Miyagi pt.2




Ver Hinata correndo com coletes e marcando pontos na lateral da quadra foi realmente surpreendente, o jogo estava repleto de boas jogadas, mas infelizmente os meus pensamentos estavam voltados para os questionamentos da situação. Me lembrei do treinador Nekomata comentando sobre a Karasuno e sobre corvos serem onívoros. Se alimentando de tudo que existe e até mesmo criando a chance para isso. Ainda que não apoiei a irregularidade da ação, admiro a fome.

Cruzei os braços e me encostei na cadeira balançando a perna, enfim prestando mais atenção no jogo.

Os terceiranistas da Shiratorizawa não estavam se segurando, o que faz ser inevitável não olhar para Ushijima Wakatoshi. O ace canhoto, uma força e técnica bruta. Porém, outros também me chamaram a atenção, como o bloqueador de cabelos vermelhos e o próprio levantador.

— Chega ser injusto — comentei em voz alta. — O levantador tem o jogador ideal para servir, pelo menos o da minha preferência de jogo.

O técnico Washijo, me olhou de canto de olho sem falar nada, mas o outro técnico - Anabara da Johzenji -, perguntou.

— Diz em força? — seu tom de voz era curioso

— Sim e não, para mim não se faz um ataque apenas de força, mas sim um conjunto de força e habilidade. O jogador forte é aquele que tem liberdade para fazer o que quiser - expliquei -, o que tem confiança de que vai resolver o jogo independente de quem está do outro lado da rede.

Voltei a me inclinar para frente, desfazendo a posição de braços e juntando as mãos — Apesar que um bom time não se faz apenas de um jogador como esse, e sim um conjunto.

— Vindo de Tóquio, deve ter visto alguns jogadores nesse perfil. — Washijo respondeu meu comentário sem tirar os olhos na quadra.

Todos os aces nacionais se pareciam em certo nível, Bokuto, Sakusa, Ushijima, todos eles eram fortes, acima da média, mas a maneira que usavam suas habilidades para criarem a chance eram distintas. Bokuto tinha ombros flexíveis que dava a oportunidade de fazer cortes insanos, Sakusa mantinha o seu segredo no giro do pulso, mas Ushijima era a força.

— Parecidos, mas realmente cada um tem uma maneira de jogar. Ushijima-kun é incrível claro, mas sinto falta de um pouco de flexibilidade. — Ri sozinha com meu comentário. — Só não sou a técnica, digo isso apenas baseado nas minhas vontades.

Nesse momento o apito marcou o fim do set, os novatos perdedores se alinharam na lateral para fazer uma rodada de punições. Nesse instante eu me levantei.

— Vou ajudar os gandulas — anunciei.

— Por favor — Anabara se moveu balançando as mãos. — Não há necessidade, é uma convidada.

Dispensei sua preocupação — Provavelmente estou mais acostumada com isso do que eles, não é um problema.

Andei direto para os primeiros-anistas voluntários da escola — Olá, posso ajudar?

— Claro — respondeu o primeiro com a voz trêmula e falha. — Pode ser com as toalhas?

Sorri em resposta e peguei uma pilha delas me aproximando dos jogadores, claro que eu queria falar com eles, não ia perder essa chance. Os mais novos primeiro.

— Tsukki já se recuperou do choque? — perguntei parando atrás das suas costas, os ombros do loiro se levantaram numa reação inesperada e que me fez sentir como se fosse um espírito.

Devagar ele se virou — [Nome]-senpai, o que está fazendo em Miyagi?

— Uma visita técnica — entreguei uma toalha em sua mão. — Estou acompanhando meu pai nos negócios da clínica.

Bati em seu braço — Você realmente evoluiu, estou orgulhosa. Todo o tempo treinando no terceiro ginásio e com aqueles idiotas, sendo um pupilo do meu capitão, fez a diferença.

— Obrigado — ele se curvou de leve.

