Lobos de Roma
c a p í t u l o c r o s s o v e r
Fui tola em achar que "treinador Esparta" era apenas um apelido, o treino começou com o básico. Levantamentos, séries de movimentações e trocas de passes, porém, Dan logo incrementou os exercícios fazendo uma construção mais física do que propriamente técnica.
Como se não bastassem os elásticos que meu pai me fazia usar na fisioterapia, agora eu estava com eles agarrados nas minhas pernas forçando os músculos no dia da minha libertação.
— Vamos lá dinossauros, fósseis e romana. Ainda faltam dez — o homem anunciou enquanto andava entre as jogadoras verificando se estavam fazendo os exercícios corretos — estou vendo você folgando Aki. Vou acrescentar cinco movimentos para cada um deles mal feito.
Abaixei a cabeça me concentrando nos próprios pés e forçando meu equilíbrio porque o exercício, além do agachamento, tinha um movimento lateral destinado a fortalecer os músculos externos da coxa.
Respirei fundo tomando meu fôlego — Ele é sempre assim?
A capitã estava do meu lado também fazendo os movimentos, o rabo de cavalo reso pendia para a lateral e as mãos estavam juntas na frente do corpo. Pressionando uma a outra a ponto das pontas ficarem brancas, parece que nem ela com todo o condicionamento físico escapava das dores do treino.
— Geralmente é pior, ele está se segurando porque está aqui — seu rosto se virou para o meu, suas bochechas estavam coradas, mas os olhos dela permaneciam brilhantes. Um riso puxou o canto de sua boca. — Bem-vinda a Esparta.
Aqueles que comentam sobre os treinos da Fukurodani não fazem ideia do que acontece dentro das paredes do ginásio. É avassalador para alguém que não está acostumado, as chamar de espartanas não é nenhum demérito, não tem um pingo de sentido pejorativo. É uma honrosa comparação.
Isso não quer dizer que eu estava aceitando todo aquele treino de maneira complacente, Daniel tinha sorte de não conseguir ler pensamentos, pois a quantidade de palavras de baixo calão que usei durante o treino físico chegou até mesmo me surpreender.
— Descansar — o atual objeto do meu ódio disse, juntei as pernas fazendo o elástico cair no chão e apoiei as mãos na cintura por um momento para recuperar as forças. Escutar o agudo de um apito nunca foi tão bom.
Matt, meu antigo treinador na seleção italiana não ficava tão longe, na verdade, a essência do treino desperta algumas lembranças. Incluindo os comentários soltos para as jogadoras procurando "folgar" nos exercícios. Me abaixei para pegar o, odiado, elástico.
— Me lembra os velhos tempos — comentei para a capitã.
— Seu treinador também era desse estilo... — ela parou por um segundo procurando as palavras certas para completar.
— Assassino — Sora que estava do outro lado dela se pronunciou. A meio de rede girou os braços se alongando e pediu os elásticos a fim de devolver ao treinador. Era um bom adjetivo para atribuir ao homem liderando a Fukurodani.
— Sim, só que tudo soa um pouco mais agressivo em italiano — dei risada com sua fala e juntei as pontas dos dedos a balançando as mãos em seguida, ilustrando os famosos gestos de italianos.
Surpreendentemente consegui tirar de Sora um meio sorriso, a capitã estava certa quando disse que todas ali haviam aceitado a minha presença. Talvez o mau-humor anterior tenha sido apenas uma medida protetiva com a melhor amiga.
— 15 minutos de pausa e Chie vai assumir — Daniel chamou a atenção das jogadoras e indicou a arquibancada — Amano-kun separou toalhas e bebidas esportivas para vocês.
Esfreguei as mãos juntas, eu reparei nos garotos quando cheguei. Mas demorou um pouco para perceber que um deles era de fato o gerente do time. Em sumo, sua função para com as jogadoras era a mesma que a minha.
— Como está se sentindo? — a capitã me perguntou, um pouco de preocupação em seus olhos.
— Bem — respondi olhando para cima alongando o pescoço e respirando fundo —, e com um pouco de saudade do meu antigo time. Ver como vocês são juntas me faz lembrar os dias de jogadora, de várias formas. Inclusive me lembrei o quando odeio treinos de força.
