Volta dos que não foram



— Calli-chan, está nos esperando?

Poderia dizer que sim, mas para não dar o gosto da vitória a Salém diria que apenas parei para amarrar meus cadarços, travei o sorriso nos dentes antes de dar um nó em meu sapato e levantar completamente inexpressiva para encarar a dupla.

— Desculpe quem é você? Apenas parei para amarrar meus sapatos. É seu amigo Kenma? — me direcionei ao levantador. O segundo anista parecia mais cansado do que nunca, acho que apenas um dia para se recuperar da semana de treinamento não foi o suficiente.

O levantador apenas resmungou em resposta, e não sendo uma resposta satisfatória, Kuroo começou a reclamar que ele precisava de novos amigos. No fim seguimos andando para a estação conversando sobre e a semana de treinamento.

— O melhor jogo sem dúvidas foi contra a Karasuno, eles tem um baixinho impressionante.

Resmunguei ajustando a alça da bolsa — Impressionante como?

— Shoyou consegue pular — Kenma explicou —, apesar de ser abaixo da média em todos os movimentos básicos. O levantador da Karasuno parece mandar a bola sempre para o local exato, ele corta de olhos fechados.

— Bom alguns levantadores... Espera, de olhos fechados? Como isso? — parei na plataforma da estação olhando para Kenma.

— Simples querida gerente — nesse momento mãos cobriram meus olhos —, desse jeito. Imagine balançar o braço para cortar e a bola estar exatamente na posição certa.

Senti o garoto bater nas minhas costas, as mãos que cobriam meus olhos estavam quentes e seu rosto perto considerando como sua voz soou próxima. Levantei o braço, mas não para tirar suas mãos, mas sim para testar um movimento de corte.

— Não preciso presenciar para saber ser difícil, confiança mútua é a chave. Saber que a bola vai chegar e que o atacante estará lá.

Só então peguei a mão de Kuroo e a puxei do meu rosto, virei para o capitão atrás de mim. — Como quebraram o ritmo?

O moreno ficou em silêncio por um segundo, seus olhos fixos nos meus e passando pelo meu rosto em seguida. Cerrei os olhos confusa, porém sorri em seguida, Kuroo estava olhando minha boca, não estava? O garoto limpou a garganta e soltou a mão da minha levantando até o pescoço em seguida, abaixando a cabeça.

— Inuoka conseguiu alinhar o tempo, e o time segurou nas recepções. — disse colocando um passo de distância entre nós.

— Kuroo também fez um bom trabalho pontuando — Kenma olhou para o amigo estranhando sua humildade repentina.

A conversa foi interrompida pelo trem que chegou, entrei junto da dupla e como de costume não tinha lugares para se sentar. Numa rápida olhada vi que os garotos problemáticos que pegavam o transporte também nesse horário estavam no fundo. Nos dias que vim sozinha, peguei um horário mais cedo para os evitar, sabia que os ter por perto não é uma boa ideia.

Segurei na barra, tendo Kuroo entre eu e Kenma.

— Mal posso esperar para ver as estatísticas, tenho certeza que Naoi anotou para mim.

— Então é por isso que ele esteve com a prancheta o tempo todo — o mais novo guardou o videogame, já que de pé num trem não parece ser uma boa ideia deixar as mãos ocupadas.

— Sim, pedi para ele me ajudar, já que fiquei. — As portas apitaram avisando que iriam fechar e em seguida começamos a nos mover. — A propósito, Kenma jogou com Fideo? Ele me disse que vocês tinham alguns gostos em comum.

— Sim, ele é um bom 'camper'. Subimos alguns níveis jogando junto, ele vai entrar na minha guilda em outro jogo, precisamos de um mago com especialidades, ele tem bons escudos vai ajudar.

— Que bom, talvez eu entre um dia para jogar com vocês. Mas não vale ficar bravos comigo, eu só sei apontar e atirar.

— Você joga? Me passa sua 'tag', criar um clã com pessoas conhecidas ajuda a fazer missões e ganhar itens especiais mais rápido. Mesmo que não seja tão boa, os pontos se equivalem e o grupo se beneficia.

— Isso, conversem e me deixem de fora. Querem que eu mude de lugar? — Kuroo perguntou, ácido.

— Não, está bem aí. Baixe o jogo também, assim não precisa se sentir excluído.

— Ele é ruim — Kenma explanou e eu ri —, já tentei ensinar. Kuroo usa toda a coordenação motora dele para jogar vôlei.

O moreno se virou para o amigo — Foi uma vez, você também não fez o melhor trabalho explicando.

— Não acho que precise de um manual de regras para entender que precisa atirar nos NPC's e não no céu.

O trem de repente teve uma parada brusca, eu que virei para provocar Kuroo acabei dando de frente com seu ombro. Algumas pessoas chegaram a cair, e reclamar em seguida imaginando o que havia acontecido com o transporte.

Coloquei a mão no nariz e o mexi — Não precisava me agredir Salem.

— Não brinque com isso, é mais fácil você me bater e eu ficar parado — ele também esfregou o braço onde o acertei.

