Projeto de Treinadora


O poder que vinha junto com o apito era algo esplêndido, claro que as ordens ainda vinham dos assistentes do time, mas controlar o treinamento dos garotos era satisfatório. Principalmente quando o exercício que eles faziam era de fortalecimento, um sopro e eles mantinham a posição numa flexão baixa, um segundo se sustentavam no meio e o terceiro voltavam a posição de braços esticados.

— Mais quinze segundos — gritei andando na frente deles — mantenham a posição!

Contei os segundos no relógio e assim que o tempo zerou apitei, os garotos que ficaram se soltaram no chão já completamente exaustos.

— Nem começamos o treino direito ainda, juntem suas forças. Recomeçamos em cinco — dei as instruções e voltei para falar com os assistentes.

— [Nome]-chan você é realmente boa com isso.

Balancei a cabeça — Depois de tanto tempo sendo aquela fazendo os exercícios aprendemos algumas coisas, ficar com o apito é realmente divertido.

O mais velho balançou a cabeça — Imagino que sim, pode seguir com os exercícios que combinamos, vamos fazer treino com redes depois. Pode ficar no lugar do árbitro e fazer as contagens se quiser.

— Sério? — aquilo estava sendo mais divertido do que eu imaginava. Sempre quis subir no banco do árbitro.

— Sim — o mais velho riu —, vamos separar alguns materiais, pode assumir até voltarmos.

Voltei com pequenos pulos para minha posição original na frente do time, os chamando para dar continuidade nos exercícios. Até terminar o treino completo levou pouco mais de uma hora, entre séries de movimentos e descanso.

Lev parecia ser o mais animado dele, mas começou a desobedecer minhas contagens no final fazendo mais do que o necessário e deixando de lado a qualidade dos movimentos. Quando ele continuou fazendo flexões por conta própria, andei até um carrinho de bolas e peguei uma delas jogando em sua cabeça em seguida.

— [Nome]-senpai! — ele se sentou num instante — Por que fez isso?

— Porque você não me escuta, eu admiro a sua paixão por melhorar. Só que os exercícios são pensados e a quantidade de séries também se você os fizer de maneira exagerada e errado só vai se machucar. — disse andando até a bola que rolou para longe — Já disse que não tem como pular degraus.

— Se dedique no que você pode Lev. Isso vale para todos vocês, sei que existe essa vontade de se provar, mas se colocar em risco é inútil. Preferem ter uma distensão muscular e ficar fora do treino de vez?

Silêncio, nenhum deles me respondeu. Nem mesmo o bebe russo.

— Vocês ainda estão em crescimento, seus músculos precisam ser preparados para uma carga maior de força de maneira gradual. Não de uma vez. — joguei a bola para o carrinho.

— Vamos, vamos — bati palmas —, não fiquem desmotivados. Ainda temos o resto do treino para fazer e uma semana para se provarem melhores, o caminho da evolução não é e nunca foi fácil.

— Senpai, como você sabe tanto de músculos? — um dos companheiros de Lev do primeiro ano questionou. Tamahiko Teshiro, se não me engano, jogava como levantador durante o fundamental.

— Meu pai é fisioterapeuta — sorri respondendo —, se levantem e se alonguem, vamos treinar com as redes até o fim do dia.

O clima tinha caído depois da minha dose de realismo, porém, retomado lentamente até que o treino fosse finalizado. Os assistentes deram algumas instruções na saída e reafirmaram minhas palavras falando que os dias seguintes os treinos ficariam progressivamente mais difíceis.

Como não tinha nem Kuroo, nem Kenma para me acompanhar na volta, não tinha motivos para ficar aguardando. A chave ficara com um dos assistentes e eles iriam cuidar de abrir o ginásio e a sala do clube na ausência do capitão.

Minha volta foi silenciosa, até demais para meu gosto. Vez ou outra me peguei olhando por cima do ombro apenas para me deparar com a rua vazia. Era uma sensação bem estranha que apenas sumiu quando desci na estação do meu bairro, passos rápidos me levaram direto para a casa logo em seguida.

Quando virei a esquina vi que um carro estava estacionando na garagem, era meu pai, ele retornou da viagem para se encontrar com Fabrício pela manhã e foi direto para a clínica.

Subi os degraus e deixei a porta aberta para que ele entrasse, com a maleta em mãos e o jaleco no ombro. O mais velho agradeceu tirando os sapatos na entrada e fechar a porta logo em seguida. Haviam olheiras embaixo de seus olhos, e sua barba estava mais longa do que costumava estar.

— Está trabalhando bastante — comentei —, pela primeira vez na vida.

Ele tombou a cabeça para o lado e sorriu cansado — Ainda sou seu pai, me respeite.

Sua mão voou para a parte de trás de meu pescoço, apertando de leve, me fazendo levantar os ombros imediatamente em resposta. O mais velho me puxou para trás se apoiando nos meus ombros enquanto andávamos juntos para a cozinha.

Minha mãe via algo no notebook enquanto panelas estavam atrás dela, ela trabalhava como uma consultora de campanhas de marketing, não precisava estar presencialmente nos lugares. Assim como a tive muito presente durante minha infância, sua escolha era sempre estar perto para Nico também.

Assim que entramos, ela ajustou os óculos no rosto, levantando os olhos da tela e sorrindo imediatamente — Veja só se não são duas das minhas pessoas favoritas. Como foi o dia de vocês?

— Cansativo — respondi.

— Estou quebrado — o velho D'Calligari disse —, quem precisa de fisioterapia sou eu.

