade de se desesperar e perder os pontos é maior.

— É verdadeiramente uma estratégia de caça, para encurralar e não dar tempo de fugir.

Confesso que é uma boa estratégia, porém eles não estudaram a Nekoma o suficiente para ser completamente efetiva. Eles conseguiram alguns pontos em sequência para se igualar no placar, contudo, o grupo de vermelho também estava acostumado a jogar com outros times com ritmos completamente variáveis.

Fukurodani sempre muda quando Bokuto tem seus momentos, o mesmo para a Karasuno que nem ritmo têm. A Nekoma tem jogadores que não se deixam levar pela pressão, e aqueles que têm plena confiança em suas habilidades e também mantém a quadra fria, sem cair nas armadilhas de tempo.

Supor que o time dos gatos já estava preso, foi o maior erro dos adversários. No fim levamos o primeiro set de 27 a 25.

Para o segundo a escola Mokami já voltou com uma postura diferente, agora muito mais parecida com o que tínhamos em relatórios. Agressivo desde o começo, marcando jogadores para explorar nas falhas e usando muitos ataques abertos e pelas laterais.

É um pouco difícil dizer que mantivemos a superioridade no segundo set, diferente da primeira metade do primeiro, os times estavam pareados e sem abrir grandes vantagens. Grande mérito disso é dedicado a nossa sólida defesa, odiaria ter que dizer em voz alta, mas Yaku e Tetsu estavam fazendo uma partida excepcional.

Ambos pareciam livres, de certa forma, o líbero mais ainda devido a sua confiança e ego desmedido. Justificado pelo nível de sua habilidade, é claro. Sobre o capitão, quando na rede conseguia bons bloqueios, matando a jogada ali mesmo ou ganhando tempo para quem estava na linha de fundo armar o contra-ataque. Já no fundo, ele fazia um papel fundamental nas recepções, visto que Yaku não estava em quadra.

Kenma também parecia tranquilo, coordenando o time silenciosamente e moldando as jogadas.

— É um pouco impressionante para mim — comentei em voz alta —, estou acostumada com times barulhentos e jogadores mais ainda. Ver Kenma controlando as jogadas com o mínimo de esforço físico e verbal, é de certa forma hipnotizante.

Naoi riu com a minha fala — Realmente é, não é mesmo? Kenma é um ótimo levantador, do jeito dele.

Nekomata deu um resmungo em concordância — Kenma tem seu próprio jeito de lutar, mesmo que ele comece a se perder, os outros jogadores vão ajudar o manter no caminho certo.

Felizmente não foi o caso para esse jogo, o placar avançou rapidamente, por conta dos adversários já começarem o set num ritmo mais frenético, o conquistar de pontos também seguiu da mesma maneira. Novamente os times estavam empatados nos pontos finais.

A Nekoma tentando finalizar o jogo ali mesmo e a escola Mokami tentando levar a decisão para um terceiro set. O placar estava 23 a 24 e o saque na nossa mão, os adversários receberam e fizeram um ataque pelo meio, um pouco desengonçado que fez a bola fazer uma trajetória reta na direção de Tora. O jogador estava um pouco avançado demais, fazendo uma recepção com os antebraços, evitando que a bola fosse direto em seu rosto.

A disputa veio na rede, Kuroo perdeu no confronto direto, contudo a Nekoma ainda não deixava a bola cair no chão. O contra-ataque começou buscando o match-point, Kenma se posicionou e o levantamento feito foi tão fluido que no meio do caminho eu já conseguia saber que o ponto, e a vitória, seria nossa.

O apito ecoou marcando o final do jogo, e a primeira vitória do Colégio Nekoma rumo ao Torneio Nacional de Primavera.

Comemorei com os treinadores, sabendo que esse sentimento seria passageiro. Uma vez que o próximo jogo acontece amanhã. A distribuição de jogos é um pouco peculiar, o primeiro dia possui apenas uma partida, visto a quantidade de times participando. A partir do segundo passamos a ter dois adversários e assim segue até as qualificatórias.

— Muito bem — o treinador se levantou sorrindo —, vocês fizeram um bom jogo. Sólido e consistente, espero que tenha servido para aliviar as preocupações e medos.

Após agradecer o treinador, o capitão levou o time em direção à torcida. Puxando também um agradecimento pelo apoio durante o jogo. Como de costume, Akane, a irmã mais nova de Tora, estava na frente de todos com um megafone. Alisa também estava ali para apoiar o Levochka.

Entre os torcedores consegui ver Aoi, essa estava ao lado dos meus pais e Nico. O pequeno ainda não assistira nenhuma partida ao vivo depois que chegamos ao Japão, como hoje era apenas um jogo meus pais achavam que era uma boa oportunidade de testar. Se ele ficasse bem, poderia vir aos próximos sem grandes problemas.

