Realeza
Com um suspiro pesado fechei a mala e coloquei a mochila no ombro, Matteo se ofereceu para me levar até o aeroporto. Porém, antes disso, tinha outra parte a ser cumprida, as despedidas. Após a comemoração da vitória do jogo o assunto foi momentaneamente esquecido, mas agora é um pouco diferente.
Olhei uma última vez para o quarto que me abrigou durante todos esses anos. As noites acordadas pensando nos jogos, a marca de respingos na parede de quando uma caneta estourou na minha mão enquanto revisando táticas de jogo e as pequenas estrelas escondidas atrás da porta e que brilhavam no escuro.
Fechei a porta com um desejo em mente, que a próxima pessoa a usar aquele quarto pudesse ser tornar alguém muito melhor do que fui.
Quando cheguei no saguão, o time inteiro e os funcionários estavam presentes. Até mesmo o vice-presidente da federação. Não pude evitar fazer uma careta.
— Parece que estou indo para o meu enterro, parem com essas caras.
O time riu e se soltou um pouco. Matteo levantou a mão para os cabelos, uma visível cara de sono no rosto.
— Foi o que eu disse, mas aparentemente é necessária uma despedida formar dessa maneira.
Nesse momento levantei a mão e acenei — Adeus.
Embora eu estivesse brincando, sabia o que ele queria dizer, então coloquei a mochila apoiada na mala e então observei o vice-presidente tomar a frente junto de Nicia, essa tinha uma caixa de veludo azul em mãos com a marca da Federação Italiana de Voleibol gravada em dourado no topo.
— A tiramos do Japão para um último jogo, não poderíamos a devolver de mãos vazias — disse o homem —, agradeço em nome de toda a comissão pelos anos de dedicação e vitórias.
Nicia então me estendeu a caixa de veludo.
[Nome] D'Calligari
Levantadora da Seleção Italiana
Ano XXXX — Ano XXXX
XX Jogos
XX Vitórias
Infinitas memórias.
A placa comemorativa, e o último uniforme seriam as únicas coisas que eu levaria de volta para o Japão, pois o título de Rainha de Copas ficaria na quadra para quem sabe um dia ser conquistado por outra pessoa. Fechei a tampa e agradeci.
Nesse ponto aquelas que eram mais próximas começaram a marejar os olhos e até mesmo minhas companheiras do Lupo di Roma apareceram para desejar um bom retorno.
Particularmente não sou muito adepta de despedidas, mas quando entrei no carro com Matteo não pude deixar de esfregar os olhos. Naturalmente ele, sendo o pé no saco que é, tirou sarro de mim antes de começar a se preocupar e dizer que eu podia chorar o quanto eu quisesse.
— E pensar que aquela pirralha de cabeça quente ia chegar até aqui — ele resmungou —, quando eu te vi na relação de convocação a primeira vez, achei que era loucura. Naquela época eu era apenas um assistente. Você era a mais nova delas, mas a habilidade e leitura de joga eram excepcionais para sua idade, o que faltava era o físico para acompanhar seus pensamentos.
Limpei o rosto com a manga da blusa — É por isso que fez o inferno na minha vida? Sempre pegou mais pesado comigo do que com as outras.
— Em partes, você era a gema mais bruta delas. As garotas mais velhas já tinham hábitos enrustidos e estilos próprios muito definidos, você ainda não. — Matteo respirou fundo — Não vou mentir e dizer que estou feliz com esse fim, se quisesse poderia conquistar o mundo, ser a melhor das melhores. Só que também respeito a sua decisão, e entendo.
— Acho que é a primeira vez que você fala tão delicadamente comigo, quem é você?
O homem franziu, e abriu a boca para dar uma resposta mau-criada, porém ele parou em seguida, substituindo por um sorriso.
— Fique uma profissional tão boa quanto o seu pai e venha trabalhar para mim. É isso que eu queria dizer.
Com bons ares e coração leve, eu peguei o avião, sentia falta de Nico e de meus pais. Porém, o que realmente apertava meu coração era para encontrar com um certo capitão de cabelos escuros.
