Meio Caminho Andado
Mal conseguimos degustar a vitória no primeiro dia e já tivemos que nos preparar para os jogos do dia seguinte. Dessa vez seriam dois jogos no mesmo dia, uma na parte da manhã e outra depois dela.
Se a Nekoma passar de hoje, estamos um passo mais próximos da qualificação e vamos para o segundo fim de semana já entre os 8 melhores de Tóquio. O tempo para analisar nossos adversários foi curto, foi entre viagens de ônibus e pequenas reuniões ainda no ginásio. Porém, um time, é um time. Os garotos sabiam que seriam assim e se prepararam para esse ritmo.
O primeiro jogo do dia foi feito com a Escola Hisuyashi, eles não tinham tanto tempo de circuito colegial. Pelo que vi deles tinha pouco mais de cinco anos de formação, apenas nos últimos três conseguiram passar do primeiro jogo. Era um time novo que começava a firmar um trabalho e uma cultura de vôlei.
Subestimar um adversário é a pior coisa que alguém, em qualquer esporte, pode fazer. Não apenas você está jogando os esforços do atleta no lixo como também sendo um enorme babaca. Os garotos os trataram como qualquer outro desafio a ser ultrapassado, olhando para o hoje e não para os resultados anteriores.
Os jogadores da Hisuyashi eram rápidos, não como nossos adversários no dia anterior, mas entre eles mesmos. Todos os passes foram feitos num tempo menor, o que progressivamente acabava fazendo com que a Nekoma tentasse se igualar aumentando o próprio ritmo quando não havia necessidade de ser feito. Se Kenma não tivesse dito para os jogadores o que estava acontecendo durante a primeira pausa, era capaz que os adversários tomassem o ritmo de jogo antes que percebêssemos.
Conseguir desvendar as táticas do outro grupo, é o primeiro passo para conseguir a vitória. Sem cair no jogo de tempo adversário, os garotos pegaram o controle do jogo novamente e ganharam o primeiro set. Voltaram para o segundo mais confiantes, mantiveram os ataques agressivos e bem calculados. Sem deixar de lado a recepção de alto nível, que é uma característica geral e ponto forte do time.
Não posso negar que a Hisuyashi tentou levar para um terceiro set, porém a experiência de um time com a química certa levou a melhor na primeira partida do dia, avançando mais uma fase.
— Isso! — comemorei fechando a mão em punho quando o apito indicou o fim do jogo.
Comemorei com treinadores batendo em suas mãos, fazendo o mesmo com os jogadores que se aproximavam após cumprimentar a torcida.
— Aquela sua última recepção foi ótima Kai — elogiei o vice-capitão que fez uma boa partida.
— Obrigado Calli-chan — respondeu após aceitar uma toalha para secar o rosto. — Achei que estava adiantado demais, mas acabou dando certo no final.
— Tora também foi bem nesse jogo — comentei em voz alta para o Ace do time.
Imediatamente ele se colocou numa posição de soldado e prestou uma continência, agradecendo em seguida. Juntamos os equipamentos e saímos da quadra dando lugar para os próximos times entrarem para começar a se aquecer. O cronograma era esse, um jogo acabava, outro já vinha para começar, de maneira frenética, sem tempo para pensar e não era apenas para nós, mas sim para todos os times. Eram quatro quadras com jogos em simultâneo.
— Vamos procurar um lugar para sentar e depois distribuir marmitas e reposições — Naoi disse para o grupo. — Vamos guardar as energias para o jogo da tarde e observar os outros times. Procurem ficar próximos, não se dispersem.
— [Nome] te ajudamos a carregar — Inuoka anunciou se aproximando com Shibayama.
— Eu ajudo também! — Tora se aproximou sendo impedido pela minha mão.
— Dois já são o suficiente, não tem tanto equipamento — sorri —, pode ir na frente.
Tora travou e Kenma passou por ele dizendo algo como "ter levado um ataque atordoante" abaixei a cabeça rindo e coloquei a mão nas costas dos mais novos os guiando com o restante. Tomamos um lugar nos corredores, além das quadras, próximos às saídas onde havia bebedouros e bancos para os atletas. As proteínas e suplementos foram distribuídos e os garotos tiveram um momento de descanso tranquilo antes de voltar para as arquibancadas.
— O que está comendo? — o capitão se sentou ao meu lado enquanto esperava os últimos dos meninos retornarem dos vestiários.
— Chocolate, mas é meio amargo. Quer?
O capitão riu e se curvou para frente apoiando ambos cotovelos nos joelhos — Do jeito que você disse não parece muito com vontade de dividir.
— Tem gente que não gosta — me defendi —, é apenas um aviso. Se você quiser, posso te dar um pedaço.
