Química 3


As aulas foram absolutamente torturantes, mal consegui entender metade do que os professores falavam e o que entendia acabava virando anotações em italiano, por cima de um japonês copiado por obrigação e com uma péssima caligrafia. Poderia ter entrado com apenas algumas semanas de diferença mas parecia que já tinha perdido metade do ano em matéria.

Um sinal tocou e imediatamente os alunos começaram a reunir suas coisas e sair da sala, olhei confusa tentando entender o que estava acontecendo. Pelos horários ainda teria mais um período até o intervalo, será que li errado?

Tentei perguntar para alguém mas pareciam estar me evitando, claro afinal quem queria ficar perto da estrangeira que falava enrolado, a garota que sentava atrás de mim também estava guardando suas coisas então antes que ela levantasse eu me virei.

— Desculpe, mas o que está acontecendo?

Ela pareceu surpresa pela minha chamada repentina, mas respondeu educadamente — Temos aula de química, é no laboratório, portanto precisamos trocar de sala.

— Como sabe que precisa trocar de sala? — Sabe, sei. Tenho certeza que algo naquela frase estava errado porque ela soltou um riso fraco antes de me responder.

— Está com seus horários?

Virei e abaixei para pegar o papel que a moça da secretária me entregou mostrando para ele.

— Aqui, está vendo essa marcação? — ela apontou para uma bolinha que ficava depois do nome da matéria — Indica a troca de sala.

Fazia sentido, muito sentido na verdade. — Muito obrigada.

Deixei a frase morrer no ar, não fazia ideia de qual era seu nome e percebendo isso, ela se apresentou.

— Hima  Aoi — de todas as pessoas que reparei na sala de aula, ela parecia ser a mais simpática. Sua pele era clara e seus olhos gentis, tinha os cabelos curtos de tom de castanho escuro e um sorriso leve no rosto. — Desculpe, não sei como pronunciar seu sobrenome.

— Só [Nome] está bem — e completei —, se não for ofensivo para você.

Aoi-san, balançou a cabeça — Sem problemas.

Guardei as minhas coisas e segui com ela para fora da sala, aproveitando que a garota parecia bem amigável e de certa forma disposta a me ajudar — Hum, se não for pedir muito... Será que podia me dizer quais as matérias que vocês já viram neste ano?

— Claro, mas imagino que só eu falar não vai adiantar muito — ela tirou dois ou três cadernos finos da bolsa e me entregou. — Pode me devolver amanhã.

— Tem certeza? — perguntei — Não quero te atrapalhar.

Ela balançou a cabeça — Ainda está com um pouco de dificuldade com o idioma não? Seu horário estava cheio de traduções.

Senti meu pescoço esquentar e apertei a alça da bolsa respondendo a contragosto — Um pouco.

— Bom, acredito que seja normal, logo você deve se acostumar — ela se inclinou como se fosse me contar um segredo — Tenho aulas extras de língua estrangeira, então sei como se sente.

O laboratório ficava localizado no mesmo andar em que estávamos, mas no fundo do corredor, era uma sala grande bem iluminada e com mesas em duplas. Quase prendi a respiração, será que eu já podia chamar Aoi para sentar comigo? Ou ela já teria uma dupla definida-

— Ei, Kuroo — ela chamou alguém atrás de mim — Sei que somos a dupla do mês, mas se importa se [Nome]-san sentar com a gente?

— Por mim, não faz diferença. É mais difícil a Seiko-sensei deixar. — a voz era de um rapaz, parecia arrastada e tinha um leve tom de zombaria. Me virei para dar de cara com o garoto que tinha esbarrado em minha bolsa pela manhã.

Não tinha percebido, já ele tinha se agachado, mas o garoto era alto; não que eu mesma fosse baixa, mas pensando no padrão do país ele era, sim, acima da média. Não devia ter mais do que uma cabeça de diferença entre nossa altura, ao contrário de Aoi que batia praticamente na altura do meu queixo.

— Eu vou perguntar, espere aqui.

Então ela andou até a professora que estava praticamente escondida atrás de uma bancada cheia de tubos e me deixou sozinha. Mas veja só, a legging que usava debaixo da saia de repente me pareceu muito interessante.

— Tetsurou Kuroo — sua mão entrou no meu campo de visão — Me desculpe de novo por tropeçar na sua bolsa.

— Não tem problema, o universo já devolveu mesmo - fiz menção ao tropeço que sofri pela manhã e apertei sua mão de volta. Era grande e quente, um pouco áspera como a de um esportista — Só [Nome] está bom, obrigada por ter me ajudado a recolher as coisas.

— À sua disposição.

O assunto morreu nesse instante e felizmente a garota voltou logo em seguida e disse que a sensei abriria uma exceção até ela reorganizar a sala.

Acabei sentando no meio deles, com Aoi do meu lado direito e o tal Kuroo do meu lado esquerdo. Depois que a classe já estava devidamente assentada a aula começou, para a minha sorte parecia já ser uma matéria conhecida e como os cálculos eram feitos em números romanizados depois que eu identificava a pergunta era até que fácil resolver.

