Miyagi pt.1





— Também quero ir! — Nico nesse ponto estava emburrado no sofá de braços cruzados vendo eu e meu pai passando com malas pela sala. — Não é justo.

Com o fim do ano também chegou um compromisso já marcado há alguns meses, a ida para Miyagi, apesar do acampamento da juventude ser durante uma semana inteira. Meu pai escolheu ir na quinta-feira, assim eu não perdia muitas aulas e tínhamos tempo o suficiente para fazer algumas visitas.

— Nico — meu pai se abaixou na frente dele. — Quando formos para visitar apenas Fideo, prometo que você vai junto, vamos todos. Sua mãe vai ficar também, ela vai ficar muito triste se ficar sozinha em casa.

O pequeno se virou para encarar minha mãe por cima do sofá — Vai mesmo?

A mais velha se aproximou e pegou o pequeno no colo — Claro que sim, como não vou sentir falta do meu bebê. Enquanto [Nome] e papai estão trabalhando, eu e você vamos nos divertir bastante aqui em Tóquio.

— Olhe Zun também — abaixei para fazer um carinho no gato que estava chamando atenção com um miado baixo. Cocei atrás de suas orelhas e queixo, antes de me levantar. — Ele vai querer atenção.

Meu irmão sorriu e deitou o rosto no ombro dela balançando as pernas — Está bem.

— Já que está tudo resolvido, nós devemos ir — disse o meu velho.

Nos despedimos da outra metade da nossa família e seguimos andando em direção à estação, o mesmo caminho que geralmente fazia com os meninos para chegar na Nekoma. Podíamos chegar a Miyagi com o shinkansen, o trem-bala, logo não fazia sentido dirigir um carro por horas para chegar lá, tínhamos um aluguel agendado para facilitar nossa estadia, mas é isso. Fabrício tinha os próprios compromissos, não podíamos depender dele.

Em relação ao time, os treinos continuaram como o programado. Havia me despedido dos meninos no final do treino do dia anterior, deixando um tipo diferente de adeus na boca do meu namorado depois que chegamos na nossa vizinhança. Depois de Kenma seguir para a casa dele é claro.

— Animada? — perguntou meu pai assim que nos ajeitamos no trem.

— Curiosa — respondi. — A maioria dos jogadores que conheço falam do canhoto Ushijima, e Fideo disse que ele tem uma espécie de briga com o levantador da escola dele. Quero ver o que consigo descobrir sobre isso.

Ele balançou a cabeça negativamente — Faça sua investigação, mas também preste atenção nos negócios, é por isso que estamos indo. — Sua mão se ergueu para puxar de leve a minha orelha.

— Eu sei, não parou de falar sobre isso — empurrei sua mão para longe. — Está todo engraçadinho já que aceitei esse fardo de carregar seu legado.

O Sr. D'Calligari fez uma careta — Pare de falar como se eu tivesse a forçado, poderia ter escolhido qualquer carreira.

Deixei o corpo escorregar na cadeira — E você não ficaria chateado por isso? Ainda posso mudar de ideia, então.

— Claro — dei risada pela careta que veio acompanhada da resposta.

— Pai, acha realmente que eu escolheria algo baseado em outras pessoas e não nas minhas vontades? Sem falar que eu já sei exatamente o tipo de pessoas que quero trabalhar.

Um suspiro deixou sua boca e em seguida ele também se deixou relaxar na cadeira — Essa é nova para mim, não pensei que iria ouvir sobre uma especialidade até a faculdade.

— É bom entrar no curso já com uma ideia, se eu quiser mudar de ideia é melhor fazer isso antes da formação — ele ficou me olhando pedindo com os olhos brilhantes o resto do pensamento. — Crianças, eu gostaria de me especializar com crianças. É uma época onde ainda estamos nos formando, crescendo, pode ser o início de uma prevenção, correção de vícios de movimentos prejudiciais, um suporte para talentos desde a infância.

— É maravilhoso.

— Pai, você está chorando?