— Novamente revelando seus desejos mais sombrios capitão. Sua reputação está caindo cada vez mais — afastei a mão e me inclinei na tentativa de ver algo do lado de fora. — O trem parou.

— Verdade gênio? Se não falasse não ia perceber.

Travei o maxilar — Estou pensando alto, não foi um comentário para você. Não adianta ficar todo 'mau-educadinho' só porque sua provocação não tem efeito em mim rei.

— Não estou princesa — retrucou —, e não precisa ficar envergonhada por observar o óbvio.

— Kenma não tem mais nenhum programa de treinamento? Algum que dure mais de um mês? — me inclinei para olhar o levantador.

— Não.

Voltei meu olhar para Kuroo — É uma pena.

No canto do olho reparei na movimentação no fundo do vagão, os encrenqueiros estavam se movimentando entre as pessoas e vindo em nossa direção. Não fazia sentido, o trem estava parado e tinha uma porta próxima deles.

O moreno fez menção de virar o rosto, e isso não seria bom. Impedi levantando a minha mão e segurando seu rosto, dizendo baixo um "não".

— O que foi? — questionou num sussurro pelo reflexo do vidro vi Kenma olhando pelo canto de olho.

— Os garotos daquela escola estão se movendo — disse, seu rosto se fechou e usando também do truque do reflexo na janela ele espiou.

— Isso é um problema — Kuroo soltou a mão do metal e colocou na base das minhas costas me puxando para perto, assim como da outra vez se posicionando de maneira protetora atrás de mim.

Me pergunto o que ele já viu acontecer para sua guarda se erguer tanto.

Um apito soou e o trem começou a se mover, provavelmente teríamos que correr se quiséssemos entrar na primeira aula. Coisa que não tinha condições de fazer por conta da minha perna.

Mantive o olhar par frente quando os garotos passaram atrás de nós, faltavam duas estações para precisarmos descer. De alguma forma estávamos cercados por eles, até mesmo Kenma tinha dois dos garotos parados atrás dele.

— Hum... Você me parece familiar altão. Já nos encontramos antes?

Merda.

— Acredito que não — Kuroo vestiu sua máscara de rei da provocação e sorriu —, iria me lembrar se tivesse. Atletas tem uma boa memória.

O cara estava encostado ao lado das portas automáticas, então estava quase de frente para nós. Pela primeira vez vi seu rosto com nitidez, e não me orgulho, minha vida seria mais feliz se não tivesse tal imagem gravada em meu cérebro.

Suas bochechas eram caídas, a pele oleosa e suja como se estivesse alguns dias sem tomar banho, havia manchas em seu uniforme que eu sequer me permito imaginar do que seja.

— Engraçado, você me lembra alguém que me deu um pouco de problema ano passado. — Seus olhos então se voltaram para mim, me despindo com os olhos de maneira nojenta, Kuroo ainda tinha a mão em minha cintura e a apertou de leve quando percebeu a reação asquerosa dos problemáticos.

— Não é possível, deve estar me confundindo.

— Entendo.

Nossa estação chegou e enfim descemos, eles ficaram nos encarando até a plataforma. Foi então que puxei Kuroo de frente segurando seu rosto entre minhas mãos.

— Desculpe e não se anime demais — o puxei em minha direção quase encostando sua boca na minha, teria o feito se meus dedões não estivem na frente. Era só uma encenação, não tinha necessidade de ir, além disso, aproveitei para ver dentro do vagão. Estavam realmente nos observando.

O afastei e sorri como uma falsa namorada encantada — Ah, estamos com um grande problema, Salem.

Quando olhei para seu rosto com atenção, toda sua face estava vermelha, e seus olhos arregalados. Meus dedos ainda estavam sobre seus lábios, o ter em minhas mãos daquela maneira e não aproveitar seria um desperdício. Corri os dedos por sua boca estendendo o toque por sua bochecha até chegar nos fios de cabelos escuros.

— Se recomponha capitão, eu só queria uma desculpa para olhar para trás. — puxei sua orelha e dei risada me afastando em seguida. Isso pareceu tirar Kuroo do transe, pois ele vestiu uma feição séria.

— Você é realmente cruel Calli-chan o que vai fazer se eu me apaixonar de verdade por você?

— Quem sabe — dei de ombros evitando dar uma resposta —, o que ele quis dizer com problema no ano passado?

Depois do que pareceu ser um suspiro longo, Kuroo voltou a falar — Houve muitos casos de abuso durante o ano passado, alguns policiais começaram a circular nos trens. Presenciamos uma dessas situações.

— Kuroo colocou o pé na hora que o cara correu e a polícia acabou de levar ele, não sabemos o que aconteceu depois, mas não parece ter sido muito.

Explica a proteção, sorri — Até que você parece ser um cara legal, às vezes.

— Sempre sou um cara legal.




- ͙۪۪̥˚┊❛ [ EXTRA 05❜┊ Pobre Alice˚ ͙۪۪̥◌




N/A: Ihhhhh, o que sera que a coisinha aprontou? E o casal que não é casal, mas vai ser casal? Kuroo todo desconfigurado error 404, hahahaha. A italiana sabe bem jogar com as armas que tem.

Até a próxima! Xx

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