— Você já resolveu? — Aoi exclamou, baixo para que ninguém ouvisse, quando me viu abaixando a lapiseira. Espiando o caderno e checando a resposta com o fim do livro — Está correto, ela terminou mais rápido que você Kuroo.

— Eh — ele se inclinou sobre o meu caderno. — Parece que temos outro gênio por aqui.

— Outro? Por que outro? — perguntei.

— Cabe a uma mente brilhante reconhecer a outra, é claro.

— Por mais que eu odeie admitir, esse cara é o melhor da sala na matéria — Aoi disse apontando na direção de Kuroo — A anos a Seiko-sensei tenta convencer ele a entrar na equipe de Decatlo Acadêmico.

Tinha uma aura divertida enquanto os dois conversavam, talvez devessem ser amigos já a algum tempo.

— Já que todos vocês já parecem ter terminado, vou escolher alunos para resolver exercícios na lousa. — A professora baixinha e rechonchuda colocou as mãos dentro do jaleco — Vejamos, Natsumi-san... E você menina nova, desculpe me esqueci seu nome.

— D'Calligari — me levantei, vendo que algumas mesas na minha frente a pessoa que atendia pelo nome de Natsumi era a mesma que colocou a bolsa torta de manhã.

A professora — É isso mesmo, venha. Revisei seu teste de admissão e devo dizer que fiquei animada com seus resultados.

Natsumi era mais baixa, tinha a cintura fina e parecia ter saído direto de um daqueles animes que Nico adora onde tem uma menina rica que manda na escola. Pude jurar que quando ela jogou os cabelos por cima do ombro, alguns dos meninos da sala suspiraram.

Precisei me segurar para não revirar os olhos ali na frente de todos.

— Certo a questão é: cem mililitros de uma dispersão coloidal apresentavam 600 mg de uma proteína isolada de uma amostra de soro sanguíneo. Sabendo que essa amostra exerce uma pressão osmótica de 0,28 atm, a 7 ºC, qual o valor aproximado dessa proteína?

Imediatamente a garota começou a escrever e eu com meu japonês travado precisei de alguns minutos para entender aquele enunciado infernal. Os dados fornecidos pelo exercício foram:

-Volume (V): 100 mL ou 0,1 L (após dividir por 1000);
-Massa da proteína (m1): 600 mg ou 0,6 L (após dividir por 1000);
-Pressão osmótica (π): 0,28 atm;
-Temperatura (T): 7 oC ou 280 K (após somar com 273);

Bom, ficava claro que era algo que envolvia pressão osmótica então precisava usar a expressão π = M.R.T. 'M' é a concentração em mol/L que é obtida da relação entre a massa do soluto e o produto entre a massa molar e o volume da solução.

Nisso Natsumi já tinha feito uma série de contas, destampei a minha caneta e escrevi no quadro.

π = m1.R.T
M1.V

0,28 = 0,6.0,082.280
M1.0,1

0,28.M1.0,1 = 13,776

0,028.M1 = 13,776

M1 = 13,776
       0,028

M1 = 492 g/mol

— Perfeito! — a professora bateu uma palma animada, bem ao meu lado - Sabia que não estava errada sobre você Calliri-san.

Franzi o cenho colocando um pouco de distância entre nós - D'Calligari, professora.

— Sim isso aí.

A garota do meu lado perdeu tempo em escrever as fórmulas de conversão na lousa enquanto eu as mantive em minha cabeça e escrevi apenas a conta final. Como resultado, eu terminei a conta enquanto para ela ainda faltavam duas linhas de resolução.

Olhei para a última mesa da sala Aoi me mandou um joinha, aprovando a minha performance, enquanto isso Kuroo tinha o rosto apoiado em umas das mãos com um sorriso sarcástico no rosto. Assim que nossos olhares se cruzaram ele fez uma leve reverência como se estivesse me cumprimentando.

Claro que Natsumi saiu batendo o pé, e como se fosse cronometrado o sinal para o intervalo tocou ela então pegou suas coisas e saiu sendo seguida de perto por sua legião.

Voltei para meu lugar guardando meus pertences em seguida. Ela poderia ter terminado a conta pelo menos, assim não ficaria tão feio.

— Finalmente achamos uma princesa da química — Aoi disse — [Nome] só você vai conseguir diminuir o ego do Kuroo.

— Princesa da Química? — questionei — Que tipo de nome é esse?

— É como a professora chama os melhores alunos dela — a garota disse — Kuroo tem sido o príncipe desde o primeiro ano. Mas nunca tivemos uma garota realmente boa pra desbancar esse panaca.

— Se não fosse seu amigo a tanto tempo ia achar que me odeia Himaoi-chan.

— Imagina impressão sua — rebateu —, e não me chame de Himaoi, sabe que eu odeio. Eu tenho um nome e um sobrenome, não precisa juntar os dois!

— Parece bobo essa coisa de princesa — falei baixo para que a professora não ouvisse e chamando a atenção dos dois — Se for pra ser algo, que seja uma rainha.







N/A: Tive muita vontade de escrever e muita vontade de postar, então ta aí!

Obrigada por ler até aqui!

Até um dia! Xx

*Essa história não é uma regular, possuí atualizações esporádicas. Adicione a biblioteca e siga o perfil para receber as futuras atualizações! (Se quiser é claro :))

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top