Vendo a minha confissão a capitã jogou o braço sobre os meus ombros, eu não sou baixa. Mas ela era um pouco mais alta que eu.
— Somos duas — disse —, mas o de aumentar o alcance de pulo ganha disparado para mim.
— Pesos de perna? — questionei me lembrando de quando fui obrigada a treinar com as tornozeleiras de areia.
— Também, mas os caixotes são meu atual alvo de ódio.
Apenas o pensamento parecia ruim, nos aproximamos dos garotos juntas um deles, o loiro, entregou um par de toalhas falando em inglês e em seguida Amano-kun nos entregou garrafas. Era uma situação um tanto quanto incomum.
Me sentei ao lado da jogadora nos degraus da arquibancada, mantendo a atenção nos dois mais novos — O pensamento passou pela minha cabeça algumas vezes, mas vocês podem ter um gerente menino?
A capitã cruzou as pernas tomando uma postura de descanso — Aparentemente, sim, só é incomum. Temos uma boa relação com o diretor da escola, e ele fez uma inscrição apaixonada sobre o cargo. Um pouco de conversa do nosso conselheiro e ele ganhou o cargo. Não só ajuda a organizar, mas também é uma peça fundamental do núcleo de estratégia.
Limpei as mãos na toalha e em seguida a esfreguei no rosto, sentindo um alívio em secar as gotas de suor, mas não deixando o assunto morrer — Como assim?
Logo após minha indagação também cruzei as pernas ajustando nossas posições.
Ela olhou para frente — Ele é um especialista em dados, ou algo próximo disso, consegue a maioria das informações que Dan e Chie usam para montar nossas estratégias e treinos. Não só dos adversários, nossos também.
Realmente parecia com o tipo de análise que eu fazia, porém, deixava um outro mistério em aberto.
— E o outro garoto, o loiro? Ouvi você falando em inglês — questionei.
A capitã ficou em silêncio por um momento batendo as pontas do dedo na garrafa, seus olhos caíram para o chão antes de me dar uma resposta.
— Thomas, meu novo irmão — explicou um uma voz um pouco menos imponente e levemente preocupada. — Não de sangue, ele é meio-irmão do Dan, na verdade, foi recentemente adotado na nossa família. Veio da Inglaterra e ainda está se adaptando.
É um sentimento conhecido por mim, o de mudança repentina. Ajustar uma vida inteira em um país novo não é fácil.
— Posso entender como ele se sente. Quando vim já sabia um pouco mais do idioma, mas meu irmão Nico teve um pouco mais de dificuldade.
— Posso imaginar que sim. Ele tem 7 anos não? — ela se virou para mim.
Sorri antes de responder — Sim, se ele estive aqui estaria maravilhado.
— Quem sabe numa próxima, Yusuke veio uma ou duas vezes, é só combinar.
Nico costumava ir para os treinos comigo na Itália, enquanto não começava o treino ele ficava com as garotas "treinando", mais jogando bola para cima do que qualquer outra coisa. Aqui no Japão ele ainda não teve essa chance, nem mesmo na Nekoma.
Aos poucos as garotas começaram a se juntar a nossa volta, ouvi de Kenma certa vez que nas vezes que as escolas do grupo de treinamento, se reúnem na Fukurodani. O time feminino costuma invadir para jogar com os garotos, isso desde o primeiro ano de Kuroo.
Aparentemente eles estavam empatados nesse placar de sets feitos nos treinos livres.
— É necessário manter a invencibilidade do time feminino nos treinos livres — uma das garotas mais novas, Chizue se não me engano, disse — Capitã, nós aguentamos.
Sora se aproximou com uma careta.
— Seus maus hábitos de competitividade estão passando para as crianças
— Já percebeu que você me acusa mesmo quando eu não fiz nada? — a capitã reclamou tal qual uma criança que é acusada indevidamente. — Elas que querem jogar!
— Porque elas veêm você — Sora deu ênfase — agindo como uma idiota do vôlei e acham que podem fazer o mesmo.
Coloquei a toalha na frente do rosto para esconder uma risada, a relação entra as duas de fato era diferenciada e como ver uma outra versão de Aoi e Kuroo. Sempre as falas tortas e provocações baseadas em anos de amizade.