Meu pai segurava ele no colo e quando me viu acenou animadamente, fiz um sinal para eles descerem até a saída dos jogadores, era um bom momento para apresentar Nico para o resto do time.

Após recolher os equipamentos e sair da quadra, os jogadores ficaram mais livres. Eles tinham a opção de ir embora, contudo eles escolheram ficar mais um tempo para ver a primeira partida do masculino da Fukurodani, só depois iríamos embora.

— Não acredito que meus pais te deixaram de babá — me aproximei de Aoi que parecia muito feliz de estar segurando a mão de Nico.

— Eles foram comer e acredite, eu não estou reclamando nem um pouco — minha amiga era mais uma integrante do fã-clube do meu irmãozinho.

Me abaixei para ficar na altura dele — Gostou?

— Sim, é muito legal — Nico deu pulinhos, fazendo os seus cabelos também balançarem.

Coloquei a mão em sua cabeça — Vou te apresentar os jogadores.

Ele trocou de segurar a mão de Aoi para segurar a minha, seus olhos brilhando de maravilhamento. Minha amiga colocou as mãos no rosto.

— É possível morrer de fofura?

Dei risada — Provavelmente não.

Os garotos estavam reunidos um pouco depois da saída fazendo uma reunião rápida sobre o jogo quando eu me aproximei com os dois visitantes.

— Aoi-chan e... — Yaku parou — Nico?

Meu irmão pareceu achar o máximo que o líbero sabia o nome dele, o segurei pelos ombros — Pessoal, esse é meu irmãozinho Nico, ele estava torcendo pela Nekoma no jogo de hoje.

Como ensinado na escola, ele se curvou para frente — Sou Nico D'Calligari, é um prazer conhecer vocês.

Em seguida, ele olhou para mim pedindo uma aprovação e eu apenas afaguei seus cabelos sorrindo. O líbero foi o primeiro a se aproximar.

— Oh, escutamos muito de você. Eu sou Morisuke Yaku o-

— Líbero! — meu irmão completou — Minha irmã me disse sobre todos vocês.

Um a um Nico apontou nomes e posições, ele de fato me pediu para falar quem eram os jogadores do time além de Tetsurou e Kenma, mas não achei que ele realmente estava prestando atenção e decorando.

Tora parecia ter os ombros relaxados e uma expressão considerada suave no rosto — Por algum motivo o meu coração está quentinho.

— Sim — Kai concordou —, esse é o sentimento.

— Então, Nico, quem você achou mais legal na partida hoje? — Yaku perguntou.

Fiz uma careta, mas deixei que o líbero do ego grande quebrasse a cara.

— Tekkun! — respondeu prontamente olhando para o capitão.

— Kuroo? — o líbero se virou — Aquele cara?

Nico concordou fechando as mãos em punhos — Bloqueios na rede são os mais legais.

Aoi apoiou no meu ombro recebendo um golpe de fofura.

— Mas e as minhas defesas? Não foram WOW — tentou argumentar.

— Sim! — Nico concordou — Mas Tekkun é o meu favorito. Mas não é por causa das meias, eu ia gostar mesmo sem elas.

Confiantemente, o capitão de aproximou empurrando Yaku — Pare de tentar roubar meu fã.

Tetsurou se abaixou e pegou o pequeno no colo — No próximo jogo vou te mostrar jogadas ainda mais legais.

— Verdade?

O capitão fez que sim com a cabeça e estendeu o dedo mindinho para Nico — É uma promessa, então continue me achando o mais legal.

— Isso é trapaça — reclamou o líbero.

— Quando você for o favorito de alguém, voltamos a conversar.

Balancei a cabeça, de repente todos eles estavam tentando roubar a atenção do meu irmão. Aconteceu na Itália com as garotas do meu time, e agora com eles. Enquanto Nico estivesse se divertindo, não tinha problema.

Nosso primeiro dia de participação terminou com sorrisos, agora é esperar que eles se mantenham. No fim, o problema estava em mim, que duvidou por um momento dos garotos e suas habilidades. Para eles, o caminho estava definido desde o começo e acabava sempre da mesma forma.

Com a vitória.

N/A: Está aí, o primeiro jogo da Nekoma. Uma narração técnica mediana, como eu comentei os principais jogos deles são os últimos. Então vamos passar de uma maneira mais leve pelos outros. Pra não ficar aquela coisa pesadona. 

Tive uma realização essa semana, seria lindo se o Nico carregasse o legado da [Nome] sendo um jogador da seleção. Nesse caso acho que ele escolheria a Itália para jogar. Não sei, foi um devaneio que eu tive esses dias.

Obrigada por ler até aqui

Até a próxima, Xx!!