Tetsu balançou a cabeça negativamente — Acabei de escovar os dentes, são gostos muito fortes para se misturar.
— Espera, você não gosta de chocomenta?
Ele olhou por cima do ombro e se ajeitou, sentando e cruzando os braços em seguida — O que tem de surpreendente nisso? É estranho, é doce, mas refrescante, é a mesma coisa que comer um doce e escovar o dente ainda mastigando.
— Eu devia ter te entrevistado melhor antes de falar estarmos namorando — balancei a cabeça negativamente. — É inaceitável.
— É uma aberração — ele rebateu.
Abri a boca completamente chocada, em recusa — Você não disse isso.
— Posso dizer de novo se quiser — Kuroo pegou o pedaço de chocolate que ainda estava na embalagem e colocou na minha boca aberta apenas para em seguida empurrar meu queixo. — Fecha a boca majestade.
Dei um tapinha de leve em sua mão, mastigando quadradinho de chocolate, sentindo a textura aveludada derretendo na língua — É um insulto, é um clássico dos gelatos italianos, vamos ter que dar um jeito nisso.
O garoto fez uma careta — Não tem muitas coisas que eu não goste, vai agarrar a essa?
— Sim? Porque eu adoro.
Ele riu e segurou meu rosto, deixando um beijo estalado e fresco na minha bochecha — Pode continuar gostando, só não me peça para comer com você.
Coloquei a mão em sua cintura e apertei a lateral, imediatamente ele recuou de uma maneira exagerada pelas cócegas que vieram com o movimento. Segurando de leve minhas mãos longe dele.
— Não faça isso — pediu, e claro que causou o efeito contrário. O meu lado mais travesso tentou aproximar os dedos de sua lateral apenas para o ver rindo, mas ao perceber as pessoas olhando para nossas interações mais atentamente, decidi me segurar.
— Deu sorte, Salem — afastei as mãos e resolvi mudar o foco da minha atenção.
Geralmente eu não ligaria e faria o que eu quisesse, mas dessa vez o campeonato não é meu, não preciso colocar no meu namorado uma atenção por conta de um relacionamento. Se fosse para se destacar que fosse por suas habilidades, não por beijar minha boca.
Os últimos garotos voltaram do vestiário dando então a brecha para podermos entrar e nos ajeitar nas arquibancadas. Coloquei a alça da bolsa no ombro, ergui as pontas dos pés para contar as cabeças e garantir que não tinha ninguém faltando. Assim que confirmei, o grupo voltou a se movimentar, agora para o lado de dentro.
Me sentei na ponta para ficar de olho, os garotos se dividiram em algumas fileiras para assistir às partidas. Tetsurou estava ao meu lado enquanto Yaku estava na minha frente junto de Kai.
Cruzei as pernas e puxei da bolsa a prancheta que ficava geralmente nas minhas mãos, vendo a programação e identificando os times que estavam jogando. Nossos próximos adversários eram da Academia Takasagi, já eram considerados um pouco mais perigosos. Nosso time já os enfrentou uma vez, durante o ano passado, mas pelo que levantamos de informação o técnico da equipe mudou. O antigo se aposentou e deu lugar para alguém mais jovem. Esse estava fazendo um trabalho sólido implementando uma nova maneira de jogar. Se tivesse que fazer uma comparação, seria o mais perto do que teríamos de uma Karasuno em Tóquio.
O time usava a agilidade para se fazer imprevisível, tinham uma forte habilidade para ler os adversários e uma forma de agir coletivamente que fazia dos jogos partidas fluidas e bem sincronizadas. Olhei por algum tempo a partida deles quando ainda estávamos nos preparando para o primeiro jogo, pareciam estar em boa forma.
— Ei [Nome] — Yaku se virou para mim. — Parece que tem alguém querendo falar com você.
Virei para onde ele estava apontando e tinham alguns garotos de uma escola desconhecida, com papéis nas mãos olhando para mim, mas claramente com medo de se aproximar.
— Posso ajudar?
— Oh, você fala japonês! — primeiro deles disse tomando coragem para dar uns passos na minha direção. — Desculpe por incomodar D'Calligari-san.
Apenas pelo jeito que pronunciaram meu sobrenome eu podia saber do que estavam atrás.
— Não tem problema, de que escola vocês são?
— Somos do fundamental — o segundo anunciou — viemos assistir aos jogos. Ficamos sabendo que estava aqui e tentamos a sorte, somos grandes fãs!
— A jogada que fez no segundo set com a seleção portuguesa no torneio da juventude europeu no ano retrasado foi incrível!
Pedi os cadernos e assinei — Para verem um campeonato estrangeiro assim realmente devem gostar do esporte. Obrigada pelo apoio, boa sorte na carreira de vocês, não se machuquem.