Imediatamente ele passou ambas mãos no rosto, dando uma resposta negativa abafada, ele definitivamente estava prestes a chorar. Dominic D'Calligari tem um coração mole no fim das contas.

Quando o trem começou a se movimentar, ficamos em silêncio, saímos antes do sol nascer, então foi um momento onde conseguimos cochilar e recuperar um pouco da energia gasta.

Miyagi era bem diferente de Tóquio, mas não de um jeito ruim, podia entender porque Tetsu chamava a Karasuno de corvos caipiras. Realmente a cidade tinha uma vibe de interior diferente da grande cidade do mundo que era a capital japonesa.

Bem-vindos! — Fabrício estava nos esperando de braços abertos, ele abraçou meu pai com força batendo em suas costas. — Como foi a viagem.

— Rápida e confortável, não podia ser mais agradável.

— Perfeito — Fabrício também me cumprimentou dando um abraço lateral e beijando o topo da minha cabeça. — A locadora de carros fica aqui perto, vim a pé para poder guiar vocês até nossa casa, Izumi fez um café da manhã para vocês.

Isso era ótimo, estava absolutamente faminta e tia Izumi era absolutamente a melhor de todas. Tendo nascido no Japão, ela tinha um vasto conhecimento da culinária local, minha mãe se arriscava, mas ela passou muito tempo longe e se sentia mais confortável com a culinária ocidental.

Pegamos o carro e pelo caminho Fabrício já ia dando pequenos spoilers da nossa agenda para os dias, quando chegamos na residência Akiyama fomos recebidos praticamente com um banquete, e Fideo.

— Bem que achei que tudo isso era demais para ser apenas para mim — disse o loiro trajado no uniforme da Aoba Johsai, pronto para ir para a escola. — Minha mãe nunca faz tanta coisa.

Izumi bateu na parte de trás da cabeça dele — Pare de falar mais do que deve na frente das visitas, quem escuta pensa que eu te deixo passar fome.

— É brincadeira, mãe — ele deu risada ajeitando os fios dourados no lugar.

Peguei um rolinho do tamagoyaki, um tipo de omelete enrolado, e respondi — Você já come a comida da tia Izumi todo dia, pare de ser egoísta e seja grato que a minha presença está te dando uma incrível refeição.

Meu projeto de irmão apoiou o rosto na mão, falando em seguida do jeito mais monótono e insincero possível — Oh, obrigado por me abençoar com a sua presença.

Mirei os olhos dele e sorri — De nada.

Nossa pequena conversa estava sendo ignorada pelos adultos, não que fizesse diferença, ele se levantou e colocou a mão na minha cabeça.

— Infelizmente, ao contrário de você, eu não posso faltar na escola, te vejo depois das aulas. Tenho muitas novidades para contar.

— Estarei esperando ansiosamente.

Fideo então se virou para os pais anunciando que ele estava indo primeiro e em seguida nos deixou sozinhos para terminar de comer. Pelo que entendi, aqueles convocados para o acampamento regional ainda tinham que frequentar as aulas durante a semana, mas ao final dela poderiam dormir na Academia Shiratorizawa, é nesse momento que nos juntaríamos a eles para observar.

Tivemos um tempo para nos instalarmos na casa de Fabrício e então fomos cumprir o primeiro compromisso da agenda. Visitar a clínica.

Comparada com a filial de Tóquio, a de Miyagi estava bem mais avançada, isso porque a questão de acordos com escolas e apoio para funcionamento já estava resolvida. O lado burocrático do funcionamento já estava legalizado, era apenas uma questão de tempo para o funcionamento começar.

— A ideia é deixar as plantas parecidas, no caso de algum jogador associado precisa de um apoio em qualquer uma das clínicas o modo de funcionamento e organização seja o mais familiar possível, ainda que o corpo de funcionário seja diferente. — Fabrício estava nos guiando por dentro do prédio. — Além da fisioterapia e as salas de tratamento, também preparamos alguns consultórios para ortopedistas, nutricionistas e psicólogos.