Apesar da pauta ser esquecida, eu praticamente fiz uma declaração na televisão. Para todos que quisessem escutar. Fideo já havia me avisado do seu papel de tradutor, mas Kuroo mesmo não havia dito nada. Ao contrário dos meus pais que questionaram de todas as formas possíveis o que estava acontecendo.
Uma hora de conversas usando as dádivas da internet e então eles conseguiram entender, quem era e o que eu realmente sentia. Depois do ex-namorado idiota, não posso os culpar por ficarem temerosos, mas passar algum tempo explicando o impacto que Kuroo teve nas minhas decisões e como tudo parecia simples foi mais que necessário.
Pensar que fiquei pouco mais de meia hora listando as qualidades dele para meus pais, parece loucura. Nunca que ele deve saber disso. Nico é novo para entender, mas ter ganho as meias de dinossauro já colocam o capitão numa das posições mais altas do ranking do pequeno.
Fideo estava certo quando disse que eu já estava apaixonada, só estava me segurando. Ao invés de me sentir animada para voltar para casa, estava mais ansiosa para ver sua reação quando nos encontrássemos do que qualquer outra coisa.
As horas de retorno foram repletas de pensamentos direcionadas a Kuroo, melhor Tetsurou, ignorando todas as frases trocas vindas dos dois lados é fácil ver a tensão romântica construída. Do começo ele me procurou, a princípio para o time, mas gradualmente sua preocupação se voltou para mim como pessoa, não uma arma para vencer. O carinho mostrado em súbitas ações e escondidas pelos sorrisos venenosos lentamente foram fazendo seu caminho para meu coração. O pequeno jogo de romance que criamos nunca teve um perdedor, mas sim dois ganhadores. A mentira que acreditei foi que estava blindada de seu charme, e a verdade que descobri foi estar completamente errada.
No momento em que o avião anunciou o pouso, meu coração ficou inquieto. Não havia um oceano de distância entre nós. Pouco tempo depois, já estava encontrando com meu pai e Nico do lado de fora.
O pequeno esperou eu me aproximar e soltou da mão de meu pai vindo na minha direção correndo. Soltei a alça da mala e me abaixei para o pegar no colo, seus braços pequenos circularam o meu pescoço com força.
— [Nome], [Nome], eu vi seu jogo!
— É mesmo? Obrigada Nico — beijei seu rosto —, sua irmã jogou bem?
— Sim! — ele balançou as pernas com animação deitando no meu ombro de novo. Nisso meu pai se aproximou pegando a mala e beijando o topo da minha cabeça, já que o abraço estava ocupado pelo caçula.
— Melhor sairmos daqui e dar passagem para as outras pessoas — disse puxando a minha mala —, está com fome?
— Faminta — confessei.
— Vou passar no mercado e comprar algumas coisas então — senhor Dominic olhou para o relógio do pulso conferindo o horário —, vamos fazer um jantar bem reforçado.
O caminho voltando para a minha casa foi repleto de conversas, mais Nico passando um relatório completo do que ele fez na minha ausência nos primeiros 25 minutos e depois disso caindo no sono. Olhei para trás do banco do carona.
— Ele estava animado para ter você de volta — meu pai explicou —, acordou de madrugada por não conseguir dormir. Acho que agora a ansiedade passou e o cansaço bateu.
— Assim que eu estiver apta, vou brincar com ele — fechei os olhos —, achei que não ia ficar afetada com a diferença de horário, mas acho que não é o caso.
— Não dormiu no voo? — questionou o mais velho parando num semáforo.
Resmunguei negativamente — Não consegui, coisas demais para pensar.
— Imagino que sim — sua fala veio baixa, o mais velho olhou para o pequeno deitado no banco detrás e então limpou a garganta. — Então, quando vamos conhecer esse tal de Tetsurou.
— Você já conhece — respondi ainda de olhos fechados.
— Entendeu o que eu quis dizer.