Os dois ficaram vermelhos e abraçaram os cadernos com força — Obrigado pelas palavras, seja-feliz D'Calligari-san!
Yaku na minha frente soltou um riso, fazendo com que os meninos saíssem correndo e comentando.
— Não tire sarro dos mais novos, demônio-senpai.
— Mas foi engraçado e fofo.
Bati de leve a prancheta no topo de sua cabeça como punição.
O time permaneceu ali até que chegasse o momento de nos aquecermos novamente, para enfrentar a Academia Takasagi. Os jogadores se cumprimentaram, Kuroo fez o mesmo com os juízes e fez a escolha de recepção ou saque.
O primeiro set começou com certa intensidade, os adversários, fiéis ao seu novo estilo agressivo, iniciaram a partida sem se segurar nos ataques de força e estratégicos. Contudo, a Nekoma por estar bem acostumada com um time de estilo muito parecido, rapidamente mostrou que também estava ali para apresentar um esporte de alto nível.
Comparando com o treinamento de verão, Lev tinha melhorado absurdamente, complementando e dando altura ao nosso bloqueio, fortalecendo ainda mais a defesa. Os reflexos rápidos e leitura precisa dos colegas de quadra supriam as suas falhas e criavam um efeito a favor dos gatos.
Apesar da determinação da Academia Takasagi, a frieza da Nekoma em lidar com o inesperado prevaleceu. Dando para o Colégio Nekoma o primeiro set da partida.
Gradualmente a pressão do segundo set foi se construindo e os adversários foram pressionando, até que chegamos aos 20 pontos empatados.
— Não deixem que eles quebram a sincronia de vocês — disse entregando bebidas esportivas. — Podem lembrar a Karasuno, mas não são os rivais predestinados.
— E não tente chamar atenção com jogadas desnecessárias — virei para Lev, num momento de vantagem, quando crescemos no jogo. A confiança dele tirou o melhor e acabou dando um ponto de graça para o adversário.
Ele virou o rosto como quem não soubesse do que estava falando.
— Kuroo vai rodar e ficar na frente, Yaku-san volta para o fundo — Kenma falou —, é uma boa rotação para acabar o jogo.
Assim foi dito, assim foi feito.
Quando voltaram, o saque estava com os adversários, nosso guardião fez uma recepção sólida dando tempo para Kenma se posicionar. Kai e Tetsurou inverteram as posições e pularam nos cantos da rede para atacar. Tora serviu de isca e Fukunaga veio do fundo com um ataque que pegou de rebote no bloqueio.
— É minha! — Yaku novamente passou para o levantador. Dessa vez o ataque veio rápido pelo meio, marcando o ponto de virada.
21 a 20
Foi um ataque sólido que ajudou na moral do time. Tora foi para o saque depois disso, os adversários receberam, mas o contra-ataque morreu novamente nas mãos do nosso líbero. Abrindo o caminho para o capitão pontuar mais uma vez.
Eles continuaram atacando, sem desistir, mas mesmo assim a Nekoma estava melhor na partida. Kenma abriu a diferença marcando com uma largadinha quando ninguém estava esperando nos colocando mais um passo próximos do match-point.
Fomos para o quarto saque e numa jogada bem construída pela lateral acabamos perdendo a sequência de pontos. Porém, dessa vez não me afobei, diferente dos outros jogos o time em quadra estava calmo, em seu prime fazendo o melhor e sendo melhores na partida.
Ainda que o atacante mais forte deles estivesse na rede, não foi o suficiente para passar pela defesa. A bola voltou como uma chance, e eles escolheram atacar com um direto. Novamente foi feita a recepção, dessa vez levando a sequência direto para Kenma, o ataque veio do fundo com Fukunaga que estourou o bloqueio fazendo a bola voar para trás e cair em cima da linha de fundo.
24 a 22, estamos em match-point.
O treinador Nekomata sempre dizia, enquanto a bola estiver em jogo, temos uma chance. O que não pode acontecer é deixar a bola cair no chão, e felizmente a Nekoma é uma especialista em evitar que isso aconteça. De uma recepção que devolveu a bola num lugar chato e uma leitura mal feita de posicionamento, tivemos mais uma vitória.
O apito foi soprado indicando o ponto e em seguida o fim da partida.
Girei a folha da prancheta e risquei mais um adversário, metade da etapa preliminar já foi conquistada.
Só faltam três.
N/A: Obrigada por ler até aqui!
Como sempre, comentários são muito bem-vindos. Vou parar de escrever porque tem pouca interação? Não, mas dá aquela forcinha em saber que ainda estão acompanhando e gostando da história hehehe
Até mais, Xx!!
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