— Por favor — Emi a simpática líbero que havia dividido algumas das filas comigo disse pulando do degrau para o chão — parem de brigam como um casal de 50 anos na frente da nossa visitante. O que ela vai pensar de nós?
Tirei a mão do rosto, sorrindo — Que são um time muito divertido.
E era verdade.
— Bom ver que ainda estão animadas — a treinadora Chie se aproximou com passos leves e uma prancheta. — Essa integração vai ajudar muito nessa próxima etapa do treino.
Foi uma mudança sutil, mas a capitã fechou a feição por um momento, sua testa se franziu antes de, de fato, falar.
— Dan disse mais cedo que você ia coordenar o jogo — comentou com um tom de dúvida —, qual vai ser nossa missão do dia?
As duas, capitã e treinadora, pareciam estar numa batalha solitária. Até que foi revelado a surpresa para a última sessão do treino.
— O desafio desse jogo será combinar jogadas sem usar comunicação verbal. E sim a movimentação das suas companheiras, quem está na rede olha o adversário. Quem está na linha de fundo olha suas colegas e então muda a movimentação usando seus gestos. Esse exercício ajuda a expandir a visão espacial de você e evitar erros como, duas pessoas irem na bola ao mesmo tempo. Ler quem está jogando do seu lado, é tão importante quanto seus colegas de time.
Esse é um exercício que nunca fiz antes, e a princípio parece me colocar em desvantagem. Porém, na prática é diferente, acabamos por nos igualar em quadra uma vez que a comunicação é isenta e a base do movimento é corporal.
O gerente da Fukurodani se adiantou, ele tinha em mãos uma lata com palitos. Deixei que as dona da casa fizessem suas escolhas primeiro, por fim restou apenas Sora, a capitã e eu para escolher. Pelas contas, duas de nós ficaremos juntas e uma irá para outro time.
Por mais que eu deseje jogar com ela, contra ela também não parece uma má ideia e foi exatamente o que aconteceu.
— Cinco minutos para se organizarem e então vamos começar — o treinador Esparta subiu no lugar do juiz para apitar o set —, mais uma coisa. Aqueles dois estão anotando quem causar infrações, qualquer fala será penalizada com cinco abdominais. E sim Keiko resmungos também contam.
Sora levou o nosso time para o canto do ginásio — Rapidamente para você se situar italiana, as segundanistas dinossauros. Sayu, meio de rede, Yumi ponta, mas vem atuando como central também e Chizue ponta.
Rapidamente pedi suas preferências de levantamento, para começar a entender melhor como fazer funcionar esse jogo.
— Qualquer levantamento que você pensar que a capitã idiota acerta, Chizue também consegue — Sora explicou.
— Estamos com um time muito mais defensivo do que ofensivo, que é a questão do time dela — comentei olhando para a outra metade da quadra, onde elas também pareciam discutir. — Vi alguns jogos, sei que montam a rotação para que a capitã também atue na defesa na parte de trás, mas dessa vez tem uma líbero presente na quadra sem rotação.
— Penso que nossa melhor chance de parar seus ataques é colocando aquele que mais conhece seus movimentos para acompanhar — e continuei —, de maneira direta. Sei que Emi consegue segurar qualquer outro ataque das outras pontas.
— Mas a capitã tem alguns truques na manga que são imprevisíveis — Sora completou a minha fala e seguiu meu olhar — me livro de uma idiota do vôlei apenas para me deparar com a versão italiana dela.
— E isso é ruim? — questionei com um meio sorriso.
Sora colocou a mão no meu ombro — Não. Aceito ser sua jogadora por hoje, se for pra derrotar minha querida capitã.
Tombei a cabeça para o lado, do outro lado da quadra a capitã se virou e nossos olhos se chocaram. Essa rivalidade é diferente, por reconhecer as habilidades de outro em quadra inflama a vontade de ver qual será sua estratégia e acende a chama de querer se superar.
— Então se preparem para devorar algumas corujas — falei —, porque esse jogo vai ser dominado pelos lobos.
N/A: Obrigada por ler até aqui!
Tem mais um capítulo crossover e então nossa italianinha volta a ser gerente, cuidar do Nico até chegar o dia de viajar.
Também te convido a ler o especial Kuroo!Poseidon x Leitora, um dos agradecimentos pelos 6k de seguidores postados no perfil.
Até mais, Xx!
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