Sabia do início ser um projeto ambicioso, mas ver tomar forma, era muito mais impressionante, de certa forma me deixava orgulhosa presenciar o que eles estavam construindo. Mais do que uma clínica, é uma base de formação e cuidado para atletas em potencial.

Almoçamos nas imediações e em tempo do treino na Shiratorizawa começar, dirigimos até o local para acompanhar. Só então tive informações sobre os jogadores participantes, reconhecendo um certo corvo de óculos no meio deles.

— É uma escola bem grande — comentei saindo do carro.

— A Academia Shiratorizawa o que chamam de potência da região — Fabrício respondeu fazendo o mesmo do banco do motorista. — Eles estiveram no topo das competições por anos, com bons resultados. Por ter uma estrutura de dormitórios é a melhor para receber os alunos convidados.

Ajustei meu agasalho no corpo e fechei o zíper colocando as mãos nos bolsos — Parece o mais lógico mesmo.

Logo um homem se aproximou, era um dos treinadores, ele se apresentou como Akira Saitou. Ele cumprimentou os dois homens e então estendeu a mão para mim.

— Ouvi dizer que viria, é uma honra conhece-la D'Calligari.

Aceitei sua mão — Apenas [Nome] está bom, deixo o D'Calligari para meu pai, já que ele é bem mais velho.

— Claro — Saitou respondeu com um pouco de confusão quando Fabrício deixou sair uma gargalhada. — Devemos ir?

Meu pai deu um apertão no meu pescoço quando nos colocamos a andar resmungando algo sobre a idade dele em italiano, arrancando de mim alguns risos. Tivemos um breve tour sobre as imediações da escola até de fato chegar no ginásio, os garotos estavam se aquecendo quando nos aproximamos, o que rendeu algumas caretas.

— [Nome]-senpai! — uma voz, relativamente fina, me chamou da lateral e quando me virei, vi Hinata se movendo com uma série de coletes nos braços.

— Laranjinha, que surpresa — respondi —, não estava na lista dos jogadores que eu vi.

O número 10 da Karasuno olhou para baixo — É porque eu realmente não estou, invadi o acampamento e estou fazendo o serviço de gandula.

Sua fala me pegou de surpresa, que diabos Bokuto e a Corujinha andaram ensinando para ele?

— Vou querer escutar a história depois — coloquei a mão em seu ombro antes de andar para onde os mais velhos estavam. — Avise para Tsukki fechar a boca, ele ficou surpreso demais.

Acenei para o loiro que estava no meio dos outros jogadores, apenas para ver ele ficar vermelho e receber uma série de olhares questionadores dos colegas. Eu teria alguma diversão nesses dias.

— Técnico Washijo é um prazer o conhecer — meu pai o cumprimentou.

— Sim, finalmente. Akiyama falou bastante de você, não que eu já não conhecesse o sobrenome — o homem era mais velho, baixo e tinha uma feição séria. Apesar disso, não tinha um tom de voz agressivo, ao menos não falando conosco. — Olhei com bons olhos seus levantamentos por muito tempo, é uma pena o que aconteceu.

— Foi o que eu pensei por muito tempo, mas se não tivesse, nada disso poderia estar acontecendo e eu sequer estaria no Japão. É bom encarar como uma nova oportunidade, ainda posso ensinar algumas pessoas a levantar por aí.

O treinador deu um aceno e sorriu de leve — Muito bem, fiquem a vontade para acompanhar o treino, os terceiranistas devem estar chegando para ajudar no treino em breve.

Com isso, pela porta do ginásio passaram alguns rostos conhecidos da revista nacional, me sentei junto ao meu pai nas cadeiras que foram preparadas para nós e voltei a minha atenção para a quadra. Um bando de jogadores do primeiro ano estavam reunidos para jogar com os veteranos que já foram algumas vezes para o nacional.

Por um momento senti pena, mas em seguida sorri. Isso seria interessante. 











N/A: De volta para a história! Feliz, 2025!!

Obrigada por ler até aqui.

Até mais, Xx!!

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