— Talvez esteja na hora de voltar a fazer algum exercício físico querido — alfinetou a mais velha —, ao invés de só cuidar daqueles que fazem.

A consciência parece que pesou, pois ele colocou a mão na barriga e se virou tentando ver o reflexo na geladeira — Não estou engordando, estou?

Gargalhei alto e cutuquei sua lateral — É para se analisar, que tal medir seu IMS?

— Engraçadinha — me empurrou — vocês duas sempre estão contra mim. Onde está meu filho? O único que me apoia.

— Nico está la em cima fazendo suas atividades — minha mãe respondeu. E rapidamente mudou de assunto antes que ele começasse a ser dramático — Chegou tão rápido de manhã que nem falou de sua viagem, como foi?

O homem abriu um pote de biscoitos e pegou alguns pares antes de se encostar na bancada e discorrer sobre a sua viagem.

— Fechamos contrato com uma escola local, Shiratorizawa o nome. Vamos implementar um projeto de acompanhamento junto do time e do treinador — explicou —, parece que eles são uma potência na região. Passaram para as nacionais por alguns anos seguidos, Fabrício vai cuidar das negociações.

— Mas ele vai atender e cuidar dos projetos? — questionei após pegar uma garrafa de água da geladeira.

Com a boca cheia de bolachas, ele balançou a cabeça mastigando - Não, vai parar de atender.

Minha mãe soltou um riso sarcástico — Até parece, tenho certeza que ele vai passar a abrir consultas na parte da noite.

— Aí é com ele — meu pai respondeu —, disse para ele deixar de lado momentaneamente. A clínica está bem estruturada e andando sozinha, se ele atender clientes será por capricho.

— Inclusive, ele deve vir em breve para Tóquio para escolhermos o local da clínica. Fideo deve vir também, só que para um festival ou algo do tipo, sabe de algo?

Balancei a cabeça — Ainda não, mas ele deve falar eventualmente. Eles vem juntos?

— Pelo que entendi, sim, já que Fideo vai seguir na carreira Fabrício que envolver ele desde o começo — meu pai olhou para o chão limpando a garganta —, pode me acompanhar se quiser...

A frase ficou solta no ar e minha mãe olhou para mim com uma cara incrédula, sorri e mais uma vez deixei o homem sem resposta falando que ia ver Nico. Só ouvi minha mãe reclamando com ele mais uma vez sobre a pressão.

Subi as escadas rapidamente quando entrei no quarto estranhei não ver o gato cinza embolado em qualquer parte, deixei a bolsa na cadeira da mesa de estudo e me virei para seguir até o quarto ao lado. Nico estava deitado sobre a mesa brincando com um lápis, parecia estar bem longe de estar fazendo tarefas.

— Aconteceu alguma coisa? — entrei vendo que quem estava na companhia de Zun essa vez era o pequeno.

— Não — ele virou o rosto. Nico não sabia mentir.

Entrei em seu quarto e sentei na cama, a qual tinha um edredom azul cheio de desenhos de dinossauros coloridos.

— É algo na escola? — questionei.

O pequeno respirou alto, como se fosse gente grande e se ajustou na cadeira descendo em seguida para sentar ao meu lado.

— Tem um menino que não deixa eu e o Yusuke jogar vôlei com ele. [Nome] ele leva a bola e não deixa a gente brincar! Nem as meninas! Ele é muito chato!

Coloquei a mão em sua cabeça — Ele é da sua sala?

— Sim, mas ele não gosta de mim. Fica falando que não entende nada do que eu falo, mas o Yusuke entende e as professoras também.

Bem que Fideo me disse que crianças podem ser tão cruéis quanto os jovens — Por que não leva a sua bola de vôlei? Yusuke deve ter uma também, podem revesar.

— Ah é verdade! [Nome] você é tão inteligente!

Baguncei seus cabelos, queria que meus problemas fossem simples de resolver assim também.

— Termine seus deveres, podemos jogar um pouco no quintal antes do jantar.

Ele comemorou e voltou para a mesa enquanto isso eu me levantei e voltei para meu quarto. Veria as minhas matérias a noite antes de dormir, já havia conversado com Kenma na parte da tarde.

A princípio ele comentou de jogos, já que tinha compartilhado algumas notícias, e aproveitei para perguntar se o time chegara em segurança. Ele disse que sim, e que acreditava que ia morrer antes do final da Golden Week. Não tinha tanta energia para responder aos treinamentos com tanta animação quanto os colegas de time.

Enquanto tirava meus pertences da bolsa meu pai voltou a aparecer na porta do meu quarto. Não precisava de muito para saber que minha mãe havia dado uma bronca nele de novo.

— Eu sei — respondi antes mesmo dele falar —, sem pressão sobre minhas escolhas do futuro tudo são apenas sugestões. Sabe que eu não vou fazer nada que eu não queira.

— Sua mãe me proibiu de tocar no assunto de novo, mas sei que já se decidiu.

Levantei uma sobrancelha — É mesmo? E qual é minha decisão?

— Me fazer sofrer — ele respondeu me fazendo rir —, é minha filha afinal de contas. Toda essa personalidade veio de algum lugar.

— Se a personalidade é sua, o que puxei da minha mãe?

— O bom senso.




- ͙۪۪̥˚┊❛ [ EXTRA 03 ❜┊ E o meu Time?˚ ͙۪۪̥◌








N/A: Dia amargo, pra quem tava torcendo pro Brazza. Mas os trabalhos continuam.

Até mais, Xx!

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