Nova Geração
Nas semanas que separaram os jogos das preliminares para os da classificatória, voltei para a minha profissão técnica. O que significava acordar numa manhã de sábado para levar Nico na quadra, ficar com as crianças e arrumar uma desculpa para arrastar meu namorado junto.
Não que fosse necessário muito, no fundo, ele parecia gostar dessa missão de levar vôlei para mais pessoas. Ter contato com as crianças ajudava nisso.
— [Nome], por que a Aoi foi embora? — Nico perguntou parando para pular a linha de divisão da calçada.
— Ela só precisava ficar uma noite — ergui o braço dele ajudando. Tetsu fazendo o mesmo uma vez que hoje o pequeno escolheu andar entre nós e segurar a mão de cada um.
— Ah — ele disse triste —, ela volta um dia?
Dei risada — Volta, eu peço para ela voltar para brincar com você.
Tetsurou resmungou — Do que vocês brincaram Nico?
Parecia apenas curiosidade, mas eu sabia que, no fundo, ele queria mais informação para atormentar nossa amiga de cabelos castanhos. Ele fingiu não ver o meu olhar de aviso para ele e continuou a conversar com o meu irmão. O mesmo entrando numa espiral falando que eles pintaram o livro de colorir de dinossauros, brincaram com os dinossauros e no fim da noite ele deu biscoitos com desenho de dinossauros para ela.
— Parece legal — quase podia ver um pequeno diabrete no ombro dele, pronto para tirar sarro de Aoi na segunda-feira. — Estou preocupado agora, achei que eu era o seu favorito.
— Não! — Nico parou de andar e aí se virou para ele soltando da minha mão para segurar as duas dele dando pequenos pulinhos — Tekkun ainda é meu favorito.
O garoto se abaixou para pegar ele no colo, Tetsu não tinha muito contato com crianças como Nico, mas genuinamente gostava de crianças. Dava para ver quando ele estava com o pequeno time de rebeldes, mas com meu irmão que era seu fã ele tinha um pouco mais de liberdade.
— Ei, você quer roubar meu irmão? — franzi. — Não adianta ficar caindo nas graças dele.
— Não estou fazendo nada, nossa amizade é sincera e pura. — Tetsurou se inclinou para falar algo no ouvido dele. Mas foi alto o suficiente para eu conseguir ouvir.
— Vou arrumar aquelas cartas de dinossauros para você.
Nico riu cobrindo a boca e abraçou ele pelo pescoço, levantei a mão e bati no braço do meu namorado beliscando ele de leve antes de continuarmos a andar. Agora ele carregando o pequeno nos braços, arrumei a bolsa de treino ombro e aceleramos o passo, uma vez que quando Nico está no chão andamos mais devagar.
— Escute — apertei a bochecha do caçula —, você não pode gostar de qualquer um que te dê coisas de dinossauros, certo? Se for alguém da sua idade, tudo bem, mas se for alguém alto como eu, me avise antes.
— Tá bom.
— E se lembre, ninguém está acima da sua irmã no ranking de favoritos — sorri, garantindo a minha posição imaculada.
— Isso sim, parece uma manipulação — Tetsu comentou abaixando o olhar para meu irmão em seguida. — [Nome] está no topo das pessoas que você gosta?
— Não — ele respondeu deitando em seu ombro. — [Nome] é minha irmã, eu amo ela.
Afaguei seus cabelos, já tinha ouvido essa conversa antes. Para alguém tão pequeno, Nico tem uma ótima visão das pessoas, e uma divisão complexa delas em sua vida. Tetsu com certeza entendeu o que ele disse, ainda que estivesse em italiano, porque sorriu derrotado e bateu nas costas do pequeno. Por algum motivo, acreditei que "eu te amo" também estava entre as palavras em italiano que Aoi ensinou para o capitão da Nekoma.
Não demorou para chegarmos na quadra, e então foi como todas as outras vezes, os pais vinham com as crianças e iam fazer suas próprias atividades no parque até a hora de ir embora.
Eles chegaram aos poucos, mas a mais animada veio correndo direto para mim com uma bola conhecida nas mãos. Haruki tinha os cabelos presos com dois lacinhos, um de cada lado da cabeça que se balançavam como uma mola conforme ela corria.
— Haru não precisa correr — o pai dela avisou vindo atrás apressado. Preocupado com ela caindo.
Me abaixei para a receber nos braços.
— [Nome], [Nome] — ela pulou. — Eu consegui, eu fiquei amiga da bola!
— Disse que ia dar certo, não disse? — ela respondeu que sim com a cabeça, os olhos brilhando como estrelas. Fiz menção de pegar a bola da mão dela, mas o sentimento que passava por seus olhos era de pesar.
— Sabe Haru, já que ficaram tão amigas. Que tal você cuidar dela? Acho que ela vai ficar triste de ficar longe de você também.
— De verdade? Eu posso? — ela virou a cabeça para olhar para o pai.
— Se a treinadora disser que sim, não vejo porque não. — ele sorriu de volta.
Coloquei a mão no topo da sua cabeça — Sim, é sua.
A princípio era só uma bola de treino, como as outras que levamos para eles poderem treinar, mas até então a minha bola da sorte era só isso também. Quando mudei o significado dela que sua importância também foi alterada, o mesmo com a bola de Nico e agora com a de Haru.
— Porque você não vai ficar com seus amigos, eu guardo a bola para você — o pai pediu recebendo um aceno.
Ela seguiu se juntando aos outros que estavam junto com Tetsu o questionando sobre jogar em torneios e jogos de verdade. Sabia que o pai de Haruki queria falar algo porque ele não se afastou também ficou ali.
— Não sei como agradecer pelo que fez com Haruki — ele começou —, nesses últimos tempos depois que toda essa história começou. Vimos ela ficar mais confiante, mais expressiva, mais feliz, tanto eu quanto minha esposa nunca vimos nossa filha tão contente antes.
Ele girou a bola nas mãos — Estou começando a achar que é realmente especial.
— O esporte e as pessoas que encontramos por meio dele, realmente são. As bolas, guardam memórias, momentos, e sempre estão do nosso lado mesmo quando estamos praticando sozinhos. Não acho que precise agradecer, pelo contrário eu preciso. — respondi um pouco envergonhada.
— Não é qualquer um que embarca na ideia de uma criança que quer montar um time e treinar com a irmã adolescente dele.
O mais velho riu — Isso é verdade, mas desde o começo deu para ver como Nico é diferente. Vocês são, mas bem, é melhor eu ir guardar essa aqui, ou minha filha vai me culpar o resto da vida por perder a amiga dela.
Ele apontou para a bola.
— É uma boa ideia — concordei.
Voltei para as crianças, todos eles estavam ali agora.
— Tekkun, você acha que vão ganhar? — Makoto perguntou.
— Mas é claro que sim, que time que entra na quadra pensando em perder? — ele se curvou um pouco para responder.
— Podemos ir assistir a uma partida? — Masami perguntou. — Nico e Yusuke falaram ser muito legal!
Ele cruzou os braços e olhou para cima com um longo resmungo — Acho que é preciso falar com os pais de vocês, mas eu adoraria ter os rebeldes sem causa torcendo para a Nekoma.
— Mas se eu torcer para você, meu primo vai ficar chateado — Yusuke respondeu.
Meu namorado riu — Essa é a ideia.
— Olha só todo mundo conversando — bati palmas interrompendo. — Hora de começar a se aquecer. Vamos, vamos, sem reclamar de alongar que é importante, Makoto você conta hoje.
Empurrei meu ajudante com o ombro, questionando em seguida — O que você pensa que está fazendo?
— Preparando a nova geração.
Segurei o braço dele e bati algumas vezes de leve — Mas não fale esse tipo de coisa para Yusuke, seu gato traiçoeiro. É a família dele!
— Justamente por isso. — ele se afastou rindo para se alongar com as crianças.
— Tetsurou!
N/A: Capítulo mais curto, quase um extra, mas fofinho para acalentar corações. Afinal tem o rei de todas Nico D'Calligari e são duas semanas seguidas com att.
No próximo já voltamos para a loucura que são os jogos, então só dedo na cara e gritaria.
Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!
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