Panteão




— Está nervosa Calli-chan?

Sem perceber, eu me vi esfregando o braço e especialmente o escrito na manga vermelha, onde o capitão um dia desenhou o número 0. Estava acompanhando os garotos se alongando para o início das preliminares do torneio de primavera.

— Não — respondi Lev, afastando as mãos do braço e os cruzando em seguida. — Bem, não do jeito que não se espera. É um sentimento diferente ao que precede um jogo.

— Como?

O russo estava sentado no chão com as pernas abertas e as mãos apoiadas no meio delas, olhando para mim esperando uma resposta. Desse jeito e com os olhos repletos de inocência, ele até se parecia com Nico. Bati os dedos no braço e então andei para trás dele.

— Antes de um jogo, geralmente eu ficava repassando estratégia na cabeça, falava com as jogadoras. Fazia projeções na cabeça — respondi —, e principalmente me alongava direito.

Me apoiei em suas costas, o forçando a se abaixar para alongar.

— Calli-senpai!

— Vejamos — ignorei os resmungos —, como gerente a minha ansiedade é diferente. Principalmente quando imagino uma jogada diferente da que está acontecendo na quadra, é claro que confio em vocês. Mas algumas vezes alguém faz uma jogada meio imprevista que me deixa com vontade de entrar na quadra.

O pressionei ainda mais para baixo — Mas é claro que eu não posso fazer isso, só posso dar conselhos fora de quadra.

— Minhas pernas, [Nome]!

Sorri e contei — 8, 9, 10. Pronto está bem alongado, mantenha o foco Lev. E termine de se aquecer direito, estou vendo você folgando.

Bati em suas costas e me afastei — Funciona para o resto de vocês também, mais alguém quer ajuda?

— Nem um pouco — Yaku respondeu.

Chutei de leve a sola do tênis dele — É uma pena, tenho certeza que suas recepções ficariam ainda melhores.

— Você iria me quebrar no meio, isso sim.

Soltei um riso e voltei para perto dos treinadores, por hora ainda estávamos num espaço secundário. Diversos times entravam e saíam, cada um com a sua rotina, fechados no seu próprio meio de concentração. O caminho para conquistar uma vaga para o nacional é longo e não é fácil. Principalmente com a província tendo o atual campeão e alguns jogadores de nível nacional participando. Claro que em quadra, todos possuem a mesma chance, contudo mesmo um time que faça tudo certo da maneira que se faz em treino. Não existe garantia de vitória.

Preliminares e então qualificatórias, passando pela primeira etapa temos a chance de conseguir uma das três vagas disponíveis para Tóquio. Primeiro representante, segundo representante e vaga de anfitrião.

Se os garotos realmente querem que a batalha do lixão seja uma possibilidade, a partir de agora ele precisa ultrapassar todos os obstáculos que forem colocados à sua frente. As palavras que vieram de Miyagi, foi que os corvos da Karasuno derrotaram a grande potência da região chamada Shiratorizawa, garantindo, então, sua vaga para o torneio nacional de primavera.

Respirei fundo, suspirando em seguida e soltei os ombros.

— Realmente, ser gerente não é fácil — comentei em voz alta.

Naoi se virou confuso — Algum problema [Nome]?

— Não sei se sobrevivo todos os jogos, no intercolegial fazia poucos meses que estava acompanhando o time, cheguei a quebrar um lápis de ansiedade, não posso imaginar agora.

Treinador riu colocando as mãos atrás das costas — Não se preocupe gerente, sabe o quanto eles cresceram. Mais do que apenas participar do nacional, esses jogadores têm uma promessa para cumprir.

— Queria saber uma maneira melhor de ajudar — confessei.

— Ter a presença de uma ex-atleta profissional em forma de apoio, já é uma boa ajuda, para os ânimos principalmente — os olhos do mais velho se voltaram para mim. — Mas sabe que eles vão escutar seu conselho se tiver algo para falar durante uma partida.

— Não tenha medo de falar se perceber algo [Nome] — Naoi completou — todos sabemos que você entende do esporte, um olhar de fora pode abrir uma porta para onde ninguém estava esperando.

— Manabu, está tentando falar bonito agora?

— Treinador Nekomata! Não foi intencional — respondeu o técnico mais jovem visivelmente envergonhado — foram só palavras de apoio.

— Obrigada pela sinceridade — sorri — e confiança. Não é qualquer time que deixa uma gerente palpitar no jogo.

— Porque você não é uma gerente qualquer — Nekomata-sensei deu o ponto final —, é um erro não usar uma mente brilhante por uma mera formalidade.

Então eu me lembrei de algo que Tetsurou me disse, no mesmo dia que ele resolveu escrever na manga do meu agasalho. Sem o número zero, não existe o número 1. Mesmo sem estar em quadra, também tinha permissão para me sentir como uma jogadora.

— Vou verificar as quadras — Naoi comentou —, assim que os garotos terminaram de se alongar podemos ir. Talvez precisemos aguardar na arquibancada para ter nosso primeiro jogo.

— Sim, faça isso.

Com a permissão do mais velho, o técnico se foi. Escondido na minha bolsa estava o gigantesco relatório que montei junto de Naoi e o restante dos assistentes sobre os times do torneio. Alguns com mais informações do que outros, porém, uma visão geral ampla de todos os times.

— O que acha do nosso primeiro adversário treinador? — questionei — escola Mokami, sei que levantamos as partidas e estilo de jogo, mas gostaria de uma opinião mais pessoal.

O mais velho resmungou para começar a falar em seguida — Eles possuem uma boa movimentação lateral e uma defesa sólida, também chegaram às oitavas de final no intercolegial. Assim como nós, perderam para quem chegou nas semi-finais. Penso que será um bom jogo para começar.

Os jogadores terminaram seus alongamentos e voltaram a se reunir em pequenos grupos próximos ao treinador, até que Naoi voltou dizendo que encontrou um bom lugar na arquibancada.

Coloquei a bolsa no ombro e segui andando com os garotos, de alguma maneira o ginásio parecia ter mais gente do que eu me lembrava ter no intercolegial. Os corredores estavam cheios, até mesmo com uniformes que não reparei antes. Quanto maior a quantidade de pessoas, maior a quantidade de cochichos.

— Ah, eu devia saber que seria assim — comentei em voz alta para o capitão ao meu lado. — Qual boato vão inventar dessa vez?

— Você escolheu conversar com o jornalista, não tem muito o que fazer agora que todos sabem ter uma celebridade esportiva entre nós.

Franzi. A história foi a seguinte, a capitã Coruja entrou em contato um tempo atrás para me passar um recado. Um conhecido dela queria fazer uma matéria comigo para enviar para a revista mensal do vôlei. Makoto era seu nome, ele foi o capitão da Fukurodani quando Tetsurou estava no primeiro ano. Ele, e por consequência a matéria, foi bem respeitoso, não focou na minha aposentadoria e sim nas diferenças e vantagens de ser uma gerente. O que consegui ver após deixar a quadra para ficar posicionada na lateral dela.

Entendi que o tom da matéria era para incentivar que as posições fossem preenchidas, mas o que eu esqueci foi que as pessoas leem o que querem e interpretam a sua maneira.

— Não me arrependo, foi bem escrita — respondi —, mas aposto que metade deles nem leram, só estão reproduzindo o que escutaram aumentando partes que, talvez, nem existam.

— Calli-chan não precisa se preocupar — Tora se colocou na minha frente como um segurança que faz uma barreira — vamos te proteger. Qualquer um que queira um autógrafo precisa passar por mim primeiro.

— Quem vai querer um autógrafo? — claro que essa frase veio do demônio-senpai.

— Yaku-san! Não diga isso — Taketora abriu a bolsa e tirou um pequeno pedaço de papel assinado, estava plastificado e cuidadosamente guardado num porta cartão decorado. Como aquele que as garotas levam para shows e eventos dos seus artistas favoritos. — É meu tesouro!

— Shibayama e Inuoka também pediram — comentei.

— Calli-senpai! Também quero — Lev levantou a mão — É quase como receber uma benção.

— Sim, da nossa deusa do vôlei — Tora levantou o cartão no alto. Mais um pouco e eu podia ver o efeito de alguns raios de sol descendo do céu.

— Estão exagerando — Yaku resmungou. Nisso peguei uma das canetas que usava para anotar e assinei no tecido dentro da bolsa de Lev. Por ser o que ele me pediu.

— Morisuke, não seja tão invejoso — resolvi puxar seus botões de novo —, só está assim porque o deus guardião da Nekoma não é tão famoso.

— Você está andando demais com Kuroo, está começando a falar como ele — o líbero cruzou os braços — também está ficando com o ego grande igual o dele.

— Oe, eu estou quieto, não estou falando nada — o alvo se defendeu —, não é como se você não tivesse o mesmo.

— Certo — o vice-capitão resolveu interferir —, se temos a deusa do vôlei e o deus guardião, não significa que somos duplamente abençoados? Um autógrafo é uma lembrança, não é sempre que temos a possibilidade de estar perto de um profissional.

— É bom você se lembrar de pedir meu autógrafo quando for a minha vez Kai — Yaku se virou —, todos vocês.

— Claro que sim Yaku-san — Shibayama fechou os punhos com determinação — Vamos apoiar todos os senpais!

Mandei um sinal positivo para Kai em agradecimento, ele apenas sorriu em resposta. Ele esteve apartando brigas entre Kuroo e Yaku desde o primeiro ano pelo que eu soube. Se eu era a deusa do vôlei e Morisuke o deus guardião, Kai com certeza era o deus da paz.

Dito isso, quando chegamos as arquibancadas, o líbero se sentou ao meu lado.

— Não sabia que você queria seguir no profissional.

— Comecei a pensar recentemente, sei que com o meu nível posso conseguir uma boa universidade com programa esportivo e traçar minha carreira a partir daí — respondeu.

— Que bom, seria uma perda esportiva ter alguém como você parando de jogar. Tenho certeza que você vestirá o uniforme nacional um dia.

O líbero escorregou na cadeira e cruzou os braços respondendo com um tom divertido — É uma benção também?

— É uma afirmação

Yaku pareceu surpreso por um momento e então deu risada — Obrigado Calli-chan.

— Será que nós também podemos nos juntar as conversas no panteão? — Tetsurou comentou.

Yaku se inclinou para poder responder o capitão que estava do meu outro lado — Não, você é apenas o rei da provocação. Ainda faltam anos de experiência para virar um deus.

Não consegui segurar a risada, a resposta veio rápida e na medida. Deitei a cabeça no ombro do capitão o defendendo para o líbero.

— Ele tem um passe como meu consorte, não seja malvado demônio-senpai.

— Que seja — ele balançou a mão e se voltou para as quadras, soltando uma exclamação em seguida. — Oh, a Nohebi está jogando.

Aquela era uma escola nova para mim, segui seu olhar para encontrar uma escola de uniforme verde e amarelo reunidos numa das quadras laterais.

— Seria ótimo se eles perdessem agora — Tetsu comentou.

— Quem são? — questionei.

— Umas cobras, literalmente — respondeu mencionando o termo no nome da instituição. — Conheço o capitão, é um sujeito desagradável que consegue manipular muito bem a situação em quadra ao seu favor.

— Mas o manipular dele não é como o das espartanas — Yaku levantou um dedo para explicar —, fingem um bom comportamento esportivo para os juízes e os espectadores enquanto fazem o contrário com os jogadores.

— E quão bons eles são?

— Infelizmente, um pouco acima da média — respondeu o capitão —, não posso descartar a possibilidade de nos enfrentarmos em algum ponto.

— Se acontecer vamos lidar com o momento, por hora vamos nos concentrar na partida contra a escola Mokami — falei —, não adianta especular sem avançar nas chaves.

— [Nome] está certa — a fala de veio de Kenma, que apesar de quieto estava prestando atenção em tudo que falamos. — Precisamos passar uma fase por vez. Cada partida precisa de um moveset diferente, é como construir um personagem para enfrentar o chefão que ganha uma habilidade a cada vitória que têm pelo caminho.

O levantador fixou os olhos na quadra — As preliminares são apenas uma etapa.

— Kenma — Tora que estava na fileira da frente se virou com lágrimas nos olhos — desde quando você ficou bom em motivar seus colegas de time.

— Não fiz nada disso — rebateu.

Tora o ignorou — Sua força de vontade não será desperdiçada!

— Tora, fique quieto.

— Kenma!

Balancei a cabeça desviando dos dois garotos discutindo para voltar a olhar para as quadras. O primeiro jogo do dia teve seu fim e por consequência, vimos o primeiro time eliminado das preliminares da prefeitura de Tóquio.

Agora realmente começou, não temos escolha, é ganhar ou ganhar. Como nosso levantador gosta de falar, se perdemos agora...

Game over.











N/A : Fala meu povo! Como vocês estão?

Avisos, entramos na parte mais legal, também caminhando meio para o fim da história. 

O que importa aqui na etapa de Tóquio, são os dois últimos jogos, então como que eu vou fazer. Vou intercalar as narrações de jogo, como já teve aqui antes, mais na íntegra, com resumos. Se eu passar por todos os jogos vai ficar chato e massante, então vou focar nos mais importantes.

Esse foi mais introdutório pra fazer uma transição do capítulo passado pra história original, no próximo já temos jogo.

Como sempre, obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!!

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