Tombei a cabeça para o lado — Quando der pai, com Alonzo as coisas foram feitas apressadamente e deu o que deu.
O suspiro cansado veio do mais velho — Certo. Só estou... Preocupado.
— Eu sei — respondi —, mas as coisas são diferentes dessa vez. Ah, mais uma coisa, Matteo disse para eu virar uma fisioterapeuta melhor que você e voltar para seleção, então é melhor focar em me ajudar com o futuro.
— Espera... Disse que... — ele desviou o olhar da rua por um momento. Surpreso, feliz, e com uma clara realização. — Ah, você já tinha decidido antes de ir, não é? Fez um tolo do seu pai.
Não respondi, mas mantive o sorriso no rosto.
Quando percebi ele já tinha estacionado na frente de casa, esfreguei os olhos e tirei o cinto. Eu subi com Nico primeiro, e meu pai com as compras. Sequer vi ele parando num mercado, mas quando voltei para pegar a mala foi que tive uma surpresa.
O mais velho e Kuroo estavam se encarando, não consegui esconder a meu susto e toda sonolência repentinamente sumiu. As duas cabeças se viraram para mim, meu pai pareceu balançar a cabeça e pegou a mala e a mochila do carro, dando um aceno de cabeça para o garoto e então passou por mim.
— Não fique muito tempo aqui fora. — e fechou a porta.
Tombei a cabeça e desci até a rua — Na minha cabeça tudo isso era muito diferente.
Estava no fim da tarde, apesar do sol já ter desaparecido o céu ainda tinha alguns tons mais claros. Pelo que eu me lembro da agenda da Nekoma, não tinha treino hoje, o próximo seria apenas em três dias já no acampamento semanal do grupo Fukurodani em Shinzen. Mas mesmo assim ele parecia estar suado, ofegante como...
— Você correu até aqui? — falei em voz alta minha realização.
O capitão abaixou a cabeça um momento — Bem, sim? Kenma olhou os horários dos voos e fez a triangulação dos horários. Achei que se eu demorasse muito mais para responder, você iria mudar de ideia.
Não consegui segurar a risada e me aproximei — Era mais fácil você mudar de ideia, afinal vai entrar automaticamente na exposição agora.
Kuroo balançou a cabeça e ergueu a mão para o meu rosto — É o esperado quando se está do lado de uma rainha. Mas confesso que me pegou de surpresa, ser numa entrevista. Na verdade, tudo foi.
— O que quer dizer? — coloquei a mão por cima da sua.
— Achei que sabia quem você era, mas não. Apesar de serem parte de uma mesma pessoa, quem eu vi aparecendo num jogo de vôlei no meio do mundo foi alguém que nunca conheci. Mas que também fez eu me apaixonar imediatamente.
— Então, de quem você gosta mais? Só a gerente da Nekoma, ou da Rainha de Copas?
Tetsurou deu um resmungo e aproximou o rosto do meu com um sorriso — Eu gosto... Da minha namorada. Não importa quem ela escolha ser.
— Bom saber.
Nossas bocas se encontraram, diferente de todas as outras vezes, dessa vez foi calma. Com doçura. Diferente dos encontros apaixonantes que tivemos anteriormente, pois era o primeiro oficialmente como um casal. Tetsuro acariciou a minha nuca, me trazendo para um abraço assim que o beijo parou.
— Se eu tivesse mudado de ideia, o que você faria? — perguntou. Belisquei sua lateral o fazendo rir. — Só de curiosidade.
— Fideo ia fingir ser o amor da minha vida por um tempo até decidirmos um término amigável — respondi.
Ele riu e me abraçou com força — Não foi dessa vez. Ele pode achar o próprio rei ou rainha dele.
Me afastei, e sorri, deixando um beijo estalado em sua bochecha. — Justo.
N/A: E temos um casal! Bora trabalhar na Aoi e no Kai agora hahahaha. Quem sabe até o Fideo não encontra um mozão.
Obrigada por ler até aqui!
Até a próxima, Xx!
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