Me virei para os outros meninos que estavam com eles — Aqui, toalhas para vocês também.

Um deles, que tinha os cabelos loiros mais com uma peculiar franja escura e espetada, agradeceu e perguntou. — Quem é você? É amiga do Tsukki?

Antes que o pupilo de Kuroo pudesse negar, eu respondi que sim — Karasuno fez parte do nosso grupo de treinamento em Tóquio, já conhecia Tsukki e Hinata. Sobre quem eu sou, [Nome] D'Calligari. Gerente do Colégio Nekoma e acompanhante no projeto de fisioterapia da Shiratorizawa.

Tsukishima tirou os óculos por um momento para limpar as lentes — E a ex-levantadora e capitã da seleção U19 italiana.

Um sorriso se fez presente no meu rosto, não pensei que ele fosse dar minhas credenciais dessa maneira. — Isso também.

— Seleção?

Nisso, um deles, com uniforme em cores familiares, arregalou os olhos olhando para o colega. Como se estivesse passando uma mensagem pelos olhos.

— Você é da Aoba Johsai não é? Os dois — apontei.

— Não! Quero dizer, sim! Yutaro Kindaichi — ele se curvou. — Esse é o Akira Kunimi.

Olhando com mais cuidado, Kindaichi parecia de certa forma amigável, já Kunimi me lembrava Kenma de várias formas.

— Como você conhece essa escola?

Me virei para Tsukki — Meu melhor amigo, quase meu irmão, é um estudante da Seijoh. Mas ele joga basquete.

— Akiyama-senpai não está mentindo, então — Kunimi anunciou, o nome me chamando atenção por ser Fideo.

— Oh, conhecem Fideo? — me aproximei deles. — Aquele homem loiro ali é o pai dele.

Apontei para Fabricio que estava conversando com meu pai e os auxiliares na lateral. Parece estranho que eles conheçam meu pseudo-irmão, mas depois que eu soube do embate de Fideo com o capitão do time de vôlei, o cara que Tobio também admirava, não me surpreende que meu amigo italiano estivesse passando alguns momentos no ginásio dele atormentando o time.

O garoto que falou comigo depois de Tsukki exclamou: — Você conhece todo mundo! Sou Koganegawa, estudo na Date Tech e também sou levantador.

Troquei mais algumas palavras com eles, visto que faria o acompanhamento até domingo, os encontraria mais vezes. Passei por debaixo da rede e entreguei o restante das toalhas para alguns jogadores que também não pareciam ter ideia de quem eu era. Não posso negar que era uma mistura de sentimentos, em Tóquio os olhares - principalmente em torneios -, eram diferenciados. Em Miyagi, com algumas exceções, sou praticamente uma desconhecida, porém alimenta um pouco meu ego que as pessoas que me reconhecem são aqueles acima da média.

— É um prazer conhecê-la, sou Ushijima Wakatoshi.

O ginásio pareceu parar no tempo quando o ace se curvou levemente para me cumprimentar. Compreensível, mas formal demais, uma voz grave demais e uma intensidade nos olhos quase desnecessária.

— Não precisa de tudo isso — senti minhas bochechas esquentarem. — Aqui estou apenas como uma curiosa. Contos sobre as suas habilidades viajam até Tóquio.

— Obrigado — agradeceu e pegou uma toalha.

— Não é surpreendente, é a primeira vez que eu vejo Wakatoshi-kun nervoso perto de uma garota — disse o bloqueador de cabelos vermelhos. — Essa é uma habilidade e tanto

O ace franziu de leve, mas não respondeu, ele não parecia nem um pouco nervoso para mim.

— Satori Tendou — se apresentou se aproximando em seguida. Ele era alto e tinha uma aura peculiar que não me deixa desviar os olhos. — É verdade então que você jogou pela seleção italiana.

— Até me aposentar, por conta da lesão, sim. — respondi. — Por que a dúvida?

Ele resmungou jogando o tronco para um lado e para o outro como se ajudasse a organizar seus pensamentos — Parece incomum alguém como você vir parar no Japão, tem um pouco de sotaque, mas fala bem japonês.

— Minha família tem raízes aqui, apesar de eu ter nascido em Roma.

— Entendi, você parou de jogar por completo?

Balancei a mão entregando a última das toalhas — Em rendimento sim. Ajudo em treinos, aquecimentos, mas não fico mais do que um set em quadra.

Tendou colocou o braço nos ombros de Ushijima e apontou para seu rosto — Esse cara não vai pedir, mas tenho certeza que ele quer cortar um levantamento seu. Se importa em fazer uma demonstração?

É engraçado como o ruivo era praticamente um intérprete do ace, para mim ele estava vendo mais coisa do que realmente tinha. Mas quando o garoto estoico comentou que seria uma honra, acreditei que o central estava realmente falando a verdade.

— Temos tempo para isso? — olhei para a lateral.

— Não se preocupe, é só um ataque.

— Por mim tudo bem — concordei. — Hinata, me joga uma bola, por favor.

— Aqui! — ele rapidamente reagiu. Segurei a esfera nas mãos e girei apertando ela de leve, segurei ela entre os joelhos e tirei o agasalho o amarrando na cintura para ter os movimentos livres. Até gostaria de ter um momento em quadra, mas não estava vestida apropriadamente para isso. Nos próximos dias, quem sabe.

— Faz muito tempo que eu não levanto para um canhoto — bati a bola no chão. — Não tenha grandes expectativas.

— Confio em suas habilidades. — Ushijima recuou para o fundo da quadra com a mesma expressão no rosto.

— Ele sempre se expressa sem se expressar muito assim? — perguntei para Tendou que deu uma gargalhada alta.

— Não viu nada ainda, eu jogo a bola para você — ele pegou o objeto das minhas mãos e se afastou alguns passos. Alonguei as mãos e os braços e dei pequenos pulos para soltar minha postura.

— Vamos lá — pedi para o ruivo jogar a bola e me posicionei. Tinha uma vaga noção de como ele gostava dos levantamentos, vendo a repetição de padrão durante as jogadas, mas só saberia se iria funcionar depois de testar.

A bola encaixou na minha mão com leveza e o levantamento foi feito da mesma maneira, um arco preciso que fez o ataque parecer mais forte do que realmente era. O som ecoou pelo ginásio deixando até os novatos surpresos.

— Oh! Pareceu que a bola flutuou até a mão do Wakatoshi-kun — Tendou comentou.

— Sim — o ace concordou olhando para a palma e em seguida para mim. — Foi um bom levantamento.

— Obrigada — fiz uma mesura de rainha, segurando as pontas do agasalho como se fossem parte de um vestido. — É bom lembrar o quanto sou boa às vezes.

— Gostei de você, vamos ser amigos — Tendou se aproximou esticando a mão.

Respondi seu cumprimento, um riso sádico puxando o canto dos meus lábios. — Certo, mas só se me falar tudo que sabe sobre Tooru Oikawa.

— Não poderia perguntar para pessoa melhor.

O sorriso do central se equiparou ao meu, era bom estar munida de informações para encontrar com o "Grande Rei", afinal era um encontro de realezas. Nesse momento, Ushijima se virou a fim de se posicionar para voltar a jogar um novo set. Não sem antes deixar uma frase solta no ar.

— Ele deveria ter vindo para a Shiratorizawa.








N/A: Eu não podia deixar essa chance passar.

Essa parte deve ter mais um ou dois capítulos, pouca coisa, só para explorar um pouco mais o mundo.

Lembrando que tem um spin-off finalizado do Fideo e do Oikawa, nesse universo disponível no perfil. Se chama Elysian e explica um pouco mais dessa dinâmica dos dois